quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O avanco da mediocridade - Marcelo de Paiva Abreu

Este artigo foi escrito na quinta-feira, 28.10.2010, antes, portanto, de qualquer resultado eleitoral.

Mais mediocridade ainda?
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 1.12.2010

Vai haver muita celebração pós-eleitoral, tanto da vitória na eleição de ontem quanto do espetáculo da terceira maior democracia do mundo em ação. Mas o fato é que as eleições presidenciais levaram muitos eleitores ao desalento. Boa parte do eleitorado se viu obrigado a escolher o candidato menos insatisfatório. As campanhas foram de baixo nível, centradas na troca de acusações. O processo eleitoral foi marcado por inaceitável interferência do presidente da República, sob os olhares complacentes da Justiça Eleitoral. Somada à também inaceitável indefinição jurídica cercando a questão dos candidatos sem ficha limpa, produziu um balanço algo melancólico quanto à atuação do Poder Judiciário no processo eleitoral.
Houve lamentável nivelamento por baixo de propostas demagógicas. Para os dois candidatos, privatização virou pecado mortal e a ação do Estado passou a ser eficiente por definição. Ambos se equipararam quanto à irresponsabilidade fiscal. A candidata da situação por ter a sua candidatura imersa em verdadeira farra fiscal promovida pelo governo com nítidos objetivos eleitoreiros. O candidato da oposição, ventilando promessas irresponsáveis em relação a salários, aposentadorias e ao programa Bolsa-Família.

Ainda mais grave foi a falta de programas de governo minimamente detalhados pelos dois candidatos. Omissão surpreendentemente endossada, com algum entusiasmo, por significativos representantes das elites do País. O presidente de um dos maiores bancos do País, por exemplo, criticou quem defendia urgência na realização de reformas estruturais tais como a tributária, a trabalhista e a previdenciária, pois o custo seria muito grande, "o País pararia". Reformas "pontuais" resolveriam a questão e permitiriam que o Brasil crescesse 7% ao ano. Talvez mais do mesmo possa ser satisfatório do ponto de vista do clima de negócios no curto prazo, mas há muitos que consideram imprudente adiar as reformas necessárias à remoção dos obstáculos que estrangulam o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida no Brasil.

A reiterada eleição de lideranças políticas de qualidade insatisfatória apenas sublinha quão crucial é a reforma política como objetivo de longo prazo. Qualquer esforço sustentado quanto ao controle da corrupção, em todas as suas manifestações, requer, como condição necessária, a recuperação da abalada reputação do Congresso Nacional e a redução do escopo para as práticas fisiológicas hoje predominantes.

Embora haja, naturalmente, divergências quanto ao resultado final das grandes reformas, cabem poucas dúvidas quanto ao cardápio básico. Reforma do regime tributário e redefinição da política de gastos públicos devem assegurar a redução da participação do crédito público nos financiamentos de longo prazo, frear o aumento contínuo da carga tributária e viabilizar o aumento gradual da poupança pública, elemento essencial para que se expandam os investimentos sem aumento da vulnerabilidade externa. Isso possibilitará a redução da taxa de juros de referência, sem ameaça aos objetivos de estabilização, e aliviará as pressões para a apreciação do real.

É essencial a reversão da mudança de postura do governo Lula, no seu segundo mandato, quanto a gastos públicos e que se recupere a credibilidade dos indicadores relativos a finanças públicas, hoje abalada pelo uso reiterado de truques pueris. E é importante, também, ir mais além, enfrentando o espinhoso rearranjo das finanças previdenciárias, inclusive do setor público, para que se abra espaço para a sustentação das políticas de transferência de renda.

A discussão sobre o papel do Estado na economia deve levar em conta critérios objetivos, e não ser baseada em declarações peremptórias de patriotismo. Isso inclui exorcizar o diagnóstico rudimentar de que privatizar é necessariamente impatriótico. As carências da infraestrutura são gritantes e requerem a mobilização efetiva do setor privado. Tão importante quanto assegurar a eficiência da ação do Estado, inclusive no terreno econômico, é regular a concorrência, por meio da ação de agências reguladoras. Segmento em que certamente houve retrocesso significativo nos últimos oito anos.

O desafio em relação ao aumento de produtividade afeta não apenas a provisão de serviços essenciais ao bem-estar do cidadão, tais como saúde, educação e justiça, mas também o uso de incentivos adequados à inovação no setor privado e a reavaliação da eficácia da provisão de crédito público subsidiado.

Aos políticos cabe negociar a distribuição de recursos tendo em vista objetivos conflitantes, dadas as limitações orçamentárias. Afinal de contas, governar é escolher. Mas o que vem à lembrança é a história contada por Churchill sobre a discussão a respeito de quantos encouraçados seriam construídos para a Marinha Real, em 1909: "Os almirantes queriam seis; os economistas, quatro; finalmente, concordou-se em construir oito." O que se vislumbra no futuro parece ter muito mais que ver com "pau na máquina" do que com "governar é escolher".

*Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular do Departamento de Economia da PUC-Rio

Tolerancia Zero: um discurso radical-oposicionista

Tolerância zero
Coturno Noturno, Domingo, Outubro 31, 2010

Que a nossa Onda Azul vire um Tsunami devastador.

Em 25 de janeiro de 1999, Tarso Genro(PT) escrevia um artigo na Folha de São Paulo, com o título “Por novas eleições presidenciais”. Um parágrafo chamava atenção:

Após frustrar irremediavelmente a generosa expectativa da nação, resta a Fernando Henrique uma única atitude: reconhecer o estado de ingovernabilidade do país e propor ao Congresso uma emenda constitucional convocando eleições presidenciais para outubro, dando um desfecho racional ao seu segundo e melancólico mandato, que terminou antes mesmo de começar.

Ali foi oficializado, como diretriz partidária e linha de conduta política, o “Fora, FHC”, que levou à eleição de Lula em 2002. O PT passaria o segundo mandato inteiro de Fernando Henrique Cardoso sabotando todas as iniciativas e pregando a derrubada do governo. Espalhando a mentira, a calúnia, jogando com todas as armas contra a democracia.Exatamente como fez agora, na campanha presidencial de 2010, tendo à frente o maior golpista que o Brasil já conheceu em sua história: Luiz Inácio Lula da Silva, um presidente que pisou e rasgou a Constituição Federal por meio dos mais diversos subterfúgios , burlando as leis, fraudando as obrigações do seu cargo, desafiando o Legislativo e o Judiciário.

Hoje, mais de 10 anos depois, é o nosso 2002. É a nossa vez de não dar trégua. O que os eleitores que votaram em José Serra querem é tolerância zero. Não queremos discursos de paz. Queremos uma oposição aberta, dura e sistemática, contra tudo e contra todos do governo Dilma Rousseff, não apoiando nenhuma das suas iniciativas, pois de outra forma jamais nos livraremos desta praga que tomou conta do país, deste lulo-petismo que caminha para virar um socialismo bolivariano. Queremos Oposição com letra maiúscula. Queremos uma defesa radical do estado de direito e da democracia. Não queremos o falso patriotismo que esconde a covardia. A compreensão que mascara o medo. A concordância que maquia o jogo interesseiro do poder. Nada de tergiversar. Nada de aliviar. Nada de poupar. Que a oposição que ainda resta respeite os milhões que votaram contra o PT, contra a corrupção, contra esta república pelega. Respeitem os seus eleitores. Respeitem o Brasil. De agora em diante, queremos tolerância zero. Nós vamos continuar lutando com mais força . Com mais contundência. Sem complacência. Que José Serra não esqueça o que disse na sua campanha: quanto mais mentiras eles disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.

A oposição deve mirar-se no que Tarso Genro, representando oficialmente o PT afirmou no seu discurso golpista de 1999:

Trata-se de reconstruir economicamente o país, o que só será possível pelo rompimento do círculo perverso de dependência ao capital especulativo, inaugurando um novo ciclo de desenvolvimento com geração de emprego, uma nova etapa de acumulação pública e privada, de proteção do parque produtivo instalado e de criação de um consistente mercado de massas. E de viabilizar o aprofundamento do Estado democrático de Direito, com a defesa da Constituição e das instituições nacionais e com a plena afirmação da cidadania, constituindo os fundamentos para um novo projeto nacional capaz de reconciliar o Estado com a sociedade e a história com o nosso destino de nação soberana.

É exatamente o que vamos pregar e cobrar neste Blog, a partir de hoje. A prática bem sucedida do mesmo discurso que levou o PT ao poder e que, com estas eleições, ficou comprovado ser o único que pode extirpar este câncer que tomou conta do país. Para começar, aqui vai o nosso primeiro brado, o nosso primeiro convite, a nossa primeira declaração de guerra: “Fora, Dilma!”, “Fora, socialismo!”, “ Fora, corrupção!”, “Fora,pelegos!”.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

44% estão na oposição - Marco Antonio Villa

44% estão na oposição
Marco Antonio Villa, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos
Folha de S.Paulo, 3.11.2010

A OPOSIÇÃO acreditou que criticar o governo levaria ao isolamento político. O resultado das urnas sinalizou o contrário: 44% do eleitorado disse não a Dilma. Ela era candidata desde 2008. Ninguém falou em prévias, nenhum líder fez muxoxo. Lula uniu não só o partido, como toda a base. Articulou, ainda em 2009, as alianças regionais e centrou fogo para garantir um Congresso com ampla maioria, para que Dilma pudesse governar tranquilamente. Afinal, nem de longe ela tem sua capacidade de articulação política.

E a oposição? Demorou para definir seu candidato. Quando finalmente chegou ao nome de Serra, o partido estava dividido, vítima da fogueira das vaidades. Ao buscar as alianças regionais, encontrou o terreno já ocupado. Não tinha aliados de peso no Norte e Centro-Oeste, e principalmente no Nordeste. Neste cenário, ter chegado ao segundo turno foi uma vitória. No último mês deu mostras de combatividade, de disposição de enfrentar um governo que usou e abusou como nunca da máquina estatal. Como, agora, fazer oposição? Não cabe aos governadores serem os principais atores desta luta — a União pode retaliar e isso, no Brasil, é considerado “normal”.

É principalmente no Congresso Nacional que a oposição deve travar o debate. Lá estará, inicialmente, enfraquecida. Perdeu na última eleição, especialmente na Câmara, quadros importantes. Mesmo assim, pode organizar um “gabinete fantasma” e municiar seus parlamentares e militantes com informações e argumentos. Usar as Câmaras Municipais e as Assembleias estaduais como espaços para atacar o governo federal. E abastecer a imprensa — como sempre o PT fez — com denúncias e críticas.

Espaço para a oposição existe. O primeiro passo é assumir o seu papel. Deve elaborar um projeto alternativo para o Brasil. Sair da esfera dos ataques pessoais e politizar o debate, acabar com o personalismo e o regionalismo tacanho, formar quadros e mobilizar suas bases. É uma tarefa imediata, não para ser realizada às vésperas da eleição presidencial de 2014.

O lulismo tem pilares de barro. É frágil. Não tem ideologia. Não passa de uma aliança conservadora das velhas oligarquias, de ocupantes de milhares de cargos de confiança, da máfia sindical e do grande capital parasitário. Como disse Monteiro Lobato, preso pelo Estado Novo e agora perseguido pelo lulismo: “Os nossos estadistas nos últimos tempos positivamente pensam com outros órgãos que não o cérebro -com o calcanhar, com o cotovelo, com certo penduricalhos, raramente com os miolos”.

O papel da oposicao - editorial Estadao

O papel da oposição
Editorial - O Estado de S.Paulo
03 de novembro de 2010

"Minha mensagem de despedida neste momento não é um adeus. É um até logo. A luta continua." Ao reconhecer a vitória de Dilma Rousseff, José Serra exortou os oposicionistas a se articularem para cumprir o papel que lhes cabe no cenário político nacional. "Para os que nos imaginam derrotados - acrescentou - quero dizer: nós estamos apenas começando uma luta de verdade." É ver para crer.

Um dos fatores decisivos da vitória de Lula foi o comportamento errático, quando não pura e simplesmente omisso, da oposição, ao longo de oito anos de governo petista e na campanha eleitoral deste ano. Lula elegeu-se em 2002 com a imagem de líder popular que fez contrastar com a de intelectual, representante da elite, de seu antecessor, Fernando Henrique. Com grande competência, Lula soube manipular esse contraste para construir a própria imagem de líder e defensor dos fracos e oprimidos e colar nos opositores o estigma de inimigos do povo. FHC virou anátema. Seu governo, "herança maldita". E a oposição, como que sofrendo de grave crise de identidade, assistiu inerme a toda essa mistificação. A tal ponto que em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, Lula estava blindado e imune aos efeitos negativos da corrupção que grassava ao seu redor. Por muito menos, alguns anos antes Fernando Collor fora forçado a renunciar à Presidência.

É animador, portanto, ouvir o até agora principal líder da oposição convocar seus companheiros à continuação da luta política. Pois toda nação democrática necessita de governo competente e honesto tanto quanto de oposição viva e operante, pronta e apta a fazer cumprir o fundamento da alternância no poder.

Condições objetivas para o exercício de uma oposição eficiente a partir de 1.º de janeiro existem, apesar de a base governista ter aumentado no Congresso Nacional. A oposição sai das urnas com desempenho melhor, nos pleitos majoritários, do que quatro anos atrás. A diferença de votos entre Dilma e Serra foi menor, em cerca de 10 milhões de votos, do que aquela que Lula teve sobre Alckmin em 2006, o que pode ser explicado em parte, é claro, pelo fato de que Dilma não é Lula. Além disso, o PSDB acaba de conquistar 8 governos estaduais (foi o partido que mais governadores elegeu), que se somam aos 2 do DEM e abrangem a maioria dos Estados mais populosos e prósperos, como São Paulo, Minas, Paraná e Santa Catarina.

A mesma disposição manifestada por Serra foi reiterada pelo presidente nacional dos tucanos, senador Sérgio Guerra, para quem "o PT e os que ganharam de nós nesta eleição trabalharam para construir uma hegemonia, e não uma democracia. No Congresso, vamos agir para que o contraditório se estabeleça". Por sua vez, depois de defender a necessidade de o maior partido da oposição partir para alianças e até fusões, o governador de São Paulo, Alberto Goldman, colocou o dedo na ferida: "Nós não fomos suficientemente combativos ao longo dos oito anos do governo Lula."

Pode facilitar o trabalho da futura oposição o fato de que Dilma, apesar de dispor de ampla base de apoio parlamentar, certamente não terá sobre seus aliados o mesmo controle que detém o atual presidente. E, certamente ainda mais relevante, o bloco governista poderá bater cabeça diante de previsíveis e inevitáveis discrepâncias entre políticas a serem defendidas pela próxima presidente e aquelas hoje adotadas por Lula. A considerar, ainda, a evidência de que uma importante legenda da base governista, o PSB, chega a 2011 fortalecido pelo aumento de sua bancada parlamentar e pela eleição de 6 governadores, quase todos no maior reduto petista - o Nordeste. Disposto, portanto, a trilhar tanto quanto possível seus próprios caminhos em direção à sucessão presidencial de 2014.

Mas qualquer projeto oposicionista se frustrará, principalmente em termos de consolidação da democracia, se não houver a sincera disposição de banir da vida política duas práticas nefandas que o lulo-petismo consagrou: o exercício da oposição, como fez no plano nacional até 2003, pautado exclusivamente por interesses eleitorais e o tratamento de adversários políticos como inimigos a serem dizimados. A oposição há que ser firme e combativa, sempre, e construtiva, quando possível.

Entrevista com FHC: realista, como sempre

FHC diz não endossar mais PSDB que não defenda a sua história
Folha de S.Paulo, 2/11/2010

"Não estou mais disposto a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), ontem, em entrevista no instituto que leva seu nome, no centro de SP.

Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique defende que o partido anuncie dois anos antes das eleições presidenciais seu candidato. "O PSDB não pode ficar enrolando até o final para saber se é A, B, C ou D."

O ex-presidente diz que Lula "desrespeitou a lei abundantemente" na campanha e que promove "um complexo sindical-burocrático-industrial, que escolhe vencedores, o que leva ao protecionismo".

Para FHC, a tradição brasileira de "corporativismo estatizante está voltando". Lula é uma "metamorfose ambulante que faz a mediação de tudo com tudo".

Folha - José Serra aproveitou a oportunidade do segundo turno como deveria?

Fernando Henrique Cardoso - Cada um tem um estilo e Serra foi fiel ao estilo dele. Tomou as decisões dele na campanha, com o [marqueteiro Luiz] Gonzalez. Não fez diferente do que se esperaria de Serra como um candidato persistente, que define uma linha e, aconteça o que acontecer, vai em frente.

O PSDB, e não o Serra, tem outros problemas mais complicados. Não é falta de bons candidatos. O problema é ter uma noção do coletivo, uma linguagem que expresse o coletivo, que não pode ser fechado no partido. Numa sociedade de 130 milhões de eleitores, a mensagem conta muito --no conteúdo e no modo que se transmite.

Como o Lula ficou muito fixado numa comparação para trás, os candidatos esqueceram a campanha e não definiram o futuro. Esse é o desafio --para o PSDB também.

O nosso futuro vai ser, outra vez, fornecer produtos primários? Ou vamos desenvolver inovação, modificar a educação, continuar a industrialização. Isso não foi posto [na campanha]. Qual será nossa matriz energética. Preocupa-me muito a discussão do petróleo.

Folha - Nesse campo, o seu governo quebrou o monopólio da Petrobras e implantou o modelo de concessão. A fórmula proposta por Lula, de partilha, para o pré-sal, que traz novos privilégios à Petrobras, é melhor?

Não posso responder, porque não vi a discussão. Preocupa-me esse modelo porque força uma supercapitalização [da Petrobras] sem que se saiba bem qual será o modelo de venda desse petróleo. Essa forma de partilha proposta é uma estatização do risco. O risco quem corre é o Estado, ao contrário do modelo de concessão.

O que estamos fazendo é uma dívida. Isso obriga a sobrecapitalizar a Petrobras. Parece que não temos mais problemas de poupança no Brasil. Entramos numa ilusão tremenda nessa matéria. O Tesouro faz a dívida com o mercado e empresta para o BNDES ou para a Petrobras. É como se não precisássemos mais poupar. Mas a dívida está aí. Essa questão o PSDB não politizou.

Folha - O governo Lula mobiliza fundos públicos e paraestatais e patrocina a formação de grandes empresas no país, uma espécie de complexo "industrial-burocrático", parodiando o "industrial-militar" do Eisenhower [em 1961, ao deixar o governo, o então presidente dos EUA Dwight Eisenhower alertou para os riscos de uma influência excessiva do complexo industrial-militar para o processo democrático]. Há mais ruptura ou continuidade em relação ao processo que se iniciou no seu governo, quando o BNDES e os fundos de pensão das estatais viabilizaram as privatizações?

Tudo é uma questão de medida. Os fundos [de pensão] entraram na privatização porque já tinham ações nas teles e participar do grupo de controle lhes dava vantagem. Fizeram um bom negócios Mas tive sempre o cuidado da diversificação. No mundo integrado de hoje, convém que a economia tenha um setor público eficiente e que tenha um setor privado, nacional e estrangeiro. Tentamos equilibrar isso.

O problema agora é de tendência, de gigantismo de uns poucos grupos, nesse complexo, que na verdade é sindical-burocrático-industrial, com forte orientação de escolher os vencedores. Isso é arriscado do ponto de vista político e leva ao protecionismo.

Folha - A máxima "política tem fila" foi usada para defender a precedência de Serra sobre Aécio na eleição de 2010. A fila andou ontem? Chegou a vez de Aécio Neves no PSDB?

Eu não posso dizer que passou a primeiro lugar, mas que o Aécio se saiu bem nessa campanha, se saiu. Não posso dizer que passou a primeiro lugar porque o Serra mostrou persistência e teve um desempenho razoável.

Não diria que existe um candidato que diga: "Eu naturalmente serei". Mas o PSDB também não pode ficar enrolando até o final para saber se é A, B, C ou D. Dentro de dois anos temos de decidir quem é e esse é tem de ser de todo mundo, tem de ser coletivo.

Não estou disposto mais a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história. Tem limites para isso, porque não dá certo. Tem de defender o que nós fizemos. A privatização das teles foi bom para o povo, para o Tesouro e para o país. A privatização da Vale foi um gol importante, porque, além do mais, a Vale é uma empresa nacional. A privatização da Embraer foi ótima.

Então por que não dizer isso? Por que não defender? Privatizar não é entregar o país ao adversário, pegar o dinheiro do povo e jogar fora. Não. É valorizar o dinheiro do país. Tudo isso criou mais emprego, deu mais renda para o Estado.

Do ponto de vista econômico, as questões estão bem encaminhados. Os motores da economia são fortes. Os problemas maiores são em outras áreas: educação, segurança, democracia, igualdade perante a lei, droga. Não é para saber se a economia vai crescer, é se a sociedade vai ser melhor.

Folha - Sobre a democracia no Brasil, o sr. escreveu, recentemente, que é uma maquinaria institucional em andamento, mas que lhe falta o "espírito": "a convicção na igualdade perante a lei, a busca do interesse público e de um caminho para maior igualdade social". Sinais desse espírito no processo eleitoral que se encerrou?

Francamente não vejo. O presidente Lula desrespeitou a lei abundantemente. Do ponto de vista da cultura política, nós regredimos. Não digo do lado da mecânica institucional --a eleição foi limpa, livre. Mas na cultura política, demos um passo para trás, no caso do comportamento [de Lula] e da aceitação da transgressão, como se fosse banal.

Houve abuso do poder político, que tem sempre um componente de poder econômico. Quantos prefeitos foram cassados aqui em São Paulo, por exemplo em Mauá, por abuso do poder econômico? Por nada, comparado com esse abuso a que assistimos agora. Não posso dizer que houve progresso da cultura democrática brasileira.
Aqui está havendo outra confusão. Pensar que a democracia é simplesmente fazer com que as condições de vida melhorem. Ela é também, mas não se esqueça que as ditaduras fazem isso mais depressa.

Folha - Como o sr. vê a volta de temas como religião na campanha?

Com preocupação. O Estado é laico, e trazer a questão religiosa para primeiro plano de uma discussão política não ajuda. Todas as religiões têm o direito de pensar o que queiram e de pregar até o comportamento eleitoral de seus fieis. Mas trazer a questão como se fosse um debate importante, não acho que ajude.

Folha - A dose dos chamados marqueteiros nas campanhas tucanas está exagerada?

Sim, em todas as campanhas. Nós entramos num marquetismo perigoso, que despolitiza. Hoje a campanha faz pesquisas e vê o que a população quer naquele momento. A população sempre quer educação, saúde e segurança, e então você organiza tudo em termos de educação, saúde e segurança.

Sem perceber que a verdadeira questão é como você transforma em problema uma coisa que a população não percebeu ainda como problema. Liderar é isso. Aí você abre um caminho. A pesquisa é útil não para você repetir o que ela disse, mas para você tentar influenciar no comportamento, a partir de seus valores.

Suponha uma pesquisa sobre privatização em que a maioria é contra. A posição do líder político é tentar convencer a população [do contrário]. O que nós temos na campanha é a reafirmação dos clichês colhidos nas pesquisas. Onde é que está a liderança política, que é justamente você propor valor novo. O líder muda, não segue.

Folha - Como mostrar as diferenças entre PT e PSDB? As ideias tucanas não são difíceis de assimilar?

Você se lembra de quando fui presidente? A ambição de todo mundo era cortar a burocracia. Por quê? Porque foi politizado.

É preciso politizar, e não é na hora da campanha.O PSDB, quando digo que tem que ter por referência o coletivo e ter um projeto, é agora. Não é para daqui a quatro anos. Daqui a quatro anos é tarde. Ou durante quatro anos você martela os seus valores e transforma os seus valores em algo que é compartilhado por mais gente, ou chega lá e não consegue. É tarde.

Folha - Mas o PSDB deixou o Lula falando sozinho um bom tempo.

Não foi só o PSDB. Foi todo mundo. Quando o nosso sistema presidencialista é exercido a partir de uma pessoa carismática como o Lula e que tem por trás um partido organizado, ele quase se torna um pensamento único.

Aqui, fora da campanha, só o governo fala. Quando fala sem parar, o caso atual, e sob forma de propaganda, fica difícil de controlar. No meu tempo, também era o governo que falava. Como não tenho o mesmo estilo e não usava uma visão eleitoreira o tempo todo, não aparecia tanto. Mas isso é da cultura brasileira.

Jornal dá o "outro lado", mas a TV não dá --só dá na campanha. O que a mídia em geral transmitiu ao longo desses oito anos? Lula, violência e futebol.

Folha - A oposição, liderada pelo PSDB, ficou mais forte nos Estados e mais fraca no Congresso. Como fará para resistir à força gravitacional do Planalto?

Não é fácil, porque os Estados têm interesses administrativos. Mas um pouco mais de consistência oposicionista pode. No regime militar, Montoro e Tancredo eram governadores e se opunham. É preciso recuperar um pouco essa dimensão política.

Mas o carro chefe para puxar [a oposição] não pode ser o governador. Tem de ser o partido. E não é o PSDB só. Esses 44 milhões [votação de Serra no domingo] não são do PSDB. É uma parte da sociedade brasileira que pensa de outra maneira. E não se pode aceitar a ideia de que são os mais pobres contra os mais ricos. Nunca vi uma elite tão grande: 44 milhões de pessoas.

Folha - A polarização nacional entre PT e PSDB completou 16 anos. Tem feito mais bem ou mais mal ao Brasil?

O que o Chile fez na forma da Concertação [a aliança entre o Partido Socialista e a Democracia Cristã que governou o Chile de 1990 a 2010], fizemos aqui sob a forma de oposição. Há muito mais uma linha de continuidade que de quebra. Queira ou não queira, o pessoal do PT aderiu, grosso modo, ao caminho aberto por nós. Isso é que deu crescimento ao Brasil. A briga, na verdade, é pelo poder, não é tanto pelo conteúdo que se faz. No tempo que cheguei lá, eu escrevi o que ia fazer e fiz. Nunca mudei o rumo. O Lula mudou o rumo. Agora acho que tem aí o começo de um rumo que não é o mesmo meu, que é esse mais burocrático-sindical-industrial. E tem uma diferença na concepção da democracia, e o PSDB tem de acentuar essa diferença.

Folha - Mas o que seria essa social-democracia?

Social-democracia, vamos devagar com o ardor. O sujeito da social-democracia europeia eram a classe trabalhadora e os sindicatos. Aqui são os pobres. O Lula deixou de falar em trabalhador para falar em pobre. Mudou. Nós descobrimos uma tecnologia de lidar com a pobreza, mas estamos por enquanto mitigando a pobreza.

Tem de transformar o pré-sal em neurônio. Esse é o saldo para uma sociedade desenvolvida. Social-democracia hoje é isso. É inclusão social, respeitando o mercado, sabendo que o Estado terá um papel importante, mas não é tudo, e que o mercado tem de ser regulado de olho numa inclusão que não seja só de mitigação. Não pode ter predomínio do olhar do Estado. Está se perfilando, no PT e adjacências, uma predominância do olhar do Estado, como se o Estado fosse a solução das coisas. Continuo achando que o Estado é indispensável, mas a sociedade deve ter uma participação mais ativa. Os movimentos sociais estão todos cooptados.

Folha - Então a diferença entre PT e PSDB, para o sr., se dá em relação ao papel do Estado.

Mas não no sentido de não ter papel para o Estado. No sentido de que esse papel tenha de ser de um Estado que se abra para a sociedade. Não de um Estado burocrático, que se imponha à sociedade.

A nossa tradição é de corporativismo estatizante, e isso está voltando. É uma mistura fina, uma mistura de Getúlio, Geisel e Lula. O Lula é mais complicado que isso, porque é isso e o contrário disso. Como é a metamorfose ambulante, faz a mediação de tudo com tudo.

Lula sempre faz a mediação para que o setor privado não seja sufocado completamente. Não sei como Dilma vai proceder.

Folha - O sr. sente que isso tende a se aprofundar nesse novo governo?
Sim, a segunda parte do segundo mandato de Lula foi assim. A crise global deu a desculpa para o Estado gastar mais. E o pobre do Keynes pagou o preço. Tudo é Keynes [O economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) defendeu, em sua obra "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", a intervenção do Estado na economia para controlar as crises econômicas]. Investimento não cresceu, gasto público se expandiu, foi Keynes.

Não acho que o Brasil vá no sentido da Venezuela porque a sociedade nossa é mais forte. Aqui há empresas, imprensa, universidades, igrejas, uma sociedade civil maior, mais forte. Isso leva o governo a também ter cautela. Veja o discurso da Dilma de ontem [domingo]. Ela beijou a cruz.

Como todo mundo percebia uma tendência nesse sentido, ela disse: "Olha aqui, vou respeitar a democracia, vou dar a mão a todos". Ela tem que dizer isso, porque senão ela não governa.

Folha - O que esperar de Dilma Rousseff, que estreia num cargo eletivo logo na Presidência, no dia 1º de janeiro?

Nós não sabemos não só o que ela pensa, mas como é que ela faz. O Brasil deu um cheque em branco para a Dilma. Vamos ver o que vai acontecer com a conjuntura econômica, mundial e aqui. Há um problema complicado na balança de pagamentos, um deficit crescente, uma taxa de juros elevada e uma taxa de câmbio cruel.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Derrota de Serra: uma explicacao humoristica (ou capilar)

Carecas de saber
JOÃO PEREIRA COUTINHO
Folha de S.Paulo, 2/11/2010

Para ganhar essa eleição, alguém deveria ter dito a José Serra duas palavras: "implante" ou "peruca"

SOU PORTUGUÊS, mas tenho vivido no Brasil nas últimas semanas. E o mais engraçado é que nem sequer cheguei a sair de Lisboa.
A culpa é das eleições brasileiras, que comentei para a televisão portuguesa. Isso implicou trabalho: semanas e semanas e semanas de leituras esotéricas sobre candidatos, sistema eleitoral, indicadores econômicos. Sem falar de telefonemas ruinosos para amigos paulistanos: gente do PT, gente do PSDB. E até cartomantes, que acertaram mais que as pesquisas no primeiro turno.
Tornei-me especialista no assunto e todas as noites sonhava com Dilma, ou com Serra, ou com Marina. E com o palhaço Tiririca, é claro. Pior do que já estou, não fico.
Mas sinto culpa. Uma culpa profunda, porque nunca disse a verdade sobre o pleito eleitoral. Sim, nas minhas intervenções públicas, falava do óbvio. As interferências de Lula na campanha, impróprias de um país civilizado.
A polêmica do aborto, que em condições normais teria liquidado Dilma. O caso Erenice e a quebra do sigilo fiscal da família Serra, uma vergonha em qualquer hemisfério.
E quando o âncora de serviço me perguntava sobre a possível derrota de Serra, eu preparava minha voz de tenor, meu rosto de sabedoria e repetia o que toda gente repete: é difícil combater a popularidade de Lula; é difícil combater o peso de um Estado assistencialista que praticamente comprou os pobres todos do Brasil; e Serra, coitado, não conseguiu encontrar o tom certo na campanha.
Nem sequer soube combater a acusação de que tencionava privatizar a Petrobras (uma acusação assassina, como se viu com Alckmin em 2006).
Inútil. Tudo isso foi inútil. Se eu fosse corajoso, e não esse covarde que se olha ao espelho, teria dito a verdade ao vivo, na TV, e calado os meus colegas. Faria cara de enfado, retiraria o microfone do blazer e diria: "Serra vai perder porque é careca, meninos". E depois abandonaria o estúdio, com passos triunfais, perante o choque geral.
É a verdade. E Simon Carr, o grande jornalista britânico, concorda comigo. Carr não escreveu sobre Serra, mas seu último artigo para a revista "Intelligent Life" (o título diz tudo) é brutal e certíssimo: a partir da década de 60, os carecas desapareceram da política ocidental.
O leitor é um apreciador de Winston Churchill? Esqueça. O monumental estadista que venceu a Segunda Guerra jamais seria reeleito hoje: careca, gordo, fumante, politicamente incorreto -seria trucidado em qualquer eleição.
Escreve Carr que, a partir da década de 60, houve um colapso da autoridade na política. O eleitorado, para lá da competência, passou a valorizar uma outra qualidade: a juventude. Ou, pelo menos, a aparência de juventude. E não existe maior símbolo de juventude que o cabelo.
Na Grã-Bretanha, Alec Douglas-Home foi o último premiê careca. Em 1963. Depois dele, nunca mais houve carecas em Downing Street.
E os que tentaram (como William Hague ou Duncan Smith, ambos conservadores) foram desfeitos pelos trabalhistas. David Cameron quebrou o enguiço, mas cuidado, avisa Carr: Cameron está a perder cabelo; o seu índice de popularidade está a baixar também.
Simon Carr não aplica sua análise a outros países. Aplico eu. Nos Estados Unidos, o último presidente calvo foi Dwight Einsenhower. Em 1953. Gerald Ford é um caso discutível, mas Ford assumiu a presidência depois da demissão de Nixon. Sem passar pelas urnas.
De então para cá, tivemos Carter, Reagan, Bush (pai), Clinton, Bush (filho) e agora Obama. É preciso dizer o que essa gente toda tinha em comum?
Mesmo na Europa, e até em Portugal, a tese de Carr confere: em Portugal, nos últimos anos, jamais tivemos um premiê ou mesmo um presidente da República calvo.
E, na Europa, Berlusconi poderia ser exceção da regra. Isso se Berlusconi não tivesse sofrido as agruras do inferno para implantar cabelo. "Fiz isso por respeito a Itália e aos italianos", disse ele, em comunicação célebre. Itália agradeceu.
O Brasil, não: elegeu Dilma, ou seja, a única candidata com juba de leão. Em 2006 foi a mesma coisa entre Lula e Alckmin.
Para ganhar essa eleição, alguém deveria ter dito a José Serra duas palavras: "implante" ou "peruca". Em política, não é dos carecas que as urnas gostam mais.

Derrota de Serra: uma explicacao regional (ou geografico-social)

O recado do Nordeste
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Folha de S.Paulo, 2.11.2010

SÃO PAULO - Não foi uma vitória acachapante, como havia sido desenhada. Não foi, tampouco, uma vitória apertada, como ainda acreditavam alguns tucanos na véspera. Dilma Rousseff ganhou com folga, com 12 milhões de votos de vantagem. O Congresso terá composição mais governista do que o atual. Mas há uma oposição visível no país. Só os tucanos governarão oito Estados, entre eles São Paulo e Minas. Não houve, afinal, massacre.
Não houve, vírgula. A compreensão do famoso "recado das urnas" (com a licença do clichê) passa pela consideração do que aconteceu no Nordeste, onde Dilma obteve vitória esmagadora sobre José Serra.
Lá, a petista ultrapassou os 70% dos votos -uma vantagem de 41 pontos sobre o tucano, a quem derrotou em todos os Estados da região. Em números, isso representa 10,7 milhões de votos a mais que do que Serra só no Nordeste. É quase toda a diferença obtida no país.
O resultado discrepa muito do que se passou em outras praças. No Sudeste, por exemplo, Dilma teve 52%, e Serra, 48%. Sabia-se que Minas tinha importância estratégica e peso simbólico. Mas o serrismo exagera e distorce a realidade quando canaliza para o Estado de Aécio Neves o grosso da sua insatisfação.
Serra deve ter razões para espicaçar Aécio; Aécio deve ter ainda mais razões para não mover montanhas por Serra -mas as razões do fiasco tucano vão muito além do café com leite que azedou na xícara.
Dilma derrotou Serra por 58% a 42% no segundo maior colégio eleitoral do país. Mas, mesmo que o tucano tivesse batido Dilma com 80% dos votos em Minas, ainda assim a petista teria vencido a eleição.
Foi o Nordeste que fez a diferença. A votação de Dilma na região foi inferior à obtida por Lula em 2006 (77%), mas superior a que teve em 2002 (61%). Ela exprime, talvez, o novo protagonismo e a autoestima de um pedaço do país que historicamente serviu de cartão postal das nossas piores iniquidades sociais.

Governandores eleitos em 2010 (e em 2006), por partido

Os governadores eleitos em 2010, por partido
01/11/2010 - 07h00

PSDB
Anchieta Jr. (RR)
Simão Jatene (PA)
Siqueira Campos (TO)
Marconi Perillo (GO)
Antonio Anastasia (MG)
Geraldo Alckmin (SP)
Beto Richa (PR)
Teotônio Vilela (AL)

PSB
Camilo Capiberibe (AP)
Wilson Martins (PI)
Cid Gomes (CE)
Ricardo Coutinho (PB)
Eduardo Campos (PE)
Renato Casagrande (ES)

PT
Tião Viana (AC)
Agnelo Queiroz (DF)
Jaques Wagner (BA)
Marcelo Déda (SE)
Tarso Genro (RS)

PMDB
Confúcio Moura (RO)
Silval Barbosa (MT)
André Puccinelli (MS)
Sérgio Cabral (RJ)
Roseana Sarney (MA)

DEM
Rosalba Ciarlini (RN)
Raimundo Colombo (SC)

PMN
Omar Aziz (AM)

Os governadores eleitos em 2006, por partido

PMDB
Eduardo Braga (AM)
Paulo Hartung (ES)
André Puccinelli (MS)
Roberto Requião (PR)
Sérgio Cabral (RJ)
Luiz Henrique da Silveira (SC)
Marcelo Miranda (TO)

PSDB
Teotônio Vilela (AL)
Aécio Neves (MG)
Cássio Cunha Lima (PB)
Yeda Crusius (RS)
Ottomar Pinto (RR)
José Serra (SP)

PT
Binho Marques (AC)
Jaques Wagner (BA)
Ana Júlia (PA)
Wellington Dias (PI)
Marcelo Déda (SE)

PSB
Cid Gomes (CE)
Wilma de Faria (RN)
Eduardo Campos (PE)

PDT
Waldez Góes (AP)
Jackson Lago (MA)

PPS
Blairo Maggi (MT)
Ivo Cassol (RO)

PFL
José Roberto Arruda (DF)

PP
Alcides Rodrigues (GO)

Os governadores eleitos em 2002, por partido

PSDB
Lúcio Alcântara (CE)
Marconi Perillo (GO)
Aécio Neves (MG)
Simão Jatene (PA)
Cássio Cunha Lima (PB)
Ivo Cassol (RO)
Geraldo Alckmin (SP)

PMDB
Joaquim Roriz (DF)
Roberto Requião (PR)
Jarbas Vasconcelos (PE)
Germano Rigoto (RS)
Luiz Henrique da Silveira (SC)

PFL
Paulo Souto (BA)
José Reinaldo Tavares (MA)
João Alves Filho (SE)
Marcelo Miranda (TO)

PSB
Paulo Hartung (ES)
Rosinha Garotinho (RJ)
Wilma de Faria (RN)
Ronaldo Lessa (AL)

PT
Jorge Viana (AC)
Zeca do PT (MS)
Wellington Dias (PI)

PPS
Eduardo Braga (PMDB)
Blairo Maggi (MT)

PDT
Waldez Góes (AP)

PSL
Flamarion Portela (RR)

Uma analise das razoes da derrota do PSDB - Carlos U. Pozzobon

Procura-se um partido de oposição
Carlos U. Pozzobon
Conectando Leitores, 01/11/2010

Conforme anunciei em julho pp., no artigo A Ingenuidade da Oposição, minhas opiniões se confirmaram. Serra perdeu as eleições, mas poderia ter ganho não fosse a estratégia míope do PSDB, e de seus marqueteiros.
Em julho eu dizia que a única forma de derrotar o PT era uma campanha com alto poder de emocionar as massas. Isso não tem nada demais. A emoção tem sido a estratégia de Lula para chegar ao Poder e o tom do discurso de todo o PT para se eleger. O PSDB não entendeu o tipo de adversário que possui. Sem uma campanha trepidante, e sem motivar as massas não se chegaria à vitoria. Para Lula, o pouco que fez não tem efeito prático: o que importa é sempre a desforra sobre o adversário, ainda mais que FHC não parece ter a noção da agressividade necessária para o tipo de adversário, de não deixar passar em branco nenhuma mentira que lhe é atribuída estrategicamente. Comporta-se como alguém que se preocupa mais com o que dirão os acadêmicos do que o que possam falar “os baixos instintos” da militância adversária.
procura-se uma oposição

Emocionar as massas é dar a elas coesão e motivação para derrotar um governo e um partido que não apresentam propostas de transformação social, ao contrário, transformam o Brasil num país primitivo, atrasado, velhaco, eleitoreiro, fisiologista, corrupto e sem educação, em que todas as pessoas sensíveis e ilustradas se sentem constrangidas de serem representadas por alguém que as envergonha com a falta de polidez no trato e conteúdo no falar, obrigando-as a se distanciar e se isolar ruborizadas com uma postura que confunde pseudo-informalidade com ignorância e desfaçatez, a menos do indefectível conjunto amorfo de bajuladores e interesseiros.

Uma campanha contra um partido tão detestado por sua conduta antiintelectual, por suas grosserias vulgares e por sua tibieza moral, mereceria uma estratégica centrada em São Paulo servindo como exemplo de irradiação para todo o país. Mas nada disso foi feito.

O erro de Serra perdurou ao longo de toda a campanha. E examinando mais detidamente, não faz parte de sua conduta individual, mas parece ser o comportamento de todo o PSDB. Os problemas vão da agenda de campanha ao tipo de discussão.

Primeiro, a ideia errada do PSDB de dar prioridade ao que chamam de agenda positiva. As propostas de governo são importantes, mas no confronto de candidatos, o PSDB deve dar mais prioridade às criticas ao governo do que às propostas de gestão. Agenda positiva é assunto para países com uma organização social bem estruturada. Para países com um caos social como o Brasil, a força eleitoral nasce da crítica implacável ao governo. Foi assim que o PT forjou sua força eleitoral em 20 anos.

Verificamos que a força do PT está na sua atitude crítica, e sua fragilidade está nos programas de governo, que não passam de generalidades mal concebidas e de um regresso ao estatismo do regime militar. O que revela que seu propósito maior está mais em ganhar as eleições, destruindo adversários, do que em construir uma agenda positiva para o Brasil.

Procura-se uma oposição Agenda positiva deveria ser proposta a uma audiência educada, e a campanha de Serra esteve mais para o contexto da Suécia do que do Brasil. Portanto, agenda positiva depende do contexto social: é necessária para pessoas instruídas, mas não emociona aqueles a quem o regime coloca na servidão dos meios de existência. E o rumo dos acontecimentos mostrava escandalosamente que somente uma alta dose emocional iria virar a mesa.

Em segundo lugar, o conceito de carisma. As pessoas pensam que carisma é uma espécie de essência ou flagrância da personalidade humana associada à empatia do discurso. Enganam-se: carisma é aquilo que uma pessoa apresenta no discurso quando critica uma situação ou os outros com as palavras que gostaríamos de dizer, mas que entretanto ainda não formulamos. O carisma funciona como uma transferência da nossa personalidade para a do líder, que pode ser tanto um político como um escritor ou apresentador de TV.

Políticos carismáticos possuem alta dose de ironia, capacidade inata para trocadilhos, uma “presença de espírito” para expressar ideias com metáforas simples e contundentes, para escrachar os inimigos e pulverizar as opiniões dos adversários. Nada disso emanou de Serra. Ele não sabe rir, não sabe satirizar, não consegue ser irônico. Seu tom é de professor em sala de aula, e isso é fatal para uma audiência como a brasileira que cultiva a piada do dia e abriga na alma uma inclinação natural para a irreverência.

Uma questão da velha política brasileira, defendida por Carlos Lacerda, era a do político “bom de voto”. Juscelino estava sempre sorrindo, era uma simpatia ambulante, independente de sua política. Lacerda tinha um grande charme e uma verve dificilmente igualada por qualquer outro político brasileiro. Serra não tem nada disso. Parece uma pessoa pálida, sem graça, mortificada por pensamentos sombrios.

Considere um assunto, por exemplo, o da educação. Serra centralizou o assunto em si mesmo, isto é, em sua gestão, e isso significou a perda de oportunidade de criticar o governo. Serra procurou mostrar os dados positivos do seu governo em SP. Consumiu seu tempo com isso. Mas os baixos índices de aproveitamento escolar não estão relacionados com um sindicato de professores comandado por militantes do partido adversário, e em cujas greves políticas os alunos ficaram prejudicados? Não são esses professores que estão destruindo consciências ao se oporem abertamente aos critérios de meritocracia, instituídos por Serra, na concessão de benefícios aos seus pares? Acaso o partido adversário não tem responsabilidade pelo caos no magistério?

Considere a decomposição intelectual de cursos patrocinados pelo governo federal, como o de Astrologia na Universidade de Brasília, ou seu Núcleo de Estudos Paranormais, que entre outras matérias se dedica ao estudo da Ufologia e da Cientologia, Teologia Ubandista, e assim por diante. Talvez Serra tenha evitado criticar esses descalabros para não ser acusado de patrocinar o curso de Consciência Negra introduzido na USP – uma bobagem sem tamanho, que nem merece consideração de pessoas instruídas.

E as cotas? Por que não se posicionar? Acaso ignorar questões que possam causar controvérsias e até reações contrárias vão melhorar seu desempenho eleitoral? A estratégia de não tocar em assuntos polêmicos equivale a de não ganhar adeptos. O resultado foi o previsto.

O vazamento de informações da conta bancária de sua filha não foi capitalizado em vantagem política porque Serra e o PSDB se opuseram a assumir uma liderança que estava mais além da disputa eleitoral. Era para convocar as massas para um comício no Ibirapuera, no início de setembro, sob a palavra de ordem que envolvesse todos os brasileiros sob ameaça de chantagem e violação de privacidade pelo aparelhamento petista na Receita Federal. Era o momento para Serra se despojar de sua postura de candidato e assumir o papel de líder popular. Era a virada necessária para atrair a classe média para as salvaguardas de privacidade e respeitabilidade vilipendiadas pelo governo federal. O que falar no discurso? Bastava apresentar um saldo bancário e dizer que doravante todos os brasileiros teriam suas contas bancárias devassadas. Simples como isso. E naturalmente perguntar: você gostaria que os outros soubessem que você comprou ontem uma... deixo aos marqueteiros a conclusão dessa frase.

Mas o fato mais dramático da campanha foram os desdobramentos com as denúncias envolvendo a corrupção na Casa Civil. Agora era para levar novamente as massas para o parque Ibirapuera em SP e redobrar os ataques a um governo cuja concussão está no próprio gabinete presidencial. Era uma radicalização necessária e imprescindível, sem a qual não haveria a possibilidade da vitória. Tratando o assunto com protestos, mas sem mobilização, dificilmente atingiria o efeito midiático necessário à virada eleitoral. E vimos o episódio acabar com mais uma oportunidade perdida. O comedimento do PSDB, certamente aterrorizado com a possibilidade de que o processo eleitoral nos levasse a uma guerra civil como na Espanha de 1936, mostra que não sabe lidar com o totalitarismo incipiente.
Procura-se uma oposição

FHC deve estar arrependidíssimo de não ter encorajado o impeachment de Lula em 2005, quando da explosão do mensalão. De lá para cá, a desfaçatez atingiu proporções nunca antes igualada na história republicana. O que nos permite concluir que o PSDB não é um partido político disposto a assumir os riscos que a política impõe àqueles que se aventuram a abraçá-la sem vacilações nos princípios do decoro.

A primeira reunião no Largo do São Francisco, ocorrida para manifestar repúdio à tentativa de censura à mídia, tinha que ter a presença de Serra, mesmo não sendo convidado. Era para chegar e discursar em qualquer circunstância, para capitalizar a liderança contra o golpe na imprensa livre. E com palanque. A imprensa iria repercutir como mais um fato a favor da liberdade e da oposição. Mas não foi isso que aconteceu. Por falta de senso tático não havia a presença do PSDB no palanque. O terceiro erro garrafal.

A segunda reunião, ocorrida sexta-feira 29/10, forçada por insistentes pedidos dos participantes do portal Proposta Serra, não havia palanque nem organização. Foi uma manifestação espontânea de última hora para apoio à sua candidatura com a presença de Alckmin, e parece de FHC, mas sem qualquer preparação e organização eficazes. Isso por si só consolida a ideia de que a campanha não tinha uma trajetória voltada para a mobilização das massas.

Repito que não haverá deposição do PT do governo se a oposição não assumir o papel de radicalizar o processo de defesa da democracia. Infelizmente é esse o único caminho existente para as mudanças. E por radicalização entendo a criação de comitês de amplo movimento nacional contra a ameaça de uma ditadura civil. Precisamos nos convencer de que o PT vestiu o modelo da ditadura, isto é, o PT representa hoje a ditadura do passado. E não se destitui um movimento que tem a capacidade de criar um exército de movimentos sociais mercenários sem um chamado ao patriotismo e à coragem.

Em 2009, os movimentos do PT em favor da cooptação de banqueiros (aumentando de lambuja os juros, sem qualquer justificativa), e de cooptação do empresariado (fornecendo empréstimos do BNDES a juros subsidiados por uma taxa 4% mais cara aos cofres públicos), exigia postura enérgica da oposição contra o estelionato eleitoral e um requerimento imediato do STF para forçar o BNDES a divulgar os beneficiados pela tramóia. Não foi isso o que aconteceu. O PSDB se manteve dentro de uma cautela onde o jogo político terminou voltado para os interesses regionais.
Procura-se uma oposição

Há também o fiasco das eleições para Senador em São Paulo. A negociação com Orestes Quércia, um candidato apoiando Serra, como dissidência do PMDB de Temer, foi totalmente inútil. Sabendo que a composição do Senado pode levar ao perigo de uma guinada totalitária na próxima legislatura, o PSDB se entregou a um jogo medíocre em vez de conchavar um rompimento do DEM, e este apresentar candidatura própria, como a de Afif Domingos, possibilitando uma dupla de senadores PSDB-DEM. Não foi o que aconteceu e a oposição ficou com uma só opção para o Senado em uma eleição de 2 votos. Existe atrapalhação maior?

Outra questão que levou Serra a perder votos foi o problema do pré-sal. Desde 2009 venho advertindo para a questão do pré-sal como um novo marco econômico para o país (veja em artigos neste site). O pré-sal deveria representar para as lideranças oposicionistas o descortinar de um novo momento na sociedade brasileira, como foram o ciclo da cana-de-açúcar, mineração de ouro, café, pecuária, soja, todas exemplares na formação do Brasil. O pré-sal exigia visão estratégica de um novo ciclo de desenvolvimento, com o país sendo visto e pensado como uma potência petrolífera exportadora. Infelizmente nada disso aconteceu. Afinal, se a atividade petroquímica pulou de 2% para 12% do PIB em uma década, era para se dar uma atenção especial.

O governo Lula cometeu tantas tropelias com a distribuição dos royalties que qualquer pessoa sensível podia perceber estar aí uma oportunidade para pulverizar a lógica do governo. Desde 2007, quando a questão do pré-sal foi colocada na sociedade brasileira, os partidos de oposição não foram capazes de criar um programa estratégico para o pré-sal que consubstanciasse a direção do Brasil em país exportador de petróleo e produtos petroquímicos, com a gasolina a 1 real (e alguns centavos) nos postos, algo perfeitamente factível, como tínhamos antes da crise do petróleo de 1973. Era essa a proposta de sensibilizaria as massas para uma grande guinada eleitoral.

E a capitalização da Petrobras então nem se fala. Silenciando sobre uma fraude de 5 bilhões de barris que se leiloados no mercado privado atingiriam cifras acima de 100 bilhões de dólares, Serra preferiu não enfrentar o terrorismo da privatização e, mudando a estratégia, acusou o PT de privatização, mostrando que a ANP no governo Lula teria leiloado mais áreas do pré-sal do que FHC. Com isso, pretendia neutralizar o discurso petista de estatização.
Procura-se uma oposição

Foi mais um erro garrafal. Ora, o PT, desprovido de capacidade intelectual para perceber o pré-sal como um trampolim para uma nova fase de desenvolvimento do Brasil, a menos da proposta de lesa-pátria do modelo de partilha – em que a Petrobras passa a definir o quanto vai gastar em cada poço para só depois dar satisfação ao governo –, poderia ficar acuado com a promessa de o Brasil exportar 5 milhões de barris/dia de óleo, e equivalentes de gasolina e produtos petroquímicos, o que exigiria a triplicação de nossas plantas petroquímicas e refinarias. Isso permitiria oferecer aos brasileiros uma gasolina a preço de banana na bomba, mostrando que quanto maior o número de empresas envolvidas no petróleo melhor para o Tesouro, pois criaria uma arrecadação excedente permitindo uma reforma tributária que enriqueceria a nação.

Ao contrário, a campanha de Serra partiu para encurralar Dilma mostrando que 108 empresas petrolíferas privadas (e algumas estrangeiras) teriam se instalado no Brasil à custa do governo Lula. Convenhamos! Não é possível que semelhante burrice possa se originar no ‘intelectualizado’ PSDB. Este não é um argumento sério. As empresas privadas são resultado do novo marco regulatório do petróleo instituído por FHC. Foram estas empresas que, nos últimos anos, permitiram o pulo de 10% em nosso PIB só com a contribuição do petróleo.

Ao adotar um tom nacionalista retrógrado, Serra desvalorizou o próprio legado e colocou contra si empresas que poderiam estar a seu favor. Na verdade, o governo Lula simplesmente deixou o carro correr porque governa o país na ‘banguela’, com os frutos do esforço hercúleo dado lá atrás com as reformas incompletas de FHC. Os governistas gostam do Estado porque não precisam coçar a cabeça criando soluções baseadas na produção e no desenvolvimento econômico – teoria que desprezam e negligenciam. Qualquer pessoa minimamente instruída sabe que Lula se comporta na direção do caminhão Brasil, conforme o plano inclinado da economia mundial, e se refestela de faceiro dirigindo um veículo no declive asiático sem saber onde fica o acelerador. Mas como um amador na direção do caminhão Brasil aproveita o embalo até a próxima subida, preparado para criticar Deus e o Diabo quando o veículo parar por desconhecimento da máquina que dirige.

Incapaz de pensar no futuro de reservas bilionárias em petróleo, Serra voltou-se para o passado e tratou de evitar o terrorismo da privatização da Petrobras impingido a Alckmin em 2006: novamente evitando riscos, comprometeu a vitória. Serra tinha obrigação de mostrar aos aliados de Dilma sua natureza crua e nua, isto é, disparar contra os adversários com as mesmas armas disparadas contra ele.
Procura-se uma oposição

Por que não mobilizar a aterrorizada classe de agricultores com as imagens de destruição das fazendas pelo MST? Em política, existem atos que não podem passar em branco, sob pena de cumplicidade e acobertamento. Não mostrar na TV as inúmeras cenas de vandalismo praticadas pelos aliados de Dilma em todo o país significa ignorar que nosso campo vive em situação de intimidação, de medo e terror de que uma denúncia qualquer possa significar a perdição de famílias inteiras, na destruição de um esforço de gerações na labuta da terra em favor de uma massa de saqueadores mercenários comandada por líderes terroristas. E não será essa insegurança rural que vai acabar se estendendo para as cidades atingindo todos os cidadãos deste país?

Por que Serra não apareceu na TV em plena Carajás para defender a privatização de uma empresa que se decuplicou em valor em dez anos? Por que não falar dos telefones de 4 mil dólares do passado para custo zero dos dias atuais? Por que Serra não apareceu na TV assumindo a paternidade e segurando uma nota de 1 real? Por que Serra não apareceu na TV ao lado de um avião da Embraer? Por que Serra evitou mostrar que São Paulo é a locomotiva da nação, e que somente em São Paulo existe um museu de ciências chamado Catavento que ele mesmo criou, um museu do futebol, um museu da língua portuguesa, e tantas outras coisas negligenciadas em sua campanha eleitoral? Com a abordagem inadequada dos temas sociais dos últimos anos, como a recriação da Telebras, as invasões de terra, o PNDH3, as cotas raciais que já citei, vivenciamos uma campanha política em que o discurso dos candidatos não bate com a realidade social.

Por isso, o balanço das eleições de 2010 está muito longe de ser fechado, e talvez tenha consequências e desdobramentos que vão bater em 2014. José Serra deveria ter mais autocrítica para reconhecer que foi com ele que em 2002 Lula assumiu a presidência. Considerando que Dilma Rousseff é uma candidata que todo político esperto pediu a Deus para bombardear, já que seu perfil também não é de política, e seu discurso não contém o kit mínimo indispensável à sobrevivência, pois, tal como Serra, não tem ironia nem mordacidade, o que fez de Dilma uma vencedora foi a fraqueza política de Serra e não atributos políticos inatos de Dilma. Ela venceu as eleições sem nunca ter sido candidata, e isto significa que o nosso sistema político prescinde do próprio candidato. Isso por si só já é um sinal alarmante de que não estamos numa democracia, mas em alguma outra coisa que não sabemos, mas que entretanto fizemos questão de fingir que é democracia. Uma candidata que não se elege com atributos pessoais, mas com uma estrutura suprapartidária sinaliza crise à frente.

Com um discursinho desmilinguido, Marina Silva conseguiu quase 20% dos votos. Não era uma lição para Serra perceber o erro em que tinha se metido? Com razão se dizia que Dilma não estava preparada para a presidência da República. Isso ela demonstrou nos primeiros dias de campanha, quando se viu que era uma pessoa cujo perfil era o de ser comandada e não o de comandar.

Mas esse é também o perfil de Lula. Não existe ninguém mais desprovido de condições de comando do que Lula. A menos para os bajuladores de plantão e os batedores de palmas de auditório. O que demonstra que o problema da capacidade de comandar nunca esteve em julgamento no pós-ditadura. Isto significa que uma geração inteira de brasileiros sequer entende o que significa política além de foguetórios e louvações. E nos dois casos, Serra foi o escolhido para dar combate a este embuste que renegou todas as reformas e silenciou em todas as mudanças sociais que o Brasil gritava 2 décadas atrás. E perdeu. Perdeu pelo silêncio e pela omissão. Perdeu pelo esquecimento e pela desconsideração com os próprios avanços que protagonizou.

O que ficou claro é que o Brasil precisa de um partido de oposição. Ou melhor, de um movimento apartidário de oposição. Um movimento que seja capaz de reunir intelectuais, de escrever um programa de reformas que o Brasil precisa, e que se disponha a arregimentar simpatizantes em todo o país. Em 2010 a coligação Brasil Pode Mais mostrou eleitoralmente que não pode nada porque não entendeu o Brasil. Está na hora de os brasileiros se darem conta de que precisam de um movimento político que seja efetivamente de oposição, e de preparar um candidato com a sorte de ter para seu adversário alguém tão insípido e mau político quanto José Serra, e tão desastrado quanto o PSDB e seus marqueteiros.

Fim

O Senado a partir de 2011: uma casa de santos...

Alguns subjudice; depois, se passarem, voltam a ser santos...

O novo Senado em 2011
Veja quem se elegeu, quem está no meio do mandato e quem ainda pode assumir uma cadeira na Casa
PT e PMDB elegem quase metade dos senadores

Acre
Jorge Viana (PT) - eleito
Sérgio Petecão (PMN) - eleito
Aníbal Diniz (PT-AC), suplente do governador eleito Tião Viana (PT-AC) – mandato até 2015

Alagoas
Benedito de Lira (PP) - eleito
Renan Calheiros (PMDB) - reeleito
Fernando Collor (PTB) – mandato até 2015

Amapá
Randolfe (Psol) - eleito
Gilvam Borges (PMDB)*
José Sarney (PMDB) – mandato até 2015
*Reeleição sub judice. Não foram computados os votos de João Capiberibe (PSB), barrado pela Lei da Ficha Limpa

Amazonas
Eduardo Braga (PMDB) - eleito
Vanessa Grazziotin (PCdoB) – eleita
Alfredo Nascimento (PR) – mandato até 2015

Bahia
Walter Pinheiro (PT) - eleito
Lídice da Mata (PSB) – eleita
João Durval (PDT) – mandato até 2015

Ceará
Eunício Oliveira (PMDB) – eleito
José Pimentel (PT) – eleito
Inácio Arruda (PCdoB) – mandato até 2015

Distrito Federal
Cristovam Buarque (PDT) - reeleito
Rodrigo Rollemberg (DF) - eleito
Gim Argello (PTB) - mandato até 2015

Espírito Santo
Magno Malta (PR) – reeleito
Ricardo Ferraço (PMDB) – eleito
Ana Rita Esgário (PT), suplente do governador eleito Renato Casagrande (PSB-ES) – mandato até 2015

Goiás
Demóstenes Torres (DEM) - reeleito
Lúcia Vânia (PSDB) - reeleita
Marconi Perillo (PSDB) – mandato até 2015**
**disputa o segundo turno em Goiás, seu primeiro suplente é Cyro Miranda (PSDB)

Maranhão
Edison Lobão (PMDB) – reeleito
João Alberto (PMDB) - eleito
Epitácio Cafeteira (PTB) - mandato até 2015

Minas Gerais
Aécio Neves (PSDB) – eleito
Itamar Franco (PPS) – eleito
Eliseu Rezende (DEM) - mandato até 2015

Mato Grosso
Blairo Maggi (PR) – eleito
Pedro Taques (PDT) – eleito
Jayme Campos (DEM) - mandato até 2015

Mato Grosso do Sul
Delcídio Amaral (MS) – reeleito
Valdemir Moka (PMDB) – eleito
Marisa Serrano (PSDB) – mandato até 2015

Paraíba
Vitalzinho (PMDB) – eleito
Wilson Santiago (PMDB)*
Cícero Lucena (PSDB) - mandato até 2015
*Eleição sub judice. Não foram computados os votos de Cássio Cunha Lima (PSDB), barrado pela Ficha Limpa

Pernambuco
Humberto Costa (PT) – eleito
Armando Monteiro (PTB) – eleito
Jarbas Vasconcelos (PMDB) - mandato até 2015

Pará
Flexa Ribeiro (PSDB) – reeleito
Marinor Brito (Psol)*
Mário Couto (PSDB) – mandato até 2015
* Eleição sub judice. Não foram computados os votos de Jader Barbalho (PMDB) e Paulo Rocha (PT), barrados pela Ficha Limpa

Piauí
Wellington Dias (PT) – eleito
Ciro Nogueira (PP) – eleito
João Vicente Claudino (PTB) - mandato até 2015

Paraná
Gleisi Hoffman (PT) – eleita
Roberto Requião (PMDB) – eleito
Alvaro Dias (PSDB) - mandato até 2015

Rio de Janeiro
Lindberg Farias (PT) – eleito
Marcelo Crivella (PRB) – reeleito
Francisco Dorneles (PP) - mandato até 2015

Rio Grande do Norte
José Agripino (DEM) – reeleito
Garibaldi Alves Filho (PMDB) – reeleito
Garibaldi Alves (PMDB), suplente que assume no lugar de Rosalba Ciarlini (DEM), governadora eleita - mandato até 2015

Rondônia
Valdir Raupp (PMDB) – reeleito
Ivo Cassol (PP)*
Acir Gurgacz (PDT) até 2015
*Eleição sub judice.O ex-governador Cassol conseguiu liminar suspendendo os efeitos da Lei da Ficha Limpa. A terceira colocada na disputa foi a senadora Fátima Cleide (PT).

Roraima
Romero Jucá (PMDB) – reeleito
Ângela Portela (PT) – eleita
Mozarildo Cavalcanti (PTB) – mandato até 2015

Rio Grande do Sul
Paulo Paim (PT) – reeleito
Ana Amélia Lemos (PP) – eleita
Pedro Simon (PMDB) até 2015

São Paulo
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) - eleito
Marta Suplicy (PT) – eleita
Eduardo Suplicy (PT) - mandato até 2015

Sergipe
Antonio Carlos Valadares (PSB) – reeleito
Eduardo Amorim (PSC) – eleito
Maria do Carmo (DEM-SE) - mandato até 2015

Santa Catarina
Luiz Henrique (PMDB) – eleito
Paulo Bauer (PSDB) – eleito
Niúra Demarchi (PSDB), suplente do governador eleito Raimundo Colombo (DEM) – mandato até 2015

Tocantins
João Ribeiro (PR) - reeleito
Marcelo Miranda (PMDB) - eleito
Kátia Abreu (DEM) - mandato até 2015

Oposição governará maioria dos brasileiros

Estão contando apenas pessoas. Se contassem PIB, a concentração seria ainda maior...
Paulo Roberto de Almeida

Oposição governará maioria dos brasileiros
Edson Sardinha e Eduardo Militão
Congresso em Foco, 01/11/2010

Os partidos que apoiam Dilma fizeram mais governadores, mas governadores de oposição estarão à frente da administração da vida de 52% dos brasileiros

Estados que serão comandados por tucanos, como Geraldo Alckmin, somam quase metade da população brasileira

Apesar de ter recebido mais de 55 milhões de votos e contar com uma maioria confortável no Congresso, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), enfrentará a oposição de governadores em dez estados que concentram mais da metade da população brasileira. O partido do candidato derrotado à Presidência, José Serra (PSDB), elegeu oito governadores e o DEM, de seu vice, outros dois. Os estados que serão governados pelas duas legendas reúnem 52% dos 183,98 milhões de brasileiros. Desses, 47,16% serão comandados por tucanos. Os estados que serão administrados pelo PSDB têm, juntos, população de 86,77 milhões de pessoas. Se somarmos a população dos estados do DEM (SC e RN), teremos 95,65 milhões. No caso do PT, a população que será governada pelo partido é de 29,7 milhões.

Curiosamente, o percentual é o mesmo obtido pelos oposicionistas quatro anos atrás, na reeleição do presidente Lula, também em segundo turno. Em 2006, o PSDB elegeu seis governadores, o PFL (hoje DEM), um, o PPS e o PDT – que então fazia oposição ao governo Lula – mais dois cada. Os pedetistas fazem hoje parte da base aliada do petista e da presidente eleita.

Cenário mais favorável
O cenário que se apresenta para Dilma é mais favorável do que o vivido por Lula em seu primeiro mandato. No começo de seu primeiro governo, em 2003, o presidente também deparou com 11 governadores de partidos oposicionistas – eram sete do PSDB e quatro do DEM – que tinham em suas mãos o equivalente a 58,95% da população brasileira. O atual oposicionista PPS era aliado do PT na época. O PFL (hoje DEM) governava quatro estados, com 12,7% da população nacional. Rebatizado de Democratas, o partido terá a partir do ano que vem apenas dois estados sob seu comando: Santa Catarina e Rio Grande do Norte, ou seja, somente 4,82% de todos os habitantes do país.

Nestas eleições, nenhum partido elegeu mais governadores do que o PSDB. O partido de José Serra e do senador eleito Aécio Neves (MG) seguirá comandando os dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais, e retomou o poder em outros três importantes estados: Paraná, segundo maior colégio eleitoral da região Sul; Goiás, o principal do Centro-Oeste, e Pará, o mais populoso do Norte. Os tucanos também renovaram o mandato em Alagoas e em Roraima. Venceram ainda no Tocantins, com Siqueira Campos.

Em 2006, quando Geraldo Alckmin (PSDB) foi derrotado no segundo turno pelo presidente Lula, o PSDB fez seis governadores em estados que representavam 41,71% da população brasileira. Em 2002, os tucanos elegeram sete governadores em estados que concentravam 43,45% da população.

Desempenho dos aliados
Depois do PSDB, o PT é o partido que terá maior parte do eleitorado brasileiro sob seu comando nos estados. O Distrito Federal, a Bahia, o Rio Grande do Sul, o Acre e Sergipe abrigam 15,27% dos brasileiros. O índice supera o de governados pelo PSB, segundo partido que mais governos conquistou nestas eleições. Os seis governadores eleitos pela legenda de Ciro Gomes vão administrar estados com população equivalente a 14,82% dos brasileiros.

Em 2006, os petistas também elegeram cinco governadores. Um deles não conseguiu se reeleger ontem (31), a governadora do Pará, Ana Júlia. A derrota no maior colégio eleitoral do Norte foi compensada pela vitória na capital do país, com Agnelo Queiroz (PT), também obtida nesse domingo, e no Rio Grande do Sul, com Tarso Genro (PT), já no primeiro turno.

Ao repetir o desempenho da eleição passada, o PT deixa para trás o cenário de 2002, quando fez apenas três governadores, em estados que não figuram entre os maiores colégios eleitorais do país, Acre, Mato Grosso do Sul e Piauí. Aliado de primeira hora dos petistas, o PSB melhorou seu desempenho em relação há quatro anos, quando elegeu três governadores – metade do número alcançado nesta eleição.

O partido conquistou o Espírito Santo, com Renato Casagrande; o Amapá, com Camilo Capiberibe; a Paraíba, com Ricardo Coutinho, e o Piauí, com Wilson Martins. Reelegeu ainda Cid Gomes no Ceará e Eduardo Campos em Pernambuco. Em 2002, o partido havia feito quatro governadores: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Alagoas.

Embora tenha feito um governador a menos que o PSB, o PMDB também comandará população maior que o Partido Socialista Brasileiro, a exemplo do PT. Os peemedebistas vão responder pela administração onde vivem 15,27% dos brasileiros. O partido do vice-presidente eleito, Michel Temer, conseguiu reeleger os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do Maranhão, Roseana Sarney, e de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli. Venceu ainda em Mato Grosso, com Silval Barbosa, e Rondônia, com Confúcio Moura. O número de governadores peemedebistas eleitos é o mesmo de 2002. Em 2006, o partido chegou ao poder em sete unidades federativas.

Estranho no ninho
O único intruso no ninho dos partidos tradicionais a eleger governador este ano foi o PMN, do governador eleito do Amazonas, Omar Aziz. Governador desde março, quando o titular, Eduardo Braga (PMDB), deixou o cargo para concorrer a senador, Aziz terá seu comando 3,22 milhões de habitantes, ou seja, 1,75% da população brasileira. Apesar de o PMN ter feito parte da coligação de Serra, o governador reeleito apoiou a candidatura de Dilma Rousseff no estado.

Em 2002, outro pequeno partido também conseguiu chegar ao governo. Foi o PSL, com Flamarion Portela, em Roraima. Depois de eleito, Flamarion acabou se transferindo para o PT. Ele acabou expulso do partido ao ter seu nome associado ao chamado “escândalo dos gafanhotos”, esquema de fraude na folha de pagamentos do estado. Posteriormente, o roraimense foi cassado por crimes eleitorais.

Dois partidos que elegeram governador em 2006 não conseguiram repetir a proeza este ano. O PP, que elegeu Alcides Rodrigues em Goiás naquele ano, e o PPS, que elegeu Blairo Maggi em Mato Grosso e Ivo Cassol em Rondônia, não tiveram êxito nesta eleição. O PP disputou voto a voto em Roraima, disputada mais acirrada deste segundo turno, mas viu seu candidato, o ex-governador Neudo Campos – outro envolvido na Operação Gafanhoto – ser derrotado pelo atual governador Anchieta Junior (PSDB). O PPS também saiu derrotado das urnas ontem: João Cahulla não conseguiu renovar o mandato, foi derrotado por Confúcio Moura (PMDB).

Veja como foram as eleições em cada estado
Os governadores eleitos

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O discurso do derrotado - Jose Serra

Discurso de José Serra
31.10.2010

Leia a íntegra do pronunciamento feito por José Serra na noite desse domingo (31), ao reconhecer a derrota para a petista Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência da República:

"No dia de hoje, os eleitores falaram e nós recebemos com respeito e humildade a voz do povo. Quero aqui cumprimentar a candidata eleita Dilma Rousseff (PT) e desejar que ela faça bem para o nosso país.

Eu disputei com muito orgulho a Presidência da República. Quis o povo que não fosse agora. Mas digo, aqui, de coração, que sou muito grato aos 43,6 milhões de brasileiros e brasileiras que votaram em mim. Sou muito grato a todos e a todas que colocaram um adesivo, uma camiseta que carregaram uma bandeira com Serra 45.

Quero agradecer também aos milhões de militantes que lutaram nas ruas e na internet por um Brasil soberano, democrático e que seja propriedade do seu povo.

Eu recebi tanta energia nessa campanha, foram sete meses de muita energia, de muita movimentação e de muito equilíbrio também, que foi necessário. E eu chego hoje, nesta etapa final, com a mesma energia que tive ao longo dos últimos meses. O problema é como dispender essa energia nos próximos dias e semanas.

Ao lado desses 43,6 milhões de votos, nós recebemos, também, votos que elegeram dez governadores que nos apoiaram. Dos quais, um está presente. Um companheiro de muitas jornadas, Geraldo Alckmin. Ele se empenhou na minha eleição, mais do que se empenhou na dele.

A maior vitória que nós conquistamos nessa campanha não foi mérito meu, mas foi de vocês [imprensa]. Nesses meses duríssimos, onde enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica no Brasil. Cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza, consolidaram um campo político de defesa da liberdade e da democracia do Brasil.

Vi centenas e milhares de jovens que me lembraram o jovem que eu fui um dia, sonhando e lutando por um país melhor, como eu faço até hoje. Onde os políticos fossem servidores do povo e não se servissem do nosso povo.

Para os que nos imaginam derrotados, eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade. Nós vamos dar a nossa contribuição ao país, em defesa da pátria, da liberdade, da democracia, do direito que todos têm de falar e de serem ouvidos. Vamos dar a nossa contribuição como partidos, como parlamentares, como governadores. Essa será a nossa luta.

Por isso a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua. Viva o Brasil."

Um teste de futurologia: o ministerio da presidenta

Nomes cotados para o Ministério de Dilma:

Casa Civil- Antonio Palocci-Paulo Bernardo
Agricultura- Wagner Rossi
Banco Central- Alexandre Tombini, Octavio de Barros, Luciano Coutinho
Relações Exteriores- Celso Amorim-Antonio Patriota
Bndes-Nelson Barbosa
Saúde- Antonio Palocci
Petrobrás- Sergio Gabrielli-Maria das Graças Foster
Relações Institucionais- Alexandre Padilha
Infra-Estrutura e Transportes- Henrique Meirelles
Fazenda -Luciano Coutinho-Nelson Barbosa
Planejamento- Paulo Bernardo-Guido Mantega
Minas e Energia- Edson Lobão-Maria das Graças Foster
Des.Comercio e Industria- Abílio Diniz
Cidades- Marta Suplicy-Fernando Pimentel
Justiça- José Eduardo Cardoso
Ciência e Tecnologia- Aloísio Mercadante
Integração Nacional- Ciro Gomes
Caixa Econômica Federal- Moreira Franco
Comunicação Social- Helena Chagas

Uma voz autorizada sobre a eleicao da presidenta - Jose Dirceu

Não vou contestar os muitos equívocos, inverdades e bazófias perpetrados pelo ex-Richelieu déchu do primeiro mandato. Ele acerta em vários argumentos quanto aos erros do PSDB, mas obviamente possui um viés tão paranoicamente anti-PSDB que obscurece sua capacidade de análise. Como Lula também fez -- -provavelmente por necessidade psicológica de ser maior do que FHC, o grão-vizir tem uma obsessão por desconstruir o passado e creditar todas as benfeitorias ao governo do PT. Só assim, ele consegue engrandecer o que fizeram. Ou seja, a referência absoluta é o PSDB.
Se fossemos confrontar o que o PT dizia e o que o governo do Lula fez, as contradições seriam tão gritantes que o Richelieu ficaria do tamanho de um pagem...
Paulo Roberto de Almeida
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Novos ventosJosé Dirceu
1.11.2010

 O PSDB partiu para as eleições com o discurso de que o atual governo de centro-esquerda só foi bem sucedido porque se aproveitou das mudanças introduzidas no país por Fernando Henrique Cardoso. “Eu fiz as reformas. Lula surfou a onda”, sintetizou o ex-presidente. Para os tucanos, o Brasil continuaria se desenvolvendo independentemente de o PT continuar no governo nos próximos quatro anos.

Ao negar a importância da política de desenvolvimento de Lula, o PSDB confirma que continua o mesmo partido do neoliberalismo e das privatizações. As diferenças entre o projeto tucano e o implantado por Lula são nítidas. FHC apostou nos recursos externos como base para o desenvolvimento, o que aniquilou a capacidade soberana de o Brasil crescer. As condições para isso foram retomadas por Lula por meio do fortalecimento do mercado interno e do Estado, que adotou políticas de distribuição de renda e de estímulo à atividade produtiva, medidas que garantiram os novos investimentos públicos e privados e a superação da mais grave crise mundial desde 1929.

A permanência das políticas do Governo Lula —representada pela eleição de Dilma Rousseff— será fundamental para enfrentarmos os desafios que se impõem ao país. A vitória da candidata petista significa manter o atual projeto nacionalista, desenvolvimentista e redistribucionista e permitirá, a partir de 1° de janeiro de 2011, seu aprofundamento. Neste novo ciclo de quatro anos, nossa prioridade deve ser impulsionar a Educação e a CT&I (ciência, tecnologia e inovação). Sem saltos nessas áreas, a atual fase de crescimento econômico será enfraquecida.

A Educação —do ensino infantil à pós-graduação— é a base do desenvolvimento econômico e social de qualquer nação. Ela garante uma população pronta para o exercício da cidadania e para a conquista de postos de emprego qualificados. No atual governo, o orçamento do Ministério da Educação saltou de R$ 20 bilhões para R$ 60 bilhões. Com o Fundeb (fundo da educação básica), o governo passou a destinar dez vezes mais recursos para o ensino escolar. Agora, o eventual governo Dilma precisara elevar para 7% do PIB os gastos no setor.

O país precisará, nos próximos anos, erradicar definitivamente o analfabetismo e continuar investindo em educação pública de qualidade para adolescentes e crianças. Isso depende de fazermos avançar o ensino em tempo integral em escolas com infraestrutura de qualidade, professores capacitados e banda larga. Dar continuidade à implantação dos Institutos Federais Tecnológicos, capacitando nossa juventude para o mercado de trabalho. Enquanto na outra ponta, precisamos continuar incluindo os jovens no ensino superior —passo inicialmente dado com o ProUni— e seguir expandindo as universidades públicas —foram construídas 14 novas.

A Educação é um dos pilares das iniciativas em CT&I. Conforme Dilma Rousseff evidenciou desde o início desta campanha, o Brasil é líder nas pesquisas na área energética (petróleo e gás) e projeta-se como a principal nação do mundo quando se fala em fontes limpas e renováveis —hidrelétricas, eólicas, solar, biomassa e álcool. Porém, precisaremos intensificar os investimentos em outros setores estratégicos: produção farmacêutica, tecnologia da informação e comunicação, nanotecnologia, biotecnologia e complexo de defesa. Em outras áreas precisamos ter a atuação fortalecida, caso da agropecuária e das indústrias automobilística, aeronáutica, naval e de plástico.

O mundo atual passa pela transição para a economia do baixo carbono. Os países que liderarem o desenvolvimento das tecnologias sustentáveis ocuparão, num futuro cada vez mais próximo, um lugar de destaque no mercado internacional. Para que isso ocorra, precisamos caminhar para que 2% do PIB sejam investidos em CT&I. Esses recursos permitirão mais bolsas de estudos do CNPq e da Capes, criação de parcerias público-privadas, novas unidades de referência em pesquisa e centros vocacionais tecnológicos.

As reiteradas críticas ao aporte de recursos do Tesouro ao BNDES, assim como o terrorismo midiático que precedeu a mais do que vitoriosa capitalização da Petrobras, servem para evidenciar que uma oposição amplificada pelos grandes meios de comunicação resistirá à continuidade das atuais políticas.

A vitória de Dilma sedimenta as bases não só para os investimentos em infraestrutura, econômicos e sociais, saneamento, transporte, habitação, a exploração do pré-sal e a erradicação da miséria. O novo governo do PT permitirá saltos em educação e desenvolvimento tecnológico, decisivos para colocar o Brasil entre as cinco maiores nações do mundo. Com isso, o Estado brasileiro incorporará cada vez mais mecanismos sintonizados com a nova concepção desenvolvimentista que passamos a vivenciar com o Governo Lula. Os novos ventos sopram a nosso favor.

José Dirceu, 64, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e integrante do Diretório Nacional do PT.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As promessas da candidata eleita - Paulo Roberto de Almeida


As promessas da candidata eleita: breve avaliação

Paulo Roberto Almeida

Assim como fiz brevemente em relação ao candidato da oposição, vou examinar, ainda que brevemente, os compromissos assumidos pela candidata oficial, agora eleita, que deveriam funcionar como uma série de engajamentos genéricos a serem cumpridos nos próximos quatro anos. Justamente, em virtude de seu caráter por demais genérico, certos “compromissos” não representam quase nada.

OS 13 COMPROMISSOS

1. Expandir e fortalecer a democracia política, econômica e social. Garantia irrestrita de liberdade religiosa, de imprensa e de expressão
PRA: Tendo em conta as barbaridades que foram sendo ditas, ao longo dos últimos oito anos, sobre a “grande mídia”, sobre essa alucinação coletiva chamada “Partido da Imprensa Golpista”, mais carinhosamente chamada de PIG, e todas as obsessões de petistas e aliados contra uma coisa chamada “monopólio das comunicações nas mãos de grandes grupos”, é realmente bem-vindo que a candidata se tenha comprometido a “expandir e fortalecer” tudo isso que vai acima.
Na verdade, tudo isso nem precisaria ser dito, sequer mencionado, se não subsistissem desconfianças de que, entre seus colegas de partido e outros apoiadores dotados de vocação totalitária, se apresentassem novamente as mesmas propostas dessas “conferências nacionais” manipuladas por partidos e grupelhos anti-democráticos, empenhados em construir uma imprensa à imagem e semelhança de outras que existem em países justamente anti-democráticos e totalitários.
Nada disso precisaria existir, se não fosse esse comichão de restringir as ditas liberdades. Aliás, a candidata não precisa garantir nada. A Constituição já garante. Ela não precisa fazer nada, basta ficar quieta e não mexer com a imprensa, que dispensa totalmente suas “garantias” para continuar existindo e funcionando normalmente. Quem precisa de garantias é a sociedade, de que dinheiro público não vá para uma imprensa amestrada, para órgãos de informação escravos do poder e coisas do gênero.
Uma boa coisa seria a presidente eleita – sorry, mas não consigo chamá-la de presidenta, coisa horrível de se dizer, sem qualquer sentido aliás – prometer acabar com o ministério da propaganda (vulgarmente conhecido como Secom) e suas imensas verbas, gastas inutilmente em fazer publicidade do governo. Quando o governo tem algo a dizer para a sociedade, se for relevante, não se preocupe que a imprensa repercutirá, de graça para o governo. Todo o resto é propaganda, e portanto dispensável.

2. Construir mais. Crescimento com distribuição de renda
PRA: ??!!! So what? Alguém é contra o crescimento, contra “construir mais”? Bem, talvez os ecologistas, mas esses a candidata sabe como tratar. Alguém seria a favor do crescimento com concentração de renda? Mesmo sendo, ninguém vai dizer.
Na verdade, são os governos que concentram renda, ao dar bolsa-banqueiro (juros altos dos títulos da dívida pública), bolsa-industrial (dinheiro barato do BNDES, para certos projetos ditos “estratégicos”), altos salários para os mandarins da República, a começar pelo Judiciário e Legislativo, pensões e aposentadorias generosas para os mesmos, universidade pública gratuita para os filhos dos ricos, enfim, toda uma série de mecanismos concentradores – a começar pela inflação, que muitos economistas da tropa da presidente favorecem, em troca de “mais emprego” – que governos ditos populares costumam praticar sem mesmo ter consciência do que estão fazendo.

3. Projeto Nacional de Desenvolvimento que assegure a transformação produtiva
PRA: Essa conversa de “projeto nacional” sempre aparece naqueles grupos que tem essa vocação de praticar “engenharia social”. Alguém já viu algum país hoje rico e avançado que tenha alcançado esse estágio de desenvolvimento através de um “projeto nacional”? Acho que essas nações simplesmente trabalharam duro até ficarem ricas e prósperas. Se em vez de perder tempo com essas bobagens que nunca forem implementadas, o novo governo simplesmente estimular a atividade empresarial privada, parar de fazer “despoupança” com o dinheiro da sociedade já seria uma ótima coisa. Os melhores projetos costumam ser os mais simples: produzir, criar empregos, distribuir riqueza pela via do mercado, etc. Se projeto nacional de desenvolvimento fosse receita milagre de desenvolvimento, os países socialistas, com todos os seus planos quinquenais e o planejamento centralizado, teriam conseguido se tornar potências avançadíssimas, não a miséria e o desastre social, humano e material que foram, até soçobrarem na irrelevância econômica total.

4. Defender o meio ambiente e garantir o desenvolvimento sustentável
PRA: Muito bem. Lá vai a presidente, que já afirmou em Copenhagen que o meio ambiente era uma ameaça ao desenvolvimento, agora sai para defendê-lo bravamente. Não sei por que, mas tenho uma bronca desse tal de “desenvolvimento sustentável”; acho a maior bobagem politicamente correta já criada nos últimos 30 anos. Ponto.

5. Erradicar a pobreza
PRA: Uau! Excusez du peu, como diriam os franceses. Não se trata nem de diminuir a miséria ou eliminar a pobreza extrema, mas simplesmente “erradicar a pobreza”. E isso em 4 anos! Bem, quem sou para contestar a presidente? Acho que os EUA, uma das nações mais avançadas do planeta, mas que ainda tem muitos pobres, vão pedir a receita da solução milagre...

6. Governo para todos com atenção especial ao direito dos trabalhadores
PRA: Xiii! Acho que vem mais engessamento da legislação trabalhista por aí, o que não seria nada estranho, em se tratando de um governo eleito com o apoio dos sindicatos de trabalhadores, alguns até verdadeiras máfias sindicais. Trata-se da melhor garantia de que o desemprego vai continuar alto nos próximos anos.
Mas se eu falar em reforma da legislação trabalhista, no sentido da empregabilidade, vão me chamar de “neoliberal”. Acho que eles vão conseguir aprovar a lei das “40 horas”, sem redução de salário, o que deve aumentar um pouco mais o desemprego, como aliás ocorreu na França e suas 35 horas, frustradas. Veremos...

7. Educação para igualdade social
PRA: ??? Não imaginaria ninguém prometendo educação para a desigualdade. Agora, o que isso quer dizer, exatamente, eu não sei. Acho que nem a candidata eleita.

8. Trabalhar o Brasil em políticas científica e tecnológica
PRA: “Trabalhar” o Brasil? É com esse tipo de linguagem que se pretende trabalhar no governo? Acho melhor eles fazerem um curso de Português antes...
Aguardo maiores esclarecimento, pois a frase não quer dizer rigorosamente nada. Enquanto isso vou “trabalhar” a massa do pão de queijo.

9. Universalizar a saúde e garantir a qualidade de atendimento do SUS
PRA: Curioso: o presidente atual já tinha dito que a saúde no Brasil estava quase perfeita! Será que aconteceu alguma coisa no caminho que atrapalhou? Será que foi a “extinção perversa” da CPMF? Mas não pode ser: a arrecadação continuou a subir depois disso, ultrapassando, aliás, os volumes previstos para a CPMF. Tenho por mim que o problema da saúde não é tanto a necessidade de mais dinheiro e sim de gestão e de boa administração. Coisas que um Estado organizado pode fazer em quatro anos...
Pode até universalizar, mas acho que vai sair um pouco mais caro do que meio PIB. Aí, vão vir novamente com aquela história da CPMF. Alguém acredita?

10. Vida nas cidades. Habitação, Saneamento e Transportes
PRA: So what?, como diriam os ingleses. Aguardaremos nossa vida... E o pessoal do campo, não leva nada?

11. Valorizar a cultura nacional e dialogar com as outras
PRA: Vamos colocar a nossa cultura a dialogar com as outras. Bom programa. Se parar de dar dinheiro para artista incompetente para ganhar o seu próprio dinheiro no mercado, já estaria muito bom. Esses filminhos oficialescos costumam ser horríveis.

12.Combater o crime e garantir a segurança dos cidadãos
PRA: Muito bem. Acho que é isso. Faltou só dizer como...

13. Presença ativa e altiva do Brasil no mundo.
PRA: OK, não precisamos mais nos preocupar com a nossa soberania. Ainda bem que ela está assegurada. Eu me sinto tão mais tranqüilo assim: poder dizer não ao império, poder dizer sim aos países pobres... Tão melhor...

Dilma Roussef
            PRA: Presidente ou presidenta?

Shanghai, 1 de novembro de 2010