Isto também é campanha eleitoral, e talvez muito mais do que isso: faz parte da construção dos mitos históricos, e das mistificações políticas. PRA.
Cultura e política
Filme da vida de Lula estreia em ano eleitoral
Agência Estado, 18/10/2009
Estratégia dos produtores é transformar a história do petista no maior lançamento já feito pelo cinema nacional
- Ainda surfando no anúncio dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e nos sinais de retomada do crescimento econômico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve colecionar mais dividendos políticos, desta vez nas telas do cinema e em pleno ano eleitoral, quando todos os esforços estarão voltados para eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora.
Lula, o Filho do Brasil, cinebiografia sobre o petista, será lançado em 1.º de janeiro de 2010 com uma estratégia de distribuição que tem como objetivo torná-lo um dos maiores lançamentos do cinema nacional, desde a retomada da produção cinematográfica do país, em 1995. O filme conta os primeiros 35 anos da vida do presidente, do nascimento até a transformação dele em líder sindical.
Recursos estatais
Dinheiro da Petrobras pode bancar a distribuição
Os produtores de Lula, o Filho do Brasil apostam no uso de mecanismos alternativos para levar a cinebiografia do presidente para os grotões do país. Uma das ferramentas em estudo são os cinemas itinerantes. Duas organizações que propõem iniciativas na área recebem recursos da Petrobras, estatal ligado ao governo federal.
A Mostra BR Candango, organizada pelo Instituto Latino Americano, e o Cinema BR em Movimento, ligado à MPC Associados, recebem R$ 427 mil e R$ 1,1 milhão, respectivamente, para implantar projetos que levem cinema a regiões onde a população não tem acesso a salas. “Vou correr muito para exibir esse filme. Não por ser o presidente Lula, mas por ser um exemplo de vida”, disse Atanagildo Brandolt, presidente do Instituto Latino Americano.
A entidade faz projeções anuais desde 2005, em 26 municípios de Goiás, Minas Gerais e dos arredores de Brasília, usando um caminhão, uma tela inflável e 600 cadeiras. Questionado se não achava um problema divulgar o filme de Lula, com dinheiro de uma empresa ligada ao governo, Brandolt disse: “Absolutamente. Podia ser o FHC, desde que tivesse trajetória como a de Lula. Nosso público é formado pelos Lulas de ontem”.
Coordenador de produção e difusão do Cinema em Movimento, Diego Paiva disse que, “a princípio”, não haveria problema em exibir a produção. O projeto já chegou a 1,7 milhão de espectadores desde 2000.
De acordo com a Petrobras, “todos os projetos patrocinados contam com curadoria artística”. “Cabe exclusivamente aos curadores a seleção da programação de filmes exibidos, sem que haja qualquer ingerência da Petrobras”, respondeu a empresa pública.
A busca por entidades alternativas se baseia num fato: o número de salas no Brasil hoje é menor que o da década de 70. Em 2008, o país tinha 2.278 salas, segundo a Ancine. Em 1975, eram 3.276 salas.
A produção recorrerá a tradicionais bases de sustentação política de Lula, como sindicatos, e a regiões onde ele tem alta popularidade, como no Nordeste, para fazer a distribuição do filme. Um universo de 10 milhões de pessoas sindicalizadas poderá comprar ingressos a preços populares.
A estreia será feita em mais de 400 salas, sendo que 88 delas não fazem parte do circuito convencional, como nas cidades baianas Alagoinhas e Santo Antonio de Jesus, na cearense Maracanaú e na pernambucana São Lou renço da Mata. A cidade de Gara nhuns, na região onde nasceu Lula, receberá cópias para exibição em duas salas, já no lançamento.
Lula, o Filho do Brasil fugiu do padrão nacional de financiamento de obras cinematográficas, baseado na renúncia fiscal. Causou polêmica no mercado, ao conseguir bancar a produção, de R$ 12 milhões, com dinheiro de empresas que não se beneficiaram de nenhuma lei de incentivo fiscal. Há construtoras, montadoras e outras empresas que não são tradicionais investidoras do setor – algumas têm contratos com o governo.
“Para chegar a 400 salas, vão ter de entrar pesado no interior”, disse Luiz Severiano Ribeiro, diretor do Grupo Severiano Ri beiro/Kinoplex, que detém 200 salas de cinema. Os produtores, no entanto, acham ser possível chegar a 500 salas – Se Eu Fosse Você 2, campeão de público desde 1995, foi lançado em 315 e teve 6,1 milhões espectadores.
CUT e Força Sindical negociaram promoções para a exibição. “O filme interessa a todo mundo, mas o público principal é o sindical”, disse Bruno Wainer, presidente da Downtown Filmes, que ao lado da Europa Filmes é responsável pela distribuição. A ideia é que sindicatos ligados às centrais vendam ingressos antecipados, até 20 de dezembro, por R$ 5.
Produtores e distribuidores querem pegar carona na história de Lula e transformar o filme, dirigido por Fábio Barreto, no mais visto da história do cinema nacional. Avaliam que a produção pode chegar a 20 milhões de pessoas. “Quando o Barreto (Luiz Carlos Barreto, pai de Fábio e produtor) fala 20 milhões, é um balão de ensaio. A expectativa do mercado é que esse filme tenha entre 4 e 5 milhões de espectadores. Já sai de um patamar alto. É até possível que se pague”, afirmou Paulo Sérgio Almeida, cineasta e diretor da Filme B, empresa que faz análises do setor.
Chapa branca
A oposição ao governo Lula tem visto com reticências a estreia do filme justamente em ano eleitoral. Duda Mendonça, ex-publicitário de Lula, chegou a dar sugestões sobre a produção. Ao ver uma versão, sugeriu que fosse retirado trecho em que uma professora de Lula diz que ele é “muito especial”. Para Du da, a passagem deixaria “chapa branca” o filme, que será transformado em minissérie – a Globo está na negociação.
Os envolvidos com a cinebiografia negam que ela vá ajudar politicamente Lula ou o PT. “Ninguém é petista aqui. Não fizemos por razões ideológicas”, disse Wainer. “A história é incrível, independentemente de você votar nele.” Questionado sobre o lançamento em ano eleitoral, afirmou: “O Brasil está em eleição quase todos os anos”.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
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