sábado, 31 de outubro de 2009

160) Diogo Mainardi sobre uma chapa Serra-Aecio

Creio que o raciocínio do Diogo é um pouco forçado para o simplismo político, mas não deixa de fazer sentido, estritamente no plano dos resultados eleitorais. Quanto a contentar todo mundo essa é outra coisa, mas secundária.
Se o importante é ganhar, então ele tem razão.

Manual da Sabotagem
Diogo Mainardi
Revista Veja, 31.10.2009

Eu tento sabotar o PT. Como é que se sabota o PT? Atualmente, só há um jeito: unindo José Serra e Aécio Neves, em 2010.

Sem Aécio Neves, José Serra perde. Sem José Serra, Aécio Neves perde. Eles sabem disso. O PT sabe disso. Aécio Neves pode até ser o melhor candidato presidencial. Mas o PSDB acabará apoiando a candidatura de José Serra, porque ele lidera - e lidera folgadamente - em todas as pesquisas eleitorais.

Com o único propósito de sabotar o PT - e de sabotar Lula, Dilma Rousseff, Franklin Martins -, amolei um monte de gente para tentar descobrir se José Serra e Aécio Neves realmente podem se tornar companheiros de chapa em 2010. O primeiro como candidato a presidente e o segundo como candidato a vice-presidente. Publicamente, eles negam essa possibilidade. José Serra diz que a disputa presidencial ainda está longe. E Aécio Neves responde que, se o PSDB escolher José Serra, ele pretende se candidatar ao Senado.

Mas a probabilidade de um acordo entre os dois é muito maior do que parece. Na última semana, o marqueteiro de José Serra e o marqueteiro de Aécio Neves se reuniram e trataram abertamente do assunto. Eu só soube disso - repito - porque amolei um monte de gente. O marqueteiro de José Serra fez um cálculo simples: para eleger seu candidato ao Palácio do Planalto, ele tem de ganhar em Minas Gerais. Se Aécio Neves se candidatar a vice-presidente, José Serra ganhará disparado. Se, por outro lado, Aécio Neves concorrer ao Senado, desinteressando-se da campanha presidencial, ganhará em Minas Gerais o candidato apoiado por Lula.

Aécio Neves tem de fazer um cálculo um tantinho mais complicado. O Senado oferece-lhe um caminho perfeitamente seguro. Mas, se José Serra acabar perdendo de Dilma Rousseff, ele poderá ser responsabilizado pela derrota. Para alguém como Aécio Neves, cujo maior atributo político é ser um aglutinador, nada pior do que rachar o próprio partido. Se Aécio Neves tomar o caminho oposto e aceitar ser companheiro de chapa de José Serra, sabotando os planos do PT, ele só terá a ganhar. Em primeiro lugar, porque isso garantirá o triunfo eleitoral de José Serra. Ele será o Lula do PSDB. Em segundo lugar, porque ele poderá ocupar, além do Palácio do Jaburu, um grande ministério da área social, cacifando sua candidatura presidencial em 2014, contra Lula, ou em 2018, contra o que restar do PT, se é que ainda restará algo.

Pronto: sabotei o PT. Agora só falta o PSDB sabotar o PSDB.

159) Candidatos a vice-presidente e apoios incomodos

Eleições 2010
Lauro Jardim
Veja, 31.10.2009 (data de capa: 5.11.2009)

Apelo rechaçado
Na longa conversa telefônica que tiveram na madrugada de quinta-feira, José Serra e Aécio Neves trataram do embaraçoso tema Vice-Presidência. Serra disse a Aécio que juntos eles eram imbatíveis – com Aécio de vice, claro. Ouviu de volta: Se eu não for candidato a presidente, vou para o Senado. Se o candidato for você, fico em Minas. Lá, ajudo muito mais o PSDB, elegendo o governador e fazendo campanha para você.

Minas cansada da vice
A propósito, Aécio Neves vem subindo o tom quando nega a possibilidade de vir a ser candidato a vice-presidente. Na sexta-feira, ele disse a um interlocutor próximo: Itamar Franco, José Alencar... Minas está cansada de ser vice.

Evangélicos divididos
As principais denominações evangélicas, que hoje representam 15% da população, já estão discutindo 2010 – .e, como não poderia deixar de acontecer, a divisão já está adiantada. A Renascer em Cristo, aquela cujos chefes Estevam e Sonia Hernandes foram presos nos EUA com dólar escondido até numa Bíblia, está praticamente fechada com José Serra. A Igreja Universal, acusada de remessa ilegal de dinheiro para o exterior, vai de Dilma Rousseff no ano que vem.

158) Um ano para o segundo turno, em 31 de outubro de 2010

Massacre na TV
Eliane Cantanhêde
FOLHA DE S. PAULO, 31.10.2009

BRASÍLIA - Daqui a um ano, em 31 de outubro de 2010, um domingo, será realizado o segundo turno da eleição presidencial -caso nenhum candidato tenha obtido pelo menos 50% mais um dos votos válidos na primeira rodada.
Com tanto tempo pela frente, é impossível e uma irresponsabilidade prever resultados. Em todas as eleições presidenciais brasileiras recentes só havia incógnitas 12 meses antes do pleito.
Feita a ressalva, vale registrar a consolidação crescente do condomínio lulo-petista a favor de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, vai ficando emparedada a oposição com a trinca PSDB, Democratas e PPS.
No terceiro pelotão das composições eleitorais estão as candidaturas isoladas de Ciro Gomes (PSB) e de Marina Silva (PV). Hoje, Dilma teria a seu favor PT, PMDB, PDT, PR, PRB e PC do B.
Com essa configuração, a candidatura petista ao Planalto já garante 50% a mais de tempo de rádio e de TV do que o seu opositor direto, seja ele José Serra ou Aécio Neves.
O eleitor brasileiro ainda se informa de maneira geral pela TV ou rádio. A mídia impressa é para a elite. A internet permanece em fase de crescimento. Em resumo, ter mais tempo no horário eleitoral não garante vitória a ninguém. Mas é um obstáculo grande ficar sem um espaço confortável nessa janela de comunicação direta com os cidadãos.
Esse é o ponto principal a nortear toda a estratégia de alianças comandada por Lula e pelo PT.
Em eleições anteriores, sempre algum candidato presidencial teve prevalência em relação aos demais no tempo de TV. A diferença em 2010 é que a superioridade de um dos lados tende a ser avassaladora como nunca se viu.
Nas contas do PT, Dilma Rousseff terá de 60% a 70% do horário eleitoral. É um rolo compressor, embora não se saiba como a candidata de Lula usará tanto tempo assim na frente dos brasileiros.

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Comentário PRA: A estratégia do atual presidente é justamente esta: esmagar os adversários por uma maciça propaganda em torno das virtudes do seu governo (em contraposição ao governo do ex-presidente FHC), não em função da hipotética capacidade da futura presidenta (para usar o conceito preferido por essa outra presidenta, a K argentina) de sua preferência, que ele quer ver eleita, para lhe servir de boneca de ventríloquo.
Esse tipo de maniqueismo vem sendo criado e pretende ser utilizado intensamente durante toda a campanha, até a decisão final.
Creio, pessoalmente, que se trata de uma completa distorção dp que seja uma sadia competição eleitoral. Mas, obviamente, não se pode pedir a quem não tem nenhum princípio que observe certas regras morais...

157) A campanha da nao-candidata (candidatissima...)

A reconstrução da ministra
Otávio Cabral e Alexandre Oltramari
Revista Veja, Edição 2137 / 4 de novembro de 2009

O governo e os marqueteiros moldam o novo perfil de Dilma Rousseff a ser apresentado aos eleitores: mineira, simpática, afável, de discurso simples e antenada com temas ambientais

À IMAGEM DO CHEFE
Dilma começa a trocar o uniforme de gestora eficiente pela fantasia de candidata simpática: o objetivo é se apropriar do estilo de Lula para herdar parte de sua popularidade

Depois de ser derrotado em três eleições, Lula reapareceu com a imagem remodelada na eleição de 2002. Passou a usar ternos bem cortados, cuidou da aparência e, principalmente, deixou de lado o discurso radical que assustava parte do eleitorado. A ministra Dilma Rousseff, candidata do governo à Presidência, está no mesmo laboratório operando sua transformação. Nos sete anos de ministério, Dilma ficou conhecida pela austeridade, inclusive no trato com auxiliares e colegas, pela falta de tato político, o que já lhe rendeu brigas e desafetos dentro do próprio partido, o PT, e pela dificuldade em se comunicar. Parecem problemas intransponíveis para quem deseja enfrentar com a mínima possibilidade de êxito uma campanha eleitoral que promete ser uma das mais acirradas dos últimos anos. A metamorfose já mostra os primeiros sinais. Na semana passada, durante a inauguração dos estúdios de uma emissora de TV, Dilma brincou de atriz com o presidente Lula, que manejava uma câmera. Depois, em um jantar com parlamentares do PP, fez questão de ir à cozinha cumprimentar os funcionários da casa. Em outro evento, em São Paulo, abraçou e beijou catadores de lixo que participavam de uma feira de reciclagem. Por fim, a ministra, que nunca teve muita afinidade com questões ambientais, tem revelado inédita preocupação ecológica, a ponto de ser nomeada para chefiar a delegação brasileira que vai participar de uma conferência da ONU sobre o clima.

"Dilma está mais simpática, mais sorridente e consciente do que se deve fazer em uma campanha", afirma um membro de seu staff. Exemplo disso é que, há duas semanas, a ministra esteve em um almoço com correligionários do governador Eduardo Campos (PSB-PE) e, na chegada, cumprimentou apenas as autoridades presentes à mesa. Foi, depois, advertida pela falha. "Dá para perceber que é difícil para ela cumprir esse papel de candidata, mas ela tem se esforçado." Os discursos e as opiniões da ministra também passaram a seguir um roteiro preestabelecido. Os discursos devem ser simples e carregados de metáforas de fácil entendimento, como os do presidente Lula. As opiniões emitidas sobre os temas de governo e de campanha também não podem divergir das defendidas pelo presidente. Nos últimos dias, Dilma foi criticada por estar antecipando a campanha eleitoral, o que é ilegal. Indagada sobre o assunto, a ministra se disse vítima de preconceito pelo fato de ser mulher. Ninguém entendeu o que uma coisa tem a ver com a outra, mas Dilma conseguiu, ao menos momentaneamente, safar-se da polêmica – exatamente como foi ensaiado com sua equipe de campanha, integrada por políticos, publicitários e jornalistas.

A ministra se reúne uma vez por semana com o "estado-maior" de sua campanha, como é chamado o grupo do qual fazem parte os ministros Franklin Martins (Comunicação Social) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o deputado Antonio Palocci, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o marqueteiro João Santana. Nesses encontros são discutidos os temas que serão abordados pela candidata-ministra e como ela deve tratá-los em suas aparições. Também são definidos a agenda de viagens e pontos da estratégia política da campanha. Nos fins de semana, Dilma reserva um dia, às vezes o sábado, às vezes o domingo, para se dedicar integralmente ao treinamento e à preparação da "candidata ideal". Ao lado de João Santana e de sua equipe de marqueteiros, a ministra é submetida a sessões de entrevistas, debates simulados e pronunciamento para programas de TV. A postura, o tom de voz, o modo de encarar as câmeras e até a melhor roupa para cada ocasião são experimentados à exaustão. "Esse treinamento é normal para todo candidato em campanha. No caso da Dilma, porém, isso precisa ser intensificado porque ela não tem nenhuma experiência eleitoral. Estamos saindo do zero, fabricando um candidato", explica um dos envolvidos na operação.

PALANQUE TECNOLÓGICO
O novo portal do PT na internet: alta tecnologia nas eleições

Em breve, o perfil de Dilma Rousseff ganhará o reforço de um detalhe desconhecido pela maioria dos eleitores. A ministra terá enfatizada sua condição de "candidata mineira". Dilma nasceu em Belo Horizonte, em 1947, e estudou nos tradicionais colégios Sion e Estadual Central. Sua mãe cresceu em uma fazenda na região de Uberaba e seu pai trabalhou na siderúrgica Mannesmann, tradicional empresa no estado. Em Minas Gerais, ela atuou em grupos de oposição à ditadura e acabou presa. Essa origem, porém, é pouco conhecida, pois sua carreira pública foi, na verdade, construída no Rio Grande do Sul, para onde se mudou após deixar a prisão. Pela estratégia montada, Dilma será apresentada como a alternativa para Minas voltar a ter um presidente da República depois de quinze anos. O último foi Itamar Franco. Os auxiliares da ministra avaliam que, caso o governador paulista José Serra seja confirmado como candidato da oposição, ela pode atrair os votos dos eleitores mineiros, desde, é claro, que enxerguem nela uma legítima representante do estado.

REFORÇO ESTRANGEIRO
Ben Self, que fez a campanha de Obama, fechou com Dilma

A estratégia da ministra também passa pelo mundo virtual. Na semana passada, o PT inaugurou seu novo site, orçado em 600 000 reais, que terá canais de áudio e vídeo para ajudar a alavancar a candidatura de Dilma. Pelo site, também será possível arrecadar recursos a partir do início oficial da campanha, em julho. Extraoficialmente, porém, a máquina petista tem um raio de ação muito mais abrangente. Em abril passado, uma ficha criminal falsificada que relatava a participação da ministra em ações armadas contra o regime militar infestou a rede. O episódio levou os estrategistas de Dilma a importar o marqueteiro Ben Self, responsável pela parte digital da campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Contratado por João Santana, Self esteve no Brasil duas vezes nos últimos cinco meses. Ele se reuniu com os coordenadores da campanha da ministra e sugeriu planos para reagir a esses tipos de ataque. Blogueiros e internautas estão sendo arregimentados para inundar as chamadas redes sociais com mensagens de apoio a Dilma e com ataques aos adversários. O trabalho custa entre 50 000 e 120 000 reais por mês e é realizado por empresas especializadas. "Tudo precisa ser clandestino. A força desse tipo de campanha é justamente a aparente espontaneidade das manifestações", disse a VEJA um especialista da área. Oficialmente, nenhum político admite o envolvimento com seus fãs e detratores do mundo digital (veja o quadro na pág. ao lado).

Não há exemplo na democracia brasileira de um candidato "fabricado em laboratório" que tenha se tornado presidente. Antes da ditadura, não havia campanha eleitoral de massa, com TV e rádio. Por isso imperavam os grandes líderes políticos, capazes de costurar o apoio das lideranças regionais. Desde a redemocratização, todos os candidatos competitivos tinham biografia política significativa. Mesmo os políticos mais próximos de Lula consideram essa metamorfose uma incógnita. Diz Gaudêncio Torquato, professor de marketing eleitoral da USP: "Todo candidato tem sua identidade, representada pelo caráter, personalidade e estilo. E há a imagem, projetada pelos publicitários, para que ela se torne mais palatável aos eleitores. Se essa imagem for muito diferente da identidade, há o risco de o candidato parecer falso e artificial ao eleitor, afugentando seu voto".

Guerrilha virtual
ATAQUE NA REDE
Geddel Vieira Lima e o governador Jaques Wagner: acusação de campanha antecipada pela internet
As eleições de 2010 contarão com um campo de batalha novo que pode tanto ajudar a esclarecer como confundir os eleitores e acirrar ainda mais a disputa entre os candidatos: a guerrilha virtual. Na Bahia, um vídeo de cerca de dois minutos azedou de vez as relações pouco amistosas entre o governador Jaques Wagner e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, prováveis adversários na disputa estadual do ano que vem. Intitulado Quero Morar na Propaganda do Governo da Bahia, o filme se transformou em hit na internet. Postado há apenas duas semanas, já foi visto por mais de 40 000 pessoas. É uma bem-humorada e aparentemente ingênua crítica à propaganda oficial do governo da Bahia. "Quero morar na propaganda do governo da Bahia / Lá é tudo maravilha / Tão diferente do que vejo no meu dia a dia", repete o refrão de um samba, enquanto imagens supostamente reais do dia a dia se contrapõem à versão edulcorada da propaganda oficial exibida na televisão. O vídeo foi postado anonimamente, impedindo que seus autores possam ser identificados e punidos, eventualmente, por antecipar a disputa eleitoral.

Apesar de o vídeo ter sido identificado como obra de um tal Aparício Monteiro, que o colocou no site YouTube, o governo baiano enxergou na peça as impressões digitais de Geddel Vieira Lima, que disputará a eleição para o governo no ano que vem contra Jaques Wagner. O ministro, que integra o governo do presidente Lula, rompeu com Wagner recentemente de olho em sua cadeira de governador. "Infelizmente, não fui eu que fiz. Mas concordo com todo o seu conteúdo", diz. O publicitário baiano Maurício Carvalho, a quem os petistas atribuem o vídeo, é amigo de Geddel. Sua agência, a Ideia3, trabalha para a prefeitura de Salvador, na qual o ministro tem forte influência. "Infelizmente, não fui eu que fiz. Mas até gostaria de dizer que fui eu, já que o vídeo é um sucesso", afirma o publicitário. Apesar das negativas, o ministro e o publicitário baianos estão sendo festejados nos meios políticos e publicitários pelo pioneirismo da estratégia eleitoral na internet com a qual eles, "infelizmente", não têm nenhuma relação.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

156) Preparando o terceiro mandato ou ja acreditando nele?

Do blog do jornalista Augusto Nunes, 28.10.2009:

Sai mas fica
28 de outubro de 2009

"Em 2011 nós vamos apresentar um novo PAC até 2015 e aí cada governador
e cada prefeito serão convidados a Brasília pra sentar com a ministra
Dilma para preparar as prioridades das capitais, das cidades médias e
das cidades pequenas e a prioridade dos estados."

Lula, no Rio de Janeiro com Dilma Rousseff e companhia, deixando claro
que não está em campanha eleitoral e aproveitando para avisar que,
embora o mandato termine em 2010, não pretende largar o osso antes de
2015.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

155) Suposta Campanha - Dora Kramer

"Suposta" Campanha
Dora Kramer
O ESTADO DE S. PAULO, 21/10/2009

Em defesa da mistificação segundo a qual a recente turnê do presidente Luiz Inácio da Silva pelas obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco não teve propósito eleitoral, o ministro da Justiça, Tarso Genro, argumenta que se os governadores José Serra e Aécio Neves podem "circular", Lula também pode levar Dilma Rousseff para vistoriar e fiscalizar.

Por ora, trata-se de "suposta"campanha.

Afinal, são todos pré-candidatos à Presidência da República, atuando em igualdade de condições, pois têm a sorte de ocuparem cargos que lhes dão visibilidade naturalmente. Nenhum deles estaria desrespeitando a legislação, porque as proibições só alcançam candidaturas formais e a partir do momento em que a campanha se iniciar oficialmente.

O governador Aécio concorda - "É legítimo, faz parte do jogo político", comentou no primeiro dia junto da caravana -, o governador Serra não fala nada a respeito, enquanto o presidente do partido de ambos, senador Sérgio Guerra, marca a posição do PSDB anunciando providências enérgicas.

A oposição já havia tentado balizar a posição da Justiça Eleitoral quando questionou a legalidade do encontro-show que o presidente da República organizou para apresentar Dilma a prefeitos de todo o País, no dia 10 de fevereiro passado.

A baliza dada na ocasião foi agora adotada por Tarso Genro. O Tribunal Superior Eleitoral decidiu que não houve propósito desviante naquela reunião.

A corte aceitou o argumento do então advogado-geral da União e agora ministro do STF, José Antônio Toffoli, de que a presença de prefeitos de partidos de oposição (PSDB e DEM) provava o caráter exclusivamente governamental do evento.

Se estava tudo nos conformes, então o governo nada mais fez do que interpretar a decisão como uma licença para prosseguir no mesmo diapasão. Claro que sempre poderia tomar a iniciativa de atuar sob critério mais ético, mas, pelos parâmetros em vigor, seria tolo.
Ministros do TSE alegam que a oposição parece ter feito à época uma representação apenas pró-forma, tal mal sustentada de provas estava a ação.

Quais provas, além do que se passou à vista de todos?

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, acha que o presidente Lula "está testando" a Justiça e o Ministério Público. Engano. O teste ocorreu em fevereiro e o resultado foi o seguinte: enquanto o governo fizer comícios dizendo que governa, deve-se aceitar sua palavra como verdadeira já que não há "provas" de que o presidente esteja usando o cargo e seus instrumentos como palanque eleitoral.

Por mais que exponha insistentemente isso. Explicitando a condição da candidata da ministra que o acompanha, falando que pretende uma eleição plebiscitária, chamando o adversário para a briga, desculpando-se pelo "comício" improvisado

154) Tempo de trapaça - J. R. Guzzo - A campanha que nao quer dizer o seu nome

Tempo de trapaça
J. R. Guzzo
Veja, 28.10.2009

"Nas demais sociedades civilizadas vale o princípio pelo qual é permitido tudo o que não é expressamente proibido em lei. No Brasil é proibido tudo o que não é expressamente permitido"

Todo cidadão que acompanha, mesmo de longe, o noticiário político seria capaz de jurar que há uma campanha eleitoral em andamento no Brasil e que diversas pessoas querem suceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2010. Há a ministra Dilma Rousseff e o deputado Ciro Gomes, do lado do governo, o governador José Serra, pela oposição, e outros mais. Ao mesmo tempo, o público é informado diariamente de que não há nenhuma campanha eleitoral e nenhum candidato à Presidência. Os comícios não são comícios. A propaganda não é propaganda. Os candidatos não são candidatos. O que é isso tudo, então? É exatamente o que parece, mas o governo e a oposição não podem dizer que é. Podem fazer tudo. Mas não podem falar; aí já seria contra a lei, que, na sua ambiciosa lista de regras destinadas a regular tudo, marca o dia 6 de julho do ano que vem para o começo das campanhas. Como se sabe, temos leis eleitorais rigorosíssimas neste país, possivelmente as mais severas do mundo. Enquanto nas demais sociedades civilizadas vale o princípio pelo qual é permitido tudo o que não é expressamente proibido em lei, no Brasil dos tribunais eleitorais a coisa funciona ao contrário: é proibido tudo o que não é expressamente permitido. É uma surpresa, no fundo, que alguém consiga ser eleito com tanta proibição assim – e a saída para os políticos, inevitavelmente, é trapacear. É o que está acontecendo no momento.

É ruim, porque a campanha eleitoral de 2010, como tantas que vieram antes dela, começa em cima de uma falsificação por atacado da verdade. O presidente Lula, por exemplo, viaja sem parar pelo Brasil fazendo comícios e pedindo votos para quem for o candidato do governo – e ameaçando o país com a ruína se o eleitorado cometer a estupidez de preferir um outro nome. Mas ele diz que está "inspecionando obras". (Já da inspeção que a lei manda fazer, a dos tribunais de contas, o presidente vive reclamando.) E os comícios, com ônibus fretado, despesa paga pelo Erário e sorteio de casas entre a plateia? "Qualquer reunião com mais de três pessoas já é comício", diz Lula. Ou seja: o que é que se vai fazer? Afinal, o presidente da República não pode ficar trancado em casa. Se acham que é comício quando ele discursa em lugares onde há gente reunida, paciência. Quanto aos votos que pede para a ministra Dilma, nenhum problema. O presidente diz que está apenas elogiando uma grande servidora do governo – e apenas dando a opinião de que ela seria um colosso como sua sucessora. Que mal haveria nisso?

A ministra Dilma, por sua vez, faz rigorosamente tudo o que os coordenadores de campanha prescrevem para um candidato. Há tempos deixou de comparecer com regularidade ao seu local de trabalho e passou a correr de um lado para outro atrás de votos, seja em shows de música popular com o cantor Dominguinhos, seja em "fiscalização de obras" nas margens do Rio São Francisco; há pouco foi vista inaugurando um estádio de futebol em Araraquara. O que isso tudo teria a ver com as funções que é paga para exercer na Casa Civil? Do lado da oposição, a peça de teatro é estrelada pelo governador José Serra, que quer a Presidência tanto quanto qualquer um dos seus adversários, mas diz que só vai tocar no assunto no ano que vem. Serra não pode fazer campanha aberta como Lula faz; tem de se contentar com os limites impostos pelo seu cargo. Carrega a mão, por exemplo, na propaganda oficial; a última, no gênero, é a decisão da Assembleia Legislativa que autoriza o governo a fazer publicidade de suas obras em outros estados, para "promover o turismo" em São Paulo.

Registre-se, enfim, a notável contribuição do deputado Ciro Gomes, que recentemente passou a ter seu domicílio eleitoral em São Paulo, para manter aberta a possibilidade de candidatar-se ao governo paulista. Mas o deputado não mora em São Paulo; só a Justiça Eleitoral acredita nisso. Tudo o que fez foi passar quatro horas na cidade, no começo de outubro, apresentar um endereço de fantasia e assinar um papel num cartório garantindo que reside ali. Um cidadão "comum", como diria o presidente Lula, não pode ter um domicílio falso; aliás, vive tendo de provar onde mora com contas de luz, correspondência de bancos ou carnês de crediário, e se der um endereço que não é realmente o seu vai, com certeza, arrumar complicação. Já para ser candidato a presidente da República ou governador do estado não há problema nenhum.

Não se sabe, é claro, quem vai ganhar as eleições de 2010. Mas a verdade, desde já, está levando uma surra.

153) Contradicoes tucanas em Sao Paulo

Abaixo, comentários sobre a luta intra-tucana em SP. Quanto ao candidato Ciro Gomes, que entra como Pilatos no Credo, ouso afirmar que se trata da candidatura de um aventureiro. Desculpem a caracterização, mas ela corresponde a uma realidade concreta: um deputado do Ceará, auto-proclamado candidato a presidencia, que muda seu domicilio eleitoral no limite da legislacao, só pode ser um aventureiro...

Alckmin e Serra em São Paulo
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Folha de S. Paulo, 26.10.2009

SÃO PAULO - Os holofotes da sucessão se voltam, no momento, para a hipótese extravagante de que Ciro Gomes possa ser candidato ao governo paulista apoiado pelas forças de Lula. Fora das luzes, porém, há uma outra batalha sendo travada no interior do campo tucano.
Se José Serra for mesmo disputar a Presidência, qualquer solução que não seja a candidatura de Geraldo Alckmin em São Paulo custaria caro demais ao PSDB. É o que pensam pessoas influentes do serrismo. A razão é simples: Alckmin tem mais de 40% das intenções de voto nas pesquisas. O outro postulante à vaga, o secretário de Governo, Aloysio Nunes Ferreira, não passa dos 2%.
Jogo encerrado? Serra procura evitar o assunto, mas Aloysio tem mostrado um apetite surpreendente. Colegas brincam que nunca viram ninguém tão homenageado por prefeitos do interior.
Quem conhece Serra, no entanto, aposta que prevalecerá o seguinte raciocínio: Aloysio é mais próximo e seria melhor governador, mas Alckmin é o candidato que mais convém às pretensões presidenciais dos tucanos -e assim será.
O PSDB, de resto, dizem os entendidos, não teria estrutura de pessoal para sustentar duas campanhas difíceis em São Paulo. E Serra não poderia carregar um azarão no colo tendo a máquina de Lula/Dilma contra si no país.
Alckmin é hoje uma espécie de ilha anexada ao continente do serrismo. Mas seu principal adversário em São Paulo não está no PSDB. Chama-se Gilberto Kassab. O prefeito mobiliza todas as suas forças na bancada estadual do DEM e com colegas do interior para viabilizar Aloysio. Kassab vê em Alckmin uma ameaça a seu futuro no Estado. O tucano, por sua vez, espalha que o prefeito abandonou a cidade para fazer política fora de casa.
Alckmin, por ora, aguarda a mediação de Serra. Mas, confiante, já tem uma chapa "conciliadora" na cabeça: Guilherme Afif, do DEM, seria seu vice; Quércia, do PMDB, disputaria uma vaga ao Senado; a outra seria de Aloysio. E então?

sábado, 24 de outubro de 2009

152) Vendendo a candidata oficial

Segundo de uma serie iniciada por um jornalista muito mordaz, alguns diriam sarcástico...

Direto ao Ponto
Discurso sobre o Nada (cap. 2)

Augusto Nunes
23 de outubro de 2009

“A Dilma vai arrasar nos debates da eleição porque entende de tudo”, garantiu Lula nesta semana. Como o entusiasmo do padrinho e treinador se amparou no que a candidata andou dizendo, a coluna juntou neste segundo capítulo as declarações dos últimos dias. A abrangência dos temas, apresentados em ordem alfabética, informa que Dilma Rousseff
fala de tudo. Mas não entende de nada, sugere o conteúdo do falatório, reproduzido sem retoques no estilo nem correções gramaticais ou ortográficas. Vejam só:

Diretrizes de governo
“Tenho certeza que o Brasil não vai parar, vamos com fé e esperança continuar as mudanças do presidente Lula”.

Escândalo do mensalão
“Eu não tinha ouvido falar do mensalão. Tomei conhecimento pelas notícias da imprensa”.

“Acho que isso não aconteceu, até porque era impossível. Não havia a menor possibilidade de isso ser aceito por nós”.

Estratégia de campanha
“Entendo o anseio do presidente do PMDB de ter essa decisão até o fim de outubro e acho que terá de haver um esforço para ver se é possível. Agora, cada partido tem seu ritmo, o PT tem o dele, o PMDB o dele, os outros partidos que integram também. O PP, PTB, PSB, PC do B, cada um tem seu ritmo e isso você também vai ter que considerar”.

Exportação de turismo
“O presidente Lula conseguiu criar um novo valor para as características positivas e simpáticas do Brasil. É por isso que alçamos números como o ingresso de US$ 5,7 bilhões proveniente dos gastos dos turistas internacionais em 2008, posicionando o turismo no quinto lugar na pauta geral da exportação brasileira”

Gerência de obras
“Estamos fazendo o que sempre fizemos: olhando nossas obras. O fato de termos muitas obras para olhar parece que incomoda muito algumas pessoas. Isso aí é da vida. Porque nós temos, nós fizemos. Trabalhamos muito. Vou dizer: tiramos leite de pedra”.

José Dirceu por Dilma Rousseff
“Não tenho conhecimento de que Dirceu tenha beneficiado instituições financeiras. Acho uma pessoa injustiçada. Tenho por ele um grande respeito”.

Passado, presente e futuro
“Quando se olha para trás e compara o Brasil de 2009 com o Brasil de 2002, podemos pedir a vocês que confiem cada vez mais no nosso querido Brasil”.

Paulo Rocha por Dilma Rousseff
“Acho o deputado Paulo Rocha um parlamentar muito participativo e muito preocupado com a região dele, que é o Norte do País. Ele sempre se interessava em saber como estava o desenvolvimento de estradas, de siderúrgicas. É um deputado muito interessado no seu Estado, que é o Pará, mas também na Amazônia”.

Política de combate ao narcotráfico
“Em favelas, quem domina é o tráfico e os criminosos, e combatê-los é algo fundamental, que faz parte do governo do presidente Lula, e nós temos feito isso através da polícia e da infraestrutura”.

Projeto Copa do Mundo 2014
“Sabemos que já para a Copa de 2014 teremos pelo menos 500 mil turistas na cidade do Rio e isso demanda infraestrutura, qualificação de mão-de-obra e um grande aprimoramento. Nós já estamos nos preparando. Cuidar do povo brasileiro sempre será a prioridade do nosso governo.

Projeto Olimpíada 2016
“Os anseios de realizar uma boa Olimpíada em 2016 se somam aos nossos projetos para o país. Nossa grande meta e o desenvolvimento econômico e a inclusão de milhões de brasileiros”.

“”O PAC Olímpico será mais um símbolo do Brasil que vence e enfrenta desafios. O Pac Olímpico vai transformar o Rio de Janeiro, com macro e microprojetos. Será um ganho imenso para essa cidade que é símbolo do nosso País”

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

151) Ops, será que a Justiça Eleitoral acordou? (Não creio)

Governo rebate Gilmar Mendes
Governo rebate Mendes e nega campanha
Jornal do Brasil - 21/10/2009

Após o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, afirmar que o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff antecipam campanha eleitoral, integrantes do governo partiram para o contra-ataque; negaram infração e criticaram Mendes pelas declarações.

BRASÍLIA - Após o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, levantar dúvidas sobre a suposta intenção eleitoral envolvendo eventos públicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, figuras de renome do governo partiram para o contra-ataque nesta terça-feira negando que as ações infrinjam a legislação eleitoral e criticando o presidente do STF por se posicionar publicamente sobre o assunto.

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, foi um dos mais veementes nas críticas à Mendes. Segundo Garcia, o presidente do STF deveria se resguardar e se manifestar apenas nos julgamentos que comanda.

– O presidente do STF, em geral, deve falar nos autos, não deve falar em outras ocasiões, na minha modestíssima opinião – disse Garcia, cotado para coordenar a campanha política da eventual candidatura de Dilma à Presidência da República. Garcia admitiu, contudo, que pode haver “confusão” em algumas ações que envolvam políticos e eventuais candidatos, mas ressaltou que esse tipo de impasse também ocorre com a oposição. Para o assessor, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, ambos do PSDB, também podem ser alvos de investigações da Justiça Eleitoral. – De qualquer maneira, se a gente for examinar a conduta de dois governadores em seus estados, o Serra, em São Paulo, e o Aécio, em Minas Gerais, essa conduta poderia ser perfeitamente qualificada como conduta que produz efeitos eleitorais.

Para o assessor especial da Presidência da República, todas as ações acabam por surtir efeitos políticos e eleitorais.

– É muito difícil, para quem conhece o presidente Lula, que ele passe discretamente fazendo uma inspeção pelo Rio São Francisco. Se isso tem efeito eleitoral? Tem efeito. (Assim como) se o governo fizer uma bobagem qualquer, e às vezes faz, isso tem efeito eleitoral e negativo – ponderou Garcia.

Outro que saiu em defesa das ações do governo foi o ministro da Justiça, Tarso Genro. Ele garantiu que o presidente Lula não vai parar de viajar o país para dar visibilidade às ações do governo e fiscalizar obras. De acordo com Tarso, não há irregularidade na viagem da semana passada do presidente Lula ao Vale do São Francisco, no Nordeste do país. O ministro lembrou, por exemplo, que além de estar acompanhado de dois pré-candidatos da base governista ao Palácio do Planalto, o presidente também circulou com um dos pré-candidatos tucanos, o governador Aécio Neves.

– Isso faz parte da política, da democracia. É por isso que existe uma lei que é proibitiva de determinados comportamentos em um período de tempo. Portanto, o presidente está no exercício regular da Presidência da Republica e poderá inaugurar obras e participar de eventos públicos todo ano. O que não poderá fazer é a partir de um determinado momento ter a companhia de candidatos sejam eles quais forem porque lá ele esteve acompanhado de outro pré-candidato que é o governador Aécio neves – disse Tarso. – Isso não é nenhum desrespeito a qualquer manifestação do presidente do STF, mas estou assegurando que tudo que o presidente está fazendo em matéria de viagens, em relação com a população, inaugurações e fiscalização de obras está em absoluto e regular exercício da Presidência. O ministro está manifestando a sua preocupação, o que ele tem direito de fazer, e nós estamos manifestando a nossa posição. Ou seja, dá absoluta legalidade das atitudes que o presidente vem tomando.

Tarso minimizou, também, as reclamações da oposição e afirmou que Serra também pode enfrentar o mesmo problema.

– Isso é uma fatalidade política da democracia. Quando o governador Serra faz inauguração ou pronunciamento ou participa de ato oficial como eventual candidato, porque a Dilma é eventual, ele também estaria incorrendo em uma irregularidade? Claro que não – criticou o ministro. – Em todo momento que se discute o processo eleitoral, esse debate volta. Ele é recorrente, mas em nenhum momento os tribunais tiraram o direito de nenhum mandatário exercer sua função política-administrativa, que é o que o presidente Lula esta fazendo de maneira bem sucedida.

Limites
Apesar das críticas do governo, Mendes voltou ontem a disparar contra o suposto caráter eleitoral de algumas das ações de Lula e Dilma. Segundo o presidente do STF, as ações de inauguração e fiscalização de obras do governo não podem se transformar em “vale-tudo”.

– É uma avaliação que precisa ser feita. Pelas descrições que vimos na mídia, está havendo sorteio, entregas, festas, cantores. Em suma, isso é modo de fiscalizar tecnicamente uma obra? – questionou Mendes. – Ninguém pode impedir um governante de governar. É elementar isso. Agora, é lícito transformar um evento rotineiro de governar num comício? Se houver esse tipo de propósito, certamente o órgão competente da Justiça tem que ser chamado a atenção para evitar esse tipo de vale tudo.

Mendes disse ainda que Lula “testa os limites de tolerância” da Justiça Eleitoral. E que ao viajar com Dilma, o presidente pode acabar com a a igualdade de chances entre os candidatos.

150) Un poquito mas de Chile, por supuesto...

CHILE: Presidential elections appear increasingly open
Latin America Weekly Review, Oxford Analytica
Wednesday, October 21 2009

EVENT: Independent presidential candidate Marco Enriquez-Ominami is tied with the governing coalition's candidate, Eduardo Frei, on 20% of voting intentions, according to a poll published yesterday.
SIGNIFICANCE: Less than two months before Chile goes to the polls to elect its president for the next four years, the result appears increasingly uncertain. However, it is clear that the election will herald changes for the Concertacion, the centre-left coalition that has governed since 1990.
ANALYSIS: Forged in opposition to the 1973-90 Pinochet dictatorship, the governing
Concertacion coalition spans an unusually large spectrum of political opinion, ranging from the centre Christian Democrat Party (PDC) to the Socialist Party (PS). Combined with the right-wing opposition's association with the dictatorship, this broad appeal helped to give it four terms in office, but its diversity now appears to have become a liability. It had difficulty selecting its nominee for the next presidential election and, on December 13 when Chileans go to the polls, voters will find three current or former members of the coalition on the ballot paper:
· the PDC's Senator Eduardo Frei as its official candidate;
· Marco Enriquez-Ominami, a former PS member running as an independent (see CHILE:
Enriquez-Ominami paves way for younger leaders - September 7, 2009); and
· Jorge Arrate, also a former PS member, for the far Left; but
· only one candidate, Sebastian Pinera, for the opposition Alianza por Chile coalition (see CHILE: Pinera front-runner in December elections - June 2, 2009).
Given the existence of a second-round ballot, this does not necessarily spell defeat for the Concertacion. However, it does illustrate increasing policy differences within the coalition and its growing tendency to bicker.
Policy divergence. In the 1990s, the Concertacion was defined and united as the antidote to the Pinochet dictatorship. Its prime concern then was the stability of Chile's return to democracy.
Particularly through to 1998, while General Augusto Pinochet stayed on as army commander, this forced a cautious approach, suppressing underlying disagreements on issues such as human-rights trials and constitutional reform. However, with political stability ensured, discrepancies have since surfaced:
· In the 1990s, the Concertacion faced clear challenges in the form of a low per capita income, a high poverty rate and, for example, a yawning public-infrastructure deficit. It addressed these problems through policies -- principally free-market economics tempered by social programmes, macroeconomic discipline and international integration -- on which there was broad political consensus.
· However, increased prosperity has heightened expectations and, with simpler problems solved, those that remain -- such as improving educational standards now that coverage is virtually universal -- are more complex (see CHILE: 'Last mile' to development the hardest - March 11, 2009). This has led to increasing differences within the Concertacion between, for example, those favouring more state intervention (found both on the Right and Left of the coalition) and liberals (mostly in the centre of the coalition) who emphasise individual choice and see the market as the most efficient mechanism for allocating resources.
Infighting. Like the opposition coalition, the Concertacion has been held together by the binominal electoral system left in place by the dictatorship. Under this system, constituencies return two representatives to each house of Congress, favouring the existence of two broad coalitions. In both coalitions, this forced cohabitation has proved a breeding ground for infighting, but this is currently most acute in the Concertacion:
· The 'old guard' of leaders who founded the Concertacion in the 1980s, many of whom were active in politics before 1973, has failed to make way for younger leaders, eager for a greater share of power (and with a fresher appeal to voters).
· After 20 years in office, the coalition has tired and, according to some of its members, they have also wearied of each other.
· A reduction in the presidential term of office from six to four years under a constitutional reform in 2005 (see CHILE: Government coalition faces improved prospects - September 9, 2005) means that congressional and presidential elections now coincide. As a result, members of Congress who plan to seek re-election tend to curry favour with the next likely presidential candidate, rather than showing loyalty to the incumbent president.
First post-Pinochet election. Moreover, the Concertacion is facing its first presidential election since Pinochet's death in December 2006. Although he had already lost political influence, this had symbolic importance for the Concertacion, depriving it of its 'common enemy'. Moreover, it helped to reduce the automatic support, previously commanded by the Concertacion among many voters, for its role in re-establishing democracy.
As a result, this is perhaps the first election not fought on 'yes-no' lines (referring to the way people voted in the 1988 referendum on Pinochet's continuance in power). This is particularly so because Pinera has indicated that he voted 'no' and claims to have played an active role in the 'no' campaign.
Uncertain election result. This is also the first presidential election since 1990 in which the opposition candidate is the poll frontrunner. However, as the election approaches, uncertainty as to the result has increased:
· Polls indicate that Pinera will not obtain the absolute majority required for a first-round victory, forcing a run-off ballot on January 17 when, until recently, it seemed virtually certain that Frei would be his contender. However, Enriquez-Ominami, a charismatic 36-year-old lower house representative, has successfully captured voters' desire for change to the detriment of 67-year-old Frei who, as a former president (1994-2000), is widely perceived as already having had his chance. As a result, it could be Enriquez-Ominami who goes through to the runoff.
· According to most polls, Pinera would defeat Frei in the run-off, if by a narrow margin.
However, two recent newspaper polls suggest that, if his opponent were Enriquez-Ominami, the result would be even closer (within both polls' margin of error).
Concertacion regrouping. The Concertacion had initially ruled out a second-round alliance with Enriquez-Ominami but, given his rise in the polls, has begun to consider this option. Similarly, Enriquez-Ominami, who has been on bad terms with Concertacion party leaders, has begun to make tentative overtures. The form that such an alliance could take is not clear and it remains doubtful that it would be capable of snatching victory from Pinera. However, it would mean significant changes in the Concertacion, whether in government or opposition:
· It would inevitably imply ceding power to younger leaders, including Enriquez-Ominami -- whom the Concertacion would no longer be able to dismiss as a rebel and scapegoat for its possible defeat -- as well as others who are running for Congress and are likely to achieve strong majorities.
· These younger politicians have closer ties across party lines than the old guard which exercises power through party machines. This suggests that the Concertacion could move towards an institutional framework, the lack of which has long been recognised as a disadvantage.
· The Concertacion, which, due largely to the PDC's influence, has taken a conservative position on issues such as abortion (still illegal in Chile even when a mother's life is at risk) and homosexual civil unions, would move towards more liberal positions in line with changing public opinion.
CONCLUSION: The December election is the most uncertain since the restoration of democracy in 1990, both as regards its result and its implications for the coalition that has dominated Chilean politics for the past 20 years. Barring a reform of the electoral system, the Concertacion will survive, whether in opposition or government, but almost certainly not under its current leadership.

149) Mudando de eleicao presidencial: vejamos o Chile

Direita chilena continua à frente em pesquisa presidencial
Rodrigo Martinez
REUTERS, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SANTIAGO - O bilionário conservador Sebastián Piñera manteve a liderança na disputa presidencial chilena, segundo uma nova pesquisa divulgada nesta quarta-feira, o que o coloca em condições de encerrar duas décadas de hegemonia da coalizão de centro-esquerda.

A pesquisa Ipsos aponta 37 por cento das intenções de voto para Piñera, contra 27 por cento de Eduardo Frei, o candidato do governo, e 18 por cento para Marco Enriquez-Ominami, um esquerdista que rompeu com a coalizão e concorre como independente.

Na simulação para o segundo turno, Piñera lidera com 44,5 por cento, contra 39,6 por cento para Frei.

O primeiro turno está marcado para 13 de dezembro; o segundo, para 10 de janeiro.

Piñera e Enriquez-Ominami se apresentam como os candidatos da "mudança", embora suas propostas não sejam radicalmente diferentes das políticas adotadas pela atual presidente, Michelle Bachelet.

Apesar de ocupar o terceiro lugar, Enriquez-Ominami, de 36 anos, se tornou o grande nome da campanha, tendo um expressivo crescimento nas últimas semanas. Em três pesquisas anteriores, ele aparecia virtualmente empatado com Frei, que já foi presidente entre 1994 e 2000.

Sua candidatura dividiu a esquerda, e fez com que a coalizão governista Concertación estivesse ameaçada de perder uma eleição pela primeira vez desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.

A socialista Bachelet tem alto índice de aprovação, mas não pode disputar a reeleição e não conseguiu transferir sua popularidade para Frei.

Piñera, figura tradicional no cenário político chileno, é dono de várias empresas e tem participação acionária na companhia aérea LAN, na TV Chilevisión e no clube de futebol Colo-Colo.

O instituto Ipsos ouviu 1.255 eleitores entre 16 de setembro e 6 de outubro. A margem de erro é de 2,7 pontos percentuais.

148) Manobras eleitorais de alto coturno (c'est le cas de le dire...)

Acordo deve deixar Ciro fora da corrida pelo Planalto
Projeto para 2010, com apoio de Lula, seria concorrer à sucessão de Serra
Marcelo de Moraes, Vera Rosa e João Domingos
O Estado de S. Paulo, 21.10.2009

Dentro do Palácio do Planalto já existe uma certeza - o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não disputará a corrida presidencial contra a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Oficialmente, Ciro manterá a candidatura à Presidência até os primeiros meses do próximo ano, mas seu destino eleitoral já está definido e será a disputa pelo governo de São Paulo, com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.

A retirada da candidatura não será feita com antecedência por razões estratégicas. Primeiro, o próprio Lula quer esperar pela consolidação do nome de Dilma. A expectativa é de que as viagens da ministra, como a feita ao lado de Lula e de Ciro por cidades do Rio São Francisco, já comecem a produzir efeito, refletindo nas pesquisas eleitorais.

Além disso, o governo entende que a presença momentânea de Ciro como fator favorável, pois tem disputado intenção de voto nos mesmos segmentos que o governador de São Paulo, José Serra, (PSDB), principal pré-candidato da oposição. Ele também tem assumido o debate crítico contra o tucano, o que ajuda na campanha governista.

Existe, no entanto, uma condição clara para que esse movimento se concretize. Dilma precisa ultrapassar Ciro nas pesquisas. "Se ela não decolar, ele disputa a Presidência", avisa um dirigente do PSB.

Outro claro sinal da sintonia com o Planalto é que Ciro e os dirigentes do PSB nem sequer têm se movimentado para atrair o apoio de outros partidos. Sem alianças, terá pouco tempo de propaganda eleitoral. Na prática, Ciro e seu partido têm acompanhado com serenidade o movimento de Lula e Dilma para fecharem acordo com todas as outras legendas da base governista, sem se apresentarem como alternativa.

BLOQUINHO
PDT e PC do B, que se aliaram ao PSB para formar o chamado "bloquinho" na Câmara, também apostam na desistência de Ciro da corrida presidencial.

"Em poucos dias, boa parte dos partidos mais à esquerda deve anunciar o apoio à candidatura de Dilma", afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, que foi candidato a vice na chapa presidencial encabeçada por Ciro em 2002. "Nesse cenário, ficará somente com o PSB e a tendência é de que seja candidato em São Paulo."

Na avaliação de Paulinho, que conversou com dirigentes do PT e do PSB nos últimos dias, tudo indica que Ciro fará a vontade de Lula e concorrerá para governador, deixando caminho livre para Dilma. "Se ele entrar na disputa em São Paulo, nós o apoiaremos e poderemos montar uma chapa conjunta com PT e PSB."

Lula conversou com Ciro na viagem que fez pelo São Francisco, na semana passada. O presidente, que levou Dilma a tiracolo, foi taxativo, dizendo que a base aliada deve lançar um único candidato à sua sucessão para tornar a disputa plebiscitária entre o PT e o PSDB.

"SACRILÉGIO"
Na seara petista, a desistência de candidatura própria em São Paulo é vista como uma espécie de sacrilégio por boa parte da legenda. A provável entrada de Ciro no páreo paulista divide o PT e até integrantes do grupo.

Enquanto o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e o líder do partido na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), apoiam a candidatura de Ciro ao Palácio dos Bandeirantes, a ex-prefeita Marta Suplicy diz que o deputado "não tem ligação" com o Estado.

A ex-prefeita quer que o PT lance o deputado Antonio Palocci (SP), ex-ministro da Fazenda, à sucessão de Serra. Palocci é hoje o curinga do Planalto, pois tanto pode concorrer em São Paulo, caso Ciro não entre na briga, como ser o coordenador da campanha de Dilma.

A saída de Ciro da corrida presidencial facilita a montagem de campanhas regionais consideradas fundamentais pelo PSB. Com ele ao lado de Dilma, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), já avisou que fecha o seu apoio à reeleição do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), irmão do deputado, e não se lançará na disputa pelo governo.

Uma candidatura da prefeita seria um problema grave para a reeleição de Cid, já que o PT administra três das maiores cidades cearenses - Fortaleza, Juazeiro do Norte e Quixadá.

Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, busca a reeleição. Com Ciro apoiando a campanha de Dilma, o PT local deverá reforçar o palanque de Campos. Nessa parceria, o PT poderia ainda apoiar o PSB em Mato Grosso e no Amapá.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

147) Augusto Nunes - Perolas da pre-candidata

O jornalista Augusto Nunes, que mantem um blog politico-jornalista no site da Veja, continua em sua obra de coleta de frases memoraveis dos candidatos à presidência. Ele se ataca, mais uma vez, à candidata oficiosa, mas oficial do presidente, Dilma Roussef.

Discurso sobre o Nada (complemento do capítulo 1)
Augusto Nunes, 19 de outubro de 2009

Numa das escalas da Procissão dos Pecadores do São Francisco, o deputado Ciro Gomes dividiu um andor com Dilma Rousseff para mostrar que, por trás do brigão desbocado, existe um cavalheiro acidental. ”Todos temos a cada dia que conhecer mais a Dilma como eu já conheço para poder admirar o extraordinário valor dessa mulher de quem o Brasil ainda vai ouvir falar muito”, caprichou o candidato a alguma coisa. Para atender à recomendação do deputado paulista-cearense, e para reunir num mesmo capítulo o falatório despejado na epopeia de três dias, seguem-se mais reflexões da Mãe do PAC sobre temas de alta, média ou nenhuma relevância:

Transposição do São Francisco
“Esta é uma das maiores obras já feitas no mundo que beneficiará 12 milhões de pessoas, o que significa vida e que nossos filhos não serão vítimas de doenças”.

“O setor está virando mar e desta vez o sertão vai virar mar”.

“Não vai faltar trabalho para nenhum de vocês quando esta obra acabar. Daqui para frente, o Brasil terá desenvolvimento com trabalho para o seu povo e felicidade para as famílias. Vamos ter oportunidade de criar nossos filhos num futuro de esperança”.

Política habitacional
“Daqui pra frente, nenhum governo vai ser perdoado se não construir casas para o povo brasileiro”.

O governo em sua essência
“Somos um governo que a gente pode sintetizar assim: que abre caminhos. E o nosso sucessor, o sucessor do governo do presidente Lula, nós acreditamos que estará dentro desse projeto. Ou sucessora, porque eu também não sou machista”.

Ciro Gomes por Dilma Rousseff
“Tenho destacado sempre que tenho uma relação com Ciro Gomes muito boa, muito fraterna. E eu o considero um brasileiro dos mais importantes desse país no que se refere ao seu espírito público. Então, eu acho que ele é uma pessoa cidadã, e qualquer cidadão brasileiro tem o direito de pleitear uma candidatura”.

“Esse grande brasileiro que é Ciro Gomes foi, durante o primeiro governo do presidente Lula, um grande companheiro de todas as horas, sobretudo das horas difíceis. É uma pessoa em quem a gente pode confiar”.

Além das observações argutas e análises esclaredoras de praxe, a coluna espera dos comentaristas a elucidação de um mistério que aflige o Brasil: a que setor Dilma se refere na frase em que o sertão vira mar? Como tudo o que diz, parece erro de revisão. Mas é isso mesmo: setor. Ao trabalho, amigos.

146) Uma pre-candidata enroscada com a verdade...

O encontro confirmado
Editorial do jornal O Estado de S. Paulo, 20.10.2009

Na manhã de 9 de outubro de 2008, a então secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, reuniu-se a sós no Palácio do Planalto com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a chamado dela. O encontro - no qual a ministra lhe teria pedido para agilizar a devassa na contabilidade de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado - consta da agenda de Lina naquela data. Há dois meses, quando ela confirmou a reunião numa entrevista à Folha de S.Paulo, a reação da ministra foi taxativa. A reunião privada, a que ela se refere, eu não tive, assegurou. Convocada dias depois a depor no Senado, Lina não apenas manteve o que dissera, como acrescentou detalhes de sua ida ao palácio que não deixaram dúvidas sobre quem falava a verdade e quem mentia no caso.

Ainda assim, o governo achava que o episódio daria em nada porque Lina não estava de posse da agenda que sustentaria a sua versão. Demitida em julho do comando do Fisco, ela alegava que o documento estava na mudança enviada a Natal, onde vivia. Além disso, Lina não soube precisar quando se reuniu com Dilma. Mencionou, em termos vagos, o final do ano, o que permitiu ao governo afirmar que não havia nenhum registro da presença de Lina no Planalto em novembro e dezembro de 2008 - nem poderia haver, agora se sabe. Instado, pela oposição, a fornecer as imagens do circuito interno de TV do palácio, o governo disse que as fitas eram apagadas após 30 dias. Mas o Planalto informou que Lina esteve ali em outubro.

Aparentemente segura de si, Dilma desafiou a ex-secretária da Receita a provar o que dissera no Senado. Lina Vieira havia acusado Dilma de ter-lhe feito um pedido incabível, numa ingerência desnecessária e descabida na investigação da Receita, por ordem judicial de setembro de 2007, sobre as contas do primogênito do senador José Sarney, responsável pelos negócios da família. (Da operação resultaram 17 ações fiscais contra o empresário e a sua mulher.) A gente não afirma, a gente prova, fustigou a ministra. Não estamos na Idade Média, em que se prova a veracidade de alguma coisa por ênfase. Lina, de fato, foi enfática ao dizer que não mudo a verdade no grito, assim como ao relatar que nada fez para atender ao pedido de Dilma, depois de se certificar que tudo estava em ordem com a devassa. Não dei retorno, contou.

Ela disse também - e, pelo visto, sabia do que falava - que não precisava da agenda para dizer a verdade. Era uma resposta ao presidente Lula que, ao comprar pelo valor de face o desmentido de sua escolhida para suceder-lhe, se intrometeu desabridamente na história. Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda?, perguntou. Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo, provocou. (Então) era só pegar as duas agendas e ver o que aconteceu. Acaba de levar o troco. A agenda apareceu e, segundo Lina, citada pela revista Veja, mostra o dia, a hora e o assunto tratado no encontro com Dilma. Logo em seguida à reunião, ela escreveu: Dar retorno à ministra sobre família Sarney - o que acabou não fazendo.

Lina teria encontrado a agenda apenas dois dias depois do seu depoimento no Senado. Mas, de acordo com a Folha de S.Paulo, ela ficou receosa de apresentar o documento porque teria recebido recados de pessoas ligadas ao governo para deixar o assunto morrer. Depois de uma viagem ao exterior e disposta a dar um desfecho formal ao caso, está pronta a entregar a agenda ao Ministério Público, caso seja convocada. Talvez tenha de fazer mais do que isso. O presidente Lula não pediu que Lina mostrasse a agenda? Agora é bom que as duas mostrem. Essa questão precisa de esclarecimento, argumenta o senador Sérgio Guerra, do PSDB. Dilma terá de vir a público e se explicar, cobra o líder do DEM, José Agripino.

Quando Lina disse no Senado que não tinha sido pressionada pela ministra, os líderes da base governista se apressaram a declarar que, diante disso, se houve ou não o encontro, não tem mais importância central. Nunca deixou de ter. A partir do momento em que Dilma negou de forma cabal a reunião privada com Lina, tratava-se de saber em primeiro lugar se a ministra-candidata falou a verdade ou faltou com a verdade. A resposta está dada.

145) Construindo o mito: um filme mistificador

Isto também é campanha eleitoral, e talvez muito mais do que isso: faz parte da construção dos mitos históricos, e das mistificações políticas. PRA.

Cultura e política
Filme da vida de Lula estreia em ano eleitoral

Agência Estado, 18/10/2009

Estratégia dos produtores é transformar a história do petista no maior lançamento já feito pelo cinema nacional

- Ainda surfando no anúncio dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e nos sinais de retomada do crescimento econômico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve colecionar mais dividendos políticos, desta vez nas telas do cinema e em pleno ano eleitoral, quando todos os esforços estarão voltados para eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora.

Lula, o Filho do Brasil, cinebiografia sobre o petista, será lançado em 1.º de janeiro de 2010 com uma estratégia de distribuição que tem como objetivo torná-lo um dos maiores lançamentos do cinema nacional, desde a retomada da produção cinematográfica do país, em 1995. O filme conta os primeiros 35 anos da vida do presidente, do nascimento até a transformação dele em líder sindical.

Recursos estatais
Dinheiro da Petrobras pode bancar a distribuição
Os produtores de Lula, o Filho do Brasil apostam no uso de mecanismos alternativos para levar a cinebiografia do presidente para os grotões do país. Uma das ferramentas em estudo são os cinemas itinerantes. Duas organizações que propõem iniciativas na área recebem recursos da Petrobras, estatal ligado ao governo federal.

A Mostra BR Candango, organizada pelo Instituto Latino Americano, e o Cinema BR em Movimento, ligado à MPC Associados, recebem R$ 427 mil e R$ 1,1 milhão, respectivamente, para implantar projetos que levem cinema a regiões onde a população não tem acesso a salas. “Vou correr muito para exibir esse filme. Não por ser o presidente Lula, mas por ser um exemplo de vida”, disse Atanagildo Brandolt, presidente do Instituto Latino Americano.

A entidade faz projeções anuais desde 2005, em 26 municípios de Goiás, Minas Gerais e dos arredores de Brasília, usando um caminhão, uma tela inflável e 600 cadeiras. Questionado se não achava um problema divulgar o filme de Lula, com dinheiro de uma empresa ligada ao governo, Brandolt disse: “Absolutamente. Podia ser o FHC, desde que tivesse trajetória como a de Lula. Nosso público é formado pelos Lulas de ontem”.

Coordenador de produção e difusão do Cinema em Movimento, Diego Paiva disse que, “a princípio”, não haveria problema em exibir a produção. O projeto já chegou a 1,7 milhão de espectadores desde 2000.

De acordo com a Petrobras, “todos os projetos patrocinados contam com curadoria artística”. “Cabe exclusivamente aos curadores a seleção da programação de filmes exibidos, sem que haja qualquer ingerência da Petrobras”, respondeu a empresa pública.

A busca por entidades alternativas se baseia num fato: o número de salas no Brasil hoje é menor que o da década de 70. Em 2008, o país tinha 2.278 salas, segundo a Ancine. Em 1975, eram 3.276 salas.

A produção recorrerá a tradicionais bases de sustentação política de Lula, como sindicatos, e a regiões onde ele tem alta popularidade, como no Nordeste, para fazer a distribuição do filme. Um universo de 10 milhões de pessoas sindicalizadas poderá comprar ingressos a preços populares.

A estreia será feita em mais de 400 salas, sendo que 88 delas não fazem parte do circuito convencional, como nas cidades baianas Alagoinhas e Santo Antonio de Jesus, na cearense Maracanaú e na pernambucana São Lou renço da Mata. A cidade de Gara nhuns, na região onde nasceu Lula, receberá cópias para exibição em duas salas, já no lançamento.

Lula, o Filho do Brasil fugiu do padrão nacional de financiamento de obras cinematográficas, baseado na renúncia fiscal. Causou polêmica no mercado, ao conseguir bancar a produção, de R$ 12 milhões, com dinheiro de empresas que não se beneficiaram de nenhuma lei de incentivo fiscal. Há construtoras, montadoras e outras empresas que não são tradicionais investidoras do setor – algumas têm contratos com o governo.

“Para chegar a 400 salas, vão ter de entrar pesado no interior”, disse Luiz Severiano Ribeiro, diretor do Grupo Severiano Ri beiro/Kinoplex, que detém 200 salas de cinema. Os produtores, no entanto, acham ser possível chegar a 500 salas – Se Eu Fosse Você 2, campeão de público desde 1995, foi lançado em 315 e teve 6,1 milhões espectadores.

CUT e Força Sindical negociaram promoções para a exibição. “O filme interessa a todo mundo, mas o público principal é o sindical”, disse Bruno Wainer, presidente da Downtown Filmes, que ao lado da Europa Filmes é responsável pela distribuição. A ideia é que sindicatos ligados às centrais vendam ingressos antecipados, até 20 de dezembro, por R$ 5.

Produtores e distribuidores querem pegar carona na história de Lula e transformar o filme, dirigido por Fábio Barreto, no mais visto da história do cinema nacional. Avaliam que a produção pode chegar a 20 milhões de pessoas. “Quando o Barreto (Luiz Carlos Barreto, pai de Fábio e produtor) fala 20 milhões, é um balão de ensaio. A expectativa do mercado é que esse filme tenha entre 4 e 5 milhões de espectadores. Já sai de um patamar alto. É até possível que se pague”, afirmou Paulo Sérgio Almeida, cineasta e diretor da Filme B, empresa que faz análises do setor.

Chapa branca
A oposição ao governo Lula tem visto com reticências a estreia do filme justamente em ano eleitoral. Duda Mendonça, ex-publicitário de Lula, chegou a dar sugestões sobre a produção. Ao ver uma versão, sugeriu que fosse retirado trecho em que uma professora de Lula diz que ele é “muito especial”. Para Du da, a passagem deixaria “chapa branca” o filme, que será transformado em minissérie – a Globo está na negociação.

Os envolvidos com a cinebiografia negam que ela vá ajudar politicamente Lula ou o PT. “Ninguém é petista aqui. Não fizemos por razões ideológicas”, disse Wainer. “A história é incrível, independentemente de você votar nele.” Questionado sobre o lançamento em ano eleitoral, afirmou: “O Brasil está em eleição quase todos os anos”.

domingo, 18 de outubro de 2009

144) Eleicoes presidenciais na America Latina

Do Blog de Miriam Leitão:

Enviado por Débora Thomé -
13.10.2009, 12h03m

Ano eleitoral
2009 ainda verá mais três eleições presidenciais na região


A despeito da tentativa de certos governantes - leia-se, Hugo Chávez - de ficar por toda vida no poder; ou da tentativa de certos governantes de controlar a mídia - leia-se mais recentemente casal Kirchner -, a democracia ainda é a regra aqui na região. Tudo bem, tem muita gente que argumenta que democracia deve ir além da escolha do mandatário, mas sou partidária da tese de que eleições livres e diretas já são um bom começo.

Tirando por mais este ano, ele anda cheio de eleições presidenciais. Até agora, já foram três: Panamá, El Salvador e Equador (nessa o presidente foi reeleito). Mas tem mais! Uruguai ainda este mês e Bolívia e Chile em dezembro. Pedi a três cientistas políticos: Florencia Antia e Lorena Granja, ambas uruguaias e Clayton Mendonça Cunha FIlho (brasileiro, especializado em Bolívia) e um sociólogo, o chileno Alexis Cortés, que contassem um pouco do que está se passando nos seus países. Publico abaixo as informações.

Enviado por Débora Thomé -
13.10.2009, 12h02m
Por Florencia Antia e Lorena Granja
No Uruguai, Frente Amplio deve ganhar, mas só no segundo turno

No próximo dia 25, acontecem as eleições presidenciais e legislativas no Uruguai. Os eleitores terão que escolher entre as listas fechadas definidas no mês de Junho em eleições internas dentro de cada partido. A lista presidencial do Frente Amplio (partido atualmente no governo) é liderada pelo antigo guerrilheiro e ex-ministro de Agricultura José Mujica e o ex-ministro da Fazenda Danilo Astori. Já a do Partido Nacional esta encabeçada pelo ex-presidente Luis Alberto Lacalle, que governou o Uruguai entre 90-95, e pelo Senador Jorge Larrañaga. O Partido Colorado concorre com a dupla Pedro Bordaberry e o ex-jogador de futebol Hugo De Leon. Por sua vez, o Partido Independiente traz os nomes de Pablo Mieres e Ivan De Posada.

Segundo a última pesquisa feita pela Consultora Cifra, o Frente Amplio (FA) lidera as preferências do eleitorado com um 45%, percentual que vem se mantendo desde agosto. Já o Partido Nacional (PN) tem 31%, caindo 1% em relação ao mês anterior. Por sua vez, o Partido Colorado e o Partido Independiente subiram desde um patamar muito baixo para 12% e 2% respectivamente. Os indecisos e as pessoas que votam em branco ou nulo alcançam 10%. Se as previsões de confirmarem, haverá segundo turno em novembro, já que o partido de governo não conseguiria alcançar a maioria absoluta dos votos. Contudo, ainda é cedo para tirar conclusões já que o desempenho dos candidatos na campanha tem afetado as preferências do eleitorado de maneira significativa nas ultimas semanas.

Finalmente em outubro os uruguaios também deverão decidir sobre duas questões submetidas à consulta popular. Uma delas propõe anular a lei que anistia os responsáveis pela violação dos direitos humanos na ditadura militar. Segundo a mesma consultoria, essa proposta não alcançaria os votos suficientes para ser aprovada, já que conta com 42% das intenções de votos. O outro plebiscito habilita o voto dos cidadãos residentes no exterior a partir das eleições de 2014. Segundo a pesquisa, neste caso, as chances de aprovação são maiores, com 51% das intenções de votos.

Enviado por Débora Thomé -
13.10.2009, 12h01m
Por Clayton Mendonça Cunha FIlho
Na Bolívia, Morales deve ser reeleito em primeiro turno

As eleições Bolivianas acontecerão no dia 06 de dezembro deste ano. Além de presidente e vice, serão eleitos deputados e senadores e votados referendos de autonomia (na prática, uma descentralização administrativa) para os departamentos de Paz, Oruro, Potosí, Cochabamba e Chuquisaca, para a província de Gran Chaco (em Tarija) e de autonomia indígena dos municípios de Charagua, Lagunillas, Gutiérrez, Jesús de Machaca, Jacha Karangas e Huacaya (além da maior autonomia administrativa, para o caso indígena, abre também a possibilidade de formas não-modernas de representação através de usos e costumes). O legislativo boliviano é eleito de forma mista: o Senado e metade da Câmara por lista fechada e a outra metade da Câmara em voto distrital. Para aqueles congressistas (senadores e deputados) eleitos em lista, o voto é vinculado ao do presidente, isto é, ao escolher o candidato presidencial, automaticamente se está votando na lista de deputados e senadores da coligação.

Haverá oito chapas para presidente. O atual presidente da Bolívia, Evo Morales, concorrerá à reeleição pelo partido Movimento Ao Socialismo (MAS) e enfrentará Manfred Reyes Villa (Plano Progresso para Bolívia-Autonomia Para Bolívia), Samuel Doria Medina (Unidade Nacional), René Joaquino (Aliança Social), Alejo Véliz (Povos Pela Liberdade), Ana María Flores (Movimento de Unidade Social Patriótica), Rime Choquehuanca (Bolívia Social Democrata) e Román Loayza (Gente). As regras para a legalização de partidos é muito fluida na Bolívia e, dos oito concorrentes, apenas dois (o MAS e a UN) haviam concorrido em 2005 e apenas mais um (AS) já existia há mais tempo, controlando algumas prefeituras e vereadores pelo país (o candidato a presidente, inclusive, é o ex-prefeito da belíssima cidade colonial de Potosí, antigo centro mineiro do Império Espanhol nas Américas). Todos os outros foram criados para participar nestas eleições.

Um fato histórico interessante é que esta é a primeira eleição, desde 1951, em que o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), principal ícone da Revolução Boliviana de 52 e que já exerceu a presidência várias vezes, não apresenta um candidato a presidente. Fruto do declínio do partido, que ficou marcado por ser o principal condutor das reformas nos anos 80-90 e mais especificamente por ser o partido do odiado ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que responde na justiça por responsabilidade pelas mais de 60 mortes da Guerra do Gás de 2003 e está exilado em Miami.

As pesquisas indicam que Morales deve ganhar com facilidade em primeiro turno e que provavelmente fará maioria nas duas casas do Congresso. Embora as pesquisas de opinião boliviana não sejam muito confiáveis (geralmente tomam apenas as cidades de La Paz, El Alto, Cochabamba e Santa Cruz, às vezes incluem as outras capitais departamentais, mas nunca vão à Bolívia rural), é provável que tenham razão se se leva em consideração a evolução do voto de Morales, sempre crescente, em 2002, 2005 e 2008 (referendo revogatório) e os altos níveis de popularidade do governo.

O fato mais polêmico do quadro eleitoral foi a inscrição do ex-governador de Pando, Leopoldo Fernández, como candidato a vice de Manfred Reyes Villa (PPB-APB). Fernández está na cadeia desde setembro de 2008 por sua suposta responsabilidade no chamado massacre de Porvenir, onde pelo menos 11 camponeses governistas foram assassinados em uma emboscada. De todos os opositores, a dupla Manfred-Leopoldo é a que se situaria mas à direita no espectro político boliviano e é a que tem conseguido reunir mais apoio, embora a diferença de intenção de votos com relação a Morales seja sempre de mais de 20 pontos percentuais de vantagem para o presidente em todas as pesquisas de intenção de voto.

Enviado por Débora Thomé -
13.10.2009, 12h00m
Por Alexis Cortés Morales
No Chile, Concertación pode ser derrotada após 19 anos no poder

El río revuelto das eleições presidenciais chilenas

Desde a volta a democracia, provavelmente a atual seja umas das eleições que apresente mais dúvidas quanto ao seu resultado. Um contexto bastante especial rodeia o desenvolvimento desta competição presidencial.

Depois de 19 anos de governo da coalizão de centro-esquerda, a Concertación, a possibilidade de que a direita ganhe as eleições parece mais real que em outras ocasiões, pois, pela primeira vez, o candidato da Alianza, Sebastián Piñera, vai liderando nas pesquisas sobre o candidato do governo. Pese a que a aprovação da presidente Bachelet seja hoje de 76%, o candidato de continuidade, o democrata-cristão Eduardo Frei, está tendo dificuldades para herdar esse apoio. Sobretudo porque parte desse apoio está sendo disputado pelo candidato revelação, o ex-socialista, Marco Enríquez-Ominami (MEO).

É importante adicionar que as eleições parlamentares, que acompanharão à presidencial, tem como novidade um inédito “pacto contra a exclusão” entre a Concertación e o Partido Comunista. Acordo que procura romper com os efeitos do controvertido sistema binominal chileno, que, entre outras coisas, sobre-representa à segunda maioria eleitoral (a Alianza). Isso, junto com a escolha de Jorge Arrate como candidato dos comunistas, um homem que provem do mundo “concertacionista”, está gerando as pontes para um possível apoio da esquerda ao candidato Frei no segundo turno.

Quem são os quatro candidatos? O que representam e que agrupações políticas os apóiam? Eis alguns antecedentes breves de cada um:

• Sebastián Piñera: o candidato da centro-direita é o que lidera as pesquisas há alguns meses, com cerca de 37% de adesão (Fonte CEP Chile agosto). Tem o mérito de conseguir uma candidatura unitária entre seu partido, Renovação Nacional (RN), e seus ainda mais conservadores e poderosos aliados, a União Democrata Independente (UDI), e de ganhar o apoio do Senador Fernando Flores, ex-Concertación e ex-ministro do governo Allende, e sua nova, mas pequena, agrupação política. Porém, Piñera ainda não conseguiu se desfazer do mote de “o Berlusconi chileno”. Sendo uns dos homens mais ricos do país, é dono da companhia de aviação LAN, de um sinal de televisão aberto e do time mais popular do Chile, o Colo Colo. Por isso acaba mostrando, ao longo da campanha, uma série de conflitos de interesses, que seus contendores constantemente levam a tona. Por outro lado, pese a liderar as pesquisas há alguns meses, parece estagnado em uma cifra que é insuficiente para ganhar a eleição.

• Eduardo Frei: o candidato democrata-cristão já foi presidente do Chile no segundo governo da “Concertación”. Apesar de ter superado os seus contendores internos, até agora não conseguiu o crescimento eleitoral que os seus partidários esperavam. Porém está se mostrando hábil no manejo em relação ao seu governo, reivindicando, ao mesmo tempo, a administração Bachelet. Enfatizando no seu discurso a necessidade de mais Estado e menos mercado, está tendo que enfrentar os questionamentos por ter encabeçado um dos governos mais privatizadores desde a volta à democracia. Com um nível de apoio de um 28% nas pesquisas e pese a ameaça representada por MEO, o mais provável é que consiga chegar ao segundo turno e, nele, o apoio da esquerda.

• Marco Enríquez-Ominami: o candidato revelação desta campanha é deputado e, até poucos meses atrás, era militante do mesmo partido que Michelle Bachelet, o Partido Socialista. Porém, a rejeição por parte das lideranças da Concertación de incluir seu nome entre os postulantes eventuais para uma primária, provocou a saída dele, levando junto uma boa quantidade de legisladores. Para surpresa de muitos, ele começou a ter um apoio inesperado nas pesquisas, hoje perto de 17%das intenções. Filho biológico do ex-líder do Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR), morto pela ditadura em 1974; foi criado pelo senador (ex-PS) Carlos Ominami. Recebeu o apoio do também senador (ex-PS) Alejandro Navarro e do ex-candidato da esquerda (Juntos Podemos) Tomás Hirsch e seu Partido Humanista, até poucos meses atrás principal aliado do PC. A falta de uma base partidária sólida está jogando contra este candidato, mas ainda mais forte é a difícil conciliação dos diferentes mundos que estão apoiando sua candidatura em um programa político. Ao seu lado, é possível encontrar ex-pinochetistas, liberais, ex-socialistas, ex-MIR, ecologistas e humanistas.

• Jorge Arrate: ex-ministro dos governos de Allende, Aylwin e Frei; abandonou o Partido Socialista para ser o candidato do Partido Comunista e do recentemente recriado Partido Esquerda Cristão (IC). Com baixo apoio nas pesquisas, é de se esperar que seu rendimento eleitoral melhore, particularmente pelo desempenho que está tendo nos debates na mídia. Com algumas dificuldades para encantar o próprio eleitorado “duro” do PC e sua coalizão, o Junto Podemos, devido à proximidade de Arrate com a “Concertación”, vem mostrando mais habilidades que postulantes anteriores da esquerda para se aproximar ao mundo de centro. Além disso, sua candidatura parece ser bastante adequada para contribuir ao sucesso do “Pacto contra a exclusão” que permitiria o retorno dos comunistas ao parlamento desde 1973.

Muitas surpresas podem acontecer nesta eleição, sobretudo nas eleições parlamentares, mas, parafraseando um popular ditado chileno, só os eleitores decidirão, em 9 de dezembro, qual será o pescador de maiores ganhos neste, cada vez mais, revolto rio que está sendo a política chilena.

143) Copa do Mundo em 2014 e Olimpiadas em 2016: a conta...

Caberia apenas saber se o próximo governo está sabendo o que lhe espera, mas como ainda não se sabe quem estará no próximo governo, caberia saber se o assunto de quem vai pagar os investimentos para os dois mega-eventos vai ser discutido durante a campanha presidencial, ademais do assunto mais prosaico do equilíbrio fiscal a partir de 2011. Supõe-se, entretanto, que boa parte dos investimentos para os dois eventos saia do setor privado, mas isso precisaria ficar muito claro, ou seja, quem arca com o que... PRA( 18.10.2009)

Olimpíada e Copa custarão R$ 130 bilhões
Estimativa é de quase R$ 130 bilhões, ante R$ 116 bilhões desembolsados pelo governo Lula entre 2003 e 2009
Renée Pereira (18/10/2009)

As obras para abrigar a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos e a exploração do pré-sal vão exigir um enorme esforço do Brasil em investimentos. Estima-se que só os dois principais eventos esportivos do mundo vão demandar quase R$ 130 bilhões em infraestrutura, reforma e modernização de estádios e urbanização - valor bem acima dos R$ 116 bilhões investidos em toda economia (sem considerar as estatais), entre 2003 e 2009, pelo governo Lula, diz estudo do economista José Roberto Afonso, ligado ao PSDB.

Além dos dois eventos, outros projetos ambiciosos vão requerer investimentos bilionários nos próximos anos, como a exploração do pré-sal, o financiamento à indústria nacional para atender à Petrobrás (estimado em US$ 400 bilhões). Sem contar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida.

Entre os especialistas, a dúvida é de onde virá tanto dinheiro. "Diante do histórico de baixo investimento, o governo precisa mostrar de forma clara o que fará para ser mais eficiente. Ou correrá o risco de não fazer os projetos necessários aos eventos esportivos e outras obras para garantir o crescimento sustentável do País", diz Afonso.

A preocupação do economista tem fundamento. Isso porque, apesar do forte apetite da iniciativa privada pelo Brasil, a grande maioria dos projetos da Copa e da Olimpíada terá de ser bancada com recursos públicos. Com a falta de capacidade de muitos municípios e Estados, é provável que o governo federal tenha de arcar com fatia expressiva dos investimentos ou usar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destaca o presidente do Sindicato da Arquitetura e Engenharia, José Roberto Bernasconi.

APOIO DO BNDES
No caso dos estádios, o governo federal já disse - pelo menos por enquanto - que não vai injetar nenhum centavo, mas abriu uma linha de crédito de quase R$ 5 bilhões no BNDES para as obras. Mas os Estados querem mais. Além de empréstimos, esperam por recursos do PAC. "Do jeito que está, a equação não fecha", alerta o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas.

Na opinião de Velloso, para atender toda a demanda do mercado, o BNDES não escapará de nova captação ou elevação do capital com dinheiro do Tesouro. Isso se não tiver de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Além das obras dos eventos esportivos, o governo já sinalizou que o desenvolvimento da indústria nacional para atender a Petrobrás será financiado pelo banco estatal. Mas ainda não definiu como vai fazer novas capitalizações no banco.

O Trem de Alta Velocidade (TAV, com R$ 34 bilhões), a Usina de Belo Monte (R$ 16 bilhões) e outros investimentos das estatais também serão financiados pela instituição. Velloso destaca que, no caso de o BNDES fazer captações no mercado, há limites de capacidade que precisam ser obedecidos. O mesmo ocorre com a capitalização do Tesouro, que significaria aumentar o endividamento público.

Segundo especialistas, o fato é que, apesar das necessidades e dos cronogramas que precisam ser cumpridos, pouco tem sido visto na prática. Na opinião deles, o governo precisa elencar todas as obrigações para os próximos anos e definir o que é investimento público, Parceria Público-Privada e concessões. No caso da Copa, o Ministério do Esporte promete soltar um programa de gestão até o fim do ano. Para a Olimpíada, a Secretaria da Fazenda do Rio divulgou a alguns investidores um orçamento do evento, que está perto de R$ 30 bilhões.

O valor inclui portos, aeroportos, estradas e ferrovias, entre outros. Nesses casos, boa parte dos investimentos seria do governo federal. "O grande desafio para o País será aumentar o peso dos investimentos nos gastos globais, sem causar inflação e déficits externos excessivos", diz Velloso. "E isso só se consegue se for possível fazer com que os gastos correntes cresçam abaixo do PIB." Pelos cálculos do economista, em 2008 os investimentos da União, Estados e Municípios atingiram só 2,4% do PIB.

"Acredito que uma parte dos projetos terá de ser feita por meio do regime de concessão. Recurso público sozinho não segura toda essa necessidade de investimentos nos próximos anos", afirma o economista Amir Khair, especialista em finanças públicas. Ele acredita, no entanto, que a retomada da economia deverá fortalecer a arrecadação dos governos e melhorar as contas públicas. "Normalmente, as receitas crescem até 2 pontos porcentuais acima do PIB."

O fato é que o País não tem muito tempo, já que 2010 é ano eleitoral e pouca coisa tende a sair do papel. "Por isso, precisamos atacar um outro problema, que é a gestão dos recursos públicos", diz o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy. Para ele, será preciso um novo modelo, que simplifique os processos de licitação, licenciamento e liberação do dinheiro. "Precisamos ter agilidade, mas de forma regular e dentro da lei."

No PAC, por exemplo, que é um programa prioritário do governo federal, não se consegue gastar o dinheiro disponível no orçamento. Um estudo feito recentemente pelo professor da Coppead/UFRJ, Paulo Fleury, mostra que, no ritmo atual, o governo demoraria 25 anos para gastar todo o dinheiro de um programa previsto para o período 2007/2010.

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Comentários pessoais de Mauricio David:

A conta do ôba-ôba

Realmente é assustadora a incapacidade dos ministros da área econômica do atual governo (Mantega & Cia) em dominar os conceitos básicos da aritmética e da contabilidade ! Como é possível um governo se comprometer com investimentos nos próximos sete anos na área esportiva internacional, referentes à Copa do Mundo em 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, que chegarão R$ 130 bilhões ? ( compare-se com os R$ 116 bilhões desembolsados pelo governo Lula para investimentos em todos os setores da economia entre 2003 e 2009 : fácil ver que as contas não fecham !!!). Esta bomba vai cair no colo do próximo governo... Os economistas ligados ao Serra aparentemente sabem fazer contas e deve ser por isto que êle está vacilando tanto em declarar-se realmente candidato nas eleições presidenciais do ano que vem... E quando a Dilma começar a fazer as contas, o que acontecerá ? Vai desistir da candidatura ? (por enquanto, as únicas contas que ela está fazendo é de quantos pontos precisa subir nas pesquisas eleitorais para se tornar competitiva, mas esta situação vai mudar quando - e se- ela subir nas pesquisas. Ela vai se assustar então com o tsunami econômico que o Lula vai deixar para o próximo governo...)

142) Um fantasma da campanha de 2002 ronda a campanha de 2010

O exílio de dois brasileiros na França
Como vive o casal que pediu refúgio político à França para fugir dos assassinos do ex-prefeito Celso Daniel
Gabriel Brust | Especial/Paris
Política - Zero Hora, 17/10/2009

“Você vai nos reconhecer. Somos um casal estranho. Eu sou baixinha com cara de japonesa, Bruno é alto com cara de italiano.”

O último dos vários e-mails trocados ao longo de dois meses deixa clara a preocupação de Marilena Nakano, 61 anos, com a segurança. O encontro é marcado em local público. Ao seu lado, em uma saída de estação de metrô na periferia de Paris, surge seu marido, Bruno José Daniel Filho, 56 anos – um dos irmãos de Celso Daniel, ex-prefeito da cidade paulista de Santo André, assassinado em 2002. O casal “estranho” na aparência vive há três anos na França, em endereço não revelado e em circunstâncias ainda mais exóticas: são refugiados políticos reconhecidos pelo governo francês. Deixaram o Brasil para não virar estatística. No caso, os números nove e 10 na lista de pessoas mortas em circunstâncias suspeitas, todas relacionadas de alguma forma ao caso Celso Daniel.
A descrição do e-mail foi fiel. Bruno José, quase um 1m90cm, magro, cabelo batido e queixo proeminente, destoa de Marilena, enquanto caminham de braços dados pelas ruas de uma das pequenas cidades da banlieue, a periferia parisiense. Marilena é quem mais fala durante as duas horas de conversa em um café. Deixa transparecer indignação,
tristeza e, às vezes, até bom humor. Bruno fala pouco e tenta, mas não consegue, sorrir. A morte traumática do irmão seria apenas o primeiro episódio a roubar-lhe qualquer possibilidade de voltar a ter uma existência tranquila. Quem define o trauma é Marilena:
– Lidamos com duas mortes. Uma foi a do Celso. A outra foi a morte simbólica de companheiros do PT. De companheiros, não têm nada.

O abandono de ex-companheiros
Foi em função da segunda morte, mais do que da primeira, que o casal desembarcou na França no dia 1º de março de 2006. No segundo semestre de 2005, Bruno, então professor de Economia da PUC-SP, percebeu que o único resultado da luta para desvendar o assassinato do irmão foi o isolamento da família. Restavam ele e Marilena, ambos ex-petistas históricos, como dois Davis batendo de frente com interesses aparentemente ocultos, que se materializavam em duas frentes.
Primeiro, na Polícia Civil, que, com apenas três meses de investigação, em abril de 2002, concluiu que o assassinato não passou de crime comum – Celso teria sido sequestrado por engano, no lugar de um empresário. Em segundo, na suposta debandada de companheiros históricos do PT, ocorrida por volta de 2003. Marilena conta:
– A nossa última tentativa de obter apoio do PT foi quando tivemos acesso às fotos da necropsia. Elas mostram que Celso foi torturado. Chamamos alguns petistas, um a um, para dizer “você vai ver o que nós vimos, e a gente está pedindo pela última vez: vocês têm de fazer alguma coisa”. Nunca moveram uma palha.
A indiferença inicial de ex-companheiros se tornaria repúdio aberto à atuação do casal a partir de 6 de outubro de 2005. Bruno confirmou, em depoimento à CPI dos Bingos, ter ouvido de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um relato sobre corrupção na prefeitura de Santo André com arrecadação de propina para o PT. A participação na CPI foi a gota d’água para acabar com qualquer
relação entre o partido e a família Daniel.

Falta de dinheiro gera dificuldades
O embate do casal e de outro irmão da vítima, João Francisco Daniel, hoje respira graças à intervenção do Ministério Público (MP) de São Paulo. Após avaliar que a investigação policial apresentava questões não esclarecidas, o MP solicitou, em 2002, a reabertura dos trabalhos.
Desde então, os esqueletos não pararam de sair do armário. Oito pessoas foram denunciadas pelo assassinato. Outras oito relacionadas ao caso morreram em circunstâncias misteriosas.
– Começamos a sofrer ameaças de forma mais intensa depois que o legista veio a público e disse “Celso foi torturado, não foi um crime comum”. Era a fala de um especialista. Antes de concluir o relatório, foi encontrado morto – conta Bruno.
As ameaças, em telefonemas suspeitos, levaram a polícia a providenciar segurança 24 horas para Bruno. Até que um telefonema feito a uma tia da família deixou claro: um dos sobrinhos de Celso seria morto caso os irmãos do ex-prefeito não deixassem o país. O casal tratou de providenciar a partida dos três filhos.
– Em seguida, caiu a ficha: estávamos pensando nos filhos. Mas e nós?
Quando começamos a pensar na saída deles, era mais ou menos inescapável pensar na nossa saída também.
Em março de 2006, o casal chegaria à França, país escolhido pela proximidade cultural – Marilena havia estudado lá por seis meses na época da morte de Celso – e pela tradição em acolher refugiados políticos.
O status de refugiado foi obtido no segundo semestre de 2006, após avaliação do Ofício Francês de Proteção aos Refugiados e Apátridas. A tarefa não costuma ser fácil: apenas 10% dos estrangeiros que solicitam o refúgio são aceitos. Em 2006, os Daniel foram a única família brasileira a obter o status – que lhes permite trabalhar e viver legalmente –, graças às comprovações de que poderiam ser mortos caso voltassem ao Brasil. Os dois levaram uma vida secreta no Exterior até o início deste ano, quando resolveram voltar a se manifestar através de cartas abertas a instituições brasileiras.
A dificuldade do casal hoje é de ordem financeira. Contam com a ajuda de amigos para sobreviver e recorrem a trabalhos eventuais, cada vez mais escassos em tempos de crise econômica europeia. Marilena está recorrendo ao seguro-desemprego. Bruno tenta rir da ironia do destino:
– No Brasil, eu dava aula justamente sobre Estado de bem-estar social. Agora a gente tem um status aqui de família de baixa renda, então recorremos ao Estado de bem-estar social e sofremos as mesmas agruras das pessoas francesas de baixa renda. Eu não desejo o exílio para ninguém. Deixamos amigos, família, nosso país, nosso trabalho. Tudo isso perdemos. Tínhamos uma vida regular. Perdemos.

Entenda o caso
- Prefeito de Santo André, Celso Daniel (foto) foi assassinado com oito tiros em janeiro de 2002. Ele era coordenador do plano de governo do então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
- As investigações apontaram para um sequestro. No entanto, depoimentos a promotores indicaram a possibilidade de homicídio político.
- Segundo testemunhas, uma quadrilha teria sido contratada para matar o ex-prefeito porque ele teria ameaçado denunciar companheiros petistas por suposto desvio de dinheiro extorquido de empresários.
- Acusado de ser o mentor do crime, o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, era amigo de Daniel e o acompanhava na noite do sequestro. Sombra é suspeito de ser o arrecadador das propinas.
- O PT e a Polícia Civil sustentam a tese de que houve crime comum (sequestro seguido de morte). Já o MP e a família de Celso Daniel defendem a teoria de crime premeditado por vingança.

141) Aposta eleitoral - artigo de Paulo Kramer

Paulo Kramer aposta cerrado em José Serra presidente, a menos de algum fato novo que ele não consegue prever agora, mas que ele acha que dificilmente tirará a vitória de Serra.

FATO NOVO
Paulo Kramer (*)
17.10.2009

Cada vez mais me perguntam como vejo o panorama da sucessão presidencial de 2010.
Bem, até onde a minha vista (3,5 e 4 de miopia) alcança, parece-me que ou José Serra vence a eleição do ano que vem ou jamais conseguirá fazê-lo.
Se eu ainda fosse marxista (toc, toc, toc na madeira!), diria que nunca como agora as condições objetivas do processo histórico estiveram tão favoráveis ao governador paulista. Pelo Brasil afora, Serra é conhecido e reconhecido como político veterano, administrador competente e, o que é mais relevante para a grande maioria dos eleitores, ‘pai dos genéricos’.
Quanto à candidata de Lula, afirmei, em entrevista ao semanário Brasília em Dia em fevereiro, que Dilma Rousseff dificilmente decolaria acima do percentual de votos amealhados pelo seu chefe no tempo em que este perdia todas as eleições: algo em torno de um terço do eleitorado. Mais recentemente, Carlos Montenegro, do Ibope, em depoimento a Veja (“Lula não fará seu sucessor”), e Alberto Almeida, sociólogo, autor dos livros A cabeça do brasileiro, Por que Lula e A cabeça do eleitor (publicados pela Record), em uma de suas contribuições quinzenais para o suplemento cultural de fim de semana do Valor Econômico, corroboram minha precisão.
O segundo analista, particularmente, acertou na mosca: em pleitos sem reeleição, como o de 2010, a pessoa do candidato, seu currículo de realizações, é o que mais conta. Já com a possibilidade de recondução, o que o eleitor mediano, essa figura elusiva criada pelos cientistas políticos americanos, mais leva em consideração é o governo do presidente que luta por mais quatro anos no poder.
Figuras como José Serra e Aécio Neves, prossegue Melo em seu raciocínio, estão há muito tempo sob os holofotes da mídia e o escrutínio da opinião pública, ambos com muitas realizações a mostrar. Quanto ao, digamos, currículo da ministra, o que dá para prever desde já é que a Oposição vai deitar e rolar no seu passado de militante da luta armada, para não dizer terrorista, e nas suas, digamos novamente, problemáticas relações com a verdade. Como afirma o sociólogo, o eleitor olha para o retrato político de Dilma e não enxerga quase nada. Mãe do PAC, que até abril último havia entregado apenas 17% dos empreendimentos programados?... Afilhada do carismático presidente da República? Sinceramente, quando se trata de eleição presidencial, creio que os analistas políticos e o povo olham para lados opostos e veem coisas diferentes. Às vezes, receio que nossos conhecimentos acadêmicos e nossa familiaridade com os bastidores do poder levem-nos a atribuir um peso exagerado a arranjos institucionais e forças impessoais como partidos, alianças, regras da Justiça Eleitoral e por aí vai, que pouco significam para o votante. Este restringe-se ao que a propaganda eleitoral mostra na TV, consolida seus julgamentos sobre as candidaturas e faz a escolha final apoiado nos papos domingueiros com a família, nas peladas de fins de semana com os amigos ou nas conversas de boteco com os colegas do serviço. Nesses contextos de interação direta, face a face, há sempre alguém que os demais membros do grupo acreditam gostar mais, saber mais de política, por acompanhar com assiduidade e atenção acima da média o noticiário e os comentários dos jornais, do rádio all news ou da TV por assinatura. (A esses formadores informais de opinião, o falecido sociólogo de Colúmbia Robert K. Merton, pai da técnica de pesquisa por grupos focais, chamava “influentes locais”. Veja o capítulo sobre influentes locais e influentes cosmopolitas em sua obra essencial, Sociologia: teoria e estrutura. Rio: Mestre Jou, 1970.)
Resultado: o eleitor comum é mais propenso a pensar que uma eleição é uma coisa e outra eleição, outra, o que descarta como pouco provável o milagre da transferência de votos aos ungidos ou ungidas pelos grandes líderes.
Trocando em miúdos, se foi bom com Lula, isso não significa que será ruim com Serra, ou com Aécio, por mais que o presidente da República invista seu capital carismático na tentativa de persuadir o povo de que – com perdão das feministas – Dilma é o cara.
Aliás, pesquisas recentes do Ibope e de outros institutos mostram que o povão tem um faro para a chamada política por trás das políticas públicas – the politics of public policy – às vezes superior ao dos pundits convidados aos programas de entrevistas: indagados se acreditam que o próximo presidente, seja quem for, acabará com o bolsa-família, cerca de 80% dos seus beneficiários entrevistados cravam um confiante não! É mais uma política pública considerada como um dado da paisagem socioeconômica, conforme ocorreu antes com o real, que, graças ao compromisso anti-inflacionário legado por FHC e reafirmado por Lula, impede que o dinheirinho do bolsa-família mantenha seu poder de compra e não vire pó instantâneo nas mãos dos seus recipiendários.
Caminhando para a conclusão, se os Estados Unidos têm a October surprise, aquele escândalo vazado um mês antes da eleição de novembro, capaz de inverter as tendências de intenção de voto, nós, brasileiros, temos o chamado fato novo, mais ou menos com os mesmos efeitos. Os montículos de dólares caprichosamente empilhados e fotografados pela Polícia Federal que arrasaram a candidatura Roseana Sarney em 2002 são o exemplo que logo vem à mente. Os mais velhos lembrarão ainda que a brevíssima candidatura Silvio Santos, articulada por três senadores da copa-e-cozinha do então presidente da República José Sarney (Edison Lobão, Hugo Napoleão e Marcondes Gadelha, todos do PFL), foi o único incidente que chegou a trincar a inabalável autoconfiança do candidato Fernando Collor em 1989.
Quais serão os fatos novos, aqueles inesperados que todos devemos esperar, da próxima eleição? Ainda estou montando uma listinha, em ordem decrescente de probabilidade, que até agora tem apenas três itens, a saber:
- Serra e Aécio se unem em chapa puro-sangue absolutamente invencível;
- Henrique Meirelles, agora no PMDB e prestes a deixar a presidência do Banco Central, a princípio para concorrer ao governo de Goiás ou eleger-se senador, vira o delfim de Lula, substituindo, no meio da campanha, uma Dilma devastada pela recidiva do câncer linfático e com índices de preferência eleitoral em queda livre; e
- Marina Silva, do PV (ou Ciro Gomes, do PSB), chega ao segundo turno. Será que um dos dois ganha? Dificilmente.
Não quero posar de triunfalista retrospectivo, mas já correndo seriamente este risco, sugiro aos meus escassos leitores que pesquisem na internet para ver se acham – e, se acharem, por gentileza, me repassem o link!!- as entrevistas realizadas pela Globo News/Brasília logo na sequência da primeira vitória de Lula, em 2002: ao que eu saiba, fui o único convidado que se arriscou a prever que Meirelles, recém-eleito deputado federal, o mais votado de Goiás, pelo PSDB, tinha boas chances de ser conduzido ao comando do BC.
Bola de cristal? Que nada, pura lógica! Se a permanência de Armínio Fraga sinalizava um excesso de continuísmo insuportável para o caudilho petista do “nunca antes na história deste país...”, e se Aloízio Mercadante era então o mais eminente dos economistas nos quadros do seu apedêutico partido, então afigurava-se provável que a autoridade monetária pudesse ser dirigida por um outsider experiente e com forte prestígio perante a banca internacional. Não deu outra.
Por fim, depois de arriscar minha credibilidade em tantos vaticínios, descanso meus miolos no aconchego de uma constatação acaciana: seja quem for o próximo inquilino do Palácio do Planalto, o PMDB continuará sendo a espinha dorsal da base político-parlamentar de qualquer governo. Não sei por que ainda não surgiu algum gênio da marquetagem sugerindo a mudança da legenda para PDMN (Partido do Mal Necessário).

(*) Professor do curso de especialização em Análise Política e Relações Institucionais da Universidade de Brasília (UnB)