segunda-feira, 29 de junho de 2009

7) Embate PSDB-PT: o foco das eleicoes em 2010

Matérias publicadas no jornal Valor Econômico, Segunda-feira, 29.06.2009:

Eleições: Governador de São Paulo reconhece que pode não ser candidato e embaralha a sucessão presidencial
Serra diz a Lula que só decide em 2010
Raymundo Costa e Cristiano Romero, de Brasília
29/06/2009
Valor Econômico – pág. A12

Serra e Lula passaram mais de meia hora a sós no Planalto, em junho: oficialmente trataram de liberação de verbas
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro há duas semanas, que só tomará uma decisão sobre uma possível candidatura presidencial em março de 2010, quando expira o prazo para desincompatibilização. Serra, segundo apurou o Valor, disse a Lula que pode, inclusive, optar por não sair candidato.

O governador paulista deixou a impressão, no Palácio do Planalto, de que só lançará sua candidatura se concluir que tem condições de bater o candidato de Lula - até o momento, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, cuja candidatura ainda é vista com desconfiança até por aliados. Serra não está disposto a perder o mandato de governador do Estado mais rico do país para entrar numa "aventura". Neste momento, ele lidera todas as pesquisas de opinião, mas sabe que o presidente Lula vai fazer tudo para eleger Dilma.

"Posso ser candidato?", indagou recentemente o governador em conversa com uma pessoa de suas relações. Ele mesmo respondeu positivamente, mas com uma ressalva: "Posso, sim, mas é uma balela essa história de que sou candidato de qualquer maneira". Fez uma pausa e depois enfatizou, segundo relatos feitos ao Valor: "Isso não existe". O comentário, feito a mais de uma pessoa, chegou a petistas e pemedebistas, que procuraram caracterizá-lo como receio de enfrentar um candidato apoiado por um presidente forte. Entre os tucanos acredita-se que Serra está apenas fazendo jogo de nervos, pois considera que pode bater Dilma tanto quanto bateu Marta Suplicy em São Paulo em 2004.

Na avaliação que faz da crise econômica aos tucanos, Serra diz que "a queda forte" da economia já aconteceu, mas que em 2009 o crescimento será negativo. Melhora, mas apenas um pouco, no próximo ano. Trata-se de uma avaliação inteiramente diferente da feita pelo governo, que aposta em crescimento acelerado em 2010, fato que beneficiaria Dilma Rousseff. A crise teve reflexos negativos na arrecadação de São Paulo, mas, enquanto outros Estados tiveram de cortar investimentos, o cronograma de obras paulistas mantém o ritmo - São Paulo, alega Serra dispõe de recursos provenientes de concessões, financiamentos externos, venda da Nossa Caixa e da folha-salário, portanto, não depende apenas da receita corrente.

Serra sempre se recusou a antecipar a disputa sucessória. Para governar, ele precisa ter um bom relacionamento com o governo federal. Em dois anos e meio de mandato, teve a maioria dos seus pleitos atendida pelo presidente Lula e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Obteve, por exemplo, três autorizações para elevar o endividamento do Estado e, assim, aumentar a capacidade de investimento em obras.

Serra prima por uma política de boa vizinhança com Brasília, fazendo oposição discreta a Lula, algo que durante algum tempo parecia uma estratégia de Aécio Neves, governador de Minas Gerais e seu concorrente na briga interna do PSDB para ver quem enfrentará o candidato de Lula em 2010. Quando critica publicamente o governo, Serra se limita às políticas monetária e cambial, das quais discorda desde o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, seu colega de partido e um de seus mentores políticos. Nas conversas reservadas, Serra revela um visão do governo Lula muito menos condescendente.

O governador acha que a campanha presidencial foi antecipada em demasia pelo presidente Lula. Ainda assim, ele quer que a decisão do PSDB fique para 2010. Para Serra, a antecipação da campanha não significa que as análises são mais ricas. O raciocínio é que, a mais de um ano da eleição, é difícil saber como estarão os principais atores da sucessão no início do próximo ano.

Em política, um ano é muito tempo, diz Serra a seus aliados do PSDB. De fato, um retrospecto da história recente do país dá razão ao governador. Em abril de 1988, o que se sabia sobre a eleição de 1989? Era impossível imaginar, na ocasião, que o pleito seria decidido no segundo turno entre os dois candidatos mais improváveis - Fernando Collor de Melo e Lula. O mesmo se deu nas eleições seguintes (excetuadas as duas reeleições, de 1998 e 2006).

No PSDB, as opiniões estão divididas sobre a antecipação da campanha presidencial. Há quem considere, como Aécio Neves, que os tucanos devem dinamizar o processo para ocupar espaço. Mas há também quem considere isso absolutamente secundário. Os tucanos, na verdade, tiraram proveito do programa eleitoral, na semana passada, e farão isso a partir desta semana com a celebração dos 15 anos do Plano Real.

Os defensores do adiamento da campanha acham que Lula poderia fazer tudo o que está fazendo agora em três meses de 2010 - a partir de julho de 2010, por exemplo, a TV Globo entrevista todos os dias os candidatos no "Jornal Nacional", o programa de maior audiência no país. Em seguida há o registro das candidaturas e, por fim, o horário eleitoral gratuito na TV, eventos mais do que suficientes para tornar conhecidos os candidatos. Serra é partidário dessa tese, mas, como já é visível a olho nu, os tucanos preferiam combinar as duas estratégias.

Um exemplo sempre citado é o do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que partiu de um baixo patamar de conhecimento e chegou ao segundo turno da eleição de 2008 à frente da ex-prefeita Marta Suplicy. Alguns tucanos avaliam inclusive que a longa exposição de Dilma, pelo contrário, pode até ser pior e causar um desgaste prematuro de sua candidatura. Principalmente se o PT, temendo uma derrota, repita erros do passado recente.

O empenho dos tucanos, neste primeiro semestre, foi começar a pavimentar o caminho para fazer boas alianças para 2010. Há uma explicação para essa estratégia. O Rio de Janeiro, por exemplo, pode ser uma pedreira para o PSDB, se o julgamento ficar por conta dos números que ele teve no Estado em 2002 (pior, só no Ceará de Ciro Gomes, então candidato do PPS). Naquele ano, além da onda vermelha, Serra enfrentou o candidato local à sucessão, o ex-governador Anthony Garotinho. Tinha um palanque fraco. Agora, pode contar com os palanques do deputado Fernando Gabeira (PV) para o governo ou para o Senado e do ex-prefeito César Maia. E até de Sérgio Cabral, se o PT tiver candidato próprio para governar o Estado ou não apoiar a sua reeleição.

Serra prefere dedicar a maior parte do seu tempo à administração de São Paulo, adotando medidas que ele acredita que darão substância ao discurso de uma possível candidatura em 2010. Ele vê no embate da eficiência um grande diferencial com a possível candidata do presidente. O governador acredita que fez, em menos de três anos, muito mais do que o governo Lula em quase sete anos.

Embora esteja dedicado à administração de São Paulo, Serra não descuida do projeto político. Está sempre com Aécio, para desfazer intrigas dos adversários, mas sobretudo dos próprios correligionários. Aos poucos, vai sedimentando uma relação de confiança com o neto de Tancredo Neves. Recentemente um interlocutor perguntou a Serra se, a exemplo de Lula, Aécio também não antecipara a corrida sucessória. Serra foi elegante: para ele, foi "uma coisa de muito menor peso", se comparada à movimentação de Lula.

Com gestos assim o governador paulista tenta assegurar que os eleitores de Minas ficarão efetivamente com a sua candidatura, caso haja um acordo com Aécio - no PSDB diz-se que é só uma questão de tempo. Serra quer evitar o que aconteceu em 2002, quando foi apoiado por Aécio, mas o governador mineiro ficou com um pé em cada canoa. A situação de Aécio em Minas também aconselha Serra a adiar a decisão sobre sua candidatura: como pretendente à vaga de candidato do PSDB, o governador mineiro mantém mais controle sobre a sucessão no Estado em 2010.

O PSDB, especialmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, insiste na tese de que uma chapa pura com Serra na cabeça e Aécio na vice é imbatível. Aécio tem dúvidas que devem ocorrer também a Serra, só que o paulista evita comentá-las mesmo entre os mais íntimos por entender que de modo algum pode ferir suscetibilidades que o afastem do governador de Minas.

Serra passou a acompanhar Aécio nas viagens aos Estados e também concordou com a proposta de realização de prévias para a escolha do candidato do partido, duas exigências de Aécio. Nada impede que os dois voltem a se bicar, mas a relação política entre eles está melhor do que em janeiro e fevereiro passados. Ambos estão empenhados nas articulações para a formação dos palanques regionais.

O PSDB acha que vai manter a votação que Alckmin teve nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Em São Paulo acredita que Serra será mais votado do que Alckmin foi em 2006. A avaliação é que, apesar do esforço do governo para penetrar no Sul, a região é naturalmente refratária ao PT, como demonstrariam as pesquisas encomendadas pelo partido. Agora os tucanos tentam equilibrar o jogo no Nordeste, um território predominantemente lulista.

Os recados de Serra ao Palácio do Planalto - de que só decide em 2010 e pode até não ser candidato - embaralham o quadro eleitoral, pois todos os partidos esperam uma solução definitiva para mapear seus movimentos - entre os atuais aliados de Lula ainda há quem duvide até de que Dilma será a candidata do PT. Confiante na recuperação da saúde da ministra, o presidente não tem dúvida de que ela será a candidata do partido.

Lulismo é o desafio do PSDB no NE
Raquel Ulhôa, de Brasília
29/06/2009

Depois de naufragar eleitoralmente no Nordeste, em 2006, o PSDB está apreensivo com o crescimento, na região, das intenções de voto da pré-candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, e os tucanos preparam o contra-ataque na região que é considerada a mais "lulista" do pais - e cujo eleitorado é, numericamente, pouco superior ao do Estado de São Paulo.

A direção do PSDB prepara ações e discursos para problemas e peculiaridades dos Estados nordestinos, diz o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). Está prevista a realização de seminários sobre programas sociais em cidades do interio. É uma tentativa de levar o recado da oposição à população, enquanto o candidato do PSDB não é definido. Sem contraponto, Dilma ganha apoio por causa do empenho pessoal de Lula e da organização do PT.

Semana passada, o ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia (DEM) divulgou, em blog, pesquisa (GPP-Brasil) que mostra Dilma à frente de Serra na região (vantagem de três pontos percentuais), em disputa sem o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). Serra mantém líder nacional.

" O PSDB deveria decidir o nome, sinalizar para a população que tem candidato, e montar um plano estratégico. O Nordeste precisa de mais atenção " , diz o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Para ele, a oposição precisa, já no segundo semestre, " se debruçar da Bahia até o Maranhão " para analisar circunstâncias e perfil de cada Estado.

" Lula, com popularidade altíssima, está andando com Dilma desde janeiro, ao arrepio da lei, numa afronta à Justiça Eleitoral. Num eleitorado como o do Nordeste, sensível a políticas assistencialistas, ela cresce " , afirma Jarbas, que sofre pressão para candidatar-se a governador, assegurando palanque forte para a oposição.

Com dificuldade de reeditar uma aliança em Pernambuco entre PMDB, PSDB e DEM, ele critica a " desorganização " da oposição no Estado, adia a decisão para 2010 e diz que não disputará sem condições de competitividade. " Não tenho mais idade para isso. Não há apelo que me faça disputar uma eleição só para preencher uma lacuna, dar condições a quem quer que seja " , afirma Jarbas, governador por duas vezes.

O senador tucano Tasso Jereissati (CE), também pressionado a concorrer ao governo para dar suporte à campanha nacional, rejeita a ideia. Ele recusa tentar o governo pela quarta vez e diz que a oposição não pode priorizar apenas a campanha presidencial. " A estratégia tem que ser abrangente. Não pode ser só para presidente e esquecer o resto. A oposição precisa de bancada forte no Congresso. " Tasso defende " cuidado especial e foco muito específico dos candidatos para o Nordeste " . Lembra que Lula teve " vitória esmagadora " na região em 2006, enquanto o tucano Geraldo Alckmin ganhou no Sul e Sudeste.

A costura de alianças políticas que garantam palanques exclusivos ao presidenciável da oposição, prioridade do PSDB, é estratégia considerada importante pela base do partido no Nordeste, mas insuficiente para ganhar voto. A escolha local nem sempre tem coerência com a nacional. O eleitor, beneficiado pelo Bolsa-Família ou outro programa social, precisa ser convencido das vantagens de votar na oposição para presidente. Pesquisas mostram que o discurso tem que ser pela manutenção do Bolsa-Família e geração de emprego, principalmente.

A formalização da aliança entre PSDB e DEM da Bahia, em 15 de junho, é emblemática da estratégia dos tucanos até agora. Pragmática, a decisão teve aval de Serra. Por rejeitar a aliança, o deputado estadual Marcelo Nilo, presidente da Assembléia Legislativa do Estado, saiu do PSDB e mantém apoio ao governador Jaques Wagner (PT). Na base do PSDB no interior também há insatisfeitos.

Com pouca penetração política no Nordeste, o PSDB conta, principalmente, com a base do DEM para montar palanques. Na Bahia, o candidato a governador da aliança é o ex-governador Paulo Souto (DEM). Há negociações com o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Regional), do PMDB. Geddel adia a decisão e diz ser candidato a governador. Conversa com o PT também. Com pressa de garantir palanque exclusivo, o PSDB consolidou a aliança com Souto, deixando portas abertas para Geddel. A opção pelo " carlismo " , em vez do PMDB, que daria mais consistência eleitoral e tempo de televisão, é vista com reservas por aliados.

Em Pernambuco e no Ceará - segundo e terceiromaiores colégios, respectivamente - o processo está atrasado. Como em toda a região, exceto Alagoas, governada por Teotonio Vilela (PSDB), os três Estados têm no governo aliados de Lula, que disputarão a reeleição em 2010. A primeira dificuldade da oposição é ter fortes concorrentes. Tasso e Jarbas, são considerados os únicos com viabilidade eleitoral em seus Estados. Sem eles, não há plano B por enquanto, para enfrentar os governadores Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, e Cid Gomes (PSB), do Ceará. A situação de Tasso é mais delicada. Enquanto Jarbas tem mais quatro anos de mandato no Senado, o do tucano termina em 2010 e ele prefere disputar a reeleição.

PT quer tomar Sul, Sudeste e Centro-Oeste dos tucanos
Raymundo Costa, de Brasília
29/06/2009

O PT desencadeou uma ofensiva para tentar equilibrar a eleição presidencial nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, nas quais sofreu as principais derrotas em 2006. Naquele ano, o país se dividiu ao meio: no Sul, no primeiro turno, Lula teve 35% dos votos, e Alckmin chegou aos 55%. Mas no Nordeste o placar foi de 67% a 27% para Lula.

Para 2010, os dois partidos acham que Lula transfere muito votos a Dilma, mas tucanos e petistas trabalham com números diferentes. Enquanto o PT acha que, tendo Lula como correia de transmissão, Dilma terá a maior parte dos votos do presidente na região, o PSDB avalia que pode até empatar a eleição em alguns casos e sair-se bem em colégios eleitorais grandes como a Bahia.

Nesse Estado, que é governador por um petista, os tucanos calculam que podem ter algo em torno dos 40%, se as pesquisas que têm mandado fazer se confirmarem. Se isso se confirmar, eles acham que ganham a eleição, pois esperam ter a mesma quantidade de votos da região Sul, Sudeste e Centro-Oeste de 2006 ou até mais. Mas assim como o PSDB está atento ao Nordeste, o PT também não tira os olhos do Sul e já começou a trabalhar para reverter a situação vivida por Lula em 2006.

O ofensiva do PT inclui medidas de governo, como o pacote agrícola lançado no início da semana passada que prevê R$ 107,5 bilhões para a agricultura empresarial e familiar. A empresarial - ou seja, o agronegócio - ficou com 86% de todo o dinheiro. Em 2006, uma das grandes queixas da região foi a falta de apoio do governo setor. Além disso, a seca 2004/2005, atingiu e abalou indistintamente grandes e pequenos agricultores.

Mas já há criticas entre os grandes: apesar de neste ano terem ficado com a maior fatia do bolo, dizem, no futuro terão mais dificuldades de acesso ao dinheiro que os pequenos. Pelas projeções, em 2011 o médio e o pequeno agricultor terão acesso a 20% dos 25% do total de crédito de aplicação obrigatória dos bancos. Esse será o legado do PT na área rural, o que os grandes proprietários classificam como sendo uma "opção ideológica".

Partidariamente, o PT tenta arrancar o apoio do PMDB do Sul, atualmente mais inclinado ao PSDB de Serra. Recentemente, o ex-ministro José Dirceu esteve com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique. A ideia no PT é que, se atrair Luiz Henrique para uma aliança, pode também entrar no Rio Grande do Sul, no Paraná e Mato Grosso do Sul, todos governados por pemedebistas.

A incursão de Dirceu não teve êxito: Luiz Henrique disse que já firmara um bom acordo com o PSDB (cujo governador Leonel Pavan deve ser o candidato ao governo do Estado) e com o Democratas - além disso, Henrique sempre se sentiu muito hostilizado pelo PT local, cuja candidata deve ser a senadora Ideli Salvati.

No Rio Grande do Sul o próprio ministro Tarso Genro já deixou claro que não há acordo e ser o candidato do PT (o do PMDB está entre o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, e o ex-governador Germano Rigotto, já que pemedebistas e tucanos devem rifar a recandidatura da atual governadora Yeda Crusius).

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