Estão contando apenas pessoas. Se contassem PIB, a concentração seria ainda maior...
Paulo Roberto de Almeida
Oposição governará maioria dos brasileiros
Edson Sardinha e Eduardo Militão
Congresso em Foco, 01/11/2010
Os partidos que apoiam Dilma fizeram mais governadores, mas governadores de oposição estarão à frente da administração da vida de 52% dos brasileiros
Estados que serão comandados por tucanos, como Geraldo Alckmin, somam quase metade da população brasileira
Apesar de ter recebido mais de 55 milhões de votos e contar com uma maioria confortável no Congresso, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), enfrentará a oposição de governadores em dez estados que concentram mais da metade da população brasileira. O partido do candidato derrotado à Presidência, José Serra (PSDB), elegeu oito governadores e o DEM, de seu vice, outros dois. Os estados que serão governados pelas duas legendas reúnem 52% dos 183,98 milhões de brasileiros. Desses, 47,16% serão comandados por tucanos. Os estados que serão administrados pelo PSDB têm, juntos, população de 86,77 milhões de pessoas. Se somarmos a população dos estados do DEM (SC e RN), teremos 95,65 milhões. No caso do PT, a população que será governada pelo partido é de 29,7 milhões.
Curiosamente, o percentual é o mesmo obtido pelos oposicionistas quatro anos atrás, na reeleição do presidente Lula, também em segundo turno. Em 2006, o PSDB elegeu seis governadores, o PFL (hoje DEM), um, o PPS e o PDT – que então fazia oposição ao governo Lula – mais dois cada. Os pedetistas fazem hoje parte da base aliada do petista e da presidente eleita.
Cenário mais favorável
O cenário que se apresenta para Dilma é mais favorável do que o vivido por Lula em seu primeiro mandato. No começo de seu primeiro governo, em 2003, o presidente também deparou com 11 governadores de partidos oposicionistas – eram sete do PSDB e quatro do DEM – que tinham em suas mãos o equivalente a 58,95% da população brasileira. O atual oposicionista PPS era aliado do PT na época. O PFL (hoje DEM) governava quatro estados, com 12,7% da população nacional. Rebatizado de Democratas, o partido terá a partir do ano que vem apenas dois estados sob seu comando: Santa Catarina e Rio Grande do Norte, ou seja, somente 4,82% de todos os habitantes do país.
Nestas eleições, nenhum partido elegeu mais governadores do que o PSDB. O partido de José Serra e do senador eleito Aécio Neves (MG) seguirá comandando os dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais, e retomou o poder em outros três importantes estados: Paraná, segundo maior colégio eleitoral da região Sul; Goiás, o principal do Centro-Oeste, e Pará, o mais populoso do Norte. Os tucanos também renovaram o mandato em Alagoas e em Roraima. Venceram ainda no Tocantins, com Siqueira Campos.
Em 2006, quando Geraldo Alckmin (PSDB) foi derrotado no segundo turno pelo presidente Lula, o PSDB fez seis governadores em estados que representavam 41,71% da população brasileira. Em 2002, os tucanos elegeram sete governadores em estados que concentravam 43,45% da população.
Desempenho dos aliados
Depois do PSDB, o PT é o partido que terá maior parte do eleitorado brasileiro sob seu comando nos estados. O Distrito Federal, a Bahia, o Rio Grande do Sul, o Acre e Sergipe abrigam 15,27% dos brasileiros. O índice supera o de governados pelo PSB, segundo partido que mais governos conquistou nestas eleições. Os seis governadores eleitos pela legenda de Ciro Gomes vão administrar estados com população equivalente a 14,82% dos brasileiros.
Em 2006, os petistas também elegeram cinco governadores. Um deles não conseguiu se reeleger ontem (31), a governadora do Pará, Ana Júlia. A derrota no maior colégio eleitoral do Norte foi compensada pela vitória na capital do país, com Agnelo Queiroz (PT), também obtida nesse domingo, e no Rio Grande do Sul, com Tarso Genro (PT), já no primeiro turno.
Ao repetir o desempenho da eleição passada, o PT deixa para trás o cenário de 2002, quando fez apenas três governadores, em estados que não figuram entre os maiores colégios eleitorais do país, Acre, Mato Grosso do Sul e Piauí. Aliado de primeira hora dos petistas, o PSB melhorou seu desempenho em relação há quatro anos, quando elegeu três governadores – metade do número alcançado nesta eleição.
O partido conquistou o Espírito Santo, com Renato Casagrande; o Amapá, com Camilo Capiberibe; a Paraíba, com Ricardo Coutinho, e o Piauí, com Wilson Martins. Reelegeu ainda Cid Gomes no Ceará e Eduardo Campos em Pernambuco. Em 2002, o partido havia feito quatro governadores: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Embora tenha feito um governador a menos que o PSB, o PMDB também comandará população maior que o Partido Socialista Brasileiro, a exemplo do PT. Os peemedebistas vão responder pela administração onde vivem 15,27% dos brasileiros. O partido do vice-presidente eleito, Michel Temer, conseguiu reeleger os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do Maranhão, Roseana Sarney, e de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli. Venceu ainda em Mato Grosso, com Silval Barbosa, e Rondônia, com Confúcio Moura. O número de governadores peemedebistas eleitos é o mesmo de 2002. Em 2006, o partido chegou ao poder em sete unidades federativas.
Estranho no ninho
O único intruso no ninho dos partidos tradicionais a eleger governador este ano foi o PMN, do governador eleito do Amazonas, Omar Aziz. Governador desde março, quando o titular, Eduardo Braga (PMDB), deixou o cargo para concorrer a senador, Aziz terá seu comando 3,22 milhões de habitantes, ou seja, 1,75% da população brasileira. Apesar de o PMN ter feito parte da coligação de Serra, o governador reeleito apoiou a candidatura de Dilma Rousseff no estado.
Em 2002, outro pequeno partido também conseguiu chegar ao governo. Foi o PSL, com Flamarion Portela, em Roraima. Depois de eleito, Flamarion acabou se transferindo para o PT. Ele acabou expulso do partido ao ter seu nome associado ao chamado “escândalo dos gafanhotos”, esquema de fraude na folha de pagamentos do estado. Posteriormente, o roraimense foi cassado por crimes eleitorais.
Dois partidos que elegeram governador em 2006 não conseguiram repetir a proeza este ano. O PP, que elegeu Alcides Rodrigues em Goiás naquele ano, e o PPS, que elegeu Blairo Maggi em Mato Grosso e Ivo Cassol em Rondônia, não tiveram êxito nesta eleição. O PP disputou voto a voto em Roraima, disputada mais acirrada deste segundo turno, mas viu seu candidato, o ex-governador Neudo Campos – outro envolvido na Operação Gafanhoto – ser derrotado pelo atual governador Anchieta Junior (PSDB). O PPS também saiu derrotado das urnas ontem: João Cahulla não conseguiu renovar o mandato, foi derrotado por Confúcio Moura (PMDB).
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