quarta-feira, 30 de junho de 2010

Crise na candidatura oposicionista: partidos nao se entendem sobre candidato a vice

PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Serra não estanca crise, e chapa sofre novo revés
Marcelo Justo
Folha de S.Paulo, 30.06.2010

Irmão de Alvaro Dias se lança ao governo e dá palanque para Dilma no PR
Após tensas reuniões e intervenção de FHC, PSDB e DEM não obtêm acordo sobre indicação do candidato a vice
(Foto) O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao sair de reunião entre líderes do DEM e do PSDB em hotel na capital paulista

DE SÃO PAULO - Não bastasse a crise com DEM, a chapa José Serra-Alvaro Dias sofreu ontem um novo revés. O senador Osmar Dias (PDT-PR) anunciou a decisão de concorrer ao governo do Paraná, consolidando palanque para a petista Dilma Rousseff no Estado.
Acertada ontem numa reunião entre Osmar e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a decisão representa um duplo golpe para a candidatura de Serra. Além de oferecer um palanque para Dilma, desmonta o principal argumento em favor de Dias na queda-de-braço entre PSDB e DEM para indicar o vice de Serra.
Até ontem, Osmar dizia que não seria candidato ao governo do PR caso Dias, seu irmão, fosse vice de Serra.
Ontem, porém, Osmar disse a interlocutores que, como não haverá "disputa direta" entre eles, não haverá problema em integrar outra coalizão.
Nas reuniões com o DEM, o tucanato usou a perspectiva de implosão do palanque de Dilma como motivo para indicação de Dias. Com a candidatura de Osmar, esse trunfo não existe mais.
No final da noite, a avaliação entre líderes tucanos era de que o lançamento da candidatura de Osmar fragiliza a indicação de Alvaro Dias.
Esse ingrediente azedará mais a relação com o DEM, que ameaçou suspender sua convenção, afinal confirmada para hoje, em Brasília. O presidente do partido, Rodrigo Maia, disse que "se possível" a sigla apoiará Serra. Após duas tensas reuniões, tucanos e democratas não chegaram a um consenso. Serra atuou diretamente e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi acionado para tentar convencer os aliados a aceitar Alvaro Dias.
A definição sairia de um novo encontro da cúpula do DEM ontem à noite em Brasília -o terceiro em 24 horas.
Os democratas diziam que, sem acordo, a convenção poderia ser cancelada. O encontro acabou sem o anúncio do fim do impasse. A decisão ficou para a convenção de hoje, que começará às 8h.
Em telefonemas aos democratas, Serra apelou para o instinto de sobrevivência do DEM: alegou que o veto a Dias impõe risco não só ao PSDB mas ao futuro da aliança. Para pressionar, tucanos recrutaram democratas nos Estados nos quais o DEM depende do apoio do PSDB para ser mais competitivo: a ameaça é abandonar essas alianças se o DEM romper com o PSDB nacionalmente.
Convocado a pedido de Serra, FHC pediu responsabilidade a todos na reunião. Ao sair, não descartou o risco de ruptura: "Certeza [de que a aliança está mantida], nunca pode se dizer que sim".
A cúpula do DEM chegou a admitir até a substituição de Dias por outro tucano, mas mantinha o veto ao senador. Já o PSDB insistia no tucano. Apesar de a hipótese de recuo existir de ambos os lados, a estratégia é esticar a corda para ver quem cede. Se o DEM decidir manter o veto, o PSDB terá de negociar.

Colaborou DIMITRI DO VALLE, de Curitiba

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Blog de Josias de Souza (FSP):
FHC aconselha Serra a ‘rever’ escolha de Álvaro Dias

Em conversa que manteve com José Serra na noite passada, Fernando Henrique Cardoso aconselhou o presidenciável tucano a rever a escolha de seu vice.

FHC reunira-se horas antes, num hotel de São Paulo, com integrantes da cúpula do DEM. Recolheu objeções à indicação do tucano Álvaro Dias.

Rodrigo Maia, Jorge Bornhausen e Agripino Maia despejaram diante de FHC um discurso bem ensaiado. Evitaram o uso de vocábulos como rompimento e veto.

Porém, deixaram claro que faltou método à escolha de Álvaro Dias. Ficou entendido que, excluído do processo, o DEM sairia humilhado se o aceitasse.

Na expressão de Agripino Maia, líder do DEM no Senado, era preciso “zerar o jogo”, reabrindo a negociação.

Presidente de honra do DEM, Bornhausen levou à mesa um episódio ocorrido há três meses. Envolveu Pimenta da Veiga (PSDB-MG), ex-ministro de FHC.

Bornhausen contou que, ao ser informado de que o nome de Pimenta era cogitado para ocupar a vice de Serra, tocou o telefone para ele.

Perguntou a Pimenta se estava mesmo “no páreo”. Ouviu do interlocutor uma resposta negativa. Lamentou.

Segundo o relato feito a FHC, Bornhausen disse a Pimenta que, mercê das boas relações que mantém com o DEM, seu nome seria uma boa alternativa.

O caso foi rememorado a pretexto de esclarecer a FHC que, embora preferisse a escolha de um vice de seus quadros, o DEM não se opunha à chamada chapa “puro-sangue”, só de tucanos.

O que o parceiro do PSDB não digere é o fato de o nome de Álvaro Dias lhe ter sido apresentado como um prato feito.

Pior: o DEM soube do desfecho por meio de uma mensagem levada ao micro-blog por Roberto Jefferson, presidente do PTB.

Acionado por Serra para dobrar a tribo ‘demo’, FHC saiu da reunião convencido de que Álvaro Dias tornara-se um problema, não uma solução. Levou suas apreensões a Serra.

Pelo telefone, um dos mandachuvas do DEM foi informado, no início da madrugada desta quarta (30), que FHC aconselhara a Serra a revisão da escolha.

Esperava-se que Serra abrisse mão de Álvaro Dias antes do raiar do Sol. Algo que não havia ocorrido até o horário em que esse texto foi redigido: 2h40.

Além de FHC, participaram da reunião com os 'demos' outros dois tucanos: o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e o líder do partido na Câmara, João Almeida (BA).

À noite, já em Brasília, Rodrigo Maia avistou-se com parlamentares do DEM. Relatou o teor da conversa inconclusiva de São Paulo.

A despeito de arrostar uma gripe que evoluíra para a febre, o presidente do DEM disse que ficaria de prontidão na madrugada, à espera de novidades.

Trava-se uma corrida contra o relógio. O DEM realiza nesta quarta sua convenção nacional. O edital de convocação prevê o início para as 8h e o término para as 13h.

Deve começar mais tarde. E quanto ao encerramento? “Posso empurrar a convenção até a meia-noite”, disse Rodrigo aos seus pares.

Pela lei, a definição do partido não pode passar de hoje. Nas palavras de Rodrigo, “se possível”, o DEM vai ratificar a coligação com Serra.

Sob o condicional, esconde-se um par de desejos do DEM: 1) que Serra abra mão de Álvaro Dias; 2) que escolha, “se possível”, um vice 'demo'.

No final da noite, o ministro petista Alexandre Padilha, coordenador político de Lula, levou ao micro-blog uma má notícia para Serra. Anotou:

“Agora já posso falar. Quero parabenizar o senador Osmar Dias pela decisão de ser candidato a governador no Paraná. Agora SOMOS TODOS OSMAR!!!”

Filiado ao PDT, Osmar Dias dizia, até a véspera: se o irmão Álvaro Dias fosse confirmado na vice de Serra, disputaria o Senado coligado com o PSDB-PR.

Mudou de ideia depois de uma conversa com o ministro Carlos Lupi (Trabalho), mandachuva do PDT. Osmar vai à corrida pelo governo paranaense coligado ao PT e ao PMDB.

Serra optara por Álvaro Dias sob a alegação de que, com ele, atraía Osmar e implodia o palanque de Dilma Rousseff no Paraná. O argumento virou pó.

Se refugar o conselho de FHC, o presidenciável tucano talvez não perca o horário de TV do DEM. Mas terá do seu lado um “aliado” absolutamente desmotivado.

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Escrito por Josias de Souza às 02h42

terça-feira, 29 de junho de 2010

Inversao de agendas: a situacao assumiu, a oposicao divergiu

Inacreditável: a candidata situacionista, ou governista, assumiu plenamente a política econômica do governo anterior (com todas as contradições de suas posição pessoal esquizofrênica), e o candidato da oposição se distancia das políticas que garantiram, até aqui, a estabilidade econômica.
Parece que vivemos num mundo al revés...

O fator Palocci
Merval Pereira
O Globo, 28.06.2010

Uma das maiores incógnitas dessa campanha é qual será a função do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci num eventual governo Dilma Rousseff. Colocado como um dos coordenadores da campanha oficial pelo próprio presidente Lula, Palocci vem assumindo importância cada vez maior como avalista de posições ortodoxas na economia, especialmente no contato com empresários.

Palocci vai além de tentar convencer os indecisos, ou mesmo os que tendem a votar em Serra, dos compromissos de Dilma com o tripé que sustenta a política econômica que vem desde o segundo governo de Fernando Henrique: câmbio flutuante, equilíbrio fiscal (superávit primário) e metas de inflação, com um Banco Central operacionalmente independente.

O ex-ministro, com frequência, alerta os empresários para o que seria o "risco Serra" que estaria embutido no que classifica de visão intervencionista do candidato tucano — que não se cansa de insinuar que, em um governo seu, o Banco Central não terá uma autonomia tão grande quanto vem tendo nos últimos anos.

Também as críticas de Serra quanto ao câmbio, que agradam muito aos exportadores que sofrem com a valorização do real, levam os governistas a apontarem riscos de uma intervenção governamental no câmbio.

Em ambos os casos, Serra insiste em que não haverá intervenção de seu governo para criar situações artificiais, mas uma política econômica harmônica que levará a uma situação de equilíbrio que não obrigará o governo a pagar altos juros para o investidor.

Assim como o governo usa Palocci para sinalizar sua postura, Serra tem usado o nome do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como exemplo de economista que gostaria de ter em sua equipe.

Essa é uma discussão técnica que não dá um voto na maioria da população, mas que é fundamental para um tipo de eleitor formador de opinião e a classe média, que sempre rejeitaram posturas heterodoxas petistas, a ponto de terem obrigado Lula, em 2002, a assinar a "Carta aos Brasileiros", assumindo o compromisso de manter a política econômica de Fernando Henrique.

Por outro lado, o candidato tucano, José Serra, tem fama de ser um grande gestor público, especialista em manter o equilíbrio fiscal com ganho de produtividade e corte do gasto público.

A decisão de Lula de colar Palocci na candidatura de Dilma se deveu justamente ao temor de que esse público rejeitasse a candidatura de Dilma por ela ter se colocado como o "contraponto" a Palocci quando este estava no Ministério da Fazenda e ela, no Gabinete Civil.

A famosa discussão entre os dois — quando Dilma, em uma entrevista ao "Estadão" em 2005, classificou de "rudimentar" a proposta que ele e o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, faziam de limitar a longo prazo o crescimento do gasto público ao crescimento do PIB — marcou-a como defensora da gastança governamental: "Despesa corrente é vida", disse Dilma na ocasião.

O papel do Estado em um futuro governo Dilma também é uma definição importante, e tanto ela quanto o governo Lula têm sido criticados pela visão de que, com a crise financeira de 2008, o Estado tem que ter necessariamente seu papel aumentado.

A influente revista inglesa "The Economist" critica o "capitalismo de Estado" do governo Lula, reforçado na segunda metade de seu segundo mandato, e atribui a mudança à predominância da visão da ministra Dilma Rousseff com a saída de Palocci.

Como aluna disciplinada, a candidata oficial vem repetindo em palestras para empresários, especialmente estrangeiros, o que o ex-ministro Antonio Palocci lhe orienta.

Ela ainda não chegou ao ponto de dizer, como Palocci sempre disse em conversas informais, que seu antecessor na Fazenda, Pedro Malan, merecia uma estátua por duas medidas adotadas: a renegociação das dívidas dos estados e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mas, ao contrário de seu discurso para o público interno, quando insiste na tese da "herança maldita" deixada pelos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, no exterior ela é só elogios para a política econômica.

Recentemente, na festa que homenageou como Homem do Ano o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles — outro que Lula tentou colar em Dilma como seu vice — , ela atribuiu o sucesso econômico do país aos últimos 20 anos de continuidade das políticas.

E não é apenas em questões de macroeconomia que ela diz o que o interlocutor quer ouvir. Também com relação a questões políticas delicadas, que têm repercussão na economia, como a ação do MST, ela se desdiz em público.

Recentemente, em Uberlândia, Minas Gerais, ela se colocou contra "qualquer ilegalidade cometida pelo Movimento dos Sem Terra ou qualquer outro movimento".

E foi específica, referindo-se a problemas que os fazendeiros da região, importante para o agronegócio, enfrentam: "Invasão de terra, invasão de campo de pesquisa, invasão de prédio público é ilegalidade".

Mas não se passaram 24 horas e lá estava Dilma com um chapéu do MST na cabeça, fazendo um discurso para os "companheiros" em Sergipe.

A candidata oficial, portanto, vem sendo reconstruída em público não apenas fisicamente, mas, sobretudo, em termos ideológicos.

O economista da PUC do Rio Rogério Werneck, em artigo na página de Opinião do GLOBO, comparou o trabalho de transformação de Dilma ao do professor Henry Higgins na célebre peça "Pigmaleão", de Bernard Shaw, tentando transformar a florista Eliza Doolittle em uma grande dama. E duvidou que Palocci obtenha êxito.

A pergunta que não quer calar é qual a verdadeira Dilma que eventualmente assumirá a Presidência da República: a candidata-laranja de Lula que segue a orientação de Palocci, ou a integrante da ala radical do PT, intervencionista e estatizante?

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Mato sem cachorro
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 28.6.2020

A semana passada foi bastante adversa para a candidatura de José Serra à Presidência da República. Pela primeira vez Dilma Rousseff passou a liderar as pesquisas de opinião, explicitando o que já era sabido sobre a combinação da popularidade do presidente Lula com a eficácia na transferência de votos para a sua candidata. Mas não foi essa a única má notícia para a candidatura Serra.

Há muitas razões para questionar a candidatura Rousseff: desejável alternância de poder, que criaria condições para desmontar, ao menos parcialmente, o aparelhamento da máquina pública; a limitada legitimidade política da candidata, em vista de sua falta de exposição prévia a processos eleitorais; as carências pessoais da candidata e seu estilo baseado na crença na substituição persistente da competência pela veemência.

Tal questionamento poderia ser ainda aprofundado pelo contraste entre programas alternativos de governo. Tarefa que seria, em princípio, facilitada pela pouco verossímil conversão de Dilma Rousseff às virtudes de uma política econômica prudente e quanto ao papel do Banco Central. Para não falar das ideias extremadas da candidata quanto às vantagens da ação do Estado na esfera econômica.

A entrevista de José Serra no programa Roda Viva, na segunda-feira passada, foi, contudo, outra má notícia para a oposição. Por estranho que pareça, é exatamente quando trata de assuntos econômicos - tema no qual se crê especialista - que o candidato expõe opiniões claramente equivocadas.

Evidenciando fixação algo doentia, retomou o tema Banco Central, repetindo críticas que já havia feito em relação a alegados erros da política monetária, na esteira da crise econômica mundial. Em nenhum momento foi mencionado que, segundo a legislação vigente, o Banco Central tem como objetivo manter a inflação sob controle, pautado por metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. A preocupação fundamental do candidato seria o câmbio apreciado. Quando perguntado sobre qual deveria ser a política para enfrentar a entrada de capitais externos, dedicou-se a explicar as diferenças entre capital produtivo e especulativo, como se tal contraste fosse relevante do ponto de vista do impacto sobre a taxa de câmbio. O problema seria resolvido, segundo o candidato, "numa nice". O candidato não elucidou o que isso significava nesse contexto específico...

Nas críticas à atuação do Banco Central do Brasil, ocupou lugar proeminente o contraste com o banco central chileno. Lá, segundo Serra, não há política "cucaracha" (sic), como aqui, pois o ministro da Fazenda participa das decisões relativas à política monetária. Mas quase tudo o que se sabe sobre o arranjo institucional chileno contraria as afirmações do candidato. O ministro da Fazenda do Chile de fato tem voz, mas não voto, em tais reuniões. Além disso, os diretores do Banco Central do Chile têm mandato fixo e a definição das metas inflacionárias e da política cambial cabe ao próprio banco.

Pelo que se pode depreender das críticas de Serra, o regime que lhe pareceria mais conveniente seria algo bem diferente do chileno. O ministro da Fazenda teria peso suficiente para fazer valer sua influência, a despeito do que pudesse ser a posição da diretoria do Banco Central. Como ministro da Fazenda é cargo de confiança do presidente, o que se propõe é que o presidente controle as decisões do Banco Central. Difícil pensar que não agrade ao candidato simplesmente ejetar o regime de metas, cabendo ao Palácio do Planalto decidir qual seria o "pouquinho de inflação" aceitável.

Outro tema econômico abordado na entrevista, indiretamente associado à política monetária, foi a proteção à produção doméstica em relação à penetração das importações estimuladas pelo que lhe parece a apreciação cambial indevida. O candidato lançou-se em discurso de denúncia de alegada dependência excessiva da indústria brasileira em relação à importação de insumos, citando nominalmente a Embraer como uma empresa que seria problemática por importar "60% ou 70% da sua produção". Como se a empresa pudesse ser competitiva sem a importação maciça de componentes. Citando jingles estudantis, lamentou uma situação em que o Brasil "exporta aço e importa navios". Que o aço seja exportado para a China e seja incorporado em manufaturas chinesas exportadas para o Brasil lhe parece especialmente objetável. São ideias que revelam perigoso banzo em relação ao Brasil autárquico e estão alinhadas ao retrospecto do candidato como paladino dos interesses do setor automotivo em meados da década de 1990.

O candidato da oposição tem renegado, de forma sistemática, os pilares do programa econômico implementado durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O mais grave é que tal postura abre espaço para que Dilma Rousseff se aproprie de uma plataforma econômica relativamente modernizante e deixe o atraso por conta da oposição. O eleitor está num mato sem cachorro em face da triste escolha entre a perpetuação perigosa do poder lulista e as propostas econômicas equivocadas da oposição.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.

sábado, 26 de junho de 2010

Peculiaridades do processo eleitoral

Entre o céu e o inferno
Ruy Fabiano - jornalista
O Globo, 26.06.2010

A presente eleição exibe uma singularidade: o candidato principal não está na disputa. É o presidente Lula. Ele mesmo não fez cerimônia quanto a isso. Disse que o “vazio da cédula” será preenchido com o nome de Dilma Roussef, mas o candidato é ele.

Nenhum antecessor, em qualquer época, portou-se assim. Os paradigmas mais próximos são as eleições chilenas e as colombianas. Mas nenhum dos dois presidentes – Michele Bachelet e Alvaro Uribe -, embora ostentassem índices de popularidade até superiores aos de Lula (Bachelet deixou o governo com 84% e Uribe com 82%, enquanto Lula tem 76%), agiram com a mesma contundência.

Nenhum disse que ele próprio era o candidato, e o sucessor um poste. Dilma resigna-se ao papel, pois sabe que, em outras circunstâncias, não teria chances. O que não se sabe – e as pesquisas estão longe de esclarecer – é a consistência dessa estratégia.

No Chile, não funcionou; o candidato de Michelet perdeu. Na Colômbia, funcionou; o de Uribe ganhou. Em ambos, a população estava, como aqui, satisfeita com o governo.

Mas no Chile, com instituições estáveis e economia sólida, o eleitor não viu perigo na mudança. Na Colômbia, atormentada pelo narcotráfico, viu. E elegeu o personagem da continuidade, exatamente o encarregado de combater as Farcs, o ministro da Defesa, general Juan Manuel Santos.

O quadro brasileiro mistura um pouco as duas coisas: tem instituições razoavelmente estáveis e economia em alta, como o Chile; mas vive os tormentos da criminalidade, como a Colômbia. O narcotráfico mata 50 mil pessoas por ano, a maioria jovens e pobres.

É o equivalente a cem vezes o total de mortos nos 21 anos de ditadura militar – e isso por ano. O eleitor convive com um cenário paradoxal: de um lado o cenário de prosperidade que a máquina de propaganda do governo lhe exibe diariamente na mídia; de outro, o noticiário policial da mesma mídia. Entre o céu e o inferno.

O governo ancora seu discurso na prosperidade e, a partir dela, fala dos outros temas: saúde, educação, emprego, desenvolvimento. A oposição, sem êxito, diz que pode mais. Prefere disputar votos no que está dando certo, avalizando o cenário de bem-estar que o governo proclama. Despreza, até aqui, o potencial do mal-estar social que convive nessa conjuntura.

O máximo que fez foi propor a criação de um Ministério da Segurança, sem aprofundar as deficiências que o justificam e como se propõe a supri-las. E há reflexos contundentes da ação da rede criminosa continental, que tem nas Farcs um de seus pilares, em segmentos como saúde pública e educação.

As relações do governo brasileiro com aquela entidade, que vive do roubo de gado, venda de drogas (sobretudo para o Brasil) e sequestro de pessoas (com campos de concentração na selva amazônica) são ainda nebulosas, para dizer o mínimo.

Jamais houve uma condenação explícita. Ao contrário, Lula sugeriu que se transformassem em partido político e Marco Aurélio Garcia recusa-lhe o rótulo de organização terrorista, atribuído por Estados Unidos e União Europeia.

É um flanco em aberto que explica a porosidade da fronteira boliviana, mencionada de passagem por Serra, de onde procedem 90% da cocaína vendida ao Brasil, aqui processada e revendida pelo tráfico. Por aí, chega-se aos 50 mil brasileiros assassinados anualmente, o que caracteriza uma guerra civil silenciosa – ou nem tanto.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pesquisas Eleitorais - Dilma Avanca, Serra parou

Ibope: Dilma Rousseff (PT) 40% x 35% José Serra (PSDB)

A 2ª pesquisa CNI/Ibope do ano foi divulgada hoje (23.jun.2010): Dilma Rousseff (PT) tem 40% das intenções de voto, contra 35% de José Serra (PSDB). Marina Silva (PV) aparece com 9%.

A sondagem foi feita de 19 a 21.jun.2010 com 2.002 eleitores em 140 municípios. Está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o n° 16292/2010. Sua margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Com relação à última pesquisa CNI/Ibope (realizada de 6 a 10.mar.2010), Dilma Rousseff (PT) cresceu 7 pontos percentuais (saiu de 33% e alcançou 40%). José Serra caiu 3 pontos (de 38% para 35%). Marina Silva tinha 8% e oscilou 1 ponto para cima, dentro da margem de erro. Aqui, quadro com todas as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial.

2° turno
A pesquisa também avaliou uma hipótese de 2° turno: Dilma teria 45% dos votos; Serra teria 38%. Aqui, sondagens anteriores sobre o 2° turno da eleição presidencial.

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Sul e Sudeste estão com Serra. Estados atrasados estão com Dilma.

Pesquisa Ibope no Sul

- José Serra, 42%
- Dilma Roussef, 34%

Pesquisa Ibope no Sudeste (SP, Rio, ES e Minas)

Dilma Roussef, 37,5%
José Serra, 36,5%

Pesquisa Ibope sobre escolaridade e renda

A pesquisa demonstra que o eleitor menos instruído e mais pobre é o que mais vota em Dilma.

- Isto significa que nas regiões e junto aos eleitores mais atrasados, antigamente domínio dos coronéis da Arena, dão vantagem à candidata do PT. Neles predomina o mando de Lula, com 56% a 57% de curvatura.

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Tucano só lidera no Sul e entre os mais ricos, diz Ibope
No Sudeste, Dilma tem 37% contra 36% do tucano; nas demais regiões, sua vantagem varia de 6 a 17 pontos
DE BRASÍLIA

O tucano José Serra mantém vantagem sobre a petista Dilma Rousseff só na região Sul e na faixa da população com renda per capita de mais de dez salários mínimos, mostra detalhamento divulgado ontem da pesquisa Ibope encomendada pela CNI.
O levantamento, cujos dados gerais foram divulgados anteontem, mostrou pela primeira vez a candidata do PT à frente de Serra -40% das intenções de voto contra 35%. Marina Silva (PV) obteve 9%.
A estratificação por região aponta que no Sul, onde Dilma construiu sua carreira política, Serra tem 42%, contra 34% da petista. No Sudeste, onde Serra foi prefeito e governador e sustentava vantagem até então, a situação agora é de empate dentro da margem de erro, de dois pontos (37% a 36% para Dilma).
No Nordeste, no Centro-Oeste e no Norte, ela lidera, com vantagens que vão de 6 a 17 pontos percentuais.
Já o eleitorado mais rico registra a maior vantagem pró-Serra, de 16 pontos percentuais (43% a 27%). É nessa faixa que Dilma é mais rejeitada: 41% dizem que não votarão na petista, contra 23% da média geral do eleitorado.
Serra e Marina apresentaram rejeição similar (30% e 29%, respectivamente), sendo que a candidata do PV tem o maior índice no eleitorado do Nordeste: 34% dizem que não votariam nela.
Já a resistência a Serra é mais forte na faixa de renda per capita entre 5 e 10 salários mínimos (35%).
A pesquisa revela que os eleitores com ensino fundamental, os do Nordeste e os com menor renda são os mais inclinados a seguir a indicação de Lula, que apoia Dilma.
Após almoço ontem com Dilma, o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que Lula ficou com a cara "malandramente feliz" ao ser informado do resultado da pesquisa.
"Ontem [anteontem], o Lulinha estava com a cara malandramente feliz. Essa pesquisa tem um resultado muito positivo. Nós ficamos satisfeitos porque mostra que a nossa estratégia está dando certo. Mas ainda temos muito trabalho a fazer", disse. (RANIER BRAGON E MÁRCIO FALCÃO)

domingo, 20 de junho de 2010

Entrevista de Jose Serra - Revista Veja

Entrevista: José Serra
"Ouvir, argumentar, decidir"
Eurípedes Alcântara e Fábio Portela
Revista Veja, 18 de junho de 2010

O candidato do PSDB à Presidência da República diz que o loteamento de cargos no governo do PT turbinou a corrupção e dá sua receita de governabilidade sem clientelismo

"A manutenção da estabilidade é inegociável. Isso significa manter a inflação baixa"

Nenhum outro político brasileiro tem no currículo uma vida pública como a de José Serra, 68 anos, candidato do PSDB à sucessão de Lula. Jovem, presidia a União Nacional dos Estudantes (UNE) quando veio o golpe de 64, que o levou ao exílio, expatriação que duraria até 1978. De volta ao Brasil com diploma de economia no bolso, foi secretário do Planejamento, deputado constituinte, senador, ministro do Planejamento e da Saúde, prefeito e governador. Sobre Dilma Rousseff, ele diz: "Hoje me choca ver gente que sofreu sob a ditadura no Brasil cortejando ditadores que querem a bomba atômica, que encarceram, torturam e matam adversários políticos, fraudam eleições, perseguem a imprensa livre, manipulam e intervêm no Legislativo e no Judiciário. Isso é incompatível com a crença na democracia e o respeito aos direitos humanos".

O senhor já enfrentou todo tipo de adversário em eleições, mas, desta vez, a se fiar nas palavras do presidente Lula, vai concorrer com um "vazio na cédula", preenchido com o nome de Dilma Rousseff. Afinal, quem é seu adversário nesta eleição?
Só tenho a certeza de que não vai ser Lula, cujo mandato termina no próximo dia 31 de dezembro. Adversários são todos os demais candidatos à Presidência da República. Por trás dos nomes na tela da urna eletrônica há a história, as propostas e a credibilidade de cada um. Minha obrigação é me apresentar aos brasileiros sem subestimar nem superestimar os demais. Deixemos que os eleitores julguem. É muito bom que os candidatos sejam diferentes entre si
e também em relação aos presidentes que já deram sua contribuição ao Brasil. A beleza da vida está justamente em cada um ter seus próprios atributos.

Depois que os repórteres da sucursal de VEJA em Brasília desvendaram uma tentativa de aloprados do PT de, uma vez mais, montar uma central de bisbilhotagem de adversários, as operações foram desautorizadas pela cúpula da campanha. O senhor responsabiliza a candidata Dilma Rousseff diretamente pelas malfeitorias ali planejadas?
Só cabe lamentar e repudiar as tentativas de difusão de mentiras, de espionagem, às vezes usando dinheiro público, às vezes usando dinheiro de origem desconhecida, como em 2006. São ofensas graves e crimes que ferem até mesmo direitos básicos assegurados pela Constituição brasileira. Isso não é honesto com o eleitor. É coisa de gente que rejeita a democracia. A candidata disse que não aprova esse tipo de atitude, mas não a repudiou, não pediu desculpas públicas nem afastou exemplarmente os responsáveis. Essa reação tímida e a tentativa de culpar as vítimas fazem dela, a meu ver, responsável pelos episódios.

Por que para a democracia brasileira é positivo experimentar uma alternância de poder depois de oito anos de governo Lula?
Querer se pendurar no passado é um erro, não de campanha, mas em relação ao país. Eleição diz respeito ao futuro. Por isso, a questão que se coloca agora aos eleitores é escolher o melhor candidato, aquele que tem mais condições de presidir o Brasil até 2014. Eu ofereço aos brasileiros a minha história de vida e as minhas realizações como político e administrador público. Ofereço as minhas ideias e propostas. Espero que os demais candidatos façam o mesmo, para que os brasileiros possam comparar.

Como o senhor conseguiu governar a cidade e o estado de São Paulo sem nunca ter tido uma única derrota importante nas casas legislativas e sem que se tenha ouvido falar que lançou mão de "mensalões" ou outras formas de coerção sobre vereadores e deputados estaduais?
Em primeiro lugar, é preciso ter princípios firmes, não substituir a ética permanente pela conveniência de momento. É vital ter e manifestar respeito à oposição, ao Judiciário, à imprensa e aos órgãos controladores. Exerci mandatos de deputado e senador durante onze anos. Todos os que conviveram comigo no Congresso sabem que minhas moedas de troca são o trabalho, a defesa de ideias e propostas, o empenho em persuadir os colegas de todos os partidos e regiões. O segredo está em três palavras: ouvir, argumentar, decidir. Há o mito de que emendas de deputado são sempre ruins. Não são. Na maioria das vezes, elas visam a resolver ou aliviar problemas reais que afligem as pessoas de sua região. Portanto, atender os deputados segundo critérios técnicos é atender seus eleitores. Outra coisa fundamentalmente diferente é distribuir verbas ou cargos em troca de votos. Isso eu nunca fiz e nunca farei.

O PT fez?
Fez. Cito como exemplo as agências que criei quando fui ministro da Saúde, a Anvisa e a ANS. Sabendo como eu atuo, nenhum parlamentar, nem mesmo os do meu partido, sequer me procurou em busca de alguma indicação. Eles sabiam que não teriam êxito. E qual é a situação agora? O atual governo loteou totalmente as agências entre partidos, fatiando-as entre grupos de parlamentares e facções de um mesmo partido. A mesma partilha se abateu sobre os Correios e sobre a maioria – se não todos – dos órgãos públicos. O loteamento foi liberado e se generalizou. Essa prática é uma praga que destrói a capacidade de gestão governamental e turbinou como nunca a corrupção. Mais ainda, a justificativa oferecida foi a de que se tratava de "um mal necessário" para garantir a governabilidade. Se eleito, vou acabar com isso à base de um tratamento de choque.

Por que criar um Ministério da Segurança Pública e como ele atuaria exatamente no combate ao crime, que, no atual regime federativo, é uma atribuição estadual?
A segurança é um problema em todos os estados. Portanto, é um problema nacional. O governo federal e o presidente, que é o chefe do governo, não podem mais fingir que o problema da segurança está equacionado. Não está. Segurança é um dos três grandes problemas do Brasil. Temos de enfrentá-lo. O Brasil não pode continuar a ter 50 000 homicídios por ano. É um número escandaloso. Apenas o crescimento econômico não arrefece os criminosos. O Nordeste é um exemplo disso. A região experimentou um crescimento expressivo, mas a população sofre com a explosão da criminalidade. Só a Presidência da República reúne as condições para coordenar uma ação nacional da magnitude que o problema exige. Precisamos criar um SUS da segurança. O Ministério da Segurança será o símbolo e a ferramenta dessa prioridade. Com ele, estou dizendo o seguinte: brasileiros, vamos encarar o desafio para valer, vamos resolver essa situação. Esse será meu compromisso como presidente.

Falando em federação, como concertar com os governadores uma reforma tributária em que ninguém se sinta lesado ou pagando a conta?
É menos complicado do que parece, e nem é necessário mexer na Constituição. Para começar, é preciso aprovar uma lei que preveja que os impostos sejam explicitados nos preços das mercadorias. Isso aumentará a consciência das pessoas a respeito da carga tributária. Em São Paulo, fizemos uma lei para criar a Nota Fiscal Paulista, um instrumento de grande sucesso através do qual 30% do imposto estadual sobre o varejo é devolvido aos contribuintes, com crédito direto na conta bancária. Vamos criar a Nota Fiscal Brasileira, para devolver parte dos tributos federais. A reforma que farei vai aliviar a carga tributária incidente sobre os indivíduos, desonerar os investimentos, simplificar a formidavelmente complexa estrutura de tributos atuais. Além disso, restabeleceremos a neutralidade em relação à distribuição de recursos. É uma proposta coerente.

Segundo o folclore, o senhor seria seu próprio ministro da Fazenda, seu ministro do Planejamento, seu presidente do Banco Central e seu ministro da Saúde...
Nossa! É folclore mesmo. Quem trabalha ou trabalhou comigo sabe que não centralizo a administração, que dou grande autonomia às diferentes áreas. Fixo metas, objetivos, acompanho, cobro, mas nunca imponho nada exótico ou irrealista. E mais: tenho grande capacidade de ouvir.

Como seria a política econômica em um eventual governo Serra? Qual é o perfil ideal para o cargo de ministro da Fazenda?
A manutenção da estabilidade é inegociável. Isso significa manter a inflação baixa. Com a combinação dos regimes fiscal, monetário e cambial, caminharíamos sem rupturas para um ambiente macroeconômico cujo resultado inevitável seria a trajetória descendente dos juros. Uma taxa de juros menor é, aliás, condição para atrair mais investimentos privados destinados à infraestrutura, sem ter de dar os subsídios que hoje distorcem o processo. Quanto mais alta a taxa real de juros, maior é a taxa interna de retorno exigida pelos investidores privados em infraestrutura. Para compensar o juro alto, o governo é obrigado a dar subsídios.

E o perfil do seu ministro da Fazenda?
É preciso ganhar a eleição primeiro. Mas sempre cuidei de reunir à minha volta, na administração e no Congresso, pessoas preparadas, prudentes, com reconhecido espírito público. Escolho gente experiente, com senso prático e desapegada de doutrinas – ou que, pelo menos, prefere acertar abandonando suas convicções acadêmicas a errar por fidelidade a elas. No governo federal, será desse mesmo jeito. Precisarei ter comigo auxiliares que entendam que a política econômica é um processo político também. Na política, para fazer com que as
coisas aconteçam, você tem de se equilibrar sobre o fio da navalha. É uma eterna balança entre paralisar-se por se aferrar a certas concepções ou abandoná-las de vez e se perder no caminho. Isso fica claro na negociação política. É menos evidente mas tão válido quanto na condução da política econômica.

Dê o exemplo de um economista que preencha os requisitos acima, a quem o senhor admire e com quem ainda não trabalhou.
Olhe lá! Não estou fazendo nenhuma nomeação antecipada. Mas teria muitos exemplos. Um deles? O Arminio Fraga, como perfil. Sabe economia, é pragmático, não doutrinário. Soube navegar em mar revolto e deu enorme contribuição à estabilidade econômica do país ao instituir o regime de metas de inflação.

Por que no Brasil, apesar do enorme destaque atual no cenário da economia mundial, a discussão de política econômica é sempre revestida de ansiedade, como se vivêssemos em um estado permanente de emergência?
O instantâneo da economia brasileira é realmente bastante satisfatório. Não diria o mesmo sobre o filme. Ou seja, se não forem corrigidas a tempo, as distorções atuais podem se desenvolver de maneira desfavorável. Essa é uma questão complexa que, infelizmente, talvez não possa ser tratada da maneira que merece em um clima de campanha, muito menos no escopo de uma entrevista. Mas, a título de fazer refletir, sugiro que se comece por responder a certas questões. A saber, por que razão o Brasil tem a maior taxa real de juros do mundo, a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento e é lanterninha nas taxas de investimento governamental do planeta? Por que o suado dinheiro dos contribuintes brasileiros não está sendo bem aplicado em investimentos na infraestrutura econômica e social que garantam o crescimento sustentado da economia? É evidente que há um problema com esse modelo. É essa a discussão que precisa ser feita no Brasil.

O que o senhor faria para consertar esse modelo?
Tenho experiência para equacionar as principais questões, a partir do primeiro dia de trabalho, caso eleito. Não existe uma bala mágica, um golpe que bem aplicado resolva todos os problemas. Isso exige um leque de ações coordenadas e bem planejadas, muitas das quais citei aqui e tenho exposto em fóruns e seminários. Minhas passagens pelo Executivo federal, estadual e municipal me permitem afirmar que, para começar, na saúde, mesmo sem gastar muito mais do que é gasto hoje, seria possível fazer uma revolução com resultados positivos a curto prazo. Na educação, logo no início do governo, trabalharia para atingir a meta de abrir 1 milhão de novas vagas em escolas técnicas de nível médio em todo o país, com cursos de duração variada e vinculados à vocação econômica de cada região e localidade. O Brasil tem pressa e precisa aproveitar o ciclo da economia mundial altamente favorável aos países emergentes. Temos de aproveitar o empuxo desse ciclo e emergir dele com uma economia moderna, exportadora de produtos de alto valor agregado, produzidos aqui por uma mão de obra sadia, preparada e consciente de que para ela o futuro chegou.

sábado, 19 de junho de 2010

Jose Serra: resumo do programa eleitoral

Jose Serra: resumo do programa eleitoral

Brasília (18) - Expandir o bolsa família, investir em educação, voltar com os mutirões e recuperar a saúde no Brasil são compromissos do candidato tucano José Serra, se eleito para a Presidência da República nas eleições de outubro.

Os compromissos do candidato tucano foram assumidos durante importante programa do PSDB que foi veiculado na noite desta quinta-feira em cadeia de rádio e televisão para todo o País. O programa mostrou um Serra em família, descontraído e relatou as suas principais realizações ao longo de toda a sua vida pública que começou nos anos 60. Ou seja, desde a presidência da UNE (União Nacional dos Estudantes), à Câmara, como deputado constituinte, senador, prefeito de São Paulo e, depois, governador de São Paulo.

Por todo o Brasil, cidadãos que foram beneficiados pelos mutirões de saúde (como as operações de catarata, varizes e próstata) ou pelos programas de combate à Aids e às drogas, dão depoimento sobre a importância que o trabalho conduzido por Serra teve em suas vidas. Junto com eles, o candidato do PSDB acredita que o Brasil pode mais.

Assista ao programa

Ectoplama no poder? - Rolf Kuntz

O ectoplasma e o poder
Rolf Kuntz*
O Estado de S.Paulo, 16/06/2010

Agora todos sabem: dona Dilma não será a primeira mulher na Presidência do Brasil, mesmo se eleita. Para isso ela precisaria existir, mas não existe, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Luiz XIV uma ova. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é muito mais. O rei francês nunca administrou as maiores empresas de seu país nem se candidatou à própria sucessão. O presidente Lula tem feito isso e muito mais. Suas atividades múltiplas eram conhecidas, mas ele, talvez por modéstia, só agora decidiu reconhecer publicamente a extensão de seus esforços. Na semana passada, ele confirmou um fato sabido há muito tempo, mas por ele tratado com discrição até recentemente: a Petrobras é comandada de seu gabinete. Poucos dias depois, uma nova confissão: é ele o real candidato do PT à Presidência da República.

Ao tornar público esse dado, ele desfez uma expectativa suscitada pelos discursos de dona Dilma Rousseff. Agora todos sabem: dona Dilma não será a primeira mulher na Presidência do Brasil, mesmo se eleita. Para isso ela precisaria existir, mas não existe, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É apenas um nome para preencher um espaço numa cédula, de acordo com a explicação fornecida por ele mesmo, em discurso na convenção do PT. "Eu mudei de nome", confessou.

A figura rotulada como Dilma Rousseff permaneceu calada, como seria de esperar, no caso de uma personagem fictícia, de uma boneca ou, talvez, de um ectoplasma produzido por um médium. Quando falou, gastou muitas palavras para elogiar Lula. Foi o único detalhe feio dessa história. Como ela não é mais do que uma projeção dele mesmo, as lindas palavras sobre Lula não foram, afinal, mais que um autoelogio. A modéstia deve ter acabado, mas também isso parece natural, depois da tentativa de mediar o conflito entre israelenses e palestinos.

A explicação sobre quem manda na Petrobrás foi dada em Natal, na quarta-feira passada. Segundo o presidente, a diretoria da estatal não queria saber de refinarias novas. A capacidade produtiva das atuais era considerada suficiente. Mas a palavra final não cabe a esses diretores. É prerrogativa do presidente da República. A construção de refinarias novas no Nordeste resulta de "uma decisão de governo", de acordo com Lula. Ele poderia ter usado uma linguagem mais simples e mais direta: decisão dele mesmo seria uma boa descrição. A condição da Petrobrás como empresa de capital aberto, com ações negociadas no Brasil e no exterior, parece fazer pouca ou nenhuma diferença para o presidente Lula, ou Dilma, ou Lula-Dilma. De fato, nada parece fazer diferença, além de seu projeto de poder. Nesse projeto, o partido tem obviamente uma função apenas instrumental.

Os demais candidatos à Presidência da República devem ao presidente Lula um favor, pelo esclarecimento oficial de alguns pontos:

a campanha é plebiscitária, sim, porque envolve uma disputa direta entre o atual governante e todos os demais. É preciso escolher entre a continuidade do governo de hoje e qualquer outra possibilidade, baseada ou não em experiências do passado recente;

será uma tolice, portanto, insistir em qualquer comparação com a candidata Dilma Rousseff, porque nenhuma figura conhecida por esse nome tem existência própria e independente do presidente Lula;

quando o presidente afirma ter dado algum conselho a Dilma Rousseff, como, por exemplo, não responder a certas acusações, a palavra "conselho" é mero eufemismo. Indica uma decisão tomada - ou pelo menos anunciada - por quem de fato disputa o poder em nome do PT. O real concorrente manda no partido, resolve as questões mais importantes e se protege por mera conveniência atrás da imagem de uma figura política fictícia;

é preciso avaliar e discutir as promessas vocalizadas por essa personagem com base no estilo de governo seguido desde 2003. A partir daí será possível desqualificar qualquer promessa de reforma politicamente difícil, como a tributária. Em sete anos e meio, o atual governo evitou cuidadosamente qualquer inovação dependente de uma negociação complicada, como foi, nos anos 90, a dos padrões fiscais prescritos para os Estados e municípios.

Para uso geral, é possível sintetizar este último detalhe na seguinte mensagem: mantido o padrão observado a partir de 2003, o governo tentará promover o crescimento com base em reformas aprovadas nos anos 90 e no começo desta década. As tentativas de reforma serão de outra natureza. Pode-se apostar num aprofundamento do peleguismo, na ampliação das bases cooptadas para apoiar o autoritarismo e em novas tentativas de controle dos meios de comunicação. Já houve pelo menos duas -a última com o Decreto dos Direitos Humanos -, seus autores não desistirão e só os muito conscientes da importância da liberdade tentarão resistir.

*Rolf Kuntz é jornalista.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Candidatura vazia, ou um vazio de candidata...

A candidata que é um vazio na cédula
Sandro Vaia

Nunca antes na história deste País houve uma eleição como esta que se aproxima.

Sempre houve governo, sempre houve oposição, e salvo no período em que os militares no poder escolhiam os sucessores dentro da caserna, os que estavam no governo se empenhavam em eleger seus candidatos, e os que estavam fora do governo se empenhavam em eleger alguém que significasse algum tipo de alternância do poder.

É assim que, bem ou mal, funcionam as democracias.Quem está dentro quer ficar, quem está fora quer entrar.

Mas esta eleição é bastante atípica.Os dois candidatos de oposição de fato não se opõem muito-ou se opõem circunstancialmente a algumas coisas aqui e ali- e o candidato da situação é o atual presidente, que pela legislação em vigor não pode ser candidato, e que por isso mesmo colocou alguém para representá-lo.Votar nesse alguém, segundo ele mesmo, será como votar nele.Teremos a primeira eleição presidencial onde você pode votar por procuração: põe lá o nome de um, mas estará votando em outro.

Ou seja: a pessoa que o presidente quer eleger existe como pessoa física, tem RG,CIC,CEP, tem até um nome de batismo e uma controvertida história política pregressa, mas tem uma existência apenas virtual como ente político autônomo.Você vota x e elege y,pela simples razão de que x na verdade não existe: é apenas a transubstanciação de y.

O nome dela é Dilma,mas isso é um acidente de percurso ocasional, ela poderia se chamar Pedro ou Maria da Penha, tanto faz.Na verdade,o nome dela é Lula, ela fala Lula,ela pensa Lula, e se tem alguma autonomia de vôo ou alguma idéia própria, ela a guarda para si, e talvez guarde a grande revelação para o dia em que (e se for) eleita.

Não são os adversários que inventam isso para caluniá-la ou para menosprezá-la.Quem a embala é Lula, o próprio Mateus que a pariu.Seu alter ego diz,com todas as letras, com toda a franqueza de quem tem a glória e o privilégio de privar da intransferível intimidade de seu próprio ego:

“Vai ser a primeira eleição,desde que voltou as eleições diretas para presidente,que meu nome não vai estar na cédula.Vai haver um vazio naquela cédula.E,para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula.E aí as pessoas vão votar.Por isso, companheira,eu quero que Deus te abençoe e te dê força, cabeça fria,e saiba que você tem um companheiro para a hora que precisar”.

Depois de tantas peripécias para reconquistar a democracia, tendo passado por um período de 20 anos em que a ditadura militar construiu avatares de si mesma, multiplicando o partido oficial em sublegendas para evitar que o poder fugisse de seu controle,chegamos a outro truque tipicamente brasileiro.

Como a lei não permite o vazio na cédula, colocaram lá o nome de alguém, que na verdade não é ninguém,mas votando em ninguém, você está elegendo alguém que não é candidato porque a lei não permite.

Parece difícil mas é muito simples.O presidente mesmo explicou: Dilma está lá para que o vazio seja preenchido.Ela não é uma candidata.É o preenchimento de um vazio.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.. E.mail: svaia@uol.com.br

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uso da maquina publica para fins partidarios

Seria preciso ver se o Itamaraty não está ultrapassando suas funções enquanto instituições de Estado e se colocando a serviço dos interesses partidários do governo; pior, se posicionando na corrida oficial à presidência da República, usando recursos públicos para apoiar a candidata oficial, o que em princípio seria vedado pela legislação eleitoral.
Paulo Roberto de Almeida

De Paris, la dauphine de Lula se projette sur la scène international
Le Monde, 17.06.2010

Dilma Rousseff a profité du Mondial pour se projeter sur la scène internationale. C’est à Paris que la dauphine du président brésilien Luiz Inacio Lula da Silva, candidate désignée du Parti des travailleurs (PT, gauche) à l’élection présidentielle (dont le premier tour est fixé au 3 octobre), a regardé le premier match de l’équipe du Brésil, mardi 15 juin. Elle était vêtue du maillot “auriverde” (vert et jaune) de la Seleçao.

Mercredi, son programme a été plus protocolaire : Mme Rousseff s’est entretenue avec la secrétaire nationale du Parti socialiste, Martine Aubry, et avec le président de la République, Nicolas Sarkozy.

A 62 ans, cette ancienne ministre, à la tête du cabinet présidentiel, ne s’est jamais soumise à l’épreuve du suffrage universel. Son principal atout est l’immense popularité de son mentor, qui finit son second mandat avec l’approbation de 80 % des Brésiliens. Pourtant, cette femme de caractère refuse de se considérer la simple continuatrice du président Lula.

“Le Brésil vit un moment très spécial, nous pouvons passer de la condition de pays émergent à celui de nation développée”, explique-t-elle dans un entretien au Monde. Cela suppose de maintenir au cours de la prochaine présidence (2011-2014) un taux de croissance de 5,5 % à 6 % par an.

“BONUS DÉMOGRAPHIQUE”
Le gouvernement Lula est parvenu à réduire le nombre de pauvres de 77 à 53 millions. Mais 19 millions de Brésiliens survivent encore dans des conditions d’extrême pauvreté et 34 autres millions vivent dans la précarité. “Le Brésil doit continuer à élargir sa classe moyenne, devenue majoritaire”, affirme Mme Rousseff.

A son avis, le pays bénéficie d’un “bonus démographique”, puisque la majorité de sa population (193 millions) est en âge de travailler. En huit ans, 14 millions d’emplois ont été créées. Désormais, le défi est de se doter d’un enseignement de qualité. “L’intégration des régions pauvres du Nordeste et du Nord exige une main d’œuvre plus qualifiée, il faudrait une école technique dans chaque ville de plus de 50 000 habitants”, plaide la candidate. Le gouvernement sortant a doublé le nombre d’écoles techniques existantes et créé quatorze universités. Pour disposer des ressources de l’Etat fédéral, les établissements sont soumis à une évaluation de résultats.

La croissance exige davantage d’investissement en recherche et développement. “Le Brésil n’est pas devenu un grand producteur de denrées alimentaires uniquement grâce à la qualité de ses sols et aux vertus de son climat, mais parce que notre excellence en matière de recherche agricole a permis de choisir les cultures adéquates, souligne-t-elle. De même, les immenses gisements de pétrole en eaux très profondes sous une croûte de sel [pre-sal] ont été découverts grâce à l’expertise de l’entreprise publique Petrobras.”

Pour surmonter le goulot d’étranglement des infrastructures, le gouvernement Lula a lancé en 2007 un vaste programme d’accélération de la croissance (PAC). Dilma Rousseff a d’ailleurs été présentée par le chef de l’Etat comme “la mère du PAC”, pour mieux l’associer au bilan de sa gestion.

LES ÉTABLISSEMENTS PRIVÉS MIS À CONTRIBUTION
A en croire des sources non gouvernementales, moins de la moitié des projets ont été exécutés à ce jour. La candidate conteste ce chiffre et pointe du doigt la frilosité des investisseurs privés. “Le financement des grands travaux ne peut pas dépendre exclusivement de la Banque nationale de développement économique et social (BNDES), il faut que les établissements privés y contribuent aussi, tout en mettant au point de nouvelles formes d’ingénierie financière”, assure cette ancienne économiste. “La construction d’une centrale hydroélectrique comme Jirau et Santo Antonio demande cinq ans, les travaux sont bien avancés “, ajoute-t-elle.

Les grands travaux, comme la construction de Brasilia, se sont toujours soldés par un accroissement de la corruption au Brésil. Le pays est régulièrement épinglé à ce sujet par l’organisation non gouvernementale Transparency International. Le premier mandat du président Lula a d’ailleurs été entaché par un scandale qui a coûté son poste au prédécesseur de Mme Rousseff, José Dirceu, encore très influent au sein du PT.

“Nos institutions s’améliorent”, assure Mme Rousseff. Elle invoque la transparence des appels d’offres, la vigilance de la Cour des comptes et du ministère public. Le gouverneur de Brasilia, un opposant, a été emprisonné par la police fédérale pour avoir touché des pots-de-vin.

La dauphine de Lula n’admet pas le retard du gouvernement fédéral en matière d’insécurité, une question en tête des soucis de l’opinion. Afin d’éviter de recourir à l’armée pour le maintien de l’ordre, un corps d’élite, la Force nationale de sécurité publique, a été formé et entraîné en vue d’interventions rapides. Des prisons de haute sécurité ont permis d’isoler les chefs du crime organisé, ces narcotrafiquants qui avaient occupé des territoires abandonnés par l’Etat.

Mme Rousseff cite en exemple le bidonville Complexo do Alemao, à Rio de Janeiro. “Un téléphérique va désenclaver la favela et la relier au quartier résidentiel de Botafogo, explique-t-elle. La police a réoccupé le terrain, tandis qu’étaient installés de nouveaux services sociaux : écoles, centres de santé, sports.”

Soucieuse de ne pas se démarquer de son mentor, Mme Rousseff ne se laisse pas démonter à l’évocation des fréquentations douteuses du président Lula, du côté de Raul Castro ou de Mahmoud Ahmadinejad. “On ne fait pas de diplomatie en s’immisçant dans les affaires intérieures d’autres pays”, s’exclame-t-elle. “Les menaces, l’isolement ou les sanctions ne mènent à rien de constructif”, dit-elle à propos de Cuba et de la récente initiative de la Turquie et du Brésil sur le dossier du nucléaire iranien.

Avant même le début de la campagne officielle, la candidate du PT a réussi à rattraper dans les sondages son principal rival, le social-démocrate José Serra, ancien gouverneur de Sao Paulo. Mais comme pour le Mondial, rien n’est joué d’avance.

Saibam em quem nao votar: parlamentares processados no STF

Veja aqui a lista completa de todos os 21 senadores e 147 deputados que respondem a ações no Supremo
Congresso em Foco, 17.06.2010

Desses 168 parlamentares, o campeão de procedimentos na Justiça é o ex-governador de Roraima Neudo Campos.

Eles são de 15 partidos diferentes, das 27 unidades da Federação. Nove ocupam cargos de liderança no Congresso. Um deles preside a Câmara, outro é vice-presidente do Senado. Em comum, têm o mandato que exercem no Parlamento e os processos a que respondem no Supremo Tribunal Federal (STF).
É a bancada mais numerosa do Legislativo federal, a dos parlamentares processados, composta por 21 senadores e 147 deputados, cujos nomes o Congresso em Foco revela hoje (14), em sua totalidade. Juntos, eles são alvos de 396 investigações no Supremo.
Entre esses 168 parlamentares, cinco respondem a pelo menos uma dezena de processos. O campeão nesta lista é o ex-governador de Roraima Neudo Campos (PP-RR), candidato ao governo do estado em outubro, com 21 denúncias. Depois dele, vêm os deputados Jader Barbalho (PMDB-PA), candidato a uma vaga no Senado, Abelardo Camarinha (PSB-SP), Fernando Chiarelli (PDT-SP) e Lira Maia (DEM-PA), com dez investigações em curso. No Senado, os senadores Jayme Campos (DEM-MT), com cinco, Valdir Raupp (PMDB-RO) e João Ribeiro (PR-TO), com quatro cada, são os que acumulam maior número de pendências na Corte Suprema.

Veja a lista de todos os parlamentares processados
Veja o que respondem os parlamentares da região Norte
O que dizem os parlamentares do Nordeste
As respostas dos parlamentares do Centro-Oeste
A defesa dos parlamentares da região Sudeste
As respostas dos parlamentares do Sul

Toda a lista em
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticia.asp?cod_canal=21&cod_publicacao=33288


O senador João Ribeiro é líder do PR. Assim como ele, outros quatro líderes no Senado também devem explicações ao Supremo: os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo; Renan Calheiros (AL), líder do PMDB e da maioria; Mão Santa (PI), líder do PSC, e Gim Argello (DF), líder do PTB. Na Câmara, também são alvo de investigação os
líderes do PR, Sandro Mabel (GO); do PDT, Dagoberto (MS); do PRB, Cléber Verde (MA), e do PMN, Fábio Faria (RN). O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o primeiro-vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), também são alvos do Supremo.

O vice de Dilma
Oficializado no sábado (12), na convenção do PMDB, candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma Rousseff (PT), Temer está indiciado no Inquérito 2747, suspeito de ter cometido crime contra o meio ambiente.
Na última movimentação do inquérito registrada na página do Supremo, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, cobrou explicações da Procuradoria-Geral da República sobre a "demora excessiva" da investigação.

Como mostrou a Folha de S. Paulo, o presidente da Câmara é suspeito de ter recorrido a grileiros para se apropriar de terras na reserva ecológica da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O deputado sempre negou as acusações. No ofício, o ministro pediu ao procurador-geral, Roberto Gurgel, que explicasse por que não haviam sido cumpridas as diligências por ele determinadas um ano antes. Não há registro de resposta da PGR desde o envio do documento, em 27 de outubro.

O vice do Senado
Candidato ao governo de Goiás, Marconi acumula três inquéritos, um por concussão (ato de exigir para si ou para outrem dinheiro ou vantagem em razão da função), corrupção passiva, prevaricação, tráfico de influência, corrupção ativa e crimes de abuso de autoridade; outro por corrupção passiva, e um terceiro cuja natureza não é informada pelo Supremo.

A relação dos parlamentares processados inclui outros personagens ilustres da política brasileira, como o ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL) e o ex-governador paulista Paulo Maluf (PP-SP).

Candidato ao governo de Alagoas, Collor é réu em duas ações penais: uma por corrupção passiva, peculato, tráfico de influência, corrupção ativa e falsidade ideológica; e outra por crime contra a ordem tributária. Incluído este ano na relação de procurados pela Interpol, Maluf responde a cinco acusações no Supremo: por crimes contra a ordem
tributária, contra o sistema financeiro, de responsabilidade, formação de quadrilha ou bando, e lavagem ou ocultação de bens, direitos ou valores.

Ações penais
O ex-presidente da República e o ex-governador de São Paulo estão entre os 63 parlamentares que figuram na condição de réu em 108 ações penais, procedimentos que podem resultar em condenação. Nesses casos, os ministros do Supremo aceitaram as denúncias da Procuradoria-Geral da República por entenderam que há indícios da participação dos 54 deputados e nove senadores nos crimes que lhes são atribuídos.

Nos demais 288 casos, a fase é de inquérito, investigação preliminar em que se apura se houve crime e se há elementos que apontam para o envolvimento do indiciado e a abertura de uma ação penal. É nessa fase que pode haver condenação. Até maio, o Supremo não havia condenado nenhum parlamentar em sua história recente. No intervalo de duas
semanas, no entanto, condenou dois: os deputados Zé Gerardo (PMDB-CE) e Cássio Taniguchi (DEM-PR), por crime de responsabilidade. Mas o caso de Taniguchi terminou sem punição porque prescreveu, ou seja, o julgamento ocorreu depois que passou do prazo legal para a aplicação da pena.

Entre as denúncias mais freqüentes contra deputados e senadores, estão as de crime de responsabilidade (praticados no exercício de outra função pública), peculato (apropriação, por funcionário público, de bem ou valor de que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio ou alheio), formação de quadrilha, crimes eleitorais, ambientais, contra a ordem tributária e a Lei de Licitações. Também há acusações
de menor gravidade, como os chamados crimes contra a honra, como calúnia, infâmia e difamação.

Dono da maior bancada, com 73 congressistas, São Paulo reúne o maior número de parlamentares processados: 20 ao todo. Minas Gerais, com 16 nomes, Paraná, com 11, Goiás, com 10, Pará e Rio de Janeiro, com nove representantes cada, completam a relação dos estados com mais deputados e senadores sob investigação. Na outra ponta, Espírito Santo e Rio Grande do Norte, com dois parlamentares autuados, são as bancada
com menos problemas na Justiça.

Número de parlamentares processados por estado:
São Paulo – 20
Minas Gerais – 16
Paraná – 11
Goiás – 10
Pará – 9
Rio de Janeiro – 9
Alagoas – 8
Bahia – 8
Ceará – 7
Paraíba – 6
Roraima – 6
Tocantins – 6
Mato Grosso – 5
Rondônia – 5
Amazonas – 4
Amapá – 4
Maranhão – 4
Piauí – 4
Rio Grande do Sul – 4
Acre – 3
Distrito Federal – 3
Mato Grosso do Sul – 3
Pernambuco – 3
Santa Catarina – 3
Sergipe – 3
Espírito Santo – 2
Rio Grande do Norte - 2

Considerando-se o tamanho da bancada, a de Alagoas é a mais afetada. Dos 12 parlamentares alagoanos, oito (66,66%) respondem ao Supremo. Roraima, Tocantins e Goiás também têm pelo menos metade de suas respectivas representações no Congresso sob investigação. Há denúncias contra seis dos 11 congressistas roraimenses e tocantinenses, e contra dez dos 20 goianos.
Em números absolutos, as regiões Sudeste e Nordeste – também as mais numerosas – são as que têm mais deputados e senadores sob suspeita: são 47 dos 191 representantes do Sudeste e 45 dos 178 nomes do Nordeste. Proporcionalmente, porém, as bancadas do Norte e do Centro-Oeste são as mais enroladas na Justiça. Dos 86 parlamentares do Norte, 37 (43%) respondem ao Supremo. Na mesma situação estão 21 (39,62%) dos 53 deputados e senadores da região central do país. Com 18 de seus 86 integrantes, a do Sul é a que tem menos nomes na relação dos processados.

Leia também:
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Tudo sobre políticos processados

Democracia é soberania do eleitor e alternancia de governantes

Um texto analítico, de um jornalista conhecido.

OS DOCES TOTALITÁRIOS
Reinaldo Azevedo
15 de junho de 2010

Vamos a um post que tende a ser um tantinho longo, daqueles que costumo classificar de “textos de formação”, seja porque remetem a algumas questões de princípio deste escriba — a minha própria “formação”, portanto —, seja porque podem ser um instrumento a mais a auxiliar o leitor nas suas escolhas. Vamos lá.

Dos princípios
Estou certamente entre os articulistas mais — à falta de melhor palavra, vai esta mesmo — “transparentes” da imprensa. Os leitores sabem o que penso. Ninguém pode se dizer enganado ao entrar nesta página: “Ah, pensava que você fosse outra coisa…” Então é porque não tinha lido direito. As esquerdas de modo geral— e esse bolchevismo à moda Sarney do PT em particular — não têm por que se animar comigo. Se me lêem, e como lêem!, é para ter uma chance a mais de secretar o seu fel. Há quem não consiga viver sem destilar algumas doses diárias de ódio. Questão de gosto.

Qual é a minha escolha em política? É a que preserva ou que faz avançar aqueles que considero valores inegociáveis da democracia. Quando estrilo aqui, ainda que quase sempre com bom humor, é porque avalio que o padrão democrático está sendo ou pode ser arranhado. Os textos estão em arquivo aos milhares. Basta fazer uma consulta.

A minha mais recente cruzada — bem-sucedida, ainda que não inteiramente vitoriosa porque há muita porcaria lá — foi contra o tal Plano Nacional-Socialista dos Direitos humanos, com suas agressões ao direito de propriedade, à Justiça, à imprensa e às liberdades públicas. Enxerguei lá a síntese do modo petista de trabalhar. Escrevi dezenas de textos a respeito porque não gosto do PT? Posso não gostar como conseqüência das escolhas que o partido faz, não por um capricho. Se eles experimentarem aderir à democracia pra valer, aí vamos ver como me comporto. Mas ninguém terá a chance de ver tal hipótese testada na prática.

Eles querem controlar a sociedade, submetendo a Constituição à arbitragem de grupos de pressão; eu a quero soberana, articulada com leis democraticamente votadas. Não há chance de conciliação. No mundo deles, um partido se impõe à sociedade; no meu mundo, a sociedade se impõe aos partidos. E essa minha escolha pauta, evidentemente, muitas outras; leva-me a fazer escolhas.

Lulocentrismo
Chega a ser escandaloso que Lula diga que a cédula eleitoral tem um vazio desde a redemocratização: seu nome não está lá. E que emende: ele agora se chama “Dilma”, tomando-se como o senhor absoluto da política. “Ah, essa é uma posição que ele conquistou democraticamente”, poderia dizer alguém. Pois é: os princípios elencados acima, então, começam a fazer diferença.

Lula foi eleito e reeleito não para subordinar a democracia a seus caprichos — ainda que ela permaneça com seus mecanismos formais intocados —, mas para se subordinar a ela, promovê-la, aperfeiçoá-la. Esse cesarismo tropical é uma derivação teratológica, doente, do embate democrático.

As palavras têm sentido, mesmo quando pronunciadas por Lula. Ele está nos dizendo, em suma, que poderia ter escolhido quem bem entendesse; fosse quem fosse o ungido, e os brasileiros estariam, a seu juízo, referendando o nome indicado. Lula dá um pé no traseiro de 130 milhões de eleitores e afirma a existência de um eleitor só: ele próprio. No mesmo discurso, como vimos, atacou a oposição, que é vítima de dossiês que circulam na petezada, e a imprensa — que, não obstante, têm contribuído para a criação desta nova categoria política e de pensamento: o lulocentrismo.

Ataque à democracia
Esse lulocentrismo, especialmente na crônica política, chega às raias da negação da própria política e do regime democrático. Não é raro — de fato, é muito freqüente — que esbarremos em textos que ficam muito perto de indagar como um candidato de oposição se atreve a disputar eleições se o governo Lula é tão popular. Notável contradição esta, que nasce da contaminação do pensamento por teses muito antigas, de filiação obviamente autoritária, quando não totalitária mesmo.

Ora, por que a democracia é um regime superior a qualquer outro? Porque ela dispõe de instrumentos para vigiar o poder e para substituir o governante — por meio das urnas ou da Justiça. Também está provado que é o único regime que consegue aliar liberdades púbicas públicas a qualidade da gestão. Não havendo qualidade, as tais liberdades se encarregam de fazer a troca, ou no tempo previsto do pleito seguinte ou em razão de algum outro mecanismo legal.

A estarem certos alguns coleguinhas “analistas”, a democracia que conduz à qualidade de gestão anularia a si mesma à medida que um governo aprovado pela maioria caminharia para a eternização, ainda que preenchendo o “vazio” da cédula por um mero avatar do governante popular. Não creio que José Serra ou mesmo Marina Silva estejam na disputa em razão de uma função, sei lá, meramente fática do processo democrático; apenas para justificar a sua existência. Ambos têm propósitos distintos do governo que aí está e devem se considerar mais preparados do que a sua adversária governista.

Mas também é inegável que é a existência de uma oposição no pleno exercício de suas prerrogativas, em condições de vencer uma eleição, que distingue um regime democrático de um regime autoritário. A eficiência não faz uma democracia, como bem sabe a China, por exemplo. Não se duvide: aquele é um governo que “funciona” e que realizou pelo “povo” prodígios numa escala que nem podemos imaginar por aqui. O país tirou da miséria uns 400 milhões de pessoas nos últimos 20 anos. E, não obstante, trata-se de uma ditadura feroz.

Povo teimoso
A análise, com alguma freqüência, se deixa contaminar pela propaganda e pelo bordão “nunca antes na história destepaiz”, repetido, com pequenas variações, na propaganda oficial do governo, na publicidade das estais e até nas mensagens publicitárias de empresas privadas. Nesse contexto, a chance de alternância de poder passou a ser tratada como um exotismo, como um absurdo, como falta de coerência: “Afinal, se eles estão contentes e aprovam o governo, por que votariam num candidato de oposição?”

Os eleitores têm insistido em desapontar os analistas. A disputa, na maioria das pesquisas, está empatada entre Serra e Dilma. É bem possível que os eleitores do tucano não reconheçam nele alguém disposto a desfazer tudo o que está aí, no que estão certos. Pode mesmo haver quem considere que as melhores chances da continuidade das melhorias estão na mudança.

Elemento estranho ao jogo — ao jogo da democracia ao menos — é satanizar a alternância; é supor que há uma contradição inelutável entre aprovar o governo e eleger um eventual opositor. Não na democracia!!! Contraditório com o regime democrático é supor que o normal — ou desejável — é que um governo popular simplesmente homologue o seu sucessor. É a oposição que faz o governo ser governo; é o governo que faz a oposição ser oposição. Eles são protagonistas da mesma narrativa; a história de um não pode ser contada sem a história do outro. Ou estaríamos numa ditadura, ainda que muitos a pretendessem virtuosa.

E não há ditaduras virtuosas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Estado (mediocre) sou eu: azar o nosso

Opinião
Vaidade sem limites
Rodrigo Constantino, diretor do Instituto Liberal.
Opinião e Notícia, 15/06/2010

Luís XIV, o "Rei-Sol" da França, teria dito "o Estado sou eu". Luís Inácio, o "molusco tupiniquim", parece pensar o mesmo.

O presidente Lula não encontra limites para sua vaidade e seu delírio de grandeza. Do alto de sua enorme popularidade, ele dispara comentários absurdos que permanecem impunes na República das Bananas. Sua mais recente demonstração de megalomania foi a afirmação de que Dilma era apenas seu novo nome na cédula eletrônica, para preencher o “vazio” deixado pela sua ausência entre os candidatos. Que Dilma é apenas um “poste” criado por Lula para se manter no poder, muitos já sabiam. Mas que o próprio Presidente faria esta confissão, constatando a insignificância de sua criatura, isso foi uma surpresa.

O editorial do Estadão hoje (O criador e a criatura) bate justamente neste ponto, e merece ser lido com atenção. Outro artigo recomendável hoje é o de Miriam Leitão (Erro repetido), lembrando que o presidente Lula passa longe de ser um estadista que governa para todos. Lula é um político em eterna campanha, ignorando suas funções de chefe do Estado, e ainda por cima ignorando as leis eleitorais do País.

Lula é “o flagrante mais explícito da mistura entre partido e governo”, resume a colunista. Ela compara a situação atual do País, em que o Presidente prefere atacar a oposição quando seu próprio partido cria dossiês ilegais, com o caso Watergate, que derrubou o presidente Nixon nos Estados Unidos. O uso do aparato estatal para fins partidários é um grave crime. Infelizmente, o presidente Lula se coloca acima das leis, e estimula o avanço de práticas nefastas que corroem a democracia.

Luís XIV, o “Rei-Sol” da França, teria dito “o Estado sou eu”. Luiz Inácio, o “molusco tupiniquim”, parece pensar o mesmo. Hoje, seus arroubos de vaidade parecem blindados por sua popularidade. Mas não custa lembrar: Hitler e Mussolini foram bem populares em seus países por algum tempo…

Candidata oficial: uma critica que doeu

Dilma: crítica de instituto de finanças é ''leviana''
Andrei Netto e João Domingos
O Estado de S. Paulo, 16/06/2010

Para entidade internacional, vitória da petista causaria derrapagem macroeconômica; candidata tratou posicionamento como ""precipitado"" e ""superficial""

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, respondeu ontem, em Paris, às críticas do Instituto Internacional de Finanças (IIF), feitas nesta semana, em Viena, na Áustria. Segundo o instituto, a eleição da petista traria maior risco de derrapagem macroeconômica, poucas reformas estruturais e dificuldades de aumentar o crescimento do PIB.

"Não acredito que seja a opinião dos bancos internacionais", ponderou ela, classificando a opinião do instituto como "pessoal" e "leviana". A candidata ainda enfatizou: "Duvido muito que uma instituição que congregue bancos iria assumir uma posição tão precipitada e superficial como essa."

A análise foi feita pelo economista Frederick Jaspersen, que representou o IIF ? organismo que congrega os grandes bancos estrangeiros ? em um evento realizado no Palácio Imperial Hofburg, em Viena. Jaspersen afirmou que um eventual governo com a petista Dilma Rousseff tenderia ao aumento dos gastos públicos, ao relaxamento do controle da inflação e à alta dos juros.

Além disso, criticou Jaspersen, a petista enfatizaria a política industrial centrada nas empresas estatais e deixaria as agências regulatórias à mercê de pressões políticas. Em contrapartida, o economista do IIF afirmou que o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, endureceria o controle fiscal e reduziria os juros, o que resultaria na desvalorização do real.

Continuidade. Em entrevista concedida no Hotel Champs-Elysées Plaza, em Paris, além de responder às críticas do IIF, a presidenciável petista reforçou o compromisso de seu programa de governo com a estabilidade e o crescimento econômico e garantiu que, em caso de vitória, manterá a política externa de Lula.

Ela ainda fez críticas às sanções contra o Irã e comentou o objetivo de sua turnê pela Europa, quando encontrará líderes como o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, o presidente do governo da Espanha, José Luis Zapatero, e o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates.

Hoje, Dilma ainda deve cumprir compromissos na França. Às 10 horas, ela concede entrevista ao jornal francês Le Monde. Às 17 horas, se encontrará com Nicolas Sarkozy. Um dos temas do encontro deve ser a compra de 36 caças pela Força Aérea Brasileira (FAB), iniciada em 2008. Uma das empresas concorrentes no processo é a francesa Dassault. Além disso, o pacote de compras brasileiras para a Defesa poderá envolver submarinos e armazenamentos, em negociação que poderá passar dos R$ 30 bilhões.

Amanhã, Dilma tomará o trem-bala das 15 horas para Bruxelas, onde será recebida, às 18 horas, pelo presidente da União Europeia, José Manuel Durão Barroso. O encontro precederá a reunião de cúpula do Conselho Europeu. A petista deve tratar da necessidade de um acordo entre a União Europeia e o Mercosul, cujas renegociações foram reabertas no mês passado. Na sexta-feira, Dilma seguirá para Madri.

O PT exagerou na cara de pau: uma desfacatez muito grande

Este blog se ocupa de questões políticas, de temas partidários, e de eleições e preferências políticas. Ele se ocupa de ideias, entre outras ideias politicas, mas sobretudo de princípios, valores, políticas públicas. Ele pretende preservar a dignidade das boas ideias politicas e contribuir para a melhora dos "costumes políticos" no Brasil.
Raramente, ou quase nunca, eu postaria uma matéria como essa que vai abaixo, se não fosse por uma legítima indignação com a mentira, a desfaçatez, a cara-de-pau e a sem-vergonhice, tão evidentes no tema básica.
Ou seja, o partido que vem usando golpes baixos, que vem montando dossiês e que mente desbragadamente com respeito a suas patifarias pretende acusar os adversários de fazer todas aquelas trapaças às quais ele mesmo recorre e usa extensa e intensivamente.
Como se diz em linguagem popular: é muita cara-de-pau.
Creio que atitudes como essa, merecem denúncia e repúdio indignado, pelo menos da parte de todos aqueles que gostariam de ver uma campanha presidencial de alto nível, com eleições marcadas pela lisura, pelo debate aberto, pela sinceridade de propósitos, enfim.
Minha contribuição à campanha atual, para manter meus princípios e valores, seria confirmar meu total repúdio a esse tipo de atitude, e dizer o que segue:
1) A campanha política será marcada por uma disputa eleitoral entre dois candidatos em torno dos quais se dará o debate político sobre como cada um pretende conduzir a próxima presidência, com base nas suas percepções pessoais sobre os problemas principais do Brasil e suas propostas de soluções. Não estão em causa a administração FHC e sequer a de Lula. As manipulações e tentativas para desviar o foco do debate e orientá-lo em comparações com o passado são a meu ver equivocadas.
2) A acusação de que a oposição aposta no "quanto pior melhor" é de absoluta má-fé e de distorção da verdadeira realidade. Quem recorre a todos os expedientes para tentar ganhar é o PT, que intervem vergonhosamente num diretório estadual para distorcer a vontade de seus militantes e quadros regionais.
3) Acusar alguém de "submissão internacional" é de tão baixo nível que sequer cabe uma rejeição desse inventado propósito, feito de má-fé, numa atitude praticamente criminosa.
4) Finalmente, quando aos grandes temas propostos para campanha -- "reforma agrária, democratização da comunicação social e implantação do imposto sobre grandes riquezas" -- minhas únicas observações são estas: reforma agrária é uma questão praticamente marginal hoje em dia, pertencendo ao Brasil de um passado de agricultura atrasada e pouco capitalizada; "democratização da comunicação social" é um outro nome para a tentativa autoritária e liberticida de controlar a imprensa, criando o que se chama de "grande irmão censor"; imposto sobre as grandes fortunas pode até ser discutido, mas num contexto eleitoral significa pretender fazer demagogia classista, jogando os pobres contra os ricos, para tentar fazer crer que os pobres estariam em melhor situação se esse imposto fosse criado, já que anima a sanha distributivista dos ingênuos, que não sabem que seria mais uma maneira de dar dinheiro a um Estado já superdimensionado, um ogro insaciável em sua extorsão tributária.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.06.2010)

PT volta a atacar imprensa e fala em manipulação
Leila Suwwan
O Globo, 16/06/2010

Partido aprova resolução afirmando que oposição usará golpes baixos e grandes meios de comunicação na campanha

Resolução política do PT aprovada na última sexta-feira ataca a imprensa e afirma que a disputa será marcada por "golpes baixos" e "tentativa de manipulação dos meios de comunicação". O documento afirma que a oposição e seus "apoiadores nos meios de comunicação" tentarão influenciar o resultado da eleição. Também conclama a militância a transformar os esforços da chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) em uma campanha de massas, e a insistir na comparação entre os governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso.

O documentou resultou da reunião do Diretório Nacional do partido, semana passada, em São Paulo, e foi divulgado no site do PT. Na mesma reunião, foi decidida a intervenção no diretório regional do Maranhão para garantir o apoio à reeleição de Roseana Sarney (PMDB) para o governo. O diretório regional havia optado pelo apoio a Flávio Dino (PCdoB).

O documento já antecipava orientações presentes também no discurso do presidente Lula na convenção do partido, no último domingo, quando ele avaliou como "quase absoluta" a chance de vitória. "Devemos estar preparados para uma campanha de golpes baixos. (...) E que sinaliza qual será o comportamento de uma parte da oposição durante nosso futuro governo", diz o texto do partido.

O documento afirma que "a oposição e seus apoiadores nos meios de comunicação já demonstraram, por diversas vezes, estar dispostos a absolutamente tudo para tentar ganhar as eleições". "Farão de tudo para levar a eleição ao segundo turno, apoiando outras candidaturas, estimulando a judicialização da política, usando os grandes meios de comunicação como boletins de campanha, atacando os direitos humanos, torcendo para que a nova etapa da crise internacional altere para pior as condições do Brasil, produzindo crise cambial, alta de juros e primarização de nossa pauta de exportações."

O diagnóstico é baseado em acontecimentos das últimas semanas, sem citar o suposto dossiê e acusando o candidato tucano, José Serra, de usurpar mensagens de continuidade. A análise do partido é de que a estratégia do PSDB não teve êxito. Fala em dianteira nas pesquisas, crescimento de Dilma e "estancamento" de Serra - os candidatos estavam tecnicamente empatados nas últimas sondagens. O PT pede que a militância "não baixe a guarda".

O texto acusa o tucano José Serra de "submissão" internacional: "O candidato da oposição ataca a política externa brasileira, deixando evidente que sua opção é pela submissão aos poderosos de ontem, sem perceber que o mundo está mudando e que nosso país já é um dos protagonistas de uma nova época que está nascendo".

A resolução apresenta uma espécie de manual para discussões eleitorais, ancorado na comparação entre os governos Lula (2003-2010) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

"Interessa explicar as vantagens do modelo de partilha frente ao modelo de concessão; o papel decisivo que os bancos públicos jogaram, para evitar os efeitos mais perversos da crise internacional; o papel da elevação do salário mínimo e de programas de transferência de renda, para estimular um mercado interno que sustentou o crescimento do país", afirma o documento.

O texto pede o envolvimento dos partidos de esquerda, movimentos sociais e intelectuais para aprofundar o caráter popular do governo e alcançar três objetivos: reforma agrária, democratização da comunicação social e implantação do imposto sobre grandes riquezas.

terça-feira, 15 de junho de 2010

The Voice of His Master (or the puppet)

O criador e a criatura
Editorial O Estado de S.Paulo
Terça-feira, 15 de junho de 2010

Dilma Rousseff, estabeleceu o presidente Lula, será apenas um nome para preencher o que chamou de "vazio" na cédula eletrônica de 3 de outubro. "Eu mudei de nome e vou colocar a Dilma lá", discursou ele na convenção do PT que homologou a candidatura da ex-ministra. Que outro governante, a não ser ele, teria a caradura de reduzir à absoluta insignificância a fiel seguidora a quem escolheu solitariamente para lhe suceder? Só mesmo um político que ama a si mesmo sobre todas as coisas e se tosta ao sol de uma superlativa popularidade poderia dizer com desprevenida franqueza o que desde sempre era óbvio a todos quantos acompanham a operação eleitoral lulista: a sua decisão de disputar, por interposta pessoa, o terceiro mandato que a lei lhe veda.

Lula não se pejou de humilhar a sua criatura, cuja incapacidade de respirar politicamente por si rivaliza com uma falta de apelo e carisma que resiste aos esforços dos melhores marqueteiros. Nem os 1.800 convencionais petistas reunidos domingo em Brasília tiveram algum momento de genuína empolgação ao longo do seu discurso de 50 minutos - salvo quando ela se desmanchava em louvações ao patrono, o que fazia com patética insistência. Mas, para ele, a dignidade da candidata, para não falar em autonomia, é o que menos importa. Já se sabe que, tão logo termine a Copa do Mundo, Lula mergulhará ainda mais fundo do que até aqui na operação de sair pedindo votos para si sob outro nome.

O teatro começou na própria convenção, concebida para exaltar a condição feminina de Dilma. Nas pesquisas, como se sabe, a maioria das mulheres prefere o adversário José Serra. O artificialismo da montagem ao menos foi coerente com o confronto postiço armado por Lula entre "nós e eles, pão, pão, queijo, queijo", como se os aspirantes ao Planalto fossem de fato ele e o antecessor Fernando Henrique. À candidata em carne e osso resta falar em "seguir mudando", mas "com alma e coração de mulher". Pode-se contar, durante a campanha, com uma proliferação de platitudes do gênero, testando a paciência daquela parcela do eleitorado que ainda acredita que os candidatos devem lhe oferecer "pão, pão, queijo, queijo", como sinônimo de propostas e prioridades.

Para Serra, trata-se de um desafio. Não, evidentemente, porque lhe faltem uma coisa ou outra. Mas porque, nesta campanha que o lulismo fará tudo para manter engessada no molde plebiscitário, será pouco para o ex-governador contrapor o noviciado de sua oponente com a sua indesmentível experiência, como tornou a assinalar no sábado, em Salvador, na convenção do PSDB que ratificou a sua indicação. "Não comecei ontem e não caí de paraquedas", disse então. Ele terá de se haver com o presidente que não se cansará de dizer que estará na cédula com outro nome. Até a convenção, Serra parecia pensar duas vezes antes de não criticá-lo. Chegou a afirmar, numa espécie de fuga para a frente, que Lula "está acima do bem e do mal".

Bem diverso foi o seu tom na festa tucana. Dessa vez, atacou a presidência imperial de Lula, a sua convivência com a corrupção, o aparelhamento do Estado, as afinidades do presidente com ditadores. Duas passagens de sua fala foram especialmente pontudas. Na primeira, lembrou que "o tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou para trás há mais de 300 anos", para emendar: "Luís XIV achava o que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim." Na segunda, pregou "o repúdio da sociedade" a quem "justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que outros fizeram ou que foi levado a isso pelas circunstâncias". Estes "são os neocorruptos".

Serra teria decepcionado os 8 mil militantes presentes no evento que abre a temporada eleitoral propriamente dita se não fizesse as suas críticas mais pertinentes a Lula e ao lulismo - ainda mais sob o impacto da revelação de que arapongas aparentemente a serviço da campanha de Dilma quebraram o sigilo fiscal do vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

Mas, perante o eleitorado, Serra não poderá transformar o incensado Lula em alvo nem fingir que ele não existe.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pesquisas Eleitorais - cruzamentos

10 questões garimpadas nos cruzamentos da pesquisa Ibope
por Jose Roberto de Toledo, Blogs Estadão
Seção: Eleição para presidente

10.junho.2010 21:04:18


1) Para quem vão os 12% de eleitores que declaram espontaneamente intenção de votar em Lula?

Ao contrário do que os petistas poderiam supor, apenas 48% optam por Dilma Rousseff (PT) quando são confrontados com a lista de candidatos. E surpreendentes 29% preferem José Serra (PSDB). Outros 10% vão para Marina Silva (PV).

2) Como se dividiriam os 9% de eleitores de Marina Silva (PV) em um 2º turno entre Serra e Dilma?
Hoje, Dilma ficaria com uma parcela ligeiramente maior: 40%, contra 32% de Serra. Mas 21% votariam em branco ou anulariam seu voto.

3) Quem é mais fiel a seus candidatos: tucanos ou petistas?
Hoje, 71% dos eleitores que declaram preferência pelo PT votariam em Dilma. A fidelidade entre os simpatizantes do PSDB é proporcionalmente maior: 81% votariam em Serra. Mas há 29% de petistas contra apenas 6% de tucanos.

4) O PMDB deve fechar aliança com o PT na eleição presidencial, mas como votam seus simpatizantes?
Entre os 8% do eleitorado nacional que se declaram peemedebistas, Serra bate Dilma por 62% a 19%. Entre os 45% de sem-partido, o tucano venceria hoje a petista por 38% a 26%.

5) Se Serra ganha entre tucanos, peemedebistas e nos sem-partido, como é que Dilma empata com ele no total?
Nada menos do que 55% dos votos de Dilma vêm dos petistas. E outros 32% vêm dos sem-partido, principalmente daqueles que são fãs de Lula, mas não são petistas.

6) Como a religião influencia o voto para presidente?
Para Serra e Dilma, não faz diferença. Católicos e evangélicos se distribuem na mesma proporção do eleitorado total entre os dois líderes da corrida presidencial. Mas a evangélica Marina tem proporcionalmente mais eleitores de sua religião (12%) do que de católicos (8%).

7) Que impacto têm os programas sociais federais nos eleitores de Serra e de Dilma?
Para a petista, 35 em cada 100 de seus eleitores se beneficiam diretamente de programas como o Bolsa Família ou moram com algum beneficiário. Para o tucano, essa relação é menor, mas ainda significativa: 27 para 100. Detalhe importante: 1 em cada 3 indecisos é beneficiário direto ou indireto desses programas.

8.) As mulheres votam mais em Serra porque rejeitam Dilma?
Não. A taxa de rejeição da petista entre o eleitorado feminino (18%) é praticamente igual à verificada entre os homens (19%). Dilma tem 8 pontos porcentuais a menos entre as mulheres provavelmente porque é menos conhecida entre elas.
Serra, por sua vez, tem 3 pontos a mais entre as mulheres provavelmente porque é menos rejeitado pelas eleitoras (22%) do que pelos eleitores (27%).

9) Em quem votam os eleitores que rejeitam Serra ou Dilma?
Dos 19% que não votariam em Dilma de jeito nenhum, 70% declaram intenção de eleger Serra, 13% votam em Marina e 16% pretendem anular ou votar em branco.
Dos 24% que não votariam em Serra de jeito nenhum, 70% declaram preferência por Dilma, 12% votam em Marina e 14% devem anular ou votar em branco.

10) De onde veio o crescimento de Dilma que levou-a a empatar com Serra?
Entre abril e junho, Dilma cresceu 10 pontos porcentuais, de 51% para 60%, entre eleitores que acham o governo Lula ótimo. Ao mesmo tempo, Serra perdeu 8 pontos nesse segmento, que representa 27% do total do eleitorado. Esses fãs de Lula se concentram nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

domingo, 13 de junho de 2010

Jose Serra: discurso (2) de lancamento oficial da candidatura

ÍNTEGRA DO DISCURSO DE SERRA NA CONVENÇÃO DO PSDB
sábado, 12 de junho de 2010 | 17:10

Caro presidente Sérgio Guerra, presidentes de partidos aliados, convencionais do PSDB de todo o Brasil. Começo meu discurso dizendo sim. Sim, aceito sua indicação para ser candidato a presidente da República.

Aceito a responsabilidade de liderar nosso partido e nossa aliança até a vitória na eleição deste ano.

Meu muito obrigado a todos vocês, que vieram de todo o Brasil para me fortalecer com seu apoio e seu carinho. Obrigado, do fundo do coração.

Fizemos esta convenção na Bahia porque ela é um dos grandes retratos do que somos como povo. Da nossa diversidade, da mistura de raças, origens e etnias que fizeram do brasileiro um ser humano único. Na tolerância, na união, na alegria, na criatividade, na coragem, na obstinação, na vontade, na generosidade com o próximo. Na esperança no futuro. Assim são os brasileiros.

Hoje, estamos na véspera de um dia especial, é véspera de Santo Antônio, patrono do Farol da Barra, nome de um dos meus netos. Santo Antonio é Ogum, guerreiro valente e Orixá da Lei, intransigente no cumprimento dos princípios e das verdades eternas. Vamos falar disso. Falar de nossos valores, dos meus valores.

Acredito na democracia e isso não é uma crença de ocasião. Muitos políticos ou partidos que se apresentam como democratas, desdenham a democracia nas suas ações diárias. Mas ao contrário de adversários políticos, para mim o compromisso com a democracia não é tático, não é instrumental. É um valor permanente. Inegociável.

Acredito que a democracia é o único caminho para que as pessoas em geral, e os trabalhadores em particular, possam lutar para melhorar de vida. Não é com o menosprezo ao Estado de Direito e às liberdades que vamos obter mais justiça social duradoura. Não há justiça sem democracia, assim como não há democracia sem justiça.

Acredito na liberdade de imprensa, que não deve ser intimidada, pressionada pelo governo, ou patrulhada por partidos e movimentos organizados que só representam a si próprios, financiados pelo aparelho estatal. Não aceito patrulha de idéias — nem azul, nem vermelha. A sociedade é multicolorida, multifacetada, plural. E assim deve ser.

Acredito na liberdade de organização social, que trabalhadores e setores da sociedade se agrupem para defender interesses legítimos, não para que suas entidades sirvam como correia de transmissão de esquemas de Poder.

Organizações pelegas e sustentadas com dinheiro público devem ser vistas como de fato são: anomalias.

Acredito que o Estado deve subordinar-se à sociedade, e não ao governante da hora, ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou pra trás há mais de 300 anos. Luis XIV achava que o estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim.

Acredito que a oposição deve ser considerada como competidora, adversária, e não como inimiga da pátria. E, num regime democrático, jamais deve ser intimidada e sofrer tentativa de aniquilação pelo uso maciço do aparelho e das finanças do Estado.

Acredito que a disputa partidária e eleitoral não deve sobrepor-se aos interesses do Brasil e dos brasileiros. Somos irmãos na pátria e, juntos, temos obrigação de construir um País melhor. Eu sempre agi assim. Sempre acreditei no patriotismo democrático e adotei a colaboração de quem tinha o que somar, independente da carteirinha partidária.

Acredito nos direitos humanos, dentro do Brasil e no mundo. Não devemos elogiar continuamente ditadores em todos os cantos do planeta, só porque são aliados eventuais do partido de governo. Não concordo com a repressão violenta das idéias, a tortura, o encarceramento por ideologia, o esmagamento de quem pensa diferente.

Acredito no Congresso Nacional como a principal arena do debate e do entendimento político, da negociação responsável sobre as novas leis, e não como arena de mensalões, compra de votos e de silêncios.

Acredito no valor da Justiça independente, que obedece, mas não faz, às leis e é guardiã do nosso Estado de Direito. E prezo as instituições que controlam o Poder Executivo, como os Tribunais de Contas e o Ministério Público, que nunca vão ser aprimoradas por ataques sistemáticos de governos que, na verdade, não querem ser controlados.

Eu acredito nos servidores públicos e nos técnicos e trabalhadores de empresas estatais, que são vítimas do loteamento político, de chefias nomeadas por partidos ou frações de partidos, por motivos pouco confessáveis, males esses que chegaram até às agências reguladoras.

Acredito que são os homens que corrompem o poder e não o poder aos homens. Quem justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que outros fizeram, ou que foi levado a isso pelas circunstâncias, deve merecer o repúdio da sociedade. São os neo-corruptos.

Para mim está claro que honestidade não é programa de governo, mas sim uma obrigação de quem está na vida pública e lida com o dinheiro dos contribuintes: sem contar as receitas das empresas públicas, os governos no Brasil arrecadaram 500 bilhões de reais até o início de junho. No mesmo momento que o governo federal anunciava cortes nos gastos de Saúde e Educação, e que desacelerava as obras da transposição do São Francisco em Pernambuco e na Paraíba, gerando desemprego. Isso mostra simplesmente que o dinheiro público está sendo mal gasto.

Meus amigos e minhas amigas, gente de todo o Brasil que nos acompanha neste momento. Vamos falar claro:

Não tenho esquemas, não tenho máquinas oficiais, não tenho patotas corporativas, não tenho padrinhos, não tenho esquadrões de militantes pagos com dinheiro público. Tenho apenas a minha história de vida, minha biografia e minhas idéias. E o apoio de vocês que me conhecem e compartilham minhas crenças.

Venho de uma família pobre. Vim de baixo. Sempre falei pouco disso, e nunca com o objetivo de legitimar meus atos ou de inflar o mérito eventual dos meus progressos pessoais ou de minhas ações como político. Eu sou o que sou. Sem disfarces e sem truques. Tenho uma cara só e uma só biografia. E é assim que eu sou, é assim que eu vou me expor ao Brasil.

O que eu vivi na minha infância, na minha adolescência, no movimento estudantil, no exílio, nas perseguições que sofri, nas universidades, no Congresso, nos governos de que participei ou chefiei, carrego comigo cotidianamente. Não tenho mal-entendidos com meu passado. Nada me subiu à cabeça, nada tenho a disfarçar.

Minha moral, minha índole, minhas convicções, minha capacidade de indignar-me diante das injustiças e da estupidez e até meu bom humor (acreditem), se formaram em meio ao povo pobre de um bairro operário.

Meu pai foi um camponês, analfabeto até os 20 anos de idade. Depois, foi vendedor de frutas. Acordava de madrugada para uma jornada de 12 horas diárias de trabalho, todos os dias do ano. Só folgava no dia primeiro de janeiro.

Ainda criança, na minha vizinhança, vi gente morrer sem assistência médica, vi brasileiros com deficiência jogados ao Deus dará. Passei a andar sozinho de bonde e de ônibus lotados, como sardinha em lata, desde oito ou nove anos de idade. Ganhei dinheiro, quando criança, vendendo laranja. Quando jovem, dando aula de matemática. Eu sei onde o calo aperta. Eu sei como é a vida real das famílias pobres deste país, pois sou filho de uma delas.

Estudei em escola pública e, graças ao meu esforço, entrei numa das melhores faculdades de engenharia do Brasil. No terceiro ano fui eleito presidente da União Estadual dos Estudantes. No quarto, aos 21 anos, presidente da UNE, presidente dos estudantes do Brasil. Condição de que muito me orgulho.

Meus sonhos da época são meus sonhos de hoje: um Brasil mais justo, mais forte e igualitário, na renda e nas oportunidades. Meus sonhos continuam vivos no desejo de uma boa educação para os filhos dos pobres para que, como eu, cada brasileirinho, cada brasileirinha possa seguir seu caminho e suas esperanças.

Quando o Brasil sofreu o golpe militar, em 1964, fui perseguido, caçado, acusado de subversivo. Rapaz ainda, deixei o Brasil e busquei asilo, primeiro na Bolívia, depois na França e finalmente no Chile. Estudei como nunca, tornei-me professor, casei, tive filhos, fui perseguido novamente por outro golpe militar, desta vez no Chile, devido às minhas ações contra a repressão e à tortura no Brasil. De lá, fui viver nos Estados Unidos.

De volta à nossa terra, voltei também à política e fui quase tudo: secretário de estado, deputado constituinte, deputado federal, senador, ministro duas vezes, prefeito, governador. Tenho a honra e o orgulho de ter recebido, em minha vida, mais de 80 milhões de votos. Meu orgulho vem de uma certeza: não é possível querer ser representante do povo sem submeter-se ao julgamento do povo. Não há democracia sem eleição, assim como não deve haver governante sem voto.

Não comecei ontem e não caí de pára-quedas. Apresentei-me ao povo brasileiro, fui votado, exerci cargos, me submeti ao julgamento da população, fui aprovado e votado de novo. Assim foi em cada degrau, em cada etapa da minha vida. Isso demonstra meu respeito pela vontade popular. 80 milhões de votos ao longo da vida pública - 80 milhões de vezes brasileiros me disseram sim, siga em frente que nós te apoiamos.

É graças a eles e a tantos outros que estou aqui hoje, aceitando esta imensa responsabilidade, falando às pessoas e às famílias.

Comigo, o povo brasileiro não terá surpresas. Além das minhas convicções e da minha biografia, além das minhas realizações e dos princípios que defendo, me apresento perante a nação com uma idéia clara de Governo e com prioridades anunciadas.

Pra mim, Governo tem de apoiar quem produz e quem trabalha. São as pessoas comuns, as pessoas simples. E tem que proteger os desamparados. Governo, como as pessoas, tem que ser honesto. Verdadeiro. Tem que ser solidário e generoso. Tem que garantir as oportunidades e buscar a igualdade. Governo tem que ser justo.

As necessidades e esperanças que, à frente do governo, queremos preencher, são as da maioria dos brasileiros.

A maioria dos brasileiros quer uma Escola decente para cada criança e para cada jovem, até o limite de sua capacidade. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer deter o retrocesso na Saúde pública e dar a cada pessoa doente a possibilidade de uma consulta médica digna, de um leito hospitalar próximo e do acesso a uma ampla cesta de medicamentos básicos gratuitos. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer proporcionar às pessoas com deficiência física a condição de cidadania, com acessibilidade, educação, reabilitação e oportunidades profissionais. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer investimentos que qualifiquem e ofereçam empregos a cada pessoa que deseje trabalhar. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer Segurança para suas famílias, quer que o governo federal assuma de vez, na prática, a coordenação efetiva dos esforços nessa área, ou o Brasil não terá como ganhar a guerra contra o crime. Eu também quero isso.

A maioria dos brasileiros quer se ver livre do tráfico de drogas, que fomenta o crime, destrói o futuro de jovens e de suas famílias. Quer a recuperação dos dependentes químicos. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer que todos tenham uma casa decente para morar, com água e esgoto, luz e transporte coletivo. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer um meio ambiente saudável, cada vez mais limpo, onde o ar que respiramos e a beleza de nossas terras e florestas sejam protegidos. Eu também quero.

A maioria dos brasileiros quer ter mais rendimentos, que a prosperidade econômica se expanda no tempo, de forma sustentada. Eu também quero.

Para que esses desejos e vontades sejam materializados, temos de tirar as idéias do papel, planejar as ações do governo, mobilizar os meios e perseguir à ferro e fogo as prioridades fundamentais. Estas prioridades precisam ser claras e é preciso governar desde o primeiro dia. É necessário dar hierarquia aos problemas, porque não se resolve tudo de uma vez só. É indispensável formar uma equipe coesa, com gente competente. E não com critério partidário ou de apadrinhamento, esse mesmo critério que está destruindo a eficácia da ação governamental no Brasil.

Temos de afastar-nos de três recordes internacionais que em nada nos ajudam a satisfazer nossas necessidades e preencher nossas esperanças: o Brasil hoje tem uma taxa de investimento governamental das menores do mundo, a maior taxa de juros reais do mundo e a maior carga tributária de todo o mundo em desenvolvimento.

Minha atuação na vida pública atesta a minha coerência. Fui o relator do dispositivo constitucional que criou o Fundo de Financiamento ao Norte, Nordeste e Centro Oeste. Fui também o autor da emenda à Constituição brasileira que instituiu o que veio a ser o Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT. O Fundo, hoje, é o maior do Brasil e é patrimônio dos trabalhadores brasileiros, e financia o BNDES, a expansão das empresas, as grandes obras, os cursos de qualificação profissional, o salário dos pescadores na época do defeso. Tudo isso vem do FAT. E tenho orgulho de ter iniciado esse processo.

Graças ao FAT, também, tiramos o seguro-desemprego do papel e demos a ele a amplitude que tem hoje. O seguro-desemprego dormia há mais de 40 anos nas gavetas. Existia na lei, mas pouco na prática. Conseguimos viabilizá-lo e ele já pagou mais de 50 milhões de benefícios na hora mais difícil de qualquer família e de qualquer trabalhador.

Sou um brasileiro sonhador e obstinado, que usa o senso prático e capacidade de trabalho para fazer acontecer, para tirar do papel e transformar em realidade benefícios que só existem na teoria. Ofereço ao Brasil minha capacidade de transformar idéias em realidade. Em boa realidade.

Na economia, meu compromisso é fazer o Brasil crescer mais e mais rapidamente. Vamos abrir um grande canteiro de obras pelo Brasil inteiro, como fizemos em São Paulo. Estradas, portos, aeroportos, trens urbanos, metrôs, as mais variadas carências na infra-estrutura serão enfrentadas sem os empecilhos das ideologias que nos impedem de dotar o Brasil das do capital social básico necessário. É a falta de infra-estrutura que cria gargalos para o crescimento futuro e ameaça acelerar a inflação no presente.

Vamos gerar mais empregos. Atividades produtivas e obras públicas que priorizam nossa gente e materiais feitos aqui significam postos de trabalho e renovação do ciclo de criação de riqueza, em vez de facilitarmos a solução problemas sociais no estrangeiro. Vamos estimular a produção e o trabalho. Vamos tirar os obstáculos para a geração de riqueza e sua distribuição. Há muito por fazer. O Brasil pode muito mais.

Não vou exaurir aqui as propostas para as diferentes áreas. Já as tenho feito pelo Brasil afora. Mas faço questão de explicitar três compromissos com a Educação. O primeiro é dar prioridade à qualidade do ensino, que exige reforçar o aprendizado na sala de aula, começando por colocar dois professores por sala da primeira série do Ensino Fundamental. O segundo, é criar mais de 1 milhão de novas vagas em novas escolas técnicas, com cursos de um ano e meio de duração, de nível médio, por todo o Brasil. O terceiro é multiplicar os cursos de qualificação, mais curtos, para trabalhadores desempregados. Vejam o que fizemos em São Paulo. Vamos fazer muito mais em todos os estados do Brasil. E reforçaremos o Bolsa Família, dando uma ajuda de custo para os jovens cujas famílias dependem desse programa, para que possam se manter enquanto fazem os cursos profissionalizantes.

Dou outro exemplo de projeto, para a Saúde: vamos ter, ao final de dois anos, em todos os Estados, 150 AMEs, Ambulatórios Médicos de Especialidades, policlínicas com capacidade realizar 27 milhões de consultas e fazer 63 milhões de exames por ano.

Nunca chegaremos ao Brasil justo que desejamos enquanto tantos brasileiros tiverem menos do que precisam para sobreviver com dignidade. Meu objetivo é ambicioso, mas tenho certeza de que podemos sonhar e realizar. Vamos acabar com a miséria absoluta no nosso País. Quando ministro da Saúde, fiz o Bolsa Alimentação e meu colega de ministério, Paulo Renato, fez o Bolsa Escola. Eles foram reunidos pelo Bolsa Família, estiveram na origem deste programa. Nós vamos ampliar e melhorar o Bolsa Família. Mas vamos além. Vamos ampliar a rede de proteção social para cerca de 27 milhões de brasileiros que estão na base da pirâmide. Em português claro: vamos trabalhar com todas as nossas forças para acabar com a miséria absoluta no nosso País. Vamos lutar por isso. É possível fazer. O Brasil pode mais.

Meus amigos, minhas amigas:

Esta caminhada, que começamos no dia 10 de abril, em Brasília, tem sido prazerosa. Sinto-me bem. Nunca tive tanta energia física e mental como nestas semanas. Nunca me senti mais preparado para enfrentar um desafio como o que temos pela frente.

Nunca estive tão seguro a respeito do quê e de como fazer para que o nosso Brasil vença seus problemas. Sei o que fazer para que o nosso Brasil aumente a prosperidade econômica dos brasileiros de forma sustentada. E, importante, para que se obtenha mais progresso social para todos os que trabalham, para os desamparados e para que o nosso País assegure oportunidades aos nossos jovens.

Nestes meses tenho revisto o meu Brasil no seu conjunto e nos seus detalhes, o que renova minha forma de viver, que é a do aprendizado permanente. E é também reconfortante encontrar e descobrir, por toda parte, lembranças e efeitos de coisas que fiz ou que ajudei a fazer, nas obras, nos transportes, na Saúde, na Seguridade Social, na industrialização, nos investimentos. Reconheço um pouco de mim em alguns pedaços do Brasil que avançou e progrediu.

Tem sido bom nas cidades grandes e pequenas encontrar gente de bem, inteligente, gente que quer melhorar, gente disposta, confiante, exigente, às vezes crítica, muitas vezes com razão em suas reclamações, mas sempre brasileiros e brasileiras batalhadores. Encontros que levam alegria e esperança à minha alma, porque mostram o que o Brasil tem de melhor: nossa gente.

Ao longo da vida, tenho aprendido que as gerações se deparam com realidades distintas. E as respostas de cada uma delas, boas ou ruins, tornam-se questões da geração seguinte. Muito cedo, consolidei a crença de que seria possível imprimir um rumo positivo na seqüência de gerações que nos levasse do círculo vicioso da desigualdade e da pobreza para o círculo virtuoso da prosperidade, da maior igualdade e do desenvolvimento.

Guiado por essa inspiração, parto para a disputa. Vamos, juntos, com alegria, confiança e patriotismo. Nós sabemos o caminho. Já provamos nosso valor. Já fomos testados e aprovados. Vamos, juntos, porque o Brasil pode mais. Vamos juntos à vitória!