CARAVANA DA DILMA
EDITORIAL
A GAZETA (ES)
16/6/2009
Prestar conta sobre o PAC virou motivo para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, percorrer todos os Estados. Em clima de aliança, ela subiu ontem em palanque montado pelo governador José Roberto Arruda, do DEM
Qualquer precipitação de processo eleitoral tende a contaminar o dia a dia da vida institucional do país
Está na estrada a caravana da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a promessa de percorrer todos os Estados. O objetivo oficial é divulgar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), embora isso sempre tenha ocorrido no gabinete da virtual candidata à Presidência da República. Agora, ela quer estar presente em cada unidade da federação. Esse é um direito que lhe assiste, mas é difícil não entender essa peregrinação como esforço eleitoral.
Viajando nas asas do PAC, Dilma visitou, nos últimos dias, dois extremos geográficos do país, Amazonas e Rio Grande do Sul. Percorrer em bloco Estados vizinhos seria o roteiro natural, para poupar tempo e despesas de deslocamento. Mas, certamente, não são essas conveniências que ditarão o itinerário. Amanhã a Mãe do PAC – conforme batizada pelo presidente da República – estará em Fortaleza, indo a seguir para Porto Velho.
A agenda da ministra ensejou que ela permanecesse ontem em Brasília, mas não sem participar de ato híbrido – administrativo e político, a um só tempo. Dilma subiu em um palanque montado pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, cujo partido, o DEM, é o mais aguerrido opositor do governo no Congresso.
A ministra participou da entrega de 32 casas na Vila Estrutural, uma área de invasão de terras no Distrito Federal que passa por um processo de regularização. Por meio do PAC, a União entrou com parte dos recursos para construir a pequena vila. Havia cheiro de aliança eleitoral. O governador do DEM elogiou Dilma e o governo federal, e ela discursou para aproximadamente 500 pessoas. "O governo do presidente Lula não governa para os mais ricos; nosso governo governa para os mais pobres, para aqueles que mais precisam", disse a pré-candidata do PT.
Legalmente, não é tempo de campanha eleitoral. Mas a restrição não parece em vigor em solenidades com o tom de comício. Pelo que se vê, desde o final de maio aumentou a ofensiva para popularizar Dilma Rousseff como pré-candidata. O próprio Lula faz por onde se supor seu empenho nesse sentido. No último dia 30, em Manguinhos, subúrbio do Rio, o presidente lembrou que passará o cargo em 2010 "para outra pessoa", e motivou a platéia a se manifestar em favor de Dilma, ao seu lado.
No mesmo dia, no Complexo do Alemão, Lula ressaltou que não podia falar em campanha eleitoral. Mas não se conteve. Falou. "Todo mundo sabe que vamos ganhar as eleições de 2010", afirmou. Em seguida, entregou para Dilma uma flor, retirada de um vaso no palco, e declarou: "Quando chegar a hora certa, vamos para a disputa". Será que ninguém entendeu a mensagem?
Em fevereiro, o DEM e o PSDB acusaram o presidente da República e a chefe da Casa Civil de fazer propaganda eleitoral antecipada em solenidades. Recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral contra suposto uso político de uma reunião com 3,5 mil prefeitos naquele mês, em Brasília. No entanto, o TSE concluiu que faltaram evidências para caracterizá-la.
Mas, de lá para cá, as coisas mudaram. Está muito mais intenso o clima da suposta caminhada política da ministra. Em 25 de maio último, o conceituado The New York Times classificou o quadro de "obsessão midiática" do governo em favor da preferida de Lula. Assim, não se sabe até quando a Justiça aceitará o argumento de que a legislação eleitoral não está sendo burlada.
Há a percepção generalizada de que a campanha à sucessão presidencial foi antecipada. Por si, isso é lamentável à medida que pode contaminar o ambiente político e as esferas administrativas, em todos os níveis.
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