Dinâmica da sucessão
ANÁLISE POLÍTICA
Brasília, 01 de outubro de 2009 - nº 122
Não há mais como conter a sucessão de 2010. Até mesmo um parecer médico foi lançado à cena, confirmando a boa saúde da ministra Dilma Rousseff (PT-RS), enquanto a filiação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao PMDB sugeria um novo perfil para a chapa governista. Ciro Gomes (PSB-CE) já busca aliados para ampliar seu tempo de propaganda eleitoral na televisão.
A dinâmica da sucessão está em marcha e seus principais elementos devem ser examinados.
1. O conceito de atrito
Em tese, a eleição de 2010 tem um roteiro definido: um governo bem sucedido e bem avaliado será julgado de forma plebiscitária pelo eleitor e o presidente Lula, com a ajuda de seu carisma, carreará os votos necessários para a vitória de Dilma Rousseff (PT-RS).
O roteiro admite algumas variações. O aliado PMDB, além do tempo na televisão, pode oferecer um candidato a vice com base no Sudeste – o deputado Michel Temer – ou uma nova versão do empresário José Alencar, o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Não há dúvida sobre a força dos elementos articulados por esse roteiro e, precisamente por isso, a dinâmica da sucessão estará centrada nas formas de de atrito que o seu desenrolar pode sofrer ao longo dos próximos meses.
O primeiro deles já pode ser visto com clareza: ao contrário dos planos do governo, a exposição da ministra Dilma no primeiro semestre de 2009 não foi suficiente para que acumulasse nem mesmo os votos históricos do Partido dos Trabalhadores, cerca de 25% do eleitorado nacional. Muitas causas podem ser apontadas: efeitos colaterais da crise econômica, o noticiário sobre sua doença, polêmicas políticas no Congresso, a associação com a imagem do PMDB ou mesmo a mera falta de apelo eleitoral.
O certo é que vários desses fatores continuarão em operação nos próximos meses, criando uma soma de pequenos obstáculos para seu progresso nas pesquisas.
O segundo fator de atrito é a própria apresentação como uma candidata governista. Dilma Rousseff não tem o monopólio dessa situação e as pesquisas vêm mostrando que o eleitor entende que Marina Silva e Ciro Gomes também são vistos como candidatos associados ao presidente Lula. Pertencem a partidos de esquerda da aliança de governo e foram ministros de Estado.
Assim, a competição eleitoral na sucessão de 2010 não começa pela oposição, mas pelo campo governista. Em 2006, ao contrário, Lula era o nome e o PSDB passou meses dividido entre José Serra e Geraldo Alckmin.
O terceiro fator de atrito será induzido pela própria demora em crescer nas pesquisas. Caso esse fenômeno seja mesmo adiado para o início da campanha na televisão, apenas em agosto de 2010 Dilma dará sinais de reação. Será difícil manter a calma e a coesão do PMDB até lá.
2. O conceito de voto regional
Além dos aspectos ligados ao desenho da candidatura, o roteiro oficial de Dilma Rousseff ainda enfrenta o desafio do voto regional. As vitórias do presidente Lula e sua popularidade são alimentadas pelo eleitorado do Nordeste. É lá que sua margem de votos em 2002 e 2006 foi garantida.
Dilma Rousseff, portanto, está condenada a repetir o mesmo desempenho, mas começa a enfrentar um competidor forte nesta mesma base. Ciro Gomes carrega o voto do Ceará – um dos três estados decisivos para o bom desempenho de uma candidatura governista no Nordeste.
O progresso de Ciro Gomes nesses estados forçará Dilma a buscar o apoio dos eleitores do Sudeste, onde a avaliação do governo Lula é mais problemática.
3. Atenção a detalhes
O roteiro oficial e mais óbvio para a sucessão de 2010, portanto, está definido como a vitória da candidatura de Dilma Rousseff, apoiada, desde já, por amplos setores do PMDB.
Para que seja cumprido, contudo, um grande conjunto de detalhes terá de ser observado. Não seria exagerado dizer que a candidatura oficial segue favorita, mas, nesse momento, o que não está claro é quem representa a candidatura oficial.
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