terça-feira, 6 de outubro de 2009

119) Panorama eleitoral depois da confusao instalada

ANÁLISE POLÍTICA
Depois da pesquisa CNI/Ibope
CAC Consultoria Política
Brasília, 24 de setembro de 2009 - nº 121

Não sendo mais possível evitar a influência do processo sucessório sobre o ambiente político, a pesquisa CNI/Ibope divulgada nessa semana veio a alterar consideravelmente o ritmo das decisões sobre candidaturas e estratégias. Hoje mesmo, a ministra Dilma Rousseff (PT-RS) surge na mídia anunciando mais um programa habitacional.

Cabe analisar, portanto, outras conseqüências da nova configuração do processo eleitoral, caminhando agora para uma disputa com três ou mesmo quatro candidatos viáveis.

1. Serra com Aécio
Com dois candidatos governistas disputando claramente o voto dos estados nordestinos, o governador José Serra (PSDB) ganha uma vantagem competitiva relevante: seu principal competidor interno pode ser um aliado. Está tudo pronto para uma chapa pura do PSDB, com o governador Aécio Neves (PSDB) na posição de vice.

Esse entendimento, contudo, não é simples. Um breve cálculo político mostra que Serra tem muito a ganhar com essa alternativa, enquanto os benefícios para Aécio não são tão claros. Uma eleição segura para o Senado seria trocada por uma eleição presidencial incerta que, em caso de vitória, o deixará na sombra de Serra por vários anos.

De todo modo, com Aécio Neves em sua chapa, Serra precisará apenas de um entendimento mínimo com o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) para completar sua estratégia eleitoral no Sudeste. Cabral e Serra vêm se aproximando politicamente desde o anúncio da nova legislação sobre petróleo.

2. Dilma com o PMDB
As dificuldades da candidatura de Dilma Rousseff, agora empatada com Ciro Gomes nas simulações do primeiro turno, provocaram uma reação bem semelhante à do presidente Cardoso em 1998, quando sua reeleição pareceu em risco: foi iniciada uma operação para garantir a aliança com o PMDB.

É óbvio para todos os observadores, contudo, que nenhum acordo com o PMDB garantirá mais do que o tempo de televisão. Serra, na eleição de 2002, sacrificou a aliança com o PFL e teve um vice do PMDB, apenas para ser abandonado pela maioria do partido quando Lula se revelou o favorito.

O que Dilma Rousseff realmente precisa, no momento, é de exposição pública e associação com a imagem do presidente Lula, principalmente na região Nordeste. Do contrário, sua recuperação nas pesquisas será adiada para a campanha oficial na televisão, daqui a quase um ano. Quando a força do governo for mobilizada em seu favor, ela pode ter sido dispersa por vários nomes próximos a Lula.

3. A consolidação de Ciro
Quanto à situação de Ciro Gomes (PSB-CE), é preciso uma boa dose de realismo. Não se pode dizer nem mesmo que sua posição no PSB esteja garantida. O partido bem pode sucumbir à pressão do presidente Lula e negar espaço para Ciro.

Os números do Ibope também estão próximos demais de sua aparição em programa eleitoral nacional – o mesmo instrumento que alavancou a mal sucedida candidatura Roseana Sarney em 2002. É preciso esperar novas indicações de uma ascensão realmente sólida.

4. Heloísa ou Marina
Não há espaço para duas candidaturas desenhadas para atrair o eleitor alternativo, sensível a temas ideológicos. Heloísa Helena (PSOL) e Marina Silva (PV), caso concorram juntas, estarão condenadas pelo voto útil. Basta notar que, juntas na lista de votação, somam 14% das intenções de voto. Sozinhas, estão abaixo desse patamar.

O ponto relevante é que Marina, sozinha, afeta diretamente a candidatura de Dilma Rouseff, que é ultrapassada por Ciro Gomes nesse cenário. Em termos práticos, Marina atrai votos governistas e, do ponto de vista da campanha de Dilma, precisará ser atacada.

5. Por enquanto, sem plebiscito
Se o objetivo do governo Lula era produzir um cenário plebiscitário em 2010, ele ficou mais distante.

Não há como evitar a candidatura de Marina Silva ou Heloísa Helena e cada vez se torna mais difícil evitar a candidatura Ciro Gomes.

A questão política a ser decidida no primeiro turno seria outra. Quem afinal representará o governo Lula: o núcleo da atual coalizão governante (Dilma Rousseff), os aliados de esquerda (Ciro Gomes) ou os ideais do passado (Marina Silva).

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