sábado, 17 de outubro de 2009

136) O assalto à companhia Vale - também parte da estrategia eleitoral

Sempre existem pessoas que acham patriotico o governo pretender direcionar a Vale para nao se sabe bem que grande causa nacional, por meio de politicas induzidas pelos burocratas do Estado ou ate mesmo pelo grao-senhor no poder.
Ainda que as mesmas personagens pratiquem o esporte altamente duvidoso de atirar sobre o mensageiro, em lugar de debater os argumentos substantivos, transcrevo editorial da Veja sobre o caso em questao, apostando que ele vai estar na campanha presidencial do ano que vem.
Nao se trata meramente de um tema politico-eleitoral. Ele tem a ver com a presenca do Brasil no mundo, ou pelo menos de uma de suas multinacionais, e como tal interessa ao debate pré-eleitoral.
Se a Vale tivesse permanecido estatal, como pretendem ainda os reacionarios e saudosistas do passado autoritario, ela nao se teria convertido na grande multinacional que é hoje, mas seria sempre uma grande estatal, infestada de politicos como sao ainda as estatais de energia, praticamente um feudo de certos coroneis do Nordeste, hoje grande aliados da causa do poder.
Hoje é a Vale, amanha será alguma outra...
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Paulo Roberto de Almeida

Para evitar o falso debate
CARTA AO LEITOR - VEJA, 17/10/09

Os políticos tiram proveito da constatação de que a única forma de fazer o público se interessar por uma questão nacional é reduzi-la a um Fla-Flu. Em tempo de campanha eleitoral, a tática reducionista vira uma obsessão e, muitas vezes, o pleito é mesmo decidido pela capacidade de um candidato de colar no outro um único e destruidor rótulo. Lula demoliu Geraldo Alckmin no segundo turno de 2006 demonizando de tal forma as privatizações do governo FHC que o candidato tucano ficou paralisado. Sem muita convicção, Alckmin ainda se cobriu de logos dos Correios, do Banco do Brasil e da Caixa, que prometeu nunca vender. Sem sucesso. No córner esquerdo, Lula, mostrado como o campeão da defesa das riquezas do Brasil, nocauteou Alckmin, a ameaça. Nada mais falso. Nada mais empobrecedor. Nada mais eficiente.

Uma reportagem desta edição de VEJA conta como os partidários de Lula planejavam armar o mesmo jogo em 2010. O laboratório dessa estratégia foi um assombroso ataque desfechado contra a Vale. Desde sua privatização, em 1997, a mineradora multiplicou por seis seu valor de mercado, passou a pagar 1 000% a mais de impostos, criou 52 000 empregos diretos, tornando-se uma potência global, com atuação admirável em trinta países. A Vale, portanto, deixou de ser do estado para ser do Brasil. A reportagem mostra que, a despeito de tanto sucesso, o governo passou a bombardeá-la. Primeiro foram críticas veladas, que logo deram lugar a descomposturas diretas na atual direção da companhia. Na semana passada, a estratégia ficou clara. O bilionário Eike Batista seria usado para comprar ações da empresa em mãos privadas e, ao fim e ao cabo, revendê-las aos atuais sócios estatais da Vale, devolvendo sua gestão ao estado.

Fazendo curta uma longa história, a candidata do governo entraria, então, em 2010 com o formidável trunfo de ter resgatado a joia da coroa estatal entregue por FHC à perversa iniciativa privada. Entraria. Eike pulou fora. O plano, por enquanto, falhou. A débâcle dá chance para que uma questão tão complexamente vital para o progresso e o bem-estar de todos os brasileiros, como é o papel do estado na economia, escape de se ver reduzida na campanha presidencial de 2010 a um duelo tão simplista quanto falso entre a santa guerreira do estado e o dragão da maldade da iniciativa privada. É quase utópico. Mas todos ganhariam.

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