sexta-feira, 2 de outubro de 2009

116) O carater surrealista das afiliacoes partidarias no Brasil

De fato, um samba do crioulo doido, em que capitalistas se filiam a partidos socialistas, e esquerdistas se abrigam em partidos tradicionais...

TROQUE SEU ESQUERDISTA POR UMA CRIANÇA POBRE
Reinaldo Azevedo
2 de outubro de 2009

Este blog apurou que Antonio Ermírio de Moraes está pensando em entrar no PSTU - já leu a Trilogia do Profeta, os três volumes da biografia de Trotsky, escrita por Isaac Deutscher. sabem como é Ermírio: se é para ser trotskista, ele quer ser o melhor. Já Sérgio Andrade, dono da empreiteira Andrade Gutierrez, está com a ficha de filiação ao PC do B sobre a mesa. Ele só não aderiu ainda porque tem dúvidas se Krushev não estava mesmo certo em 1956, quando esculhambou Stálin no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS. Como fica claro no site dos Comunistas do Brasil, eles consideram o velho Krush um traidor e ainda não o perdoaram. “53 anos são menos no que um segundo para o socialismo, que é eterno”, poderia dizer Manuela D’Ávila, que não é apenas uma revolucionária e um cérebro, como muitos pensam, mas também um rostinho bonito.

O sócio de Andrade na Oi, Carlos Jereissati, está de olho no PSOL, de Heloisa Helena. Ele ainda não entendeu direito como funciona aquela mistura de trotskismo, cristianismo e astrologia, mas promete pedir algumas dicas a Plínio de Arruda Sampaio, que também vai lhe explicar a metafísica do MST…

Como? Eu não apurei nada disso? É uma pena! Convenham que essas filiações de mentirinha comporiam perfeitamente o quadro da coerência partidária no Brasil. Ou como explicar que Paulo Skaf, líder (formal ao menos) do empresariado paulista, tenha se filiado ao PSB? É verdade que o presidente da Fiesp também poderia presidir o MSE, o Movimento dos Sem Empresa, já que faz tempo que ele está sem a sua. Não importa. O fato é que, agora, ele já pode agarrar a rosa da Segunda Internacional Socialista e proclamar que a classe operária é internacional. Outro socialista notório — desde que escreveu o primeiro livro, aos 8 meses, e concluiu o seu primeiro pós-doutorado, aos 7 — é Gabriel Chalita. Os dois, mais Ciro Gomes, compõem a banda heavy metal do socialismo em São Paulo. Chalita, aliás, tem um problema oposto ao de Manuela: está sempre obrigado a provar que não é apenas um moço bonito, mas também um cérebro.

Ivo Rosset, o dono da Valisère, e sua mulher, a socialite socialista Eleonora - que já foi Mendes Caldeira - filiam-se hoje ao PT. O PT, segundo o seu último congresso, ainda é um partido que busca o socialismo. Lula, revolucionando sempre, diria: “Calma lá, companheiro, o fim não precisa justificar os meios. Enquanto o socialismo não chega, vamos ser felizes e beber champanhe”. Lula é esperto. Socialismo, só depois da sua morte.

E o bilionário Guilherme Leal, um dos donos da Natura, agora é da turma do “desenvolvimento sustentável”, de Marina Silva. Quem sustenta o desenvolvimento no Brasil, como se sabe, é o agronegócio, que impediu que o país quebrasse na crise global. Os superávits da Balança, convertidos em reservas, foram gerados pela agricultura e pela pecuária - porque, nos demais setores, o país mais importa do que exporta. Eles criaram o acolchoado contra a crise, além de colaborar para manter a inflação baixa, oferecendo uma das comidas mais baratas do planeta. No entanto, a Santa Marina - que de burra não tem nada, muito ao contrário - ajudou a alimentar o mito de que os agricultores são desmatadores contumazes, homens maus que não respeitam os minhocuçus, os macacos-pregos e os bagres. O Censo Agropecuário, distorcido de maneira vergonhosa pela imprensa, ajudou a explicar por que o setor é a verdadeira âncora da estabilidade brasileira. A classe média verde deve achar que comida nasce no Pão-de-Açúcar e no Carrefour.

Tirei um sarrinho dessas filiações, para desagrado de alguns? Tirei, sim. Afirmei que a convenção do PSB poderia ser na Ilha de Caras; que a Valisère, no PT, pode significar maior distribuição de “rendas” (além de sutiãs, calcinhas e anáguas - ainda existem?); que Marina, ecológica e telúrica, mas sem negar os confortos da modernidade, tinha tudo a ver com o partido da Natura, que soube fundir o modelo Avon com o Saci-Pererê…

No Brasil, agora, todo mundo é de esquerda. Desse jeito, ainda volto para um grupelho trotskista só para cantar: “Se estamos todos juntos/ contra quem vamos lutar?” O Brasil assiste a um espantoso avanço do Estado em algumas áreas da economia - e isso vai cobrar o seu preço no futuro, como nos custou anos de estagnação no passado - e a um surto estúpido de aumento de gastos públicos. E Paulo Sakf vira um “socialista”? Sim, eu sei, não virou. Estava atrás de alguém que lhe desse uma legenda. Ocorre que ele era o líder de um sindicato, de uma categoria. No PSB, vai fazer o quê? Se não tiver a coragem de defender aumento da carga tributária (para os mais ricos, claro!) para investimentos sociais, será um socialista picareta. Se o fizer, será um líder empresarial picareta. Com qual das duas picaretagens ele vai ficar?

No Partido Verde, Leal vai defender que se levem a sério todas as leis ambientais? Se o fizermos, restará 29% do território para agricultura, pastagens, cidades e infra-estrutura. A saída vai ser cobrar ingresso de estrangeiros para ver índio fazendo xampu e creme anti-rugas - a pulseirinha vermelha, que dará direito a todas as atrações, inclui um ritual de dança primitiva com short Adidas, feito de tecido reciclável. Em vez de exportar comida, a gente exporta mitologia primitivista. E as ambições não são pequenas: um já quer ser governador; o outro, vice-presidente. Não seria uma esréia na política, mas no poder! Já Rosset e Eleonora estão há tempos no ramo do socialismo socialite.

Eu até me esforço, mas não consigo levar essas coisas a sério. Daqui a pouco, só restará a “craçe trabaiadora” para defender o capitalismo, não é mesmo? Ah, qual é? Esses ricaços deveriam trocar seus comunistas de estimação por criancinhas. É isto. Vou lançar uma campanha: “Ricos do Brasil, troquem seu comunista por uma criança pobre”.

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