Foi a política que fez a oposição encurtar a distância; logo, faltou ainda mais política
Reinaldo Azevedo, 1.11.2010
Como escrevo em outro texto — e jamais vou perder isso de vista —, assistimos nessa campanha a uma truculência inédita do poder federal. Lula aviltou as instituições para eleger a sua criatura eleitoral. Isso não nos deve impedir, no entanto, de apontar erros essenciais na campanha do PSDB, em especial no horário eleitoral.
Comecemos do básico: Lula será mesmo esse demiurgo, que pode eleger quem bem entender — daí a necessidade de a oposição fazer uma campanha que evite o confronto, abstendo-se tanto de falar bem de si mesma como de falar mal do governo? Pois é. Estamos diante de uma doxa. Contra todas as evidências aparentes, a resposta é “não”. Querem ver?
Em 1989, quase um terço dos eleitores que foram às urnas votou na esquerda: 16,08% em Lula e 14,45% em Brizola. Em 1994, a mesma coisa: 27,04% em Lula e 3,18% em Brizola. Em 1998, idem (31,71% em Lula). Em 2002 e 2006, com discurso novo e política agressiva de alianças, o PT saiu daquele terço tradicional: Lula obteve, respectivamente, 46,44% e 48,61% no primeiro turno, índice quase igual ao de Dilma em 2010: 46,91%.
A seqüência de números nos indica algumas coisas: um terço do eleitorado pertence à esquerda e ponto final. Um terço vota contra a esquerda e ponto final. E é sempre aquele terço intermediário que está em disputa. Qualquer que fosse o candidato do PT, com ou sem as bênçãos de Lula, esse potencial está garantido. O resto tem de ser conquistado. Por três eleições seguidas, o PT fez a sua maioria naquele grupo — desta vez, bem menos do que nas duas anteriores.
O eleitorado brasileiro tem 135 milhões de pessoas — e é nessa base que os institutos avaliam a popularidade do presidente. Se ela for mesmo de 83%, estamos falando na aprovação de quase 113 milhões de pessoas. Dilma se elegeu presidente com 55,7 milhões de votos. Compareceram às urnas 106.050.082 pessoas, 78,55% do eleitorado. O candidato da esquerda levaria um terço disso ainda que fosse um poste — logo, não haveria por que Dilma não levar: 35,35 milhões. O real poder de transferência de votos de Lula é, pois, de 20,35 milhões de pessoas no máximo — 15% do eleitorado total, ou, contando com generosidade, 19% do que compareceu para votar. É rigorosamente disso que se trata. É histórico e é matemático.
Medos
Foi com medo desses 15% ou 19%, na prática, que a campanha da oposição — e sempre se deve relevar o jogo sujo, reitero — tomou o caminho errado, repetindo, diga-se, o erro de 2006. Alguém dirá: “Pô, mas somem-se esses 15% ou 19% àquele terço, e se tem praticamente mais da metade, Reinaldo”. Pois é. Eu me referi ao potencial máximo de transferência. Não quer dizer que ele se realizasse fatalmente e que pessoas desse grupo não pudessem ser convencidas. Mais ainda: a abstenção passou de 20%. É gente pra chuchu, que tem de ser chamada a votar. Como?
Eis o busílis. O PSDB passou boa parte do primeiro turno dedicado à maximização do minimalismo administrativista, sem uma mensagem política clara aos eleitores. Aquele que é sabidamente o homem público mais preparado do país — e isso não é chavão ou clichê, mas fato — foi convencido, deixou-se convencer ou foi tragado pelo argumento de que a política era um mau caminho: o confronto haveria de se dar no terreno da administração, da gestão, da comparação de biografias (a dele é infinitamente mais rica) e das obras realizadas. A questão seria esta: “Quem é mais competente para dar seqüência à obra de Lula: a Dilma ou o Zé?” A intenção de voto murchava.
Não por acaso, esse era a escolha do PT. Também o partido de Lula deixou a política de lado — a não ser para fazer comparações falsas, vigaristas, entre os oito anos do PT e os oito anos do PSDB. Obreirismo contra obreirismo, o do PT se mostrava mais festivo; promessa contra promessa, o lulismo será sempre imbatível.
Quem politizou?
A diferença entre Dilma e Serra é bem menor do que apostavam os petistas. Não tenho dúvida de que ela se deve à politização havida na reta final do primeiro turno, que QUASE teve seqüência no segundo. E é bom deixar claro: não foi uma escolha do PSDB, não! Foi uma escolha da sociedade. Questões como o aborto e a liberdade de expressão — às quais Dilma se viu obrigada a se referir em seu primeiro pronunciamento — serviram para aproximar mais o PT de si mesmo; criaram uma justa sombra desconfiança. Justa porque ninguém atribuía ao partido e à candidata nada que não fosse de sua natureza e de sua história. A sociedade levou a disputa para o segundo turno. E a primeira pesquisa feita depois do dia 3 indicava uma diferença de apenas 8 pontos entre os dois candidatos — acabou sendo de 12.
Aquela primeira semana era decisiva. As ruas respiravam um certo clima de virada — e se esperava que ao cruzado no queixo se seguissem outros golpes firmes da oposição. A PT ficou visivelmente aparvalhado. Antes mesmo que pudesse se reorganizar, a campanha do PSDB, reiniciada na sexta seguinte, dia 8, voltava a oferecer aquele mais do mesmo do primeiro turno: a tal maximização do minimalismo administrativista, em que o homem preparado para ser estadista se dedicava a propostas pontuais para resolver a saúde, a educação, o transporte. Em vez de a campanha embarcar na onda que estava nas ruas, quase fez o contrário: mandou todo mundo pra casa para esfriar a cabeça.
Privatização
No seu segundo programa na TV, o PT decidiu partir, ele sim, para a politização aberta e para o escracho. Não só passou a acusar os tucanos de desvios éticos por causa de Paulo Souza — se isso contou, contou pouco — como passou a pespegar nos adversários a pecha de privatistas, inventando a mentira de que, se eleito, Serra privatizaria o pré-sal e a Petrobras. A reação tucana, como escrevo num texto abaixo, foi tardia e falha. Exibiu as suas reais conquistas na área de telefonia quase com preguiça e praticamente aderiu à tese do PT de que concessão em petróleo corresponde a privatização, tentando inverter a acusação. Ora, quem consegue ser mais verossímil, mesmo mentindo, ao atribuir este suposto “defeito” ao adversário? É evidente que o caminho era outro. O PSDB foi vítima duas vezes da mesma vigarice, da mesma patacoada. Teve uma reação errada em 2006. Teve uma reação errada agora. Na segunda semana da campanha do segundo turno, o PT havia estancado o que poderia ser a sangria de votos de Dilma Rousseff.
Temas essenciais para os brasileiros — cito um óbvio: a baderna que o MST promove no campo, por exemplo — entraram na campanha na reta final, como mera ilustração de uma crítica que Serra fez ao MST em um dos debates. A politização tinha levado ao segundo turno e àquele clima de virada. E a possibilidade de vitória estava em oferecer mais política, não menos, como se fez. O administativismo tinha quase conduzido à derrota no primeiro turno. Era improvável que ajudasse a conquistar a vitória no segundo.
Para encerrar
Lula, Tarso Genro e Marco Aurélio Top Top Garcia comentaram o resultado das eleições — o presidente ainda antes do fim da votação. Foram brutais, como de hábito. Para eles, Serra perdeu porque partiu para o ataque. Bem, se é petista falando sobre tucano, então deve ser o contrário. Faltou dureza e faltou política, issso, sim! O presidente dos 83% de popularidade ganhou uma disputa, num eleitorado de quase 136 milhões de habitantes, por uma diferença pouco superior a 12 milhões de votos: menos de 9%!
Ele não imbatível, intocável ou incriticável. Com mais política, desde o começo, talvez se tivesse conseguido chegar lá. Teria chegado fatalmente? Como é que eu vou saber. Sei o que a política fez em benefício da democracia: levou as eleições para o segundo turno e deu às oposições um oceano de votos. Dilma e o PT já perceberam isso. O seu discurso da vitória já incorporou o recado das urnas (comentarei a seua fala). Que a oposição tenha claro: sempre será a política!
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010
A primeira analise do quadro pos-eleitoral
Qual é o futuro da oposição? Sair do armário. Ou não tem futuro.
Reinaldo Azevedo, 1.11.2010
Começo este texto pela ressalva: qualquer comentário que não leve em conta a truculência oficial no processo eleitoral será sempre manco. Nunca se viu uso tão descarado da máquina pública em favor de uma candidatura. O desassombro com que o presidente Lula renunciou a qualquer resquício de decoro, à tal liturgia do cargo, para se entregar ao bate-boca eleitoral é certamente inédito. Nunca se viu uma agenda administrativa tão colada à agenda eleitoral e partidária. Até mesmo o anúncio de uma possível nova reserva gigante de petróleo no pré-sal - que pode conter “x” bilhões de barris ou “5x” - se fez de acordo com as exigências do calendário político: dois dias antes da eleição. E assim se fez quando a peça da resistência da campanha eleitoral petista era justamente a suposta, porque falsa, intenção dos tucanos de privatizar a Petrobras e o pré-sal. A ressalva se estende por mais um parágrafo ainda, antes que retome o fio da primeira linha.
Nunca antes nestepaiz se viu tanta sujeira numa campanha. Já na largada, descobriu-se um verdadeiro bunker montado em Brasília destinado à produção de dossiês. Constatou-se, o que endossou as acusações de Serra, que o sigilo fiscal de tucanos e de familiares do candidato havia sido violado. Em todos os casos, as digitais do petismo se fizeram presentes. No bate-boca eleitoral, atribuiu-se, com a colaboração de setores da imprensa - o que é fabuloso -, o jogo bruto à vítima. Isso também é inédito Feitas as ressalvas, retomemos o fio.
Há pelo menos oito anos, esta que se chama hoje oposição é refém da narrativa que o PT inventou para ela. As três campanhas eleitorais tucanas - 2002, 2006 e 2010 - mostraram-se incapazes de responder à vaga de desqualificação do petismo. Nem mesmo se pode dizer que consegue ser apenas reativa porque nem a isso chega. Ao contrário até: faz um enorme esforço para mudar de assunto. E a estratégia tem falhado reiteradamente. Disputou com candidatos ruins? De jeito nenhum! José Serra e Geraldo Alckmin eram personagens eleitoralmente viáveis. O problema é de outra natureza. Parece haver um erro básico de leitura da realidade.
Tenho pra mim que há três eleições pelo menos os tucanos se tornaram reféns também de pesquisas qualitativas: em 2002, o fantasma era a “impopularidade” de FHC, o que fez com que a campanha da oposição tentasse se descolar do governo - governo que tinha, sim, passado pela crise energética em 2001, mas que reunia méritos gigantescos, muitos deles então frescos na cabeça do eleitor. Mas as pesquisas diziam: “Não toquem no nome de FHC pelo amor de Deus!”. E o governo que havia estabilizado a economia, domado a inflação, tirado muitos milhões da miséria, inaugurado os programas sociais que viraram o Bolsa Família, bem, aquele governo parecia um anátema.
Em 2006, com Geraldo Alckmin candidato, o PSDB insistiu no mesmo erro básico - medo de sua história. Às mistificações do lulo-petismo, respondeu com o que chamo “maximização do mínimalismo administrativista”, erro, entendo, reiterado desta vez. O fantasma da privatização, brandido de novo pelo petismo, é um bom emblema. O marketing tucano caiu duas vezes no mesmo truque, tropeçou duas vezes na mesma pedra, permitiu que João Santana risse duas vezes da mesma piada.
Ora, é falso, mentiroso, mistificação barata, sustentar duas coisas, a saber: a) que a concessão de áreas para a exploração de petróleo seja privatização; b) que os tucanos queriam privatizar a Petrobras e o pré-sal. Mas qual foi a reação, TARDIA, da propaganda do PSDB na TV? Agasalhar a tese de que concessão é privatização; tomar a privatização com um malefício e depois devolver a acusação: “Quem fez, sei lá, 108 ‘privatizações’ foi a Dilma”. Ou seja: tentou falar a linguagem do inimigo, aderir à sua racionalidade vigarista, para tentar inverter o jogo. Em nenhum momento os programas eleitorais do PSDB se lembraram de INFORMAR aos eleitores que, quando FHC chegou ao poder, o Brasil produzia 700 mil barris de petróleo por dia; quando ele deixou o governo, em 2002, o país produzia 1,4 milhão de barris - o dobro. No governo Lula, o aumento da produção foi de 50%.
Não quero me ater neste texto aos muitos erros do horário eleitoral. Até porque esses poucos que citei servem apenas para ilustrar uma tese: se quer voltar ao poder federal, a oposição terá, em primeiro lugar, de se tonar senhora de sua própria história, recolocando os fatos em seu devido lugar. E terá de enfrentar o lulo-petismo sem receio - terá de enfrentar, inclusive, o mito do “Lula intocável”. Porque os números,ao contrário do que rezam as aparências, demonstram que isso também é falso, o que fica para outro texto.
Desde já
Se as atuais oposições pretendem voltar ao poder em 2015, vencendo, pois, as eleições de 2014, têm de começar a enfrentar o governo desde já - ou, vá lá, a partir de 2 de janeiro de 2011.Assim se faz nas grandes democracias do mundo. Barack Obama estava no poder havia 15 dias, e o odiado Dick Cheney deu o grito de guerra. Alguns chegaram a dizer que ele estava enterrando o Partido Republicano. É mesmo? Pois os republicanos estão prestes a tomar de Obama a maioria no Senado e na Câmara. E olhem que, em matéria de mito, o presidente americano dá surra em qualquer um.
De fato, foram oito anos de quase não-oposição - essa é a verdade. E não se consegue despertar para esse mister nos quatro ou cinco meses que antecedem uma eleição. Nesse tempo, o PT contou a história como bem quis. “Então você sugere que os tucanos digam ‘não’ ao governo mesmo quando a proposta é boa, seguindo o modelo petista?” Não! Eu sugiro que os tucanos, democratas e quantos se oponham ao PT - desde que não seja optando pela extrema esquerda, claro! - tentem apresentar sempre propostas MELHORES. E que não tenha receio de ter a sua agenda. É difícil? Claro que sim! Mas precisa ser feito.
Dilma, agora, vai procurar a conciliação. É da natureza do jogo. A conversa é a de sempre: “Os interesses do país pedem etc e tal”. O próprio Lula se lembrará de ser um “conciliador”, convocando os homens que querem o bem do Brasil… Até a próxima disputa. Se os oposicionistas caírem na conversa da tal “agenda comum”, serão jantados de novo daqui a pouco.
Agenda comum?
Como sempre, o começo do governo será pautado pela urgência da reforma política, da reforma tributária, da reforma trabalhista - as reformas, enfim, que todos dizem querer fazer e que acabam não sendo feitas. O governo Dilma terá maioria esmagadora na Câmara e no Senado. Mas sabemos todos que essa maioria nominal não diz muita coisa a depender do tema. Sim, a oposição tem de ter as suas próprias propostas e brigar muito por elas no detalhe, comparecendo para o debate.
Quem quer que vá liderar esse trabalho tem de se mostrar como uma alternativa de poder, não como linha auxiliar do governo, o que o PSDB demonstrou ser muitas vezes. Isso não impediu, como se viu em 2006 e 2010, o eficiente trabalho de satanização promovido pelo PT. Considerados os governos dos estados, e ainda escreverei mais a respeito, as oposições governarão praticamente a metade da população e, vou fazer as contas, mais de 60% do PIB. Têm um base formidável para traçar as coordenadas de seu futuro. E, curiosamente, o seu futuro tem de começar por não ter medo do seu passado, que tem de ser libertado do cativeiro em que o prendeu o PT.
Reinaldo Azevedo, 1.11.2010
Começo este texto pela ressalva: qualquer comentário que não leve em conta a truculência oficial no processo eleitoral será sempre manco. Nunca se viu uso tão descarado da máquina pública em favor de uma candidatura. O desassombro com que o presidente Lula renunciou a qualquer resquício de decoro, à tal liturgia do cargo, para se entregar ao bate-boca eleitoral é certamente inédito. Nunca se viu uma agenda administrativa tão colada à agenda eleitoral e partidária. Até mesmo o anúncio de uma possível nova reserva gigante de petróleo no pré-sal - que pode conter “x” bilhões de barris ou “5x” - se fez de acordo com as exigências do calendário político: dois dias antes da eleição. E assim se fez quando a peça da resistência da campanha eleitoral petista era justamente a suposta, porque falsa, intenção dos tucanos de privatizar a Petrobras e o pré-sal. A ressalva se estende por mais um parágrafo ainda, antes que retome o fio da primeira linha.
Nunca antes nestepaiz se viu tanta sujeira numa campanha. Já na largada, descobriu-se um verdadeiro bunker montado em Brasília destinado à produção de dossiês. Constatou-se, o que endossou as acusações de Serra, que o sigilo fiscal de tucanos e de familiares do candidato havia sido violado. Em todos os casos, as digitais do petismo se fizeram presentes. No bate-boca eleitoral, atribuiu-se, com a colaboração de setores da imprensa - o que é fabuloso -, o jogo bruto à vítima. Isso também é inédito Feitas as ressalvas, retomemos o fio.
Há pelo menos oito anos, esta que se chama hoje oposição é refém da narrativa que o PT inventou para ela. As três campanhas eleitorais tucanas - 2002, 2006 e 2010 - mostraram-se incapazes de responder à vaga de desqualificação do petismo. Nem mesmo se pode dizer que consegue ser apenas reativa porque nem a isso chega. Ao contrário até: faz um enorme esforço para mudar de assunto. E a estratégia tem falhado reiteradamente. Disputou com candidatos ruins? De jeito nenhum! José Serra e Geraldo Alckmin eram personagens eleitoralmente viáveis. O problema é de outra natureza. Parece haver um erro básico de leitura da realidade.
Tenho pra mim que há três eleições pelo menos os tucanos se tornaram reféns também de pesquisas qualitativas: em 2002, o fantasma era a “impopularidade” de FHC, o que fez com que a campanha da oposição tentasse se descolar do governo - governo que tinha, sim, passado pela crise energética em 2001, mas que reunia méritos gigantescos, muitos deles então frescos na cabeça do eleitor. Mas as pesquisas diziam: “Não toquem no nome de FHC pelo amor de Deus!”. E o governo que havia estabilizado a economia, domado a inflação, tirado muitos milhões da miséria, inaugurado os programas sociais que viraram o Bolsa Família, bem, aquele governo parecia um anátema.
Em 2006, com Geraldo Alckmin candidato, o PSDB insistiu no mesmo erro básico - medo de sua história. Às mistificações do lulo-petismo, respondeu com o que chamo “maximização do mínimalismo administrativista”, erro, entendo, reiterado desta vez. O fantasma da privatização, brandido de novo pelo petismo, é um bom emblema. O marketing tucano caiu duas vezes no mesmo truque, tropeçou duas vezes na mesma pedra, permitiu que João Santana risse duas vezes da mesma piada.
Ora, é falso, mentiroso, mistificação barata, sustentar duas coisas, a saber: a) que a concessão de áreas para a exploração de petróleo seja privatização; b) que os tucanos queriam privatizar a Petrobras e o pré-sal. Mas qual foi a reação, TARDIA, da propaganda do PSDB na TV? Agasalhar a tese de que concessão é privatização; tomar a privatização com um malefício e depois devolver a acusação: “Quem fez, sei lá, 108 ‘privatizações’ foi a Dilma”. Ou seja: tentou falar a linguagem do inimigo, aderir à sua racionalidade vigarista, para tentar inverter o jogo. Em nenhum momento os programas eleitorais do PSDB se lembraram de INFORMAR aos eleitores que, quando FHC chegou ao poder, o Brasil produzia 700 mil barris de petróleo por dia; quando ele deixou o governo, em 2002, o país produzia 1,4 milhão de barris - o dobro. No governo Lula, o aumento da produção foi de 50%.
Não quero me ater neste texto aos muitos erros do horário eleitoral. Até porque esses poucos que citei servem apenas para ilustrar uma tese: se quer voltar ao poder federal, a oposição terá, em primeiro lugar, de se tonar senhora de sua própria história, recolocando os fatos em seu devido lugar. E terá de enfrentar o lulo-petismo sem receio - terá de enfrentar, inclusive, o mito do “Lula intocável”. Porque os números,ao contrário do que rezam as aparências, demonstram que isso também é falso, o que fica para outro texto.
Desde já
Se as atuais oposições pretendem voltar ao poder em 2015, vencendo, pois, as eleições de 2014, têm de começar a enfrentar o governo desde já - ou, vá lá, a partir de 2 de janeiro de 2011.Assim se faz nas grandes democracias do mundo. Barack Obama estava no poder havia 15 dias, e o odiado Dick Cheney deu o grito de guerra. Alguns chegaram a dizer que ele estava enterrando o Partido Republicano. É mesmo? Pois os republicanos estão prestes a tomar de Obama a maioria no Senado e na Câmara. E olhem que, em matéria de mito, o presidente americano dá surra em qualquer um.
De fato, foram oito anos de quase não-oposição - essa é a verdade. E não se consegue despertar para esse mister nos quatro ou cinco meses que antecedem uma eleição. Nesse tempo, o PT contou a história como bem quis. “Então você sugere que os tucanos digam ‘não’ ao governo mesmo quando a proposta é boa, seguindo o modelo petista?” Não! Eu sugiro que os tucanos, democratas e quantos se oponham ao PT - desde que não seja optando pela extrema esquerda, claro! - tentem apresentar sempre propostas MELHORES. E que não tenha receio de ter a sua agenda. É difícil? Claro que sim! Mas precisa ser feito.
Dilma, agora, vai procurar a conciliação. É da natureza do jogo. A conversa é a de sempre: “Os interesses do país pedem etc e tal”. O próprio Lula se lembrará de ser um “conciliador”, convocando os homens que querem o bem do Brasil… Até a próxima disputa. Se os oposicionistas caírem na conversa da tal “agenda comum”, serão jantados de novo daqui a pouco.
Agenda comum?
Como sempre, o começo do governo será pautado pela urgência da reforma política, da reforma tributária, da reforma trabalhista - as reformas, enfim, que todos dizem querer fazer e que acabam não sendo feitas. O governo Dilma terá maioria esmagadora na Câmara e no Senado. Mas sabemos todos que essa maioria nominal não diz muita coisa a depender do tema. Sim, a oposição tem de ter as suas próprias propostas e brigar muito por elas no detalhe, comparecendo para o debate.
Quem quer que vá liderar esse trabalho tem de se mostrar como uma alternativa de poder, não como linha auxiliar do governo, o que o PSDB demonstrou ser muitas vezes. Isso não impediu, como se viu em 2006 e 2010, o eficiente trabalho de satanização promovido pelo PT. Considerados os governos dos estados, e ainda escreverei mais a respeito, as oposições governarão praticamente a metade da população e, vou fazer as contas, mais de 60% do PIB. Têm um base formidável para traçar as coordenadas de seu futuro. E, curiosamente, o seu futuro tem de começar por não ter medo do seu passado, que tem de ser libertado do cativeiro em que o prendeu o PT.
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Reinaldo Azevedo
sábado, 16 de outubro de 2010
Retrato da campanha eleitoral (2): o jogo sujo de quem está na frente...
Pois é, como eles tem certeza de que vão ganhar, não precisariam demonizar, satanizar, conspurcar, xingar e fazer todo esse jogo sujo que estão fazendo.
Que coisa mais desagradável...
Paulo Roberto de Almeida
Preparem-se para os 15 dias mais sujos da história política brasileira!
Reinaldo Azevedo, 16.10.2010
Esta já é a campanha eleitoral mais suja desde a redemocratização do país. Luiz Inácio Lula da Silva, com a sua falta de decoro e de apreço pela liturgia do cargo, é o seu comandante. As duas semanas que vêm pela frente vão fazer o país ferver. Na raiz da baixaria está uma concepção de poder que é essencialmente antidemocrática: o PT não admite a possibilidade de ser derrotado. Se vislumbra essa risco no horizonte, não tem nenhum receio de, com uma das mãos, fazer o jogo sujo e, com a outra, denunciar o jogo sujo dos adversários, reivindicando, assim, licença para enlamear ainda mais o processo. Vamos pensar um pouco.
Aqueles que decidem exercer o que chamo “poder da vítima” pretendem sempre uma de duas coisas: ou imaginam mesmo haurir algum benefício na esperança de que os outros sejam mais tolos do que eles próprios ou estão em busca de uma desculpa moral para recorrer à patifaria e, ainda por cima, culpar as vítimas: “Só agi assim fiz porque eles começaram; por mim, só faria coisas boas!” Nas relações pessoais, isso é muito comum; nas amorosas, é comuníssimo — em qualquer dos casos, afaste-se de gente assim: estamos falando de pessoas perigosas, sem limites.
No que concerne à política, o “poder da vítima” está na raiz psico-sociológica das duas tiranias do século passado. Socialismo e fascismo representam justamente a vingança do ressentido. Num caso, excita-se o ódio e o desejo de vingança “justa” (!) de uma “classe”; no outro, de uma nação. São construções ideológicas, que mobilizam, não obstante, ressentimentos individuais dos militantes. Ninguém se torna fanático de uma causa só porque foi convencido por um conjunto de valores ou porque se encantou com o corpo conceitual de uma doutrina. O fanatismo é só o casamento de uma falha psíquica ou de caráter — individual, privada — com o momento, que é coletivo. A paixão cega não é uma convicção, mas uma doença. Danton, goste-se ou não de suas idéias (eu não gosto muito, hehe…), era um convicto; Robespierre era um doente! Mas me desviei um tantinho. Volto ao leito.
Os que decidem exercer “o poder da vítima” delinqüem, mentem, trapaceiam, cometem crimes e tentam sempre nos convencer de que só o fazem premidos por circunstâncias — ou em nome da causa. Para eles, os limites da lei são imposições que impedem a justiça, não instrumentos para discipliná-la. Peguemos, então, o exemplo de Luiz Inácio Lula da Silva. O partido que criou, com efeito, desafiou alguns limites da ditadura — já bastante enfraquecida, sejamos justos e precisos —, cresceu e se fortaleceu. Na ordem democrática, continuou a desafiá-los, por intermédio de seus “movimentos sociais”, e não abandonou a prática mesmo depois de ter chegado ao poder. Na ditadura, a afronta à ordem tinha a justificativa plausível da justiça; na democracia, o desrespeito às instituições tem como objetivo único o fortalecimento do próprio partido. Nesse caso, se o partido prevalece, quem fenece é a sociedade.
Poderia fazer aqui o elenco das dezenas de vezes em que o PT mandou a democracia às favas em nome do seu próprio fortalecimento. Mas acho que vocês conhecem o roteiro. Quero me ater, como anunciei lá no primeiro parágrafo, à disputa eleitoral deste ano. Já na largada, ficou claro que o partido tinha voltado àquele costume que adquiriu no tempo em que estava na oposição: a mobilização de um verdadeiro exército de arapongas para atingir o adversário. Naquele tempo, como “vítimas”, os petistas tinham uma boa desculpa: do outro lado, estariam os “reacionários”, que precisavam ser combatidos. A imprensa, infelizmente, colaborou bastante na construção dessa perversão.
No poder, os métodos continuaram os mesmos. Quando o bunker montado pela pré-campanha de Dilma Rousseff foi denunciado — o sigilo fiscal do tucano Eduardo Jorge estava com eles —, os petistas fizeram o quê? Denunciaram, vítimas eternas que são, uma grande conspiração do que chamam “mídia”!!! Passado algum tempo, surgiram evidências de que os sigilos de outros tucanos e da filha e do genro de José Serra também tinham sido violados. Uma investigação rasa foi o bastante para chegar à autoria: bateu nos petistas. Agora, a investigação se arrasta, no que tem todo o jeito de ser mais um crime sem criminosos nem culpados.
Flagrados, denunciados, expostos, qual foi a reação dos petistas? “Tudo não passa de uma tentativa desesperada de Serra de ganhar a eleição; ele está fazendo exploração eleitoreira do episódio”. O presidente da República, ninguém menos, foi à TV com essa mensagem, na fala em que Serra foi chamado de “candidato da turma do contra”. O tucano passou a ser tratado pelos petistas — e até por setores da imprensa — como responsável pelo mal que lhe impingiam. Esse é o jogo clássico do “vitimismo triunfante”. Descobre-se logo depois que uma verdadeira quadrilha atua na Casa Civil, o que custa a cabeça da ministra, braço-direito de Dilma Rousseff. O PT, inicialmente, denuncia o jogo sujo da oposição, em conluio com a mídia (!).
A religião
É claro que os escândalos, especialmente o de Erenice Guerra, abalaram a reputação do PT. Ainda que 80% dos eleitores realmente aprovassem o governo Lula, isso não significa endosso às lambanças. Dilma começou a cair nas pesquisas, e o PT decidiu descobrir os motivos. E então chegamos à pauta religiosa. A imprensa — os meus coleguinhas — sabe muito bem que os tucanos não estão na raiz da corrente “Dilma-aborto”. A sociedade existe, e esse nunca foi um tema muito popular no país. Os tucanos, ao contrário, até demoraram para se dar conta do fenômeno. Mas o PT, o “partido das vítimas”, precisava culpar alguém. Nesse particular, colheu mais efeitos negativos do que positivos.
Terrorismo
Como é mesmo? Quem se diz vítima, sem ser, só está buscando um motivo para delinqüir. E foi o que fez o PT. A exemplo de 2006, levou para a TV uma campanha sórdida, atribuindo aos tucanos a intenção de privatizar a Petrobras e o pré-sal — o que é mentira. E partiu para a desconstrução agressiva dos governos tucanos em São Paulo, especialmente em áreas em que o petismo não tem nada de bom a oferecer nos estados em que é governo: segurança e educação. A resposta no horário eleitoral de Serra é, a meu ver, até agora, muito tímida, fraca. O PSDB parece considerar ainda a máxima “quem bate sempre perde” — o que considero uma bobagem não-comprovada na prática. Mas deixo isso para outra hora.
Pesquisa Datafolha divulgada ontem aponta seis pontos de diferença entre Dilma e Serra — sete nos votos válidos (o instituto diz que são oito, mas a conta não me convenceu). É pouco. É quase nada. O que a muitos parecia um delírio no dia 2 de outubro é uma possibilidade absolutamente plausível 14 dias depois: o risco de Dilma perder é real. E há mais 14 pela frente. É claro que aqueles “institutos”, vocês sabem, já estão prontos para, daqui a uns dois ou três dias, apontar um novo alargamento da diferença. Já antecipo o título: “Diferença volta a crescer” — ou algo assim. A imprensa que não vende, mas se vende, mergulha na lama — lama que está no horário eleitoral e que chega aos palanques.
O PT prepara um cenário em que a eventual vitória será experimentada como o triunfo das vítimas contra os seus algozes — como se “os pequenos”, nessa disputa, não fossem os oposicionistas. E vai tentar se vingar depois. Em caso de derrota, essas mesmas “vítimas” acusarão, então, uma grande conspiração — sabe-se lá de quem — contra os “interesses populares” (aqueles a que se agregaram hoje patriotas como José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros) e estarão prontas para fazer o que sempre fizeram: sabotar o governo sob o pretexto de exercer suas convicções.
Ganhando ou perdendo, eles não tem limites porque não têm princípios e consideram que mentira ou verdade são só exigências da necessidade.
Que coisa mais desagradável...
Paulo Roberto de Almeida
Preparem-se para os 15 dias mais sujos da história política brasileira!
Reinaldo Azevedo, 16.10.2010
Esta já é a campanha eleitoral mais suja desde a redemocratização do país. Luiz Inácio Lula da Silva, com a sua falta de decoro e de apreço pela liturgia do cargo, é o seu comandante. As duas semanas que vêm pela frente vão fazer o país ferver. Na raiz da baixaria está uma concepção de poder que é essencialmente antidemocrática: o PT não admite a possibilidade de ser derrotado. Se vislumbra essa risco no horizonte, não tem nenhum receio de, com uma das mãos, fazer o jogo sujo e, com a outra, denunciar o jogo sujo dos adversários, reivindicando, assim, licença para enlamear ainda mais o processo. Vamos pensar um pouco.
Aqueles que decidem exercer o que chamo “poder da vítima” pretendem sempre uma de duas coisas: ou imaginam mesmo haurir algum benefício na esperança de que os outros sejam mais tolos do que eles próprios ou estão em busca de uma desculpa moral para recorrer à patifaria e, ainda por cima, culpar as vítimas: “Só agi assim fiz porque eles começaram; por mim, só faria coisas boas!” Nas relações pessoais, isso é muito comum; nas amorosas, é comuníssimo — em qualquer dos casos, afaste-se de gente assim: estamos falando de pessoas perigosas, sem limites.
No que concerne à política, o “poder da vítima” está na raiz psico-sociológica das duas tiranias do século passado. Socialismo e fascismo representam justamente a vingança do ressentido. Num caso, excita-se o ódio e o desejo de vingança “justa” (!) de uma “classe”; no outro, de uma nação. São construções ideológicas, que mobilizam, não obstante, ressentimentos individuais dos militantes. Ninguém se torna fanático de uma causa só porque foi convencido por um conjunto de valores ou porque se encantou com o corpo conceitual de uma doutrina. O fanatismo é só o casamento de uma falha psíquica ou de caráter — individual, privada — com o momento, que é coletivo. A paixão cega não é uma convicção, mas uma doença. Danton, goste-se ou não de suas idéias (eu não gosto muito, hehe…), era um convicto; Robespierre era um doente! Mas me desviei um tantinho. Volto ao leito.
Os que decidem exercer “o poder da vítima” delinqüem, mentem, trapaceiam, cometem crimes e tentam sempre nos convencer de que só o fazem premidos por circunstâncias — ou em nome da causa. Para eles, os limites da lei são imposições que impedem a justiça, não instrumentos para discipliná-la. Peguemos, então, o exemplo de Luiz Inácio Lula da Silva. O partido que criou, com efeito, desafiou alguns limites da ditadura — já bastante enfraquecida, sejamos justos e precisos —, cresceu e se fortaleceu. Na ordem democrática, continuou a desafiá-los, por intermédio de seus “movimentos sociais”, e não abandonou a prática mesmo depois de ter chegado ao poder. Na ditadura, a afronta à ordem tinha a justificativa plausível da justiça; na democracia, o desrespeito às instituições tem como objetivo único o fortalecimento do próprio partido. Nesse caso, se o partido prevalece, quem fenece é a sociedade.
Poderia fazer aqui o elenco das dezenas de vezes em que o PT mandou a democracia às favas em nome do seu próprio fortalecimento. Mas acho que vocês conhecem o roteiro. Quero me ater, como anunciei lá no primeiro parágrafo, à disputa eleitoral deste ano. Já na largada, ficou claro que o partido tinha voltado àquele costume que adquiriu no tempo em que estava na oposição: a mobilização de um verdadeiro exército de arapongas para atingir o adversário. Naquele tempo, como “vítimas”, os petistas tinham uma boa desculpa: do outro lado, estariam os “reacionários”, que precisavam ser combatidos. A imprensa, infelizmente, colaborou bastante na construção dessa perversão.
No poder, os métodos continuaram os mesmos. Quando o bunker montado pela pré-campanha de Dilma Rousseff foi denunciado — o sigilo fiscal do tucano Eduardo Jorge estava com eles —, os petistas fizeram o quê? Denunciaram, vítimas eternas que são, uma grande conspiração do que chamam “mídia”!!! Passado algum tempo, surgiram evidências de que os sigilos de outros tucanos e da filha e do genro de José Serra também tinham sido violados. Uma investigação rasa foi o bastante para chegar à autoria: bateu nos petistas. Agora, a investigação se arrasta, no que tem todo o jeito de ser mais um crime sem criminosos nem culpados.
Flagrados, denunciados, expostos, qual foi a reação dos petistas? “Tudo não passa de uma tentativa desesperada de Serra de ganhar a eleição; ele está fazendo exploração eleitoreira do episódio”. O presidente da República, ninguém menos, foi à TV com essa mensagem, na fala em que Serra foi chamado de “candidato da turma do contra”. O tucano passou a ser tratado pelos petistas — e até por setores da imprensa — como responsável pelo mal que lhe impingiam. Esse é o jogo clássico do “vitimismo triunfante”. Descobre-se logo depois que uma verdadeira quadrilha atua na Casa Civil, o que custa a cabeça da ministra, braço-direito de Dilma Rousseff. O PT, inicialmente, denuncia o jogo sujo da oposição, em conluio com a mídia (!).
A religião
É claro que os escândalos, especialmente o de Erenice Guerra, abalaram a reputação do PT. Ainda que 80% dos eleitores realmente aprovassem o governo Lula, isso não significa endosso às lambanças. Dilma começou a cair nas pesquisas, e o PT decidiu descobrir os motivos. E então chegamos à pauta religiosa. A imprensa — os meus coleguinhas — sabe muito bem que os tucanos não estão na raiz da corrente “Dilma-aborto”. A sociedade existe, e esse nunca foi um tema muito popular no país. Os tucanos, ao contrário, até demoraram para se dar conta do fenômeno. Mas o PT, o “partido das vítimas”, precisava culpar alguém. Nesse particular, colheu mais efeitos negativos do que positivos.
Terrorismo
Como é mesmo? Quem se diz vítima, sem ser, só está buscando um motivo para delinqüir. E foi o que fez o PT. A exemplo de 2006, levou para a TV uma campanha sórdida, atribuindo aos tucanos a intenção de privatizar a Petrobras e o pré-sal — o que é mentira. E partiu para a desconstrução agressiva dos governos tucanos em São Paulo, especialmente em áreas em que o petismo não tem nada de bom a oferecer nos estados em que é governo: segurança e educação. A resposta no horário eleitoral de Serra é, a meu ver, até agora, muito tímida, fraca. O PSDB parece considerar ainda a máxima “quem bate sempre perde” — o que considero uma bobagem não-comprovada na prática. Mas deixo isso para outra hora.
Pesquisa Datafolha divulgada ontem aponta seis pontos de diferença entre Dilma e Serra — sete nos votos válidos (o instituto diz que são oito, mas a conta não me convenceu). É pouco. É quase nada. O que a muitos parecia um delírio no dia 2 de outubro é uma possibilidade absolutamente plausível 14 dias depois: o risco de Dilma perder é real. E há mais 14 pela frente. É claro que aqueles “institutos”, vocês sabem, já estão prontos para, daqui a uns dois ou três dias, apontar um novo alargamento da diferença. Já antecipo o título: “Diferença volta a crescer” — ou algo assim. A imprensa que não vende, mas se vende, mergulha na lama — lama que está no horário eleitoral e que chega aos palanques.
O PT prepara um cenário em que a eventual vitória será experimentada como o triunfo das vítimas contra os seus algozes — como se “os pequenos”, nessa disputa, não fossem os oposicionistas. E vai tentar se vingar depois. Em caso de derrota, essas mesmas “vítimas” acusarão, então, uma grande conspiração — sabe-se lá de quem — contra os “interesses populares” (aqueles a que se agregaram hoje patriotas como José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros) e estarão prontas para fazer o que sempre fizeram: sabotar o governo sob o pretexto de exercer suas convicções.
Ganhando ou perdendo, eles não tem limites porque não têm princípios e consideram que mentira ou verdade são só exigências da necessidade.
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Reinaldo Azevedo
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Uma analise da conjuntura entre os dois turnos - Reinaldo Azevedo
PT vislumbra a possibilidade de Serra vencer e tenta criar clima de intranqüilidade na eleição. Ou: A derrota que Lula já sofreu
Reinaldo Azevedo, 12.10.2010
Entre os fatores que concorreram para Dilma Rousseff não ser o estrondo que se esperava nas urnas, está, quero crer, a agressividade de Lula no último mês de campanha, especialmente depois que ficou evidente que uma quadrilha operava na Casa Civil. Estivessem certos os institutos sérios (não creio que estivessem; os não-sérios são apenas bandidos, mas esse é outro debate), não haveria uma miserável razão, recorrendo à metáfora futebolística de que ele gosta tanto, para o presidente optar pelo jogo bruto: deu carrinho por trás, entrou de sola, foi na canela, usou pé alto, chegou mesmo a bolinar a democracia ao sugerir que era preciso eleger senadores servis ao Executivo… Por quê? Aquilo não era comportamento de quem estava vencendo a partida por um placar tão largo.
É que o PT, que nunca soube perder, também não sabe vencer, o que é típico de grupos fascistóides. A iminência da vitória no primeiro turno lhes trouxe o sonho de sempre: extirpar — Lula usou esse verbo em Santa Catarina para se referir ao DEM — os adversários. O presidente atacou a imprensa, que chamou de “partido”; declarou-se a si e aos seus a própria “opinião pública”; cobrou, em palanque, onde estavam, afinal, os sigilos violados dos tucanos e dos familiares de Serra — em vez de condenar o jogo sujo, pediu que o crime fosse exibido em praça pública; asseverou que venceria “esse sujeito”, referindo-se a Geraldo Alckmin, em São Paulo; prometeu ser ele a pôr a faixa em Mercadante… Arrogante! Bruto! Antidemocrático! Por isso o Manifesto em Defesa da Democracia, em três semanas, passa a marca dos 80 mil signatários. Já o manifesto do oficialismo, em apoio ao presidente, sumiu no ralo da história.
Por que toda essa histeria do PT, que vai da denúncia calhorda e falsa de que existe uma guerra santa contra o partido à ida de Dilma Rousseff à Basílica de Aparecida (onde errou ao persignar-se), passando pelo comportamento destrambelhado da candidata no debate e por um ato ilegal de intelectuais petistas (oximoro delicioso) na Faculdade de Direito da USP? O que se tenta é classificar de artificialismo e golpe uma eventual virada no jogo eleitoral, como se a derrota de Dilma não fosse uma das possibilidades que sempre estiveram presentes. Por isso se disputa eleição, não é? Para ganhar ou para perder. Não para os petistas!
Tentam fazer crer a sociedade que só uma tramóia tira a eleição de Dilma. Esse não é um comportamento sem desdobramentos práticos.
A sabotagem na vitória
Vitorioso em 2002, o PT passou longos oito anos desconstruindo o governo FHC da maneira mais calhorda e mentirosa possível. Porque não bastava a Lula, dentro da lógica normal da democracia, implementar o seu programa, corrigir erros, cometer os seus próprios, acertar. Notem: era preciso não deixar pedra sobre pedra, sustentar que nada de bom, NADA!!!, veio do governo anterior. A edição que o marqueteiro de Dilma fez do debate da Band é uma súmula das mistificações erigidas ao longo desses anos.
Lula não tentou ser melhor do que FHC na comparação — essa é outra mentira. Ele tentou destruir o seu antecessor, como tenta destruir os seus adversários.
Sabotagem na derrota
E que partido agia assim? Aquele mesmo que passara os oito anos na oposição sabotando o… mesmo governo FHC: lutou contra o Real, denunciou o Proer, recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, chutou o traseiro de investidores durante a privatização de estatais, votou contra o Fundef, ATACOU OS PROGRAMAS DE RENDA MÍNIMA, CHAMANDO-OS DE ESMOLA…
Agora, vislumbrada a possibilidade Serra vencer a disputa, o PT faz o quê? Denuncia uma grande conspiração — sabe-se lá de quem; seria dos cristãos? — e, acreditem, já anuncia que, se tudo der errado, retoma o seu velho padrão, aquele celebrizado nos oito anos de oposição: sabotagem!
Uns bobocas dizem: “Ah, você sataniza o PT; é muito mais rigoroso com ele do que com os outros partidos”. Eu não me obrigo a distribuir igualmente as minhas broncas só para mostrar a minha isenção. Não tenho partido, mas tenho lado (democracia, estado de direito, economia de mercado, essas coisas…). Ao longo de oito anos, é consenso que faltou ao PSDB um teor mais ato alto de oposicionismo. O partido não se caracterizou por dizer “não” a tudo o que viesse do governo Lula. Já o PT teve a cara-de-pau de implementar projetos e de adotar práticas que, na oposição, considerava lesivas aos interesses da pátria e do povo.
Falta de compostura
A falta de compostura do presidente da República no processo eleitoral, de que ele é, no Executivo, um magistrado, fala por si. Pensem no exemplo de civilidade que deu FHC em 2002 na iminência da derrota e vejam o comportamento destrambelhado de Lula, mesmo as pesquisas apontando, por enquanto ao menos, a dianteira de Dilma. Aquele presidente soube ganhar e soube perder; Lula não sabe nem uma coisa nem outra. Se vence, tenta destruir o adversário, como tentou; se vislumbra o risco de perder, denuncia uma conspiração e tenta qualificar, de antemão, de ilegítima a eventual vitória dos adversários.
Não vai colar. Nem o PT fará o que bem entende se Dilma ganhar a eleição — e eles já perceberam que a sociedade não aceita arreganhos autoritários — nem Serra terá maculada a sua vitória, se acontecer, por uma clima de intranqüilidade que o PT tenta criar artificialmente.
Essa batalha, ao menos, o lulo-petismo já perdeu. A não-eleição de Dilma no primeiro turno significou um “não” aos arreganhos autoritários do partido e de seu chefe máximo. Lula pode incluir mais essa derrota em sua carreira.
Reinaldo Azevedo, 12.10.2010
Entre os fatores que concorreram para Dilma Rousseff não ser o estrondo que se esperava nas urnas, está, quero crer, a agressividade de Lula no último mês de campanha, especialmente depois que ficou evidente que uma quadrilha operava na Casa Civil. Estivessem certos os institutos sérios (não creio que estivessem; os não-sérios são apenas bandidos, mas esse é outro debate), não haveria uma miserável razão, recorrendo à metáfora futebolística de que ele gosta tanto, para o presidente optar pelo jogo bruto: deu carrinho por trás, entrou de sola, foi na canela, usou pé alto, chegou mesmo a bolinar a democracia ao sugerir que era preciso eleger senadores servis ao Executivo… Por quê? Aquilo não era comportamento de quem estava vencendo a partida por um placar tão largo.
É que o PT, que nunca soube perder, também não sabe vencer, o que é típico de grupos fascistóides. A iminência da vitória no primeiro turno lhes trouxe o sonho de sempre: extirpar — Lula usou esse verbo em Santa Catarina para se referir ao DEM — os adversários. O presidente atacou a imprensa, que chamou de “partido”; declarou-se a si e aos seus a própria “opinião pública”; cobrou, em palanque, onde estavam, afinal, os sigilos violados dos tucanos e dos familiares de Serra — em vez de condenar o jogo sujo, pediu que o crime fosse exibido em praça pública; asseverou que venceria “esse sujeito”, referindo-se a Geraldo Alckmin, em São Paulo; prometeu ser ele a pôr a faixa em Mercadante… Arrogante! Bruto! Antidemocrático! Por isso o Manifesto em Defesa da Democracia, em três semanas, passa a marca dos 80 mil signatários. Já o manifesto do oficialismo, em apoio ao presidente, sumiu no ralo da história.
Por que toda essa histeria do PT, que vai da denúncia calhorda e falsa de que existe uma guerra santa contra o partido à ida de Dilma Rousseff à Basílica de Aparecida (onde errou ao persignar-se), passando pelo comportamento destrambelhado da candidata no debate e por um ato ilegal de intelectuais petistas (oximoro delicioso) na Faculdade de Direito da USP? O que se tenta é classificar de artificialismo e golpe uma eventual virada no jogo eleitoral, como se a derrota de Dilma não fosse uma das possibilidades que sempre estiveram presentes. Por isso se disputa eleição, não é? Para ganhar ou para perder. Não para os petistas!
Tentam fazer crer a sociedade que só uma tramóia tira a eleição de Dilma. Esse não é um comportamento sem desdobramentos práticos.
A sabotagem na vitória
Vitorioso em 2002, o PT passou longos oito anos desconstruindo o governo FHC da maneira mais calhorda e mentirosa possível. Porque não bastava a Lula, dentro da lógica normal da democracia, implementar o seu programa, corrigir erros, cometer os seus próprios, acertar. Notem: era preciso não deixar pedra sobre pedra, sustentar que nada de bom, NADA!!!, veio do governo anterior. A edição que o marqueteiro de Dilma fez do debate da Band é uma súmula das mistificações erigidas ao longo desses anos.
Lula não tentou ser melhor do que FHC na comparação — essa é outra mentira. Ele tentou destruir o seu antecessor, como tenta destruir os seus adversários.
Sabotagem na derrota
E que partido agia assim? Aquele mesmo que passara os oito anos na oposição sabotando o… mesmo governo FHC: lutou contra o Real, denunciou o Proer, recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, chutou o traseiro de investidores durante a privatização de estatais, votou contra o Fundef, ATACOU OS PROGRAMAS DE RENDA MÍNIMA, CHAMANDO-OS DE ESMOLA…
Agora, vislumbrada a possibilidade Serra vencer a disputa, o PT faz o quê? Denuncia uma grande conspiração — sabe-se lá de quem; seria dos cristãos? — e, acreditem, já anuncia que, se tudo der errado, retoma o seu velho padrão, aquele celebrizado nos oito anos de oposição: sabotagem!
Uns bobocas dizem: “Ah, você sataniza o PT; é muito mais rigoroso com ele do que com os outros partidos”. Eu não me obrigo a distribuir igualmente as minhas broncas só para mostrar a minha isenção. Não tenho partido, mas tenho lado (democracia, estado de direito, economia de mercado, essas coisas…). Ao longo de oito anos, é consenso que faltou ao PSDB um teor mais ato alto de oposicionismo. O partido não se caracterizou por dizer “não” a tudo o que viesse do governo Lula. Já o PT teve a cara-de-pau de implementar projetos e de adotar práticas que, na oposição, considerava lesivas aos interesses da pátria e do povo.
Falta de compostura
A falta de compostura do presidente da República no processo eleitoral, de que ele é, no Executivo, um magistrado, fala por si. Pensem no exemplo de civilidade que deu FHC em 2002 na iminência da derrota e vejam o comportamento destrambelhado de Lula, mesmo as pesquisas apontando, por enquanto ao menos, a dianteira de Dilma. Aquele presidente soube ganhar e soube perder; Lula não sabe nem uma coisa nem outra. Se vence, tenta destruir o adversário, como tentou; se vislumbra o risco de perder, denuncia uma conspiração e tenta qualificar, de antemão, de ilegítima a eventual vitória dos adversários.
Não vai colar. Nem o PT fará o que bem entende se Dilma ganhar a eleição — e eles já perceberam que a sociedade não aceita arreganhos autoritários — nem Serra terá maculada a sua vitória, se acontecer, por uma clima de intranqüilidade que o PT tenta criar artificialmente.
Essa batalha, ao menos, o lulo-petismo já perdeu. A não-eleição de Dilma no primeiro turno significou um “não” aos arreganhos autoritários do partido e de seu chefe máximo. Lula pode incluir mais essa derrota em sua carreira.
sábado, 9 de outubro de 2010
Institutos de Pesquisas Equivocadas (ou compradas...)
Hoje tem Datafolha: o que esperar num momento em que pesquisas estão sob suspeição
Reinaldo Azevedo, 09/10/2010 às 7:55
A Folha de amanhã traz a primeira pesquisa Datafolha do segundo turno. O resultado deve ser conhecido no fim da tarde ou início da noite deste sábado, quando o jornal começa a chegar às bancas. Os institutos — o Datafolha menos; quase chegou lá na reta finalíssima — não vivem um momento feliz. Nenhum deles acertou todos os números da eleição presidencial no primeiro turno, mesmo considerando as margens de erro. O Ibope naufragou até na boca de urna. Especialistas dizem que o método adotado, o de amostragem por cotas, constitui um problema insanável. Pode ser. De todo modo, os problemas do primeiro turno foram muito além da questão técnica.
Errando ou acertando, as pesquisas continuam a ser uma referência importante do meio político, ainda que sua reputação esteja bastante arranhada pela presença de pistoleiros de aluguel na atividade. O Datafolha pode errar, sim, como errou, mas acho que se esforça para acertar. Há bandidos vendendo “o erro”. Agora falemos um pouco de números.
O Datafolha fez uma simulação de segundo turno um dia antes da eleição: a petista Dilma Rousseff aparecia com 52% das intenções de voto, e o tucano José Serra, com 40%: uma diferença de 12 pontos. Aquele levantamento foi realizado no sábado; o de agora, ontem e anteontem, quatro ou cinco dias depois. Serra terá motivos para saudar qualquer eventual diminuição dessa diferença, e Dilma, nessa hipótese, para se preocupar. Num segundo turno, 12 pontos significam, na verdade, seis; oito querem dizer quatro. A razão é simples: quase sempre um ganha o voto que o outro perde; dificilmente o eleitor migra para o branco ou nulo.
A vontade de palpitar é grande — vocês sabem que sou prudente nessas coisas. O máximo que fiz ao longo deste ano foi afirmar: “Eu não sei quem vai ganhar as eleições; ‘eles’ sabem…” E “eles” quebraram a cara, não? Cedo à tentação: a minha impressão é a de que, se o Datafolha estava certo naquela diferença de 12 pontos, então ela deve ter diminuído bastante. O que quer dizer “bastante”? Ora, 3 pontos já significariam uma redução de 25%; 4, de 33%. E eu apostaria em algo por aí — sempre lembrando que esse levantamento pega o rescaldo da eleição do primeiro turno, mas quase nenhum efeito do reinício do horário eleitoral. A propaganda de Serra melhorou brutalmente!
Institutos alopraram
É preciso tomar cuidado com os institutos? É, sim! Vamos ver que números traz o Datafolha. Sejam quais forem, comparem-nos com aqueles apresentados pelo Ibope no dia 29, há míseros 10 dias. Além de afirmar que Dilma venceria com 55% dos votos válidos no primeiro turno, o instituto dizia que, num eventual segundo turno, a petista teria 55%, contra míseros 32% do tucano — 23 pontos de diferença! Quatro dias depois, o mesmo Ibope deu uma “corrigidinha”: 51% a 37%; a diferença teria caído, de súbito, para 14! Tenham paciência, né!?
Se o Datafolha apontou 12 na véspera da eleição, creio que há motivos para supor que a diferença esteja abaixo dos 10. A razão é simples: a semana foi melhor para Serra do que para Dilma, por motivos óbvios. Como os “analistas” tinham dado a candidatura do tucano por liquidada, ele viveu o triunfo da continuidade da disputa, continuidade que, para ela, soou como derrota. Derrota maior só a dos “analistas”.
Reinaldo Azevedo, 09/10/2010 às 7:55
A Folha de amanhã traz a primeira pesquisa Datafolha do segundo turno. O resultado deve ser conhecido no fim da tarde ou início da noite deste sábado, quando o jornal começa a chegar às bancas. Os institutos — o Datafolha menos; quase chegou lá na reta finalíssima — não vivem um momento feliz. Nenhum deles acertou todos os números da eleição presidencial no primeiro turno, mesmo considerando as margens de erro. O Ibope naufragou até na boca de urna. Especialistas dizem que o método adotado, o de amostragem por cotas, constitui um problema insanável. Pode ser. De todo modo, os problemas do primeiro turno foram muito além da questão técnica.
Errando ou acertando, as pesquisas continuam a ser uma referência importante do meio político, ainda que sua reputação esteja bastante arranhada pela presença de pistoleiros de aluguel na atividade. O Datafolha pode errar, sim, como errou, mas acho que se esforça para acertar. Há bandidos vendendo “o erro”. Agora falemos um pouco de números.
O Datafolha fez uma simulação de segundo turno um dia antes da eleição: a petista Dilma Rousseff aparecia com 52% das intenções de voto, e o tucano José Serra, com 40%: uma diferença de 12 pontos. Aquele levantamento foi realizado no sábado; o de agora, ontem e anteontem, quatro ou cinco dias depois. Serra terá motivos para saudar qualquer eventual diminuição dessa diferença, e Dilma, nessa hipótese, para se preocupar. Num segundo turno, 12 pontos significam, na verdade, seis; oito querem dizer quatro. A razão é simples: quase sempre um ganha o voto que o outro perde; dificilmente o eleitor migra para o branco ou nulo.
A vontade de palpitar é grande — vocês sabem que sou prudente nessas coisas. O máximo que fiz ao longo deste ano foi afirmar: “Eu não sei quem vai ganhar as eleições; ‘eles’ sabem…” E “eles” quebraram a cara, não? Cedo à tentação: a minha impressão é a de que, se o Datafolha estava certo naquela diferença de 12 pontos, então ela deve ter diminuído bastante. O que quer dizer “bastante”? Ora, 3 pontos já significariam uma redução de 25%; 4, de 33%. E eu apostaria em algo por aí — sempre lembrando que esse levantamento pega o rescaldo da eleição do primeiro turno, mas quase nenhum efeito do reinício do horário eleitoral. A propaganda de Serra melhorou brutalmente!
Institutos alopraram
É preciso tomar cuidado com os institutos? É, sim! Vamos ver que números traz o Datafolha. Sejam quais forem, comparem-nos com aqueles apresentados pelo Ibope no dia 29, há míseros 10 dias. Além de afirmar que Dilma venceria com 55% dos votos válidos no primeiro turno, o instituto dizia que, num eventual segundo turno, a petista teria 55%, contra míseros 32% do tucano — 23 pontos de diferença! Quatro dias depois, o mesmo Ibope deu uma “corrigidinha”: 51% a 37%; a diferença teria caído, de súbito, para 14! Tenham paciência, né!?
Se o Datafolha apontou 12 na véspera da eleição, creio que há motivos para supor que a diferença esteja abaixo dos 10. A razão é simples: a semana foi melhor para Serra do que para Dilma, por motivos óbvios. Como os “analistas” tinham dado a candidatura do tucano por liquidada, ele viveu o triunfo da continuidade da disputa, continuidade que, para ela, soou como derrota. Derrota maior só a dos “analistas”.
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Reinaldo Azevedo
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Entrevistas dos candidatos no Jornal Nacional
Comparações estabelecidas por Reinaldo Azevedo: (12.08.2010)
A falácia petralha: aqui estão todas as perguntas feitas aos três candidatos. Comparem!
A entrevista de José Serra ao Jornal Nacional nem havia acabado ainda, e a equipe de Dilma Rousseff que cuida da Internet — aquele coroa saído de Woodstock à frente — já sabia que o tucano tinha tido um desempenho exemplar. E já ocupava o Twitter com a falácia de que William Bonner e Fátima Bernardes haviam “pegado leve” com ele. Trata-se de uma mentira. Mentira evidente e com contestação documentada. Dilma, sim, foi beneficiada pela ausência de uma pergunta: não teve de falar sobre o mensalão. Por quê? Não sei.
Abaixo, reproduzo apenas as perguntas feitas pelos entrevistadores. Cortei as intervenções que são pedaços de frases. Leiam. Digam aí onde estão as facilidades para Serra. Arrisco-me a dizer, e trato disso em outro post, que a patrulha petralha acabou, isto sim, contaminando um tanto o JN.
Cadê a tal “agressividade” de Bonner e Fátima com a petista? Em que questão teriam sido mais duros com ela do que com Serra ou Marina? Onde? Apontem! Dilma teve, isto sim, aos menos duas bolas levantadas na rede: 1) a sua inexperiência eleitoral associada, no entanto, à intimidade com Lula, o que ela soube explorar muito bem; 2) o seu temperamento dito difícil, o que deu a ela a chance de negar e tal, dizendo-se apenas exigente.
Serra soube usar melhor o tempo, com respostas mais objetivas. E expressou-se com correção e clareza. Os petralhas estão tentando transformar o seu excelente desempenho numa suposta conspirata do Jornal Nacional em favor do tucano. Seguem as perguntas feitas aos três. Elas demonstram por que estão mentindo. Diria mais: deveriam estar orgulhosos. Ao contrário do que dizem, acho que a sua patrulha funcionou. Na voz de Fátima e William, eu ouvi boa parte das perguntas que os críticos gostariam de ter feito a Serra. Mas fica para o post abaixo deste.
PERGUNTAS FEITAS A SERRA
1 - William Bonner: Candidato, desde o início desta campanha, o senhor tem procurado evitar críticas ao presidente Lula. O senhor acha que… E em alguns casos fez até elogios a ele… o senhor acha que essa é a postura que o eleitor espera de um candidato da oposição?
2 - William Bonner: Entendo. Agora, candidato, o senhor avalia o risco que o senhor corre de essa sua postura ser interpretada como um receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?
3 - Fátima Bernardes: O senhor tem insistido muito na tecla de que o eleitor deve procurar comparar as biografias dos candidatos que estarão concorrendo, que estão concorrendo nesta eleição. O senhor evita uma comparação de governos. Por exemplo, por quê, entre o governo atual e o governo anterior?
4 - Fátima Bernardes: Mas, por exemplo, avaliar, analisar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?
5 - William Bonner: Uma questão política. Nesta eleição, existem contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras aí nos últimos 16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB. Então, a pergunta é a seguinte: o PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB ou está errando agora quando se alia a esse partido?
6 - William Bonner: Os nomes de petebistas, todos, uma lista muito vasta, começando pelo Maurício Marinho.
7 - William Bonner: Mas não há nenhum constrangimento para o senhor pelo fato de esta aliança por parte do seu partido, o PSDB, ter sido assinada com o PTB pelas mãos do presidente do partido que teve o mandato cassado inclusive com votos de políticos do seu partido, o PSDB? Isso não provoca nenhum tipo de constrangimento?
8 - Fátima Bernardes: Candidato, nesta eleição, quer dizer, o senhor destaca muito a sua experiência política. Mas na hora da escolha do seu vice, houve um certo, um certo conflito com o DEM exatamente porque houve uma demora para o aparecimento desse nome. Muitos dos seus críticos atribuem essa demora ao seu perfil centralizador. O nome do deputado Índio da Costa apareceu 18 dias depois da sua oficialização, da convenção que oficializou a sua candidatura. É… O senhor considera que o deputado, em primeiro mandato, está pronto para ser o vice-presidente, uma função tão importante?
9 - Fátima Bernardes: Eu falei centralizador porque até no seu discurso de despedida do governo de São Paulo, o senhor mesmo explicou sobre essa fama de centralizador.
10 - Fátima Bernardes: Mas a experiência dele é municipal, na verdade, não é? Ele teve três mandatos de vereador, o senhor acha que isso o qualifica?
11 - William Bonner: Candidato, eu gostaria de abordar um pouquinho também da sua passagem pelo governo de São Paulo. O senhor foi governo em São Paulo durante quatro anos, seu partido está no poder em São Paulo há 16 anos. Então é razoável que a gente avalie aqui algumas dessas ações. A primeira que eu colocaria em questão aqui é um hábito que o senhor mesmo tem de criticar o modelo de concessão das estradas federais. De outro lado, os usuários, muitos usuários das estradas estaduais de São Paulo que estão sob regime de concessão, se queixam muito do preço e da frequência com que são obrigados a parar para pedágio, quer dizer, uma quantidade de praças de pedágio que eles consideram excessiva. Pergunta: o senhor pretende levar para o Brasil inteiro esse modelo de concessão de estradas estaduais de São Paulo?
12 - William Bonner: Mas a que o senhor fez motivou críticas quanto ao preço. Então a questão que se impõe é a seguinte, candidato: não existe um meio termo? Ou o cidadão brasileiro tem uma estrada boa e cara ou ele tem uma estrada ruim e barata. Não tem um meio termo nessa história?
13 - William Bonner: Mas esse modelo vai ser exportado para as estradas federais?
14 -Fátima Bernardes - Não, candidato. É que como nós temos um tempo, eu queria dar ao senhor os 30 segundos para o encerramento, para o senhor se dirigir ao…
PERGUNTAS FEITAS A MARINA
1 - Fátima Bernardes: Bom. E o nosso tempo de 12 minutos dessa entrevista começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a sua atuação na vida pública, como ministra, como senadora, foi especificamente voltada para a área do meio ambiente. A senhora não tem uma experiência administrativa em nenhuma outra área, em nenhum outro setor. Como é que a senhora pretende convencer o eleitor de que a sua candidatura é para valer e que ela não é apenas uma candidatura para marcar posição nessa questão do meio ambiente?
2 - Fátima Bernardes: Quer dizer que a senhora acha que essa questão do meio ambiente passa por todos esses outros setores?
3 - William Bonner: Agora, candidata, perdoe, a senhora é candidata do Partido Verde e, até este momento, apresenta-se na eleição sem o apoio de nenhum outro partido. Se a senhora não conseguiu apoio para formar uma aliança agora antes da eleição, como é que a senhora vai formar uma base de sustentação para governar o Brasil depois, dentro do Congresso Nacional?
4 - William Bonner: A questão que eu ia colocar é a seguinte: se a senhora não conseguiu formar essa base de apoio agora, depois da eleição, uma base de apoio que se forme depois da eleição, não tem uma tendência maior ao tal fisiologismo que a senhora mesmo está criticando?
5 - Fátima Bernardes: A senhora olhando para o seu partido, a senhora considera que o PV, ele tem quadros, olhando para os seus colegas, para governar o Brasil?
6 - Fátima Bernardes: Não, eu estou perguntando porque ainda não há um acordo estabelecendo outras alianças.
7 - William Bonner: Candidata, vamos falar então… A senhora mencionou a questão, o papel do partido político. A senhora declarou já em algumas entrevistas que deixou o governo Lula e deixou o PT porque discordava da maneira como era conduzida a política ambiental no governo. No entanto, se nós voltarmos no tempo até aquele período do escândalo do mensalão, a senhora não veio a público para fazer uma condenação veemente daquele desvio moral de alguns integrantes do PT. A pergunta que eu lhe faço é a seguinte: o seu silêncio naquela ocasião não pode ser interpretado de uma certa maneira como uma conivência com aqueles desmandos?
8 - William Bonner: No entanto, o seu desconforto, vamos dizer assim, o seu desconforto ético com o mensalão não foi suficientemente forte para levá-la a deixar o cargo de ministra.
9 - William Bonner: Porque a pergunta que eu lhe dirigia era sobre um momento muito especifico da história e eu queria que a senhora tratasse dessa questão polêmica e não fosse para outro assunto. Eu estou consumindo 30 segundos da entrevista para fazer esse esclarecimento e eu lhe devolverei para a entrevista. Eu só queria que a senhora esclarecesse para mim qual foi e de que maneira a senhora viu a saída de alguns colegas seus então de PT, alguns, inclusive, fundadores do partido, que deixaram o partido indignados na época do mensalão, chorando. Como a senhora viu a ação deles, que não foi a ação que a senhora teve naquela ocasião?
10- Fátima Bernardes: Candidata, vamos abordar, então, um outro tema. Muita gente do governo e fora dele se queixava de que, durante a sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, a liberação de licenças ambientais, elas estavam muito lentas, e que isso, licenças ambientais para obras de infraestrutura, e que isso atrapalhava o desenvolvimento. Como é que a senhora enxergava essas críticas de que essa demora possa ter atrasado essas obras?
11 - Fátima Bernardes: Quer dizer, nesse caso, a senhora está dizendo que no caso da senhora estando no governo, essa lentidão, ela, por exemplo, não vai provocar esse atraso ainda mais ou agravar ainda mais esses gargalos que a senhora citou, econômicos, e provocar, por exemplo, no setor energético, um risco de um novo apagão por demora na liberação dessas licenças?
12 - William Bonner: Candidata, a senhora tem 30 segundos para se dirigir ao eleitor e pedir a ele o seu voto, dando a ele a última mensagem. Por favor.
PERGUNTAS FEITAS A DILMA
1 - William Bonner: Candidata, o seu nome como candidata do PT à Presidência foi indicado diretamente pelo presidente Lula, ele não esconde isso de ninguém. Algumas pessoas criticaram, disseram que foi uma medida autoritária, por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado, a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma até este momento. A senhora se considera preparada para governar o Brasil longe do presidente Lula?
2 - William Bonner: Mas a sua relação com o presidente Lula, a senhora faz questão de dizer que é muito afinada com ele. Junto a isso, o fato de a senhora não ter experiência e ter tido o nome indicado diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que isso poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o presidente Lula atualmente como um tutor de seu governo, caso eleita?
3 - Fátima Bernardes: A senhora falou de temperamento. Alguns críticos, muitos críticos e alguns até aliados falam que a senhora tem um temperamento difícil. O que a gente espera de um presidente é que ele, entre outras coisas, seja capaz de fazer alianças, de negociar, ter habilidade política para fazer acordos. A senhora de que forma pretende que esse temperamento que dizem ser duro e difícil não interfira no seu governo caso eleita?
4 - Fátima Bernardes: Agora, no caso, por exemplo, a senhora falou de não haver cassetete, mas talvez seja a forma de a senhora se comportar. O próprio presidente Lula, este ano, em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora maltratava eles.
5 - Fátima Bernardes: Como mãe eu entendo, mas, por exemplo, como presidente não tem uma hora que tem que ter facilidade de negociar, por exemplo, futuramente no Congresso, futuramente com líderes mundiais, ter um jogo de cintura ai?
6 - William Bonner: O presidente falou em maltratar, não é, candidata?
7 - William Bonner: Não, ele disse isso. A senhora me perdoe, mas o discurso dele está disponível. Ele disse assim: as pessoas diziam que foram maltratadas pela senhora. Mas a gente também não precisa ficar nessa questão até o fim da entrevista, têm outros temas.
8- William Bonner: A senhora tem agora nessa candidatura, além do apoio do presidente, a senhora também tem alianças, né?, formadas para essa sua candidatura. Por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, por exemplo, a do senador Renan Calheiros, por exemplo, da família Sarney. A senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor. São todas figuras da política brasileira que, ao longo de muitos anos, o PT, o seu partido, criticou severamente. Eram considerados como oligarcas pelo PT. Onde foi que o PT errou, ou melhor, quando foi que ele errou: ele errou quando fez aquelas críticas todas ou está errando agora, quando botou todo mundo debaixo do mesmo guarda-chuva?
9 - William Bonner: Vamos lá. Candidata, vamos aproveitar o tempo da melhor maneira. O PT tem hoje já nas costas oito anos de governo. Então é razoável que a gente tente abordar aqui alguma das realizações. Vamos discutir um pouco o desempenho do governo em algumas áreas, começando pela economia. O governo festeja, comemora muito melhoras da área econômica. No entanto, o que a gente observa, é que quando se compara o crescimento do Brasil com países vizinhos, como Uruguai, Argentina, Bolívia, e também com aqueles pares dos Brics, os chamados países emergentes, como China, Índia, Rússia, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor do que o de todos eles. Por quê?
10 - William Bonner: Mais duro do que no Uruguai e na Bolívia, candidata?
11 - William Bonner: Correto, candidata. Mas a Rússia. A Rússia também teve dificuldades e é um país enorme…
12 - Fátima Bernardes: Candidata, vamos falar um pouquinho de outro problema, que é o saneamento. Segundo dados do IBGE, o saneamento no Brasil passou de 46,4% para 53,2% no governo Lula, um aumento pequeno, de 1 ponto percentual mais ou menos, ao ano. Por que o resultado fraco numa área que é muito importante para a população?
13- Fátima Bernardes: Mas, candidata, esses são dados de seis anos. Quer dizer, esse resultado que a senhora está falando… vai aparecer de um ano e meio para cá?
14 - Fátima Bernardes: A gente gostaria agora que a senhora, em 30 segundos, desse uma mensagem ao eleitor, se despedindo então da sua participação no Jornal Nacional.
A falácia petralha: aqui estão todas as perguntas feitas aos três candidatos. Comparem!
A entrevista de José Serra ao Jornal Nacional nem havia acabado ainda, e a equipe de Dilma Rousseff que cuida da Internet — aquele coroa saído de Woodstock à frente — já sabia que o tucano tinha tido um desempenho exemplar. E já ocupava o Twitter com a falácia de que William Bonner e Fátima Bernardes haviam “pegado leve” com ele. Trata-se de uma mentira. Mentira evidente e com contestação documentada. Dilma, sim, foi beneficiada pela ausência de uma pergunta: não teve de falar sobre o mensalão. Por quê? Não sei.
Abaixo, reproduzo apenas as perguntas feitas pelos entrevistadores. Cortei as intervenções que são pedaços de frases. Leiam. Digam aí onde estão as facilidades para Serra. Arrisco-me a dizer, e trato disso em outro post, que a patrulha petralha acabou, isto sim, contaminando um tanto o JN.
Cadê a tal “agressividade” de Bonner e Fátima com a petista? Em que questão teriam sido mais duros com ela do que com Serra ou Marina? Onde? Apontem! Dilma teve, isto sim, aos menos duas bolas levantadas na rede: 1) a sua inexperiência eleitoral associada, no entanto, à intimidade com Lula, o que ela soube explorar muito bem; 2) o seu temperamento dito difícil, o que deu a ela a chance de negar e tal, dizendo-se apenas exigente.
Serra soube usar melhor o tempo, com respostas mais objetivas. E expressou-se com correção e clareza. Os petralhas estão tentando transformar o seu excelente desempenho numa suposta conspirata do Jornal Nacional em favor do tucano. Seguem as perguntas feitas aos três. Elas demonstram por que estão mentindo. Diria mais: deveriam estar orgulhosos. Ao contrário do que dizem, acho que a sua patrulha funcionou. Na voz de Fátima e William, eu ouvi boa parte das perguntas que os críticos gostariam de ter feito a Serra. Mas fica para o post abaixo deste.
PERGUNTAS FEITAS A SERRA
1 - William Bonner: Candidato, desde o início desta campanha, o senhor tem procurado evitar críticas ao presidente Lula. O senhor acha que… E em alguns casos fez até elogios a ele… o senhor acha que essa é a postura que o eleitor espera de um candidato da oposição?
2 - William Bonner: Entendo. Agora, candidato, o senhor avalia o risco que o senhor corre de essa sua postura ser interpretada como um receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?
3 - Fátima Bernardes: O senhor tem insistido muito na tecla de que o eleitor deve procurar comparar as biografias dos candidatos que estarão concorrendo, que estão concorrendo nesta eleição. O senhor evita uma comparação de governos. Por exemplo, por quê, entre o governo atual e o governo anterior?
4 - Fátima Bernardes: Mas, por exemplo, avaliar, analisar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?
5 - William Bonner: Uma questão política. Nesta eleição, existem contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras aí nos últimos 16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB. Então, a pergunta é a seguinte: o PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB ou está errando agora quando se alia a esse partido?
6 - William Bonner: Os nomes de petebistas, todos, uma lista muito vasta, começando pelo Maurício Marinho.
7 - William Bonner: Mas não há nenhum constrangimento para o senhor pelo fato de esta aliança por parte do seu partido, o PSDB, ter sido assinada com o PTB pelas mãos do presidente do partido que teve o mandato cassado inclusive com votos de políticos do seu partido, o PSDB? Isso não provoca nenhum tipo de constrangimento?
8 - Fátima Bernardes: Candidato, nesta eleição, quer dizer, o senhor destaca muito a sua experiência política. Mas na hora da escolha do seu vice, houve um certo, um certo conflito com o DEM exatamente porque houve uma demora para o aparecimento desse nome. Muitos dos seus críticos atribuem essa demora ao seu perfil centralizador. O nome do deputado Índio da Costa apareceu 18 dias depois da sua oficialização, da convenção que oficializou a sua candidatura. É… O senhor considera que o deputado, em primeiro mandato, está pronto para ser o vice-presidente, uma função tão importante?
9 - Fátima Bernardes: Eu falei centralizador porque até no seu discurso de despedida do governo de São Paulo, o senhor mesmo explicou sobre essa fama de centralizador.
10 - Fátima Bernardes: Mas a experiência dele é municipal, na verdade, não é? Ele teve três mandatos de vereador, o senhor acha que isso o qualifica?
11 - William Bonner: Candidato, eu gostaria de abordar um pouquinho também da sua passagem pelo governo de São Paulo. O senhor foi governo em São Paulo durante quatro anos, seu partido está no poder em São Paulo há 16 anos. Então é razoável que a gente avalie aqui algumas dessas ações. A primeira que eu colocaria em questão aqui é um hábito que o senhor mesmo tem de criticar o modelo de concessão das estradas federais. De outro lado, os usuários, muitos usuários das estradas estaduais de São Paulo que estão sob regime de concessão, se queixam muito do preço e da frequência com que são obrigados a parar para pedágio, quer dizer, uma quantidade de praças de pedágio que eles consideram excessiva. Pergunta: o senhor pretende levar para o Brasil inteiro esse modelo de concessão de estradas estaduais de São Paulo?
12 - William Bonner: Mas a que o senhor fez motivou críticas quanto ao preço. Então a questão que se impõe é a seguinte, candidato: não existe um meio termo? Ou o cidadão brasileiro tem uma estrada boa e cara ou ele tem uma estrada ruim e barata. Não tem um meio termo nessa história?
13 - William Bonner: Mas esse modelo vai ser exportado para as estradas federais?
14 -Fátima Bernardes - Não, candidato. É que como nós temos um tempo, eu queria dar ao senhor os 30 segundos para o encerramento, para o senhor se dirigir ao…
PERGUNTAS FEITAS A MARINA
1 - Fátima Bernardes: Bom. E o nosso tempo de 12 minutos dessa entrevista começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a sua atuação na vida pública, como ministra, como senadora, foi especificamente voltada para a área do meio ambiente. A senhora não tem uma experiência administrativa em nenhuma outra área, em nenhum outro setor. Como é que a senhora pretende convencer o eleitor de que a sua candidatura é para valer e que ela não é apenas uma candidatura para marcar posição nessa questão do meio ambiente?
2 - Fátima Bernardes: Quer dizer que a senhora acha que essa questão do meio ambiente passa por todos esses outros setores?
3 - William Bonner: Agora, candidata, perdoe, a senhora é candidata do Partido Verde e, até este momento, apresenta-se na eleição sem o apoio de nenhum outro partido. Se a senhora não conseguiu apoio para formar uma aliança agora antes da eleição, como é que a senhora vai formar uma base de sustentação para governar o Brasil depois, dentro do Congresso Nacional?
4 - William Bonner: A questão que eu ia colocar é a seguinte: se a senhora não conseguiu formar essa base de apoio agora, depois da eleição, uma base de apoio que se forme depois da eleição, não tem uma tendência maior ao tal fisiologismo que a senhora mesmo está criticando?
5 - Fátima Bernardes: A senhora olhando para o seu partido, a senhora considera que o PV, ele tem quadros, olhando para os seus colegas, para governar o Brasil?
6 - Fátima Bernardes: Não, eu estou perguntando porque ainda não há um acordo estabelecendo outras alianças.
7 - William Bonner: Candidata, vamos falar então… A senhora mencionou a questão, o papel do partido político. A senhora declarou já em algumas entrevistas que deixou o governo Lula e deixou o PT porque discordava da maneira como era conduzida a política ambiental no governo. No entanto, se nós voltarmos no tempo até aquele período do escândalo do mensalão, a senhora não veio a público para fazer uma condenação veemente daquele desvio moral de alguns integrantes do PT. A pergunta que eu lhe faço é a seguinte: o seu silêncio naquela ocasião não pode ser interpretado de uma certa maneira como uma conivência com aqueles desmandos?
8 - William Bonner: No entanto, o seu desconforto, vamos dizer assim, o seu desconforto ético com o mensalão não foi suficientemente forte para levá-la a deixar o cargo de ministra.
9 - William Bonner: Porque a pergunta que eu lhe dirigia era sobre um momento muito especifico da história e eu queria que a senhora tratasse dessa questão polêmica e não fosse para outro assunto. Eu estou consumindo 30 segundos da entrevista para fazer esse esclarecimento e eu lhe devolverei para a entrevista. Eu só queria que a senhora esclarecesse para mim qual foi e de que maneira a senhora viu a saída de alguns colegas seus então de PT, alguns, inclusive, fundadores do partido, que deixaram o partido indignados na época do mensalão, chorando. Como a senhora viu a ação deles, que não foi a ação que a senhora teve naquela ocasião?
10- Fátima Bernardes: Candidata, vamos abordar, então, um outro tema. Muita gente do governo e fora dele se queixava de que, durante a sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, a liberação de licenças ambientais, elas estavam muito lentas, e que isso, licenças ambientais para obras de infraestrutura, e que isso atrapalhava o desenvolvimento. Como é que a senhora enxergava essas críticas de que essa demora possa ter atrasado essas obras?
11 - Fátima Bernardes: Quer dizer, nesse caso, a senhora está dizendo que no caso da senhora estando no governo, essa lentidão, ela, por exemplo, não vai provocar esse atraso ainda mais ou agravar ainda mais esses gargalos que a senhora citou, econômicos, e provocar, por exemplo, no setor energético, um risco de um novo apagão por demora na liberação dessas licenças?
12 - William Bonner: Candidata, a senhora tem 30 segundos para se dirigir ao eleitor e pedir a ele o seu voto, dando a ele a última mensagem. Por favor.
PERGUNTAS FEITAS A DILMA
1 - William Bonner: Candidata, o seu nome como candidata do PT à Presidência foi indicado diretamente pelo presidente Lula, ele não esconde isso de ninguém. Algumas pessoas criticaram, disseram que foi uma medida autoritária, por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado, a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma até este momento. A senhora se considera preparada para governar o Brasil longe do presidente Lula?
2 - William Bonner: Mas a sua relação com o presidente Lula, a senhora faz questão de dizer que é muito afinada com ele. Junto a isso, o fato de a senhora não ter experiência e ter tido o nome indicado diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que isso poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o presidente Lula atualmente como um tutor de seu governo, caso eleita?
3 - Fátima Bernardes: A senhora falou de temperamento. Alguns críticos, muitos críticos e alguns até aliados falam que a senhora tem um temperamento difícil. O que a gente espera de um presidente é que ele, entre outras coisas, seja capaz de fazer alianças, de negociar, ter habilidade política para fazer acordos. A senhora de que forma pretende que esse temperamento que dizem ser duro e difícil não interfira no seu governo caso eleita?
4 - Fátima Bernardes: Agora, no caso, por exemplo, a senhora falou de não haver cassetete, mas talvez seja a forma de a senhora se comportar. O próprio presidente Lula, este ano, em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora maltratava eles.
5 - Fátima Bernardes: Como mãe eu entendo, mas, por exemplo, como presidente não tem uma hora que tem que ter facilidade de negociar, por exemplo, futuramente no Congresso, futuramente com líderes mundiais, ter um jogo de cintura ai?
6 - William Bonner: O presidente falou em maltratar, não é, candidata?
7 - William Bonner: Não, ele disse isso. A senhora me perdoe, mas o discurso dele está disponível. Ele disse assim: as pessoas diziam que foram maltratadas pela senhora. Mas a gente também não precisa ficar nessa questão até o fim da entrevista, têm outros temas.
8- William Bonner: A senhora tem agora nessa candidatura, além do apoio do presidente, a senhora também tem alianças, né?, formadas para essa sua candidatura. Por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, por exemplo, a do senador Renan Calheiros, por exemplo, da família Sarney. A senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor. São todas figuras da política brasileira que, ao longo de muitos anos, o PT, o seu partido, criticou severamente. Eram considerados como oligarcas pelo PT. Onde foi que o PT errou, ou melhor, quando foi que ele errou: ele errou quando fez aquelas críticas todas ou está errando agora, quando botou todo mundo debaixo do mesmo guarda-chuva?
9 - William Bonner: Vamos lá. Candidata, vamos aproveitar o tempo da melhor maneira. O PT tem hoje já nas costas oito anos de governo. Então é razoável que a gente tente abordar aqui alguma das realizações. Vamos discutir um pouco o desempenho do governo em algumas áreas, começando pela economia. O governo festeja, comemora muito melhoras da área econômica. No entanto, o que a gente observa, é que quando se compara o crescimento do Brasil com países vizinhos, como Uruguai, Argentina, Bolívia, e também com aqueles pares dos Brics, os chamados países emergentes, como China, Índia, Rússia, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor do que o de todos eles. Por quê?
10 - William Bonner: Mais duro do que no Uruguai e na Bolívia, candidata?
11 - William Bonner: Correto, candidata. Mas a Rússia. A Rússia também teve dificuldades e é um país enorme…
12 - Fátima Bernardes: Candidata, vamos falar um pouquinho de outro problema, que é o saneamento. Segundo dados do IBGE, o saneamento no Brasil passou de 46,4% para 53,2% no governo Lula, um aumento pequeno, de 1 ponto percentual mais ou menos, ao ano. Por que o resultado fraco numa área que é muito importante para a população?
13- Fátima Bernardes: Mas, candidata, esses são dados de seis anos. Quer dizer, esse resultado que a senhora está falando… vai aparecer de um ano e meio para cá?
14 - Fátima Bernardes: A gente gostaria agora que a senhora, em 30 segundos, desse uma mensagem ao eleitor, se despedindo então da sua participação no Jornal Nacional.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Injustica Eleitoral: o olhar torto da tal de Justica Eleitoral
134 milhões ou apenas 7?
Reinaldo Azevedo, 4.08.2010
Um dos textos que escrevi na madrugada de ontem começava assim:
“O petismo só triunfa e tem triunfado porque seus advogados e procuradores na imprensa submetem a política ao que chamo “obscurantismo das luzes”. (…) O mais espantoso é que a reação dos petistas (…) é especialmente virulenta quando se atribui ao partido o que ele realmente pensa e faz. Notem que raramente gritam: “Isso é mentira!” Preferem o tom de denúncia: “Os reacionários estão nos perseguindo!”
Pois é…
No mundo democrático, as eleições servem para que os postulantes sejam confrontados com as verdades dos adversários e com as suas próprias verdades. E qualquer decisão oficial que lembre ou cheire a censura é, evidentemente, impensável. Por aqui, as coisas parecem tomar outro rumo. Por aqui, lembrar a trajetória de um partido e de um governo, suas escolhas, seus vínculos ideológicos, suas afinidades eletivas caminha para o terreno do crime. Mais um pouco, e o sonho petista — expresso na Conferência de Comunicação, no Programa Nacional (Socialista) dos Direitos Humanos e num encontro aí financiado por estatais — vai acabar se cumprindo: uma espécie de “Tribunal da Mídia” vai decidir o que pode e o que não pode ser publicado.
Talvez eu deva pedir o concurso dos ministros do TSE para me instruir no exercício da escrita e na lida com o vocabulário — já que o Houaiss e o Aurélião, suponho, caminham para a obsolescência. Depois da judicialização das eleições, chegaremos à judicialização do dicionário — que é, convenham, aonde chegam as tiranias.
1 - Irã
Se eu escrever que o governo do PT mantém vínculos especiais com um governo que financia o terrorismo em três países — como é o caso do iraniano —, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa:alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
O Houaiss oferece sinônimos para “vínculo” — entre eles, “liame”, “relação”, “relacionamento”. Tendo a achar que Lula mantém “relação”, “relacionamento”, com Ahmadinejad, que, inequivocamente, financia o terrorismo no Líbano, no Iraque e nos territórios palestinos, o que é reconhecido até por Mahmoud Abbas. E dizer que o governo petista mantém “vínculos” com um líder abertamente anti-semita? Posso ou não? Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio PT não tem?
2 - Narcotráfico da Bolívia
Se eu escrever que o governo do PT mantém vínculos especiais com um governo conivente com o narcotráfico — como é o caso do boliviano — estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
O Houaiss etc… (não vou repetir). Acho que o financiamento do BNDES para Evo fazer uma estrada que só serve ao escoamento da produção de folha de coca caracteriza “vínculo especial”. Acho que a facilidade com o que Lula entregou uma unidade da Petrobras a seu “querido” amigo é outra evidência dessa proximidade. Creio ainda que o comprovado crescimento da produção e do refino de coca naquele país, que o incentivo de Evo a novos campos de produção na fronteira com o Brasil e que o fato de quase 80% da cocaína consumida por aqui vir das terras do indígena de araque sejam evidências da conivência daquele governo com o narcotráfico. Talvez o TSE não goste da palavra “vínculo”. Se eu escrever que o PT é simpático a um governo conivente com o narcotráfico, melhora ou piora?
Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?
3 - Tortura e morte
Se eu escrever que os petistas mantêm vínculos especiais com um governo que tortura e mata seus opositores nas masmorras — como é o caso do governo cubano (e também iraniano, claro…) —-, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
O Houaiss etc… Ainda ontem, publiquei as fotos de dois momentos na vida do dissidente cubano Ariel Sigler Amaya (vejam abaixo). As masmorras dos irmãos Castro o transformaram num farrapo. As relações especiais dos petistas com os facinorosos são dadas pela história. Eu poderia dizer, por exemplo, que Lula fundou um foro internacional, o de São Paulo, em parceria com um assassino em massa — no caso, Fidel. Sim, eu sei: há quem ache que ser responsável pela morte de 100 mil pessoas não é suficiente para merecer tal epíteto… É que a morte de um único homem já me choca, no meu conservadorismo atroz.
Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?
4 - Farc
Se eu escrever que os petistas mantêm vínculos com as Farc e que as Farc se dedicam ao narcoterrorismo, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
Vínculo? O Houaiss etc e tal… De fato, não creio que o tribunal tenha alguma dúvida sobre o caráter das Farc. Ou tem? Não, o tal advogado do PT está errado. Elas não são como os nossos favelados, onde há gente boa e gente bandida — como há em qualquer lugar, rico ou pobre. As Farc são compostas apenas de bandidos, de narcoterroristas. E chamo de “vínculo” — ou “liame, relação, relacionamento”:
a - a convivência pregressa do partido com o grupo no Foro de São Paulo;
b - a reunião havida entre petistas e membros das Farc numa chácara em Brasília;
c - o encontro entre Olívio Dutra e Hernan Ramirez, membro das Farc, no Palácio Piratini, no Rio Grande do Sul, em 1999;
d - a presença de outro terrorista, Javier Cifuentes, no Fórum Social Mundial, em 2001, também em Porto Alegre, a convite do petista Renato Simões;
e - o abaixo-assinado para que Olivério Medina, dirigente das Farc, ficasse no Brasil;
f - o requerimento assinado por Dilma para empregar a mulher de Medina no governo federal;
g - os e-mails no computador de Raul Reyes elencando os “amigos” das Farc no governo brasileiro;
h - o e-mail em que Medina conta a Reyes que o emprego dado a sua mulher era uma operação de natureza política;
i - o fato de o governo brasileiro se negar a reconhecer o caráter narcoterrorista das Farc;
j - o conselho que Lula deu aos membros da Farc para que fizessem como o PT e passassem a disputar eleições — como se aqueles valentes estivessem interessados em democracia.
Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?
Valores
É claro que, em considerações dessa natureza, também entram valores. Eu tenho um desprezo absoluto por demagogos, traficantes, terroristas e ditadores. Outros podem achar que eles devem ser tolerados como parte da fauna humana. Há ainda quem os considere bons ou ruins a depender do que está em disputa.
Vejam o caso de Lula: bem poucos ditadores escaparam de seu abraço fraterno —o que, entendo, torna o presidente conivente com essas ditaduras. Segundo a versão planaltina, Lula está construindo um outro eixo de poder no mundo, e não lhe cabe entrar na economia interna de outros países. Quer dizer: em alguns casos, ele entrou. Em Israel, por exemplo, fez proselitismo em favor dos palestinos. Mas não defendeu a democracia no Irã. Não reconhece o governo de Honduras, mas é advogado da causa cubana. Alguns acham que assim está bom. Eu avalio se tratar de uma postura detestável. A sociedade é feita dessa diversidade. Não me parece que caiba à Justiça decidir que valor é ou não aceitável desde que nos limites do que a Constituição resguarda. Países se tornaram grandes libertando as palavras, em vez de aprisioná-las, como Fidel, Ahmadinejad e as Farc fazem com seus adversários.
Se a imprensa, políticos ou, sei lá, entidades não puderem atribuir a um partido aquilo de que esse próprio partido se orgulha — mas não necessariamente com o seu mesmo viés —, então é melhor desligar as urnas e decidir a eleição num tribunal. A gente pode trocar 134 milhões de eleitores por apenas sete, que decidirão, então, por nós…
Reinaldo Azevedo, 4.08.2010
Um dos textos que escrevi na madrugada de ontem começava assim:
“O petismo só triunfa e tem triunfado porque seus advogados e procuradores na imprensa submetem a política ao que chamo “obscurantismo das luzes”. (…) O mais espantoso é que a reação dos petistas (…) é especialmente virulenta quando se atribui ao partido o que ele realmente pensa e faz. Notem que raramente gritam: “Isso é mentira!” Preferem o tom de denúncia: “Os reacionários estão nos perseguindo!”
Pois é…
No mundo democrático, as eleições servem para que os postulantes sejam confrontados com as verdades dos adversários e com as suas próprias verdades. E qualquer decisão oficial que lembre ou cheire a censura é, evidentemente, impensável. Por aqui, as coisas parecem tomar outro rumo. Por aqui, lembrar a trajetória de um partido e de um governo, suas escolhas, seus vínculos ideológicos, suas afinidades eletivas caminha para o terreno do crime. Mais um pouco, e o sonho petista — expresso na Conferência de Comunicação, no Programa Nacional (Socialista) dos Direitos Humanos e num encontro aí financiado por estatais — vai acabar se cumprindo: uma espécie de “Tribunal da Mídia” vai decidir o que pode e o que não pode ser publicado.
Talvez eu deva pedir o concurso dos ministros do TSE para me instruir no exercício da escrita e na lida com o vocabulário — já que o Houaiss e o Aurélião, suponho, caminham para a obsolescência. Depois da judicialização das eleições, chegaremos à judicialização do dicionário — que é, convenham, aonde chegam as tiranias.
1 - Irã
Se eu escrever que o governo do PT mantém vínculos especiais com um governo que financia o terrorismo em três países — como é o caso do iraniano —, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa:alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
O Houaiss oferece sinônimos para “vínculo” — entre eles, “liame”, “relação”, “relacionamento”. Tendo a achar que Lula mantém “relação”, “relacionamento”, com Ahmadinejad, que, inequivocamente, financia o terrorismo no Líbano, no Iraque e nos territórios palestinos, o que é reconhecido até por Mahmoud Abbas. E dizer que o governo petista mantém “vínculos” com um líder abertamente anti-semita? Posso ou não? Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio PT não tem?
2 - Narcotráfico da Bolívia
Se eu escrever que o governo do PT mantém vínculos especiais com um governo conivente com o narcotráfico — como é o caso do boliviano — estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
O Houaiss etc… (não vou repetir). Acho que o financiamento do BNDES para Evo fazer uma estrada que só serve ao escoamento da produção de folha de coca caracteriza “vínculo especial”. Acho que a facilidade com o que Lula entregou uma unidade da Petrobras a seu “querido” amigo é outra evidência dessa proximidade. Creio ainda que o comprovado crescimento da produção e do refino de coca naquele país, que o incentivo de Evo a novos campos de produção na fronteira com o Brasil e que o fato de quase 80% da cocaína consumida por aqui vir das terras do indígena de araque sejam evidências da conivência daquele governo com o narcotráfico. Talvez o TSE não goste da palavra “vínculo”. Se eu escrever que o PT é simpático a um governo conivente com o narcotráfico, melhora ou piora?
Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?
3 - Tortura e morte
Se eu escrever que os petistas mantêm vínculos especiais com um governo que tortura e mata seus opositores nas masmorras — como é o caso do governo cubano (e também iraniano, claro…) —-, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
O Houaiss etc… Ainda ontem, publiquei as fotos de dois momentos na vida do dissidente cubano Ariel Sigler Amaya (vejam abaixo). As masmorras dos irmãos Castro o transformaram num farrapo. As relações especiais dos petistas com os facinorosos são dadas pela história. Eu poderia dizer, por exemplo, que Lula fundou um foro internacional, o de São Paulo, em parceria com um assassino em massa — no caso, Fidel. Sim, eu sei: há quem ache que ser responsável pela morte de 100 mil pessoas não é suficiente para merecer tal epíteto… É que a morte de um único homem já me choca, no meu conservadorismo atroz.
Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?
4 - Farc
Se eu escrever que os petistas mantêm vínculos com as Farc e que as Farc se dedicam ao narcoterrorismo, estou (pode-se assinalar mais de uma alternativa):
( ) falando a verdade;
( ) fazendo uma calúnia;
( ) exercendo um direito garantido pelo Artigo 5º da Constituição;
( ) cometendo crime eleitoral;
( ) sendo indelicado com os petistas.
Vínculo? O Houaiss etc e tal… De fato, não creio que o tribunal tenha alguma dúvida sobre o caráter das Farc. Ou tem? Não, o tal advogado do PT está errado. Elas não são como os nossos favelados, onde há gente boa e gente bandida — como há em qualquer lugar, rico ou pobre. As Farc são compostas apenas de bandidos, de narcoterroristas. E chamo de “vínculo” — ou “liame, relação, relacionamento”:
a - a convivência pregressa do partido com o grupo no Foro de São Paulo;
b - a reunião havida entre petistas e membros das Farc numa chácara em Brasília;
c - o encontro entre Olívio Dutra e Hernan Ramirez, membro das Farc, no Palácio Piratini, no Rio Grande do Sul, em 1999;
d - a presença de outro terrorista, Javier Cifuentes, no Fórum Social Mundial, em 2001, também em Porto Alegre, a convite do petista Renato Simões;
e - o abaixo-assinado para que Olivério Medina, dirigente das Farc, ficasse no Brasil;
f - o requerimento assinado por Dilma para empregar a mulher de Medina no governo federal;
g - os e-mails no computador de Raul Reyes elencando os “amigos” das Farc no governo brasileiro;
h - o e-mail em que Medina conta a Reyes que o emprego dado a sua mulher era uma operação de natureza política;
i - o fato de o governo brasileiro se negar a reconhecer o caráter narcoterrorista das Farc;
j - o conselho que Lula deu aos membros da Farc para que fizessem como o PT e passassem a disputar eleições — como se aqueles valentes estivessem interessados em democracia.
Ou será que o tribunal pretende que eu tenha com a reputação do PT o cuidado que o próprio partido não tem?
Valores
É claro que, em considerações dessa natureza, também entram valores. Eu tenho um desprezo absoluto por demagogos, traficantes, terroristas e ditadores. Outros podem achar que eles devem ser tolerados como parte da fauna humana. Há ainda quem os considere bons ou ruins a depender do que está em disputa.
Vejam o caso de Lula: bem poucos ditadores escaparam de seu abraço fraterno —o que, entendo, torna o presidente conivente com essas ditaduras. Segundo a versão planaltina, Lula está construindo um outro eixo de poder no mundo, e não lhe cabe entrar na economia interna de outros países. Quer dizer: em alguns casos, ele entrou. Em Israel, por exemplo, fez proselitismo em favor dos palestinos. Mas não defendeu a democracia no Irã. Não reconhece o governo de Honduras, mas é advogado da causa cubana. Alguns acham que assim está bom. Eu avalio se tratar de uma postura detestável. A sociedade é feita dessa diversidade. Não me parece que caiba à Justiça decidir que valor é ou não aceitável desde que nos limites do que a Constituição resguarda. Países se tornaram grandes libertando as palavras, em vez de aprisioná-las, como Fidel, Ahmadinejad e as Farc fazem com seus adversários.
Se a imprensa, políticos ou, sei lá, entidades não puderem atribuir a um partido aquilo de que esse próprio partido se orgulha — mas não necessariamente com o seu mesmo viés —, então é melhor desligar as urnas e decidir a eleição num tribunal. A gente pode trocar 134 milhões de eleitores por apenas sete, que decidirão, então, por nós…
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Reinaldo Azevedo
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Democracia é soberania do eleitor e alternancia de governantes
Um texto analítico, de um jornalista conhecido.
OS DOCES TOTALITÁRIOS
Reinaldo Azevedo
15 de junho de 2010
Vamos a um post que tende a ser um tantinho longo, daqueles que costumo classificar de “textos de formação”, seja porque remetem a algumas questões de princípio deste escriba — a minha própria “formação”, portanto —, seja porque podem ser um instrumento a mais a auxiliar o leitor nas suas escolhas. Vamos lá.
Dos princípios
Estou certamente entre os articulistas mais — à falta de melhor palavra, vai esta mesmo — “transparentes” da imprensa. Os leitores sabem o que penso. Ninguém pode se dizer enganado ao entrar nesta página: “Ah, pensava que você fosse outra coisa…” Então é porque não tinha lido direito. As esquerdas de modo geral— e esse bolchevismo à moda Sarney do PT em particular — não têm por que se animar comigo. Se me lêem, e como lêem!, é para ter uma chance a mais de secretar o seu fel. Há quem não consiga viver sem destilar algumas doses diárias de ódio. Questão de gosto.
Qual é a minha escolha em política? É a que preserva ou que faz avançar aqueles que considero valores inegociáveis da democracia. Quando estrilo aqui, ainda que quase sempre com bom humor, é porque avalio que o padrão democrático está sendo ou pode ser arranhado. Os textos estão em arquivo aos milhares. Basta fazer uma consulta.
A minha mais recente cruzada — bem-sucedida, ainda que não inteiramente vitoriosa porque há muita porcaria lá — foi contra o tal Plano Nacional-Socialista dos Direitos humanos, com suas agressões ao direito de propriedade, à Justiça, à imprensa e às liberdades públicas. Enxerguei lá a síntese do modo petista de trabalhar. Escrevi dezenas de textos a respeito porque não gosto do PT? Posso não gostar como conseqüência das escolhas que o partido faz, não por um capricho. Se eles experimentarem aderir à democracia pra valer, aí vamos ver como me comporto. Mas ninguém terá a chance de ver tal hipótese testada na prática.
Eles querem controlar a sociedade, submetendo a Constituição à arbitragem de grupos de pressão; eu a quero soberana, articulada com leis democraticamente votadas. Não há chance de conciliação. No mundo deles, um partido se impõe à sociedade; no meu mundo, a sociedade se impõe aos partidos. E essa minha escolha pauta, evidentemente, muitas outras; leva-me a fazer escolhas.
Lulocentrismo
Chega a ser escandaloso que Lula diga que a cédula eleitoral tem um vazio desde a redemocratização: seu nome não está lá. E que emende: ele agora se chama “Dilma”, tomando-se como o senhor absoluto da política. “Ah, essa é uma posição que ele conquistou democraticamente”, poderia dizer alguém. Pois é: os princípios elencados acima, então, começam a fazer diferença.
Lula foi eleito e reeleito não para subordinar a democracia a seus caprichos — ainda que ela permaneça com seus mecanismos formais intocados —, mas para se subordinar a ela, promovê-la, aperfeiçoá-la. Esse cesarismo tropical é uma derivação teratológica, doente, do embate democrático.
As palavras têm sentido, mesmo quando pronunciadas por Lula. Ele está nos dizendo, em suma, que poderia ter escolhido quem bem entendesse; fosse quem fosse o ungido, e os brasileiros estariam, a seu juízo, referendando o nome indicado. Lula dá um pé no traseiro de 130 milhões de eleitores e afirma a existência de um eleitor só: ele próprio. No mesmo discurso, como vimos, atacou a oposição, que é vítima de dossiês que circulam na petezada, e a imprensa — que, não obstante, têm contribuído para a criação desta nova categoria política e de pensamento: o lulocentrismo.
Ataque à democracia
Esse lulocentrismo, especialmente na crônica política, chega às raias da negação da própria política e do regime democrático. Não é raro — de fato, é muito freqüente — que esbarremos em textos que ficam muito perto de indagar como um candidato de oposição se atreve a disputar eleições se o governo Lula é tão popular. Notável contradição esta, que nasce da contaminação do pensamento por teses muito antigas, de filiação obviamente autoritária, quando não totalitária mesmo.
Ora, por que a democracia é um regime superior a qualquer outro? Porque ela dispõe de instrumentos para vigiar o poder e para substituir o governante — por meio das urnas ou da Justiça. Também está provado que é o único regime que consegue aliar liberdades púbicas públicas a qualidade da gestão. Não havendo qualidade, as tais liberdades se encarregam de fazer a troca, ou no tempo previsto do pleito seguinte ou em razão de algum outro mecanismo legal.
A estarem certos alguns coleguinhas “analistas”, a democracia que conduz à qualidade de gestão anularia a si mesma à medida que um governo aprovado pela maioria caminharia para a eternização, ainda que preenchendo o “vazio” da cédula por um mero avatar do governante popular. Não creio que José Serra ou mesmo Marina Silva estejam na disputa em razão de uma função, sei lá, meramente fática do processo democrático; apenas para justificar a sua existência. Ambos têm propósitos distintos do governo que aí está e devem se considerar mais preparados do que a sua adversária governista.
Mas também é inegável que é a existência de uma oposição no pleno exercício de suas prerrogativas, em condições de vencer uma eleição, que distingue um regime democrático de um regime autoritário. A eficiência não faz uma democracia, como bem sabe a China, por exemplo. Não se duvide: aquele é um governo que “funciona” e que realizou pelo “povo” prodígios numa escala que nem podemos imaginar por aqui. O país tirou da miséria uns 400 milhões de pessoas nos últimos 20 anos. E, não obstante, trata-se de uma ditadura feroz.
Povo teimoso
A análise, com alguma freqüência, se deixa contaminar pela propaganda e pelo bordão “nunca antes na história destepaiz”, repetido, com pequenas variações, na propaganda oficial do governo, na publicidade das estais e até nas mensagens publicitárias de empresas privadas. Nesse contexto, a chance de alternância de poder passou a ser tratada como um exotismo, como um absurdo, como falta de coerência: “Afinal, se eles estão contentes e aprovam o governo, por que votariam num candidato de oposição?”
Os eleitores têm insistido em desapontar os analistas. A disputa, na maioria das pesquisas, está empatada entre Serra e Dilma. É bem possível que os eleitores do tucano não reconheçam nele alguém disposto a desfazer tudo o que está aí, no que estão certos. Pode mesmo haver quem considere que as melhores chances da continuidade das melhorias estão na mudança.
Elemento estranho ao jogo — ao jogo da democracia ao menos — é satanizar a alternância; é supor que há uma contradição inelutável entre aprovar o governo e eleger um eventual opositor. Não na democracia!!! Contraditório com o regime democrático é supor que o normal — ou desejável — é que um governo popular simplesmente homologue o seu sucessor. É a oposição que faz o governo ser governo; é o governo que faz a oposição ser oposição. Eles são protagonistas da mesma narrativa; a história de um não pode ser contada sem a história do outro. Ou estaríamos numa ditadura, ainda que muitos a pretendessem virtuosa.
E não há ditaduras virtuosas.
OS DOCES TOTALITÁRIOS
Reinaldo Azevedo
15 de junho de 2010
Vamos a um post que tende a ser um tantinho longo, daqueles que costumo classificar de “textos de formação”, seja porque remetem a algumas questões de princípio deste escriba — a minha própria “formação”, portanto —, seja porque podem ser um instrumento a mais a auxiliar o leitor nas suas escolhas. Vamos lá.
Dos princípios
Estou certamente entre os articulistas mais — à falta de melhor palavra, vai esta mesmo — “transparentes” da imprensa. Os leitores sabem o que penso. Ninguém pode se dizer enganado ao entrar nesta página: “Ah, pensava que você fosse outra coisa…” Então é porque não tinha lido direito. As esquerdas de modo geral— e esse bolchevismo à moda Sarney do PT em particular — não têm por que se animar comigo. Se me lêem, e como lêem!, é para ter uma chance a mais de secretar o seu fel. Há quem não consiga viver sem destilar algumas doses diárias de ódio. Questão de gosto.
Qual é a minha escolha em política? É a que preserva ou que faz avançar aqueles que considero valores inegociáveis da democracia. Quando estrilo aqui, ainda que quase sempre com bom humor, é porque avalio que o padrão democrático está sendo ou pode ser arranhado. Os textos estão em arquivo aos milhares. Basta fazer uma consulta.
A minha mais recente cruzada — bem-sucedida, ainda que não inteiramente vitoriosa porque há muita porcaria lá — foi contra o tal Plano Nacional-Socialista dos Direitos humanos, com suas agressões ao direito de propriedade, à Justiça, à imprensa e às liberdades públicas. Enxerguei lá a síntese do modo petista de trabalhar. Escrevi dezenas de textos a respeito porque não gosto do PT? Posso não gostar como conseqüência das escolhas que o partido faz, não por um capricho. Se eles experimentarem aderir à democracia pra valer, aí vamos ver como me comporto. Mas ninguém terá a chance de ver tal hipótese testada na prática.
Eles querem controlar a sociedade, submetendo a Constituição à arbitragem de grupos de pressão; eu a quero soberana, articulada com leis democraticamente votadas. Não há chance de conciliação. No mundo deles, um partido se impõe à sociedade; no meu mundo, a sociedade se impõe aos partidos. E essa minha escolha pauta, evidentemente, muitas outras; leva-me a fazer escolhas.
Lulocentrismo
Chega a ser escandaloso que Lula diga que a cédula eleitoral tem um vazio desde a redemocratização: seu nome não está lá. E que emende: ele agora se chama “Dilma”, tomando-se como o senhor absoluto da política. “Ah, essa é uma posição que ele conquistou democraticamente”, poderia dizer alguém. Pois é: os princípios elencados acima, então, começam a fazer diferença.
Lula foi eleito e reeleito não para subordinar a democracia a seus caprichos — ainda que ela permaneça com seus mecanismos formais intocados —, mas para se subordinar a ela, promovê-la, aperfeiçoá-la. Esse cesarismo tropical é uma derivação teratológica, doente, do embate democrático.
As palavras têm sentido, mesmo quando pronunciadas por Lula. Ele está nos dizendo, em suma, que poderia ter escolhido quem bem entendesse; fosse quem fosse o ungido, e os brasileiros estariam, a seu juízo, referendando o nome indicado. Lula dá um pé no traseiro de 130 milhões de eleitores e afirma a existência de um eleitor só: ele próprio. No mesmo discurso, como vimos, atacou a oposição, que é vítima de dossiês que circulam na petezada, e a imprensa — que, não obstante, têm contribuído para a criação desta nova categoria política e de pensamento: o lulocentrismo.
Ataque à democracia
Esse lulocentrismo, especialmente na crônica política, chega às raias da negação da própria política e do regime democrático. Não é raro — de fato, é muito freqüente — que esbarremos em textos que ficam muito perto de indagar como um candidato de oposição se atreve a disputar eleições se o governo Lula é tão popular. Notável contradição esta, que nasce da contaminação do pensamento por teses muito antigas, de filiação obviamente autoritária, quando não totalitária mesmo.
Ora, por que a democracia é um regime superior a qualquer outro? Porque ela dispõe de instrumentos para vigiar o poder e para substituir o governante — por meio das urnas ou da Justiça. Também está provado que é o único regime que consegue aliar liberdades púbicas públicas a qualidade da gestão. Não havendo qualidade, as tais liberdades se encarregam de fazer a troca, ou no tempo previsto do pleito seguinte ou em razão de algum outro mecanismo legal.
A estarem certos alguns coleguinhas “analistas”, a democracia que conduz à qualidade de gestão anularia a si mesma à medida que um governo aprovado pela maioria caminharia para a eternização, ainda que preenchendo o “vazio” da cédula por um mero avatar do governante popular. Não creio que José Serra ou mesmo Marina Silva estejam na disputa em razão de uma função, sei lá, meramente fática do processo democrático; apenas para justificar a sua existência. Ambos têm propósitos distintos do governo que aí está e devem se considerar mais preparados do que a sua adversária governista.
Mas também é inegável que é a existência de uma oposição no pleno exercício de suas prerrogativas, em condições de vencer uma eleição, que distingue um regime democrático de um regime autoritário. A eficiência não faz uma democracia, como bem sabe a China, por exemplo. Não se duvide: aquele é um governo que “funciona” e que realizou pelo “povo” prodígios numa escala que nem podemos imaginar por aqui. O país tirou da miséria uns 400 milhões de pessoas nos últimos 20 anos. E, não obstante, trata-se de uma ditadura feroz.
Povo teimoso
A análise, com alguma freqüência, se deixa contaminar pela propaganda e pelo bordão “nunca antes na história destepaiz”, repetido, com pequenas variações, na propaganda oficial do governo, na publicidade das estais e até nas mensagens publicitárias de empresas privadas. Nesse contexto, a chance de alternância de poder passou a ser tratada como um exotismo, como um absurdo, como falta de coerência: “Afinal, se eles estão contentes e aprovam o governo, por que votariam num candidato de oposição?”
Os eleitores têm insistido em desapontar os analistas. A disputa, na maioria das pesquisas, está empatada entre Serra e Dilma. É bem possível que os eleitores do tucano não reconheçam nele alguém disposto a desfazer tudo o que está aí, no que estão certos. Pode mesmo haver quem considere que as melhores chances da continuidade das melhorias estão na mudança.
Elemento estranho ao jogo — ao jogo da democracia ao menos — é satanizar a alternância; é supor que há uma contradição inelutável entre aprovar o governo e eleger um eventual opositor. Não na democracia!!! Contraditório com o regime democrático é supor que o normal — ou desejável — é que um governo popular simplesmente homologue o seu sucessor. É a oposição que faz o governo ser governo; é o governo que faz a oposição ser oposição. Eles são protagonistas da mesma narrativa; a história de um não pode ser contada sem a história do outro. Ou estaríamos numa ditadura, ainda que muitos a pretendessem virtuosa.
E não há ditaduras virtuosas.
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Reinaldo Azevedo
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Desculpem, mas nao resisti...
...à possibilidade que era oferecida de postar estas breves e profundas palavras, tal como transcritas por um jornalista cruel, implacável, talvez vingativo, mas sempre certeiro e com comentários precisos, diretos ao alvo.
Acho que em todo caso o alvo se presta, se oferece, eu diria, para esse tipo de comentário. Não precisava dizer essas coisas assim com tanta convicção...
Paulo Roberto de Almeida
MINHA NOSSA SENHORA DE FORMA GERAL!!!
Reinaldo Azevedo, 9 de maio de 2010
Três perguntas e três respostas da entrevista da pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff à revista IstoÉ. Volto em seguida:
A sra. é católica?
Sou. Quer dizer, sou antes de tudo cristã. Num segundo momento sou católica. Tive minha formação no Colégio Sion.
(…)
A sra. cederia a possibilidade de uma reeleição para o presidente Lula, no caso de ele querer se candidatar em 2014?
Ele já me disse para não responder a essa pergunta.
Até quando a sra. vai obedecer cegamente o que ele manda?
Lula não exige obediências cegas.
Comento (RA)
Só mesmo apelando à Nossa Senhora de Forma Geral, padroeira dos que, não tendo nada a dizer, precisam afetar profundidade. Indagada dia desses se acreditava em Deus, Dilma tergiversou um pouco e disse crer numa “força superior”. Bem, eu também creio em forças superiores, especialmente aquelas alheias à minha vontade — e tenho a certeza de que não são Deus. Creio, por exemplo, na Lei da Gravidade. É ou não é “superior”? O quadrado da hipotenusa ser igual à soma dos quadrados dos catetos também está superiormente estabelecido.
Conhecem-se católicos de muitos tipos, ligados às mais diversas correntes. O “Catolicismo de Segundo Momento” é uma inovação ou um achado sócio-teológico que requer descrição e estudo. Talvez seja aquele que só existe em períodos pré-eleitorais, quando candidatos visitam igrejas, grupos religiosos, persignam-se…
Numa outra entrevista, Dilma já disse que reza quando o avião balança. Compreendo. “Primus in orbe deos fecit timor”. “Foi o medo que primeiro fez os deuses”, escreveu Estácio. Dada a relação estabelecida pela companheira, a progressiva segurança nos vôos tende a levar Deus à irrelevância.
Quanto às duas outras respostas, dizer o quê? Orar para a Santa da Retórica Desamparada. Lula faz até o elenco das perguntas que Dilma não deve responder. Se, como ela diz, o presidente não exige obediências cegas, então a cegueira lhe é oferecida de bom grado.
Que coisa espantosa! Nunca antes da história das eleições!
Acho que em todo caso o alvo se presta, se oferece, eu diria, para esse tipo de comentário. Não precisava dizer essas coisas assim com tanta convicção...
Paulo Roberto de Almeida
MINHA NOSSA SENHORA DE FORMA GERAL!!!
Reinaldo Azevedo, 9 de maio de 2010
Três perguntas e três respostas da entrevista da pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff à revista IstoÉ. Volto em seguida:
A sra. é católica?
Sou. Quer dizer, sou antes de tudo cristã. Num segundo momento sou católica. Tive minha formação no Colégio Sion.
(…)
A sra. cederia a possibilidade de uma reeleição para o presidente Lula, no caso de ele querer se candidatar em 2014?
Ele já me disse para não responder a essa pergunta.
Até quando a sra. vai obedecer cegamente o que ele manda?
Lula não exige obediências cegas.
Comento (RA)
Só mesmo apelando à Nossa Senhora de Forma Geral, padroeira dos que, não tendo nada a dizer, precisam afetar profundidade. Indagada dia desses se acreditava em Deus, Dilma tergiversou um pouco e disse crer numa “força superior”. Bem, eu também creio em forças superiores, especialmente aquelas alheias à minha vontade — e tenho a certeza de que não são Deus. Creio, por exemplo, na Lei da Gravidade. É ou não é “superior”? O quadrado da hipotenusa ser igual à soma dos quadrados dos catetos também está superiormente estabelecido.
Conhecem-se católicos de muitos tipos, ligados às mais diversas correntes. O “Catolicismo de Segundo Momento” é uma inovação ou um achado sócio-teológico que requer descrição e estudo. Talvez seja aquele que só existe em períodos pré-eleitorais, quando candidatos visitam igrejas, grupos religiosos, persignam-se…
Numa outra entrevista, Dilma já disse que reza quando o avião balança. Compreendo. “Primus in orbe deos fecit timor”. “Foi o medo que primeiro fez os deuses”, escreveu Estácio. Dada a relação estabelecida pela companheira, a progressiva segurança nos vôos tende a levar Deus à irrelevância.
Quanto às duas outras respostas, dizer o quê? Orar para a Santa da Retórica Desamparada. Lula faz até o elenco das perguntas que Dilma não deve responder. Se, como ela diz, o presidente não exige obediências cegas, então a cegueira lhe é oferecida de bom grado.
Que coisa espantosa! Nunca antes da história das eleições!
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Reinaldo Azevedo
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Ilegalidades eleitorais: continuando os abusos
CUMPRE AO MINISTÉRIO PÚBLICO DEIXAR CLARO QUE FANFARRÃO MINÉSIO JÁ FOI LONGE DEMAIS!
Reinaldo Azevedo, 3.05.2010
Lula, o presidente que chora sobre a institucionalidade derramada, usou a rede de rádio e televisão para fazer propaganda do seu governo, de si mesmo e de sua candidata à Presidência da República, por intermédio da qual os brasileiros não permitirão que nada mude, segundo o convite que ele fez. Nas festas promovidas pelas centrais sindicais no Primeiro de Maio, dinheiro de empresas públicas - e de empresas privadas também; já chego lá - foi empregado para fazer campanha eleitoral rasgada, sem qualquer subterfúgio ou tentativa de esconder. Lula incitava a massa a gritar o nome do Dilma - na festa da CUT, deu certo; afinal, estava em casa. Na da Força Sindical, por exemplo, o tal Paulinho tentou puxar o coro “Dil-má, Dilm-má”, mas cantou sozinho. O conjunto já passou do estágio da propaganda eleitoral ilegal. Estamos diante da sem-vergonhice política. E é hora de o Ministério Público entrar em ação.
As oposições disseram que vão recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral contra o pronunciamento e os comícios financiados pelas estatais. É uma obrigação, mas ainda é pouco. Lula e os dirigentes das empresas públicas têm de ser chamados à sua responsabilidade. Ele por ter feito mau uso da prerrogativa que tem de convocar a rede de rádio e TV; os dirigentes por terem dado dinheiro para uma festa que já se afigurava político-eleitoreira. De maneira indireta, dirigentes das centrais já haviam declarado seu apoio a Dilma, especialmente os da CUT e da Força Sindical. Se Lula e a candidata eram esperados como as grandes estrelas dos eventos, o resto já se sabia de antemão.
Se os dirigentes do Banco do Brasil, Petrobras, CEF, BNDES e, pasmem!, até da Infraero deram dinheiro para as centrais, não podem alegar ignorância. Se ignorantes, não podem dirigir empresas públicas; se espertos, então financiaram uma patuscada eleitoreira. Em qualquer dos casos, têm de responder por isso: ou com a demissão ou com proceso legal. E o mesmo vale para Lula. Ele conhece as regras para uso da rede. Não se destina à finalidade que lhe deu o demiurgo. Se um presidente da República pode usar o bem público - entrar em rede custa dinheiro - para falar bem de si e mal dos adversários, os adversários têm de ter acesso à mesma rede para, quando menos, se defender. As concessões de radiodifusão são feitas pelo ESTADO BRASILEIRO, não pelo governo. E, então, é chegada a hora de chamar à responsabilidade quem tem.
A Justiça Eleitoral só age quando provocada. O Tribunal Superior Eleitoral não vai se manifestar: “Olhem, isso não pode!” As oposições precisam apresentar a denúncia para que ela se manifeste. Mas o Ministério Público Federal não precisa ser provocado por ninguém. Tem a competência para agir. Não porque eu quero. Na página da Procuradoria Geral da República, lemos qual é a competência do órgão, a saber:
Cabe ao MP a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis1, da ordem jurídica e do regime democrático.
As funções do MP incluem também a fiscalização da aplicação das leis, a defesa do patrimônio público e o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição.
O Ministério Público tem autonomia na estrutura do Estado: não pode ser extinto ou ter atribuições repassadas a outra instituição. Seus membros (procuradores e promotores) têm liberdade para atuar segundo suas convicções, com base na lei. São as chamadas autonomia institucional e independência funcional do Ministério Público, asseguradas pela Constituição.
As atribuições e os instrumentos de atuação do Ministério Público estão previstos no artigo 129 da Constituição Federal, dentro do capítulo “Das funções essenciais à Justiça”. As funções e atribuições do MPU estão dispostas na Lei Complementar nº 75/93.
Parece não haver dúvidas quando à sua função e à razão por que deve atuar. No aludido Artigo 129 da Constituição, lemos:
São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
A Lei 75/93 é a Lei Orgânica do Ministério Público Federal. A íntegra, para quem quiser, está aqui. Faço alguns destaques:
Art. 2º Incumbem ao Ministério Público as medidas necessárias para garantir o respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados pela Constituição Federal.
Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público da União:
I - a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis, considerados, dentre outros, os seguintes fundamentos e princípios:
a) a soberania e a representatividade popular;
b) os direitos políticos;
c) os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil;
(…)
h) a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, relativas à administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União;
O Ministério Público Federal, pois, não precisa que ninguém o provoque. Ele está, se me permitem o gracejo, permanentemente “provocado”, bastando, para isso, que as autoridades públicas não se pautem pela observância dos princípios acima. E foi precisamente o que se deu nos dois casos: a fala oficial de Lula e a festança das centrais. No primeiro caso, porque se tratou de mobilização da máquina oficial fora do que está prescrito; no segundo, porque empresas públicas financiaram propaganda política. Já basta o abuso da propaganda das empresas estatais na TV e no rádio: não vendem seus produtos, mas o Brasil Grande de Lula.
Se o Ministério Público ficar calado, então estará dando um sinal verde para a esculhambação. Estará a nos dizer que o Executivo tudo pode, ao arrepio da lei. Ou não se sentirá elem inclinado a fazer “a defesa do patrimônio público” e a zelar “efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição“?
Ao Ministério Público Federal, dada a sua investidura, cumpre dizer ao presidente chorão que, desta vez, ele foi além do próprio Lula, que já tinha ido longe demais “nestepaiz”. As leis existem, e somos todos seus servos. Ele também.
Ou o Ministério Público Federal atua ou se cobrirá de opróbrio diante da sem-cerimônia de Fanfarrão Minésio.
PS - As empresas privadas que financiaram as centrais não podem ser responsabilizadas, claro!, pelo “mau” uso do dinheiro, embora, creio, todas soubessem o que estava em curso. A menos que seus comandantes me digam que é a ingenuidade que as faz serem o que são…
Fica uma boa lição, acho. As centrais de trabalhadores são ricas o bastante para financiar seus próprios eventos. Eu sou a favor da hormonia entre capital e trabalho, é evidente. Só não vejo como o capítal possa financiar os folguedos nem tão republicanos do trabalho sem deixar a suspeita de que espera que o trabalho venha a financiar os folguedos nem tão republicanos do capital…
Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo, 3.05.2010
Lula, o presidente que chora sobre a institucionalidade derramada, usou a rede de rádio e televisão para fazer propaganda do seu governo, de si mesmo e de sua candidata à Presidência da República, por intermédio da qual os brasileiros não permitirão que nada mude, segundo o convite que ele fez. Nas festas promovidas pelas centrais sindicais no Primeiro de Maio, dinheiro de empresas públicas - e de empresas privadas também; já chego lá - foi empregado para fazer campanha eleitoral rasgada, sem qualquer subterfúgio ou tentativa de esconder. Lula incitava a massa a gritar o nome do Dilma - na festa da CUT, deu certo; afinal, estava em casa. Na da Força Sindical, por exemplo, o tal Paulinho tentou puxar o coro “Dil-má, Dilm-má”, mas cantou sozinho. O conjunto já passou do estágio da propaganda eleitoral ilegal. Estamos diante da sem-vergonhice política. E é hora de o Ministério Público entrar em ação.
As oposições disseram que vão recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral contra o pronunciamento e os comícios financiados pelas estatais. É uma obrigação, mas ainda é pouco. Lula e os dirigentes das empresas públicas têm de ser chamados à sua responsabilidade. Ele por ter feito mau uso da prerrogativa que tem de convocar a rede de rádio e TV; os dirigentes por terem dado dinheiro para uma festa que já se afigurava político-eleitoreira. De maneira indireta, dirigentes das centrais já haviam declarado seu apoio a Dilma, especialmente os da CUT e da Força Sindical. Se Lula e a candidata eram esperados como as grandes estrelas dos eventos, o resto já se sabia de antemão.
Se os dirigentes do Banco do Brasil, Petrobras, CEF, BNDES e, pasmem!, até da Infraero deram dinheiro para as centrais, não podem alegar ignorância. Se ignorantes, não podem dirigir empresas públicas; se espertos, então financiaram uma patuscada eleitoreira. Em qualquer dos casos, têm de responder por isso: ou com a demissão ou com proceso legal. E o mesmo vale para Lula. Ele conhece as regras para uso da rede. Não se destina à finalidade que lhe deu o demiurgo. Se um presidente da República pode usar o bem público - entrar em rede custa dinheiro - para falar bem de si e mal dos adversários, os adversários têm de ter acesso à mesma rede para, quando menos, se defender. As concessões de radiodifusão são feitas pelo ESTADO BRASILEIRO, não pelo governo. E, então, é chegada a hora de chamar à responsabilidade quem tem.
A Justiça Eleitoral só age quando provocada. O Tribunal Superior Eleitoral não vai se manifestar: “Olhem, isso não pode!” As oposições precisam apresentar a denúncia para que ela se manifeste. Mas o Ministério Público Federal não precisa ser provocado por ninguém. Tem a competência para agir. Não porque eu quero. Na página da Procuradoria Geral da República, lemos qual é a competência do órgão, a saber:
Cabe ao MP a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis1, da ordem jurídica e do regime democrático.
As funções do MP incluem também a fiscalização da aplicação das leis, a defesa do patrimônio público e o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição.
O Ministério Público tem autonomia na estrutura do Estado: não pode ser extinto ou ter atribuições repassadas a outra instituição. Seus membros (procuradores e promotores) têm liberdade para atuar segundo suas convicções, com base na lei. São as chamadas autonomia institucional e independência funcional do Ministério Público, asseguradas pela Constituição.
As atribuições e os instrumentos de atuação do Ministério Público estão previstos no artigo 129 da Constituição Federal, dentro do capítulo “Das funções essenciais à Justiça”. As funções e atribuições do MPU estão dispostas na Lei Complementar nº 75/93.
Parece não haver dúvidas quando à sua função e à razão por que deve atuar. No aludido Artigo 129 da Constituição, lemos:
São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
A Lei 75/93 é a Lei Orgânica do Ministério Público Federal. A íntegra, para quem quiser, está aqui. Faço alguns destaques:
Art. 2º Incumbem ao Ministério Público as medidas necessárias para garantir o respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados pela Constituição Federal.
Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público da União:
I - a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis, considerados, dentre outros, os seguintes fundamentos e princípios:
a) a soberania e a representatividade popular;
b) os direitos políticos;
c) os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil;
(…)
h) a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, relativas à administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União;
O Ministério Público Federal, pois, não precisa que ninguém o provoque. Ele está, se me permitem o gracejo, permanentemente “provocado”, bastando, para isso, que as autoridades públicas não se pautem pela observância dos princípios acima. E foi precisamente o que se deu nos dois casos: a fala oficial de Lula e a festança das centrais. No primeiro caso, porque se tratou de mobilização da máquina oficial fora do que está prescrito; no segundo, porque empresas públicas financiaram propaganda política. Já basta o abuso da propaganda das empresas estatais na TV e no rádio: não vendem seus produtos, mas o Brasil Grande de Lula.
Se o Ministério Público ficar calado, então estará dando um sinal verde para a esculhambação. Estará a nos dizer que o Executivo tudo pode, ao arrepio da lei. Ou não se sentirá elem inclinado a fazer “a defesa do patrimônio público” e a zelar “efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição“?
Ao Ministério Público Federal, dada a sua investidura, cumpre dizer ao presidente chorão que, desta vez, ele foi além do próprio Lula, que já tinha ido longe demais “nestepaiz”. As leis existem, e somos todos seus servos. Ele também.
Ou o Ministério Público Federal atua ou se cobrirá de opróbrio diante da sem-cerimônia de Fanfarrão Minésio.
PS - As empresas privadas que financiaram as centrais não podem ser responsabilizadas, claro!, pelo “mau” uso do dinheiro, embora, creio, todas soubessem o que estava em curso. A menos que seus comandantes me digam que é a ingenuidade que as faz serem o que são…
Fica uma boa lição, acho. As centrais de trabalhadores são ricas o bastante para financiar seus próprios eventos. Eu sou a favor da hormonia entre capital e trabalho, é evidente. Só não vejo como o capítal possa financiar os folguedos nem tão republicanos do trabalho sem deixar a suspeita de que espera que o trabalho venha a financiar os folguedos nem tão republicanos do capital…
Reinaldo Azevedo
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domingo, 2 de maio de 2010
Continua o festival de ilegalidades eleitorais
Do blog do jornalista (odiado pelos petralhas; eu apenas o considero um jornalista inteligente, não mais do que isso) Reinaldo Azevedo...
CHORA, LULA, CHORA! CHORA QUE ESTÁ CHEGANDO A SUA HORA! OU: ESTATAIS BANCAM CAMPANHA DE “DIL-MÁ, DIL-MÁ”
Domingo, 2 de maio de 2010
LULA chora ao lado de uma Dilma à beira do êxtase. A grande vítima é a legalidade
Poderia começar este texto de várias maneiras, mas começo assim: Paulo Pereira da Silva, o deputado Paulinho da Força (PDT), que se diz trabalhador, sobe no palanque na Força Sindical, organizado com patrocínio das estatais, e puxa o coro:
“Olê, olê, olê, olá, Dil-má, Dil-má… Cantou sozinho. Os presentes não o acompanham. Já havia tentando antes um “Lu-lá/ Lu-lá”, e já tinha dado xabu. Aconteceu na festa do 1º de Maio da Força Sindical, uma das três a que o presidente e sua “criatura eleitoral” compareceram ontem. Esperava-se a presença de mais de um milhão de pessoas. Apareceu menos da metade: 450 mil foram assistir ao show do KLB e participar do sorteio de carros e apartamentos. Os outros 550 mil acharam que tinha coisa melhor para fazer.
Isso não impediu que Paulinho BNDES (quem não lembra do que falo clica aqui) fizesse um discurso bem próprio do Primeiro de Maio, provando que não se tratava de um ato político-eleitoral ilegal, patrocinado por estatais:
Nós vamos fábrica por fábrica falar que esse sujeito (José Serra) não pode ser candidato. Toda vez que nós procuramos o ex-governador para sermos recebidos, ele não recebe… Uma coisa é fazer discurso para a imprensa, outra coisa é vir aqui enfrentar os trabalhadores e dizer por que ele não gosta dos trabalhadores. Por isso eu quero dizer, ministra Dilma, que nós, trabalhadores, vamos andar fábrica por fábrica, empresa por empresa, loja por loja, nós vamos andar o Brasil, e dizer que esse sujeito que tem medo de trabalhador não pode ser candidato para depois tirar os direitos dos trabalhadores.
Quem financiava esse discurso do notório Paulinho? A Petrobras, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e a Eletrobras.
Na sua vez de discursar, Lula, muito respeitador da lei (!!!), recorreu à sutileza habitual. ReferIndo-se às eleições, afirmou: “Vocês sabem quem eu quero”. Já o ministro Carlos Lupi (Trabalho) e Antonio Neto, presidente da CGBT, fizeram como Paulinho: campanha eleitoral escancarada. Os petistas rumaram em seguida para a festa da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Mais discursos, mais campanha, mais ilegalidades. E o grande momento do Demiurgo estava reservado para o terceiro evento do dia: o da CUT, que reuniu apenas 10 mil pessoas.
Àquela penca de estatais, somou-se uma outra no financiamento do evento da central petista: o BNDES. Ora, não sejam mesquinhos! Pensem bem: por que um banco de fomento não iria fomentar um evento para promover a candidatura da petista Dilma Rousseff? Faz sentido, não faz? Até a Infraero entrou com grana. Sentindo-se, aí sim, em casa, Lula carregou nas tintas e nas lágrimas. Há uma coisa estranha neste senhor: ele se emociona com as barbaridades que faz.
O maior legado que eu vou deixar para esse país não é eleger a pessoa que vai me suceder, o que farei com muito orgulho. Quem vier depois de mim vai ter que trabalhar muito mais porque o povo aprendeu a cobrar. Eu tenho consciência do que vai acontecer neste país, tenho consciência. Eu sei que a legislação não me permite falar em candidatos porque só depois de junho…
No terreno da CUT, adivinhem o que aconteceu… Ora, os militantes começaram a gritar “Dil-má/ Dil-má”. Uma observação importante: a ilegalidade de que Lula participou ontem continuará ilegal mesmo depois de junho.
Leiam este trecho do Globo Online:
No início da noite, em evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), ele voltou à carga. Depois de destacar realizações de seu governo, disse que não é possível “mudar, em oito anos, 500 anos de desigualdade”. “É preciso mais tempo, mas com sequenciamento”, afirmou. Logo a seguir voltou-se para a correligionária: “Dilma, você ouviu o que eu disse?”
Ao longo do dia, ainda sobrou espaço para performances circenses de Aloizio Mercandante, que também atacou Serra, e de Marta Suplicy, segundo quem, desta vez, “o Bigode vai ganhar do Picolé do Chuchu”. Vocês sabem que, quando esta grande dama decide ser elegante, não tem pra ninguém. Disse que quer ser a primeira senadora eleita por São Paulo. Não há duvida: trata-se de campanha eleitoral explícita, financiada com dinheiro de estatais. Tão logo as candidaturas dessa gente toda sejam oficializadas, cabe recorrer à ustiça Eleitoral para impugná-las.
Por muito menos, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato de governadores.
No comício da CUT, ao falar de seu governo, Lula chorou. Suas lágrimas encharcaram a Constituição, sobre a qual pisoteava, e a Lei Eleitoral, de que, mais uma vez, ele fazia chacota. Essa penca de ilegalidades se deu dois dias depois de fazer campanha eleitoral para a sua candidata em rede nacional de rádio e televisão, oportunidade em que, contrariado a legislação que regula esse tipo de intervenção, fez propaganda pessoal e atacou as oposições.
Este é o nosso Hugo Chávez emotivo, cheio de amor para dar. Alguns bobos me perguntam ou se espantam de vez em quando: “Mas você não reconhece nada de bom no governo Lula?” Claro que sim. Já reconheci. Basta saber ler. Mas não peçam que considere corriqueira a atuação de um chefe de estado que desmoraliza as leis, que vilipendia o texto constitucional, que transgride as regras da convivência democrática.
SE O TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL PERMITIR QUE ESSES ATOS RESTEM IMPUNES, ENTÃO ESTARÁ INSTAURADO O VALE-TUDO NO PAÍS.
Prosseguindo na sua orgia de ilegalidades, Lula afirmou, no comício da CUT, esperar que o convidem para 1º de Maio de 2011:
“Se for alguém ruim (na Presidência), a gente vem aqui meter o pau. Se for alguém bom, a gente vem aqui ajudar e acompanhar”
E os cutistas gritaram “Dil-má/Dil-má”.
Ora, “alguém ruim”, é evidente, seria Serra (afinal, como ele próprio disse, todo mundo sabe o que ele quer). Eis aí revelado, em frase tão curta, o que há de intolerável nessa gente. Lula está anunciando que, caso Dilma perca a eleição, o caminho do partido já está traçado: tentar sabotar o governo de maneira metódica, sistemática, cotidiana. E o PT fez ou faz outra coisa quando na oposição?
Por que diabos um presidente popular, que fez um governo bem-avaliado pela maioria dos brasileiros, não pode se manter nos limites das leis que o elegeram e que garantiram o seu poder? Porque isso vai contra a natureza do PT e do próprio Lula, que vêem no arcabouço legal não os instrumentos de seu triunfo, mas empecilhos a seus delírios de poder absoluto. Lula só inventou uma candidata do nada porque pretende, como já deixou claro tantas vezes, o terceiro mandato por procuração. E só por isso tenta fazer uma disputa contra FHC, tática até agora rejeitada pelo eleitorado: precisa desesperadamente, na sua imaginação, vencer o ex-presidente ao menos uma vez.
Está chegando a hora de Lula deixar o governo. E ele já se prepara para ser ou o condestável do próximo ou o líder da sabotagem. Por enquanto, ele está sabotando apenas as leis. Ou os tribunais se encarregam de pôr limites neste senhor, ou as eleições brasileiras têm tudo para ser as mais sujas de nossa história. E não por causa da Internet.
CHORA, LULA, CHORA! CHORA QUE ESTÁ CHEGANDO A SUA HORA! OU: ESTATAIS BANCAM CAMPANHA DE “DIL-MÁ, DIL-MÁ”
Domingo, 2 de maio de 2010
LULA chora ao lado de uma Dilma à beira do êxtase. A grande vítima é a legalidade
Poderia começar este texto de várias maneiras, mas começo assim: Paulo Pereira da Silva, o deputado Paulinho da Força (PDT), que se diz trabalhador, sobe no palanque na Força Sindical, organizado com patrocínio das estatais, e puxa o coro:
“Olê, olê, olê, olá, Dil-má, Dil-má… Cantou sozinho. Os presentes não o acompanham. Já havia tentando antes um “Lu-lá/ Lu-lá”, e já tinha dado xabu. Aconteceu na festa do 1º de Maio da Força Sindical, uma das três a que o presidente e sua “criatura eleitoral” compareceram ontem. Esperava-se a presença de mais de um milhão de pessoas. Apareceu menos da metade: 450 mil foram assistir ao show do KLB e participar do sorteio de carros e apartamentos. Os outros 550 mil acharam que tinha coisa melhor para fazer.
Isso não impediu que Paulinho BNDES (quem não lembra do que falo clica aqui) fizesse um discurso bem próprio do Primeiro de Maio, provando que não se tratava de um ato político-eleitoral ilegal, patrocinado por estatais:
Nós vamos fábrica por fábrica falar que esse sujeito (José Serra) não pode ser candidato. Toda vez que nós procuramos o ex-governador para sermos recebidos, ele não recebe… Uma coisa é fazer discurso para a imprensa, outra coisa é vir aqui enfrentar os trabalhadores e dizer por que ele não gosta dos trabalhadores. Por isso eu quero dizer, ministra Dilma, que nós, trabalhadores, vamos andar fábrica por fábrica, empresa por empresa, loja por loja, nós vamos andar o Brasil, e dizer que esse sujeito que tem medo de trabalhador não pode ser candidato para depois tirar os direitos dos trabalhadores.
Quem financiava esse discurso do notório Paulinho? A Petrobras, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e a Eletrobras.
Na sua vez de discursar, Lula, muito respeitador da lei (!!!), recorreu à sutileza habitual. ReferIndo-se às eleições, afirmou: “Vocês sabem quem eu quero”. Já o ministro Carlos Lupi (Trabalho) e Antonio Neto, presidente da CGBT, fizeram como Paulinho: campanha eleitoral escancarada. Os petistas rumaram em seguida para a festa da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Mais discursos, mais campanha, mais ilegalidades. E o grande momento do Demiurgo estava reservado para o terceiro evento do dia: o da CUT, que reuniu apenas 10 mil pessoas.
Àquela penca de estatais, somou-se uma outra no financiamento do evento da central petista: o BNDES. Ora, não sejam mesquinhos! Pensem bem: por que um banco de fomento não iria fomentar um evento para promover a candidatura da petista Dilma Rousseff? Faz sentido, não faz? Até a Infraero entrou com grana. Sentindo-se, aí sim, em casa, Lula carregou nas tintas e nas lágrimas. Há uma coisa estranha neste senhor: ele se emociona com as barbaridades que faz.
O maior legado que eu vou deixar para esse país não é eleger a pessoa que vai me suceder, o que farei com muito orgulho. Quem vier depois de mim vai ter que trabalhar muito mais porque o povo aprendeu a cobrar. Eu tenho consciência do que vai acontecer neste país, tenho consciência. Eu sei que a legislação não me permite falar em candidatos porque só depois de junho…
No terreno da CUT, adivinhem o que aconteceu… Ora, os militantes começaram a gritar “Dil-má/ Dil-má”. Uma observação importante: a ilegalidade de que Lula participou ontem continuará ilegal mesmo depois de junho.
Leiam este trecho do Globo Online:
No início da noite, em evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), ele voltou à carga. Depois de destacar realizações de seu governo, disse que não é possível “mudar, em oito anos, 500 anos de desigualdade”. “É preciso mais tempo, mas com sequenciamento”, afirmou. Logo a seguir voltou-se para a correligionária: “Dilma, você ouviu o que eu disse?”
Ao longo do dia, ainda sobrou espaço para performances circenses de Aloizio Mercandante, que também atacou Serra, e de Marta Suplicy, segundo quem, desta vez, “o Bigode vai ganhar do Picolé do Chuchu”. Vocês sabem que, quando esta grande dama decide ser elegante, não tem pra ninguém. Disse que quer ser a primeira senadora eleita por São Paulo. Não há duvida: trata-se de campanha eleitoral explícita, financiada com dinheiro de estatais. Tão logo as candidaturas dessa gente toda sejam oficializadas, cabe recorrer à ustiça Eleitoral para impugná-las.
Por muito menos, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato de governadores.
No comício da CUT, ao falar de seu governo, Lula chorou. Suas lágrimas encharcaram a Constituição, sobre a qual pisoteava, e a Lei Eleitoral, de que, mais uma vez, ele fazia chacota. Essa penca de ilegalidades se deu dois dias depois de fazer campanha eleitoral para a sua candidata em rede nacional de rádio e televisão, oportunidade em que, contrariado a legislação que regula esse tipo de intervenção, fez propaganda pessoal e atacou as oposições.
Este é o nosso Hugo Chávez emotivo, cheio de amor para dar. Alguns bobos me perguntam ou se espantam de vez em quando: “Mas você não reconhece nada de bom no governo Lula?” Claro que sim. Já reconheci. Basta saber ler. Mas não peçam que considere corriqueira a atuação de um chefe de estado que desmoraliza as leis, que vilipendia o texto constitucional, que transgride as regras da convivência democrática.
SE O TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL PERMITIR QUE ESSES ATOS RESTEM IMPUNES, ENTÃO ESTARÁ INSTAURADO O VALE-TUDO NO PAÍS.
Prosseguindo na sua orgia de ilegalidades, Lula afirmou, no comício da CUT, esperar que o convidem para 1º de Maio de 2011:
“Se for alguém ruim (na Presidência), a gente vem aqui meter o pau. Se for alguém bom, a gente vem aqui ajudar e acompanhar”
E os cutistas gritaram “Dil-má/Dil-má”.
Ora, “alguém ruim”, é evidente, seria Serra (afinal, como ele próprio disse, todo mundo sabe o que ele quer). Eis aí revelado, em frase tão curta, o que há de intolerável nessa gente. Lula está anunciando que, caso Dilma perca a eleição, o caminho do partido já está traçado: tentar sabotar o governo de maneira metódica, sistemática, cotidiana. E o PT fez ou faz outra coisa quando na oposição?
Por que diabos um presidente popular, que fez um governo bem-avaliado pela maioria dos brasileiros, não pode se manter nos limites das leis que o elegeram e que garantiram o seu poder? Porque isso vai contra a natureza do PT e do próprio Lula, que vêem no arcabouço legal não os instrumentos de seu triunfo, mas empecilhos a seus delírios de poder absoluto. Lula só inventou uma candidata do nada porque pretende, como já deixou claro tantas vezes, o terceiro mandato por procuração. E só por isso tenta fazer uma disputa contra FHC, tática até agora rejeitada pelo eleitorado: precisa desesperadamente, na sua imaginação, vencer o ex-presidente ao menos uma vez.
Está chegando a hora de Lula deixar o governo. E ele já se prepara para ser ou o condestável do próximo ou o líder da sabotagem. Por enquanto, ele está sabotando apenas as leis. Ou os tribunais se encarregam de pôr limites neste senhor, ou as eleições brasileiras têm tudo para ser as mais sujas de nossa história. E não por causa da Internet.
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segunda-feira, 26 de abril de 2010
428) Candidatura oficial: fraude historica
Apenas um empréstimo involuntário, alguns alegarão, de fato, uma tremenda tentativa de apresentar a candidata como uma inocente manifestante pela democracia, quando ela devia desprezar esses "companheiros de viagem", preferindo a via das armnas.
Ver o link para as fotos:
http://feedproxy.google.com/~r/ReinaldoAzevedo/~3/5yUoJOqiIjQ/
O DIA EM QUE O PT TRANSFORMOU NORMA BENGELL EM DILMA ROUSSEFF. OU: LOBO PERDE O PÊLO, MAS NÃO O VÍCIO
Reinaldo Azevedo, 25.04.2010
A rede já desvendou a tramóia. Não se fala em outra coisa!
O lobo perde o pêlo (aqui, ainda com acento), diz o ditado popular, mas não perde o vício. E, como sua especialidade é fingir, apresenta-se, às vezes, como se fosse cordeiro. Os petistas retomam uma prática antiga da tirania stalinista para tentar bombar a biografia da “criatura eleitoral” de Lula. Vejam esta imagem publicada no blog oficial de Dilma Rousseff:
Ela ilustra uma biografia da pré-candidata cujo objetivo é demonstrar a sua participação em momentos importantes da história brasileira — e sempre ao lado da democracia, ora essa! Trata-se de uma montagem com supostas três imagens de Dilma: quando criança, numa passeata contra a ditadura e nos dias atuais. Tudo estaria certo não tivesse aquela imagem do meio sido retirada desta foto:
A personagem apresentada como Dilma Rousseff é, na verdade, a atriz Normal Bengel, participando da chamada Passeata dos Cem Mil, realizada no Rio, no dia 26 de junho de 1968. Da esquerda para a direita, aparecem na fila as atrizes Tonia Carrero, Eva Wilma, Odette Lara, Norma Bengel e Ruth Escobar.
Isto mesmo: o BLOG OFICIAL DE DILMA — não se trata de coisa da molecada da rede, não; isso foi criado por profissionais — fraudou a história para tentar emprestar alguma relevância à biografia da candidata.
A situação é tão vexaminosa, que a empresa contratada para fazer a campanha, a tal Pepper Interativa, divulgou uma nota. Vejam que primor:
O blog Dilmanaweb lamenta profundamente a interpretação equivocada da foto que traz a atriz Norma Bengell participando de uma passeata contra a ditadura.
Jamais houve a intenção de confundir a sua imagem com a de Dilma, o que seria estapafúrdio, ainda mais se tratando de uma figura pública. O que se busca, ali, é ressaltar um momento da vida do país do qual Dilma participou ativamente. Outras fotos do blog fazem referência a esse momento em que os brasileiros foram às ruas pedir o fim da ditadura.
Dilma participou de todas essas lutas. Elas fazem parte de sua vida e da vida de milhões de brasileiros. Lamentamos eventuais mal-entendidos que possam ter ocorrido e tomaremos providências para evitá-los.
Pepper Interativa
Atenção!
Entenderam? Roubam a imagem de Norma Bengell, apresentam-na como se fosse de Dilma, mas a responsabilidade, obviamente, é de quem entendeu “errado” a mensagem… A Pepper é a agência que emprega o tal Marcelo Branco, aquele cabeludo que está revolucionando a língua portuguesa em suas mensagens na Internet.
Dilma militou em três organizações terroristas stalinistas, isto é, inspiradas moral, intelectual e politicamente no tirano soviético Josef Stálin, um dos maiores carniceiros da história. A prática de fraudar fotos vem daquele tempo.
A exemplo dos petistas, Stálin também recontava a história segundo os seus interesses, apagando, literalmente, os seus inimigos e se atribuindo uma importância que não tivera. Vejam estas fotos e suas respectivas legendas. Volto em seguida.
Em 1920, Lênin discursa em frente ao teatro Bolshoi, em Moscou. Fala aos soldados que vão lutar contra a Polônia. Ao lado do balcão, à sua esquerda (à direita da foto), de quepe, está Trotsky. Agora vejam...
... o que aconteceu depois que Trotsky foi banido da União Soviética. Stálin mandou apagar a sua imagem. No arquivo oficial e nos livros escolares, essa passou a ser a foto "verdadeira". Vejam outro exemplo abaixo.
Ato comemora o segundo ano do golpe bolchevique na Rússia, chamado de "revolução". Na foto da esquerda, sempre de quepe, Trotsky aparece ao lado de Lênin. Depois que Stálin "corrigiu" o passado, como fazem os petistas, seu inimigo desapareceu da história
Encerro
Os tempos são outros, mas a alma tirana é a mesma. A mitologia esquerdopata só se sustenta porque não reconhece a superioridade moral da verdade. Não fosse assim, não seria o próprio Lula a assaltar o passado e a biografia de seus adversários. Transformar Norma Bengell em Dilma Rousseff faz parte do PAM — o Programa de Aceleração da Mistificação. Trata-se apenas de um emblema de uma prática metódica.
Stálin, o fraudador-símbolo da história, metido a estudar lingüística (!), teria dito certa feita: “Fizemos a revolução, mas preservamos a bela língua russa”. Em tempos de Lula, Dilma e Marcelo Branco, caso a revolução petista seja consumada, nem isso se poderá afirmar sobre a “inculta & bela”.
Ver o link para as fotos:
http://feedproxy.google.com/~r/ReinaldoAzevedo/~3/5yUoJOqiIjQ/
O DIA EM QUE O PT TRANSFORMOU NORMA BENGELL EM DILMA ROUSSEFF. OU: LOBO PERDE O PÊLO, MAS NÃO O VÍCIO
Reinaldo Azevedo, 25.04.2010
A rede já desvendou a tramóia. Não se fala em outra coisa!
O lobo perde o pêlo (aqui, ainda com acento), diz o ditado popular, mas não perde o vício. E, como sua especialidade é fingir, apresenta-se, às vezes, como se fosse cordeiro. Os petistas retomam uma prática antiga da tirania stalinista para tentar bombar a biografia da “criatura eleitoral” de Lula. Vejam esta imagem publicada no blog oficial de Dilma Rousseff:
Ela ilustra uma biografia da pré-candidata cujo objetivo é demonstrar a sua participação em momentos importantes da história brasileira — e sempre ao lado da democracia, ora essa! Trata-se de uma montagem com supostas três imagens de Dilma: quando criança, numa passeata contra a ditadura e nos dias atuais. Tudo estaria certo não tivesse aquela imagem do meio sido retirada desta foto:
A personagem apresentada como Dilma Rousseff é, na verdade, a atriz Normal Bengel, participando da chamada Passeata dos Cem Mil, realizada no Rio, no dia 26 de junho de 1968. Da esquerda para a direita, aparecem na fila as atrizes Tonia Carrero, Eva Wilma, Odette Lara, Norma Bengel e Ruth Escobar.
Isto mesmo: o BLOG OFICIAL DE DILMA — não se trata de coisa da molecada da rede, não; isso foi criado por profissionais — fraudou a história para tentar emprestar alguma relevância à biografia da candidata.
A situação é tão vexaminosa, que a empresa contratada para fazer a campanha, a tal Pepper Interativa, divulgou uma nota. Vejam que primor:
O blog Dilmanaweb lamenta profundamente a interpretação equivocada da foto que traz a atriz Norma Bengell participando de uma passeata contra a ditadura.
Jamais houve a intenção de confundir a sua imagem com a de Dilma, o que seria estapafúrdio, ainda mais se tratando de uma figura pública. O que se busca, ali, é ressaltar um momento da vida do país do qual Dilma participou ativamente. Outras fotos do blog fazem referência a esse momento em que os brasileiros foram às ruas pedir o fim da ditadura.
Dilma participou de todas essas lutas. Elas fazem parte de sua vida e da vida de milhões de brasileiros. Lamentamos eventuais mal-entendidos que possam ter ocorrido e tomaremos providências para evitá-los.
Pepper Interativa
Atenção!
Entenderam? Roubam a imagem de Norma Bengell, apresentam-na como se fosse de Dilma, mas a responsabilidade, obviamente, é de quem entendeu “errado” a mensagem… A Pepper é a agência que emprega o tal Marcelo Branco, aquele cabeludo que está revolucionando a língua portuguesa em suas mensagens na Internet.
Dilma militou em três organizações terroristas stalinistas, isto é, inspiradas moral, intelectual e politicamente no tirano soviético Josef Stálin, um dos maiores carniceiros da história. A prática de fraudar fotos vem daquele tempo.
A exemplo dos petistas, Stálin também recontava a história segundo os seus interesses, apagando, literalmente, os seus inimigos e se atribuindo uma importância que não tivera. Vejam estas fotos e suas respectivas legendas. Volto em seguida.
Em 1920, Lênin discursa em frente ao teatro Bolshoi, em Moscou. Fala aos soldados que vão lutar contra a Polônia. Ao lado do balcão, à sua esquerda (à direita da foto), de quepe, está Trotsky. Agora vejam...
... o que aconteceu depois que Trotsky foi banido da União Soviética. Stálin mandou apagar a sua imagem. No arquivo oficial e nos livros escolares, essa passou a ser a foto "verdadeira". Vejam outro exemplo abaixo.
Ato comemora o segundo ano do golpe bolchevique na Rússia, chamado de "revolução". Na foto da esquerda, sempre de quepe, Trotsky aparece ao lado de Lênin. Depois que Stálin "corrigiu" o passado, como fazem os petistas, seu inimigo desapareceu da história
Encerro
Os tempos são outros, mas a alma tirana é a mesma. A mitologia esquerdopata só se sustenta porque não reconhece a superioridade moral da verdade. Não fosse assim, não seria o próprio Lula a assaltar o passado e a biografia de seus adversários. Transformar Norma Bengell em Dilma Rousseff faz parte do PAM — o Programa de Aceleração da Mistificação. Trata-se apenas de um emblema de uma prática metódica.
Stálin, o fraudador-símbolo da história, metido a estudar lingüística (!), teria dito certa feita: “Fizemos a revolução, mas preservamos a bela língua russa”. Em tempos de Lula, Dilma e Marcelo Branco, caso a revolução petista seja consumada, nem isso se poderá afirmar sobre a “inculta & bela”.
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Reinaldo Azevedo
sábado, 24 de abril de 2010
422) Ciro Gomes: o destempero de um candidato "suicidado"
CIRO: “LULA VIAJA NA MAIONESE; SERRA É MAIS PREPARADO; DIREÇÃO DO PSB NÃO ESTÁ À ALTURA DO DESAFIO DA HISTÓRIA; PT VAI TENTAR OUTRO ESCÂNDALO DOS ALOPRADOS; NÃO ME PEÇAM PARA IR À TELEVISÃO”
Reinaldo Azevedo, 23.04.2010
Em entrevista a Eduardo Oinegue, do iG, o deputado Ciro Gomes (PSB) rasga o verbo e afirma que “Lula está navegando na maionese”; que o tucano José Serra “é mais preparado, mais legítimo e mais capaz ” de “enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos”; que o presidente nacional do partido, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, e o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, “não estão no nível que a história impõe a eles” e antevê que o PT tentará, de novo, algo parecido com o escândalo dos aloprados. E avisa: “”Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou.”
Trechos da entrevista:
Lula:
“Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz”.
Serra
“Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos.”
PSB
[Eduardo Campos e Roberto Amaral, dirigentes do PSB] “não estão no nível que a História impõe a eles”.
Aloprados
“Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma merda”.
Crise futura
“Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase econômica e aparentemente boa, a discussão fica escondida. Mas precisa ser feita. Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir”
Apoio a Dilma
“Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou. Sei lá. Vai ver viajo, vou virar intelectual. Vou fazer outra coisa”.
Comentários Reinaldo Azevedo:
A posição de Ciro (ver abaixo), a ser mantida, é serena se comparada àquilo que Lula e o PT fizeram com ele. Jamais vi um aliado tão fiel ser tratado com tamanha descortesia. “Descortesia”? A palavra não cabe porque isso é ofensa de salão. O ex-governador do Ceará foi vítima é de brutalidade mesmo.
E é o que sempre acontece com qualquer um que tente ter uma relação minimamente altiva com o PT e, particularmente, com Lula. Já escrevi que Ciro nunca entendeu a natureza do partido e a raiz intelectual de sua formação, que não compreende um governo de coalizão coisa nenhuma!
Coalizão significa unir as principais forças políticas do país, concentrando-se no que se considera essencial. Os petistas só entendem a relação de subordinação, e aqueles que se juntam a seu “projeto” têm de ter a cara que tem o PMDB lulista, este liderado por gigantes morais como José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá.
Ciro foi convidado a fazer parte desse festim e a ter um naco do poder, como um peemedebista qualquer, regalando-se com alguma divisão do governo, onde pode fazer seus pequenos grandes negócios. O deputado do PSB queria mais: queria ser protagonista na política. Não existe esse espaço no PT.
Lula foi esvaziando Ciro com a técnica e a paciência de um taxidermista. Tirou-lhe a vitalidade eleitoral e o encheu de palha, de modo que ele pudesse conservar, durante algum tempo ao menos, a aparência de figura relevante na sucessão. Até que chegou a hora do golpe: a visita de Dilma Rousseff ao Ceará, o que, vamos convir, foi de um desrespeito brutal.
Notem que narrativa interessante: o petista levou Ciro a transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo e despachou Dilma para fazer embaixadinha no Ceará. Em suma: deu-lhe de presente o que ele jamais terá — São Paulo — e tentou lhe roubar o que ele tinha: o Ceará. O jornalismo amigo do PT tentou atribuir a visita de Dilma àquele estado a um erro da candidata ou da coordenação de campanha. Bobagem! Pode até ter sido um erro, mas cometido pela cúpula do partido. Nem isso cabe a Dilma decidir. Não custa lembrar que até para evocar palavras de otimismo, como fez no programa do tal Datena, ela recorre a Lula — ou, pior, à mãe de Lula.
A forma como o lulo-petismo trata um aliado dá conta do que esse gente gostaria de fazer com adversários. O escândalo dos aloprados, que Ciro relembra em sua entrevista, dá uma pista.
O PT tem um norte moral: tudo o que não serve à hegemonia do partido deve ser destruído. E, bem…, no que diz respeito à relação Ciro Gomes-PT (consulte o arquivo do blog), não foi por falta de aviso.
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LULA, UM ESPECIALISTA EM ESMAGAR PESSOAS
Na entrevista (ler dois posts anteriores sobre o assunto), Ciro Gomes afirma que pode até se afastar da política. Pois é… Quando brigou com os tucanos de São Paulo, fizeram dele um gigante. Depois de se aliar aos petistas, pode até desistir da política. Ciro precisa repensar que estranha relação é essa em que os inimigos servem para torná-lo grande, e os amigos, para destruí-lo. Não seria o caso de um ajustamento de conduta, de modo que estas duas categorias — aliados e relevância política — possam andar juntas?
Não creio que desista. Mas, caso o faça, poderia se dedicar, quem sabe?, à vida acadêmica. Há um campo de estudo bastante interessante, que jamais será investigado pela “subintelectuália esquerdopata” das universidades: “O que aconteceu, nos últimos 30 anos, com qualquer um que tenha contestado Lula?”
Uma boa pesquisa requer frieza analítica. Mas a experiência pessoal pode ajudar. Dou algumas pistas:
- Lula destruiu todos os seus adversários no sindicalismo, estivessem eles à “esquerda” ou à “direita”. Sobreviveu quem se dobrou ou se vendeu. Vejam o caso de Joaquinzão, o dito grande pelego do “sindicalismo reacionário”: morreu pobre e abandonado num asilo. Lula, o “progressista e socialista”, é quem é;
- Lula relegou a uma expressão não mais do que regional lideranças de esquerda ou “progressistas” egressas do pré-64, como Leonel Brizola e Miguel Arraes;
- Lula esmagou politicamente todos aqueles que tentaram, quando isso não lhe era pessoalmente conveniente, qualquer diálogo com outras forças políticas. Vejam o que aconteceu com os três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves (José Eudes, Beth Mendes e Airton Soares) com ou Luíza Erundina, que aceitou ser ministra de Itamar Franco;
- Lula desmoralizou, chegando ao poder, as alas à esquerda do partido. Posso até achar que ele fez muito bem, mas elas eram suas aliadas, não minhas, e faziam o discurso histórico do petismo;
- Lula sempre tratou a pontapés qualquer um que ousasse contestar a sua liderança no partido (ou em qualquer outro assunto), como sabe, por exemplo, o senador Cristovam Buarque (DF), hoje no PDT, demitido por telefone;
E Lula, finalmente, trata como inimiga a ser destruída a própria história do Brasil, ao tentar desconstruir a biografia de todos os governantes que o antecederam — em parte, contou com a colaboração de Ciro por um período ao menos.
Nada cresce à sombra de Lula, deputado Ciro Gomes, se não for com a plena concordância do… frondoso Lula! E o que lhe garantiu tal poder? É dono, sem dúvida, de uma notável inteligência política. Isso conta muito. Lidera um partido que se estrutura para substituir a sociedade, não para governá-la. E isso é fundamental. E, não menos importante, o PT tem uma presença maciça na imprensa. E isso não é de hoje. Querem um exemplo até banal? Quem primeiro chamou o Democratas de “demo” e seus membros de “demos” foi o PT. O termo é hoje empregado como linguagem referencial pelos jornalistas — já o vi em títulos na primeira página.
Qualquer político que ambicione ter existência própria, deputado Ciro Gomes, deve se preparar para enfrentar essa máquina em vez de se aliar a ela. O PT entende duas categorias: oposição, que ele tenta destruir por meios lícitos e ilícitos, e subordinação.
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COMEÇOU O TRABALHO PETISTA PARA FAZER DE CIRO A GENI
O PT já começou o trabalho de desmoralização do deputado Ciro Gomes (PSB), um precioso aliado até anteontem. Percebam a arrogância contida nestas palavras do líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (SP):
“Nós garantimos a ele a possibilidade de sair para o governo de São Paulo, ele não topou. Nós não concordamos com a tese de sua candidatura para a Presidência. Ele que tem que arcar com a política dele; por isso, está sendo muito injusto com o PT e com o presidente”.
Notaram? Generosamente, “ofereceram” a Ciro a possibilidade de se candidatar ao governo de São Paulo!!! E não “concordaram” com a candidatura!!! Ciro e o PSB não foram livres, como se nota, nem para decidir isso.
Vaccarezza está dizendo o seguinte: “Como ele não concordou com a nossa decisão, então tivemos de atropelá-lo. Logo, a culpa é dele. Ele era livre para concordar”.
Eis o PT!
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“O tratamento que deram a Ciro não foi leal”
Na Folha Online:
Lideranças do PSDB endossaram nesta sexta-feira as palavras do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) de que o tucano José Serra é “mais preparado” para assumir a Presidência da República do que a pré-candidata petista Dilma Rousseff. Além de comemorar as farpas de Ciro disparadas a Dilma, os tucanos também se mostraram surpresos com o fato de um aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticá-lo publicamente –já que Ciro disse que Lula “navega na maionese”.
Na opinião dos oposicionistas, Ciro reagiu depois de ser “escanteado” pelo presidente Lula, que optou por fazer de Dilma a sua candidata. “Ele foi cozinhado grosseiramente, depois percebeu que sequer seria candidato a governador de São Paulo. O tratamento que deram a ele não foi leal”, disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
Para o líder tucano na Câmara, deputado João Almeida (BA), Ciro se “iludiu” com o presidente Lula quando acreditou que seria o candidato da base aliada ao Palácio do Planalto. “O Ciro não entendeu a personalidade do Lula. Achou que seria valorizado, mas o projeto do Lula é a Dilma”, afirmou.
Na opinião de Almeida, as recentes declarações de Lula mostram que o presidente está “cada vez mais distante da realidade”, por isso acha que Lula “viaja na maionese”.
Para Virgílio, as críticas de Ciro beneficiam diretamente a pré-candidatura de Serra ao governo federal. “Com o peso nacional do Ciro, é relevante reconhecer que o melhor para o Brasil é o Serra. Ele não é obrigado a gostar do Serra, mas é importante reconhecer que a eleição com ele seria muito mais interessante do que com a Dilma”, afirmou.
O tucano disse que Ciro errou ao transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, atendendo um pedido de Lula, para que disputasse o governo estadual. Como Ciro insistiu na sua candidatura ao Palácio do Planalto, o PT elevou o senador Aloizio Mercadante (SP) a pré-candidato do partido ao governo do Estado.
[Observação PRA: Só não concordo com uma observação acima, do deputado João Almeida (PSDB-BA), de que o projeto de Lula é a Dilma. Não, não é; o projeto de Lula é Lula!. As simple as that.]
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LÍDER DE LULA NO SENADO DIZ QUE CIRO AGE COM “IMATURIDADE” E “NÃO ESTÁ AJUDANDO”!!!
Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado e membro da bancada de Educação Moral e Cívica do PMDB, também reagiu às declarações de Ciro Gomes:
“Ele virou uma metralhadora giratória e atirou para todos os lados. Está agindo com imaturidade. Eu lamento as declarações dele, especialmente porque o deputado é uma pessoa que pode ajudar muito o País e não está contribuindo, não está ajudando”.
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‘JÁ LHE DEI MEU CORPO, MINHA ALEGRIA, JÁ ESTANQUEI MEU SANGUE, QUANDO FERVIA, OLHA A VOZ QUE ME RESTA…
Vejam este trechinho de um texto da Folha Online: “Questionado sobre as declarações do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, limitou-se a cantarolar a música “Gota d’Água”, de Chico Buarque…
Volto
Chico é um bobo político e um grande letrista (o que não quer dizer “grande poeta”, que poesia é outra coisa). “Gota d’Água” é uma das suas mais belas criações e dá voz ao amante que, embora fiel, é tratado com desprezo: cedeu ao outro seu corpo, sua alegria, até sua dignidade. No momento em que fala, está por um triz, pronto a explodir, a dar um desfecho “à festa”. Na peça homônima, de Chico e Paulo Pontes (uma releitura de Medéia, de Eurípedes), a letra assume um significado um tanto distinto. Mas isso não cabe agora.
Ao ser irônico e grosseiro com Ciro Gomes, o presidente do PT não deixa de empregar uma referência pertinente. Metaforicamente, Ciro foi esse amante que entregou tudo ao PT. Até o seu domicílio eleitoral! Segue a letra.
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor,
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água
Encerro
O que resta a Ciro? A voz! Tomara que ele saiba empregá-la para o bem da democracia brasileira. Vamos ver.
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NA TV, CIRO REPETE QUE SERRA É MAIS PREPARADO DO QUE DILMA PARA GOVERNAR O BRASIL E REITERA QUE PT PREPARA DOSSIÊ CONTRA O TUCANO
É… Ciro Gomes foi cem por cento Ciro Gomes na entrevista ao SBT Brasil.
Repetiu tudo o que está no texto assinado por Eduardo Oinegue, publicado no iG, mas negou que tenha concedido uma entrevista ao portal… Vai ver o jornalista desenvolveu o dom da adivinhação. Atacou, como de hábito, José Serra — que trataria, segundo ele, os adversários como inimigos —, mas repetiu que o tucano está mais preparado para governar o Brasil. Num particular, e bastante relevante, Ciro avançou um tanto mais. Já chego lá.
Ciro admitiu que Lula e o PT atuaram para desidratar sua candidatura e voltou a criticar José Dirceu, que teria ido à casa de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), para fazer ameaças: o PT retiraria o apoio a Cid caso Ciro fosse candidato. pelo PSB “Esse [José Dirceu], eu já mandei pastar”.
Dirceu ser um dos coordenadores da campanha de Dilma é, segundo Ciro, um dos erros cometidos pelo PT: “Um desacato ao Judiciário e à opinião pública”. Disse que os primeiros movimentos de Dilma o deixaram arrepiado: a visita ao túmulo de Tancredo e a ida ao Ceará, “sem nem um telefonema”. E emendou: “Não porque eu seja um coronel, mas porque eu sou candidato, caramba!”
Ciro não se disse ainda um não-candidato — já que seu partido toma a decisão oficial na terça-feira —, mas sabe que está fora do jogo. Foi ambíguo sobre o futuro: num dado momento, afirmou que obedecerá às diretrizes do partido; noutro, que vai cantar em outra freguesia, dando a entender que deixa o PSB.
Dossiê
Na “não-entrevista” (!!!) ao iG, Ciro afirmou que o PT recorreria de novo a coisas como o dossiê dos aloprados. Na entrevista ao SBT Brasil, ele se estendeu um pouco mais: deu a entender que o governo já mobilizou o Ministério da Justiça para tentar envolver o candidato do PSDB à Presidência com supostas irregularidades da Alstom.
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Ciro frustra o Planalto e irrita Lula com elogio a tucano
Vera Rosa e Tânia Monteiro
O Estado de S.Paulo, 24.04.2010
De todas as estocadas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a que mais surpreendeu e irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o elogio feito pelo antigo aliado a José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Furioso, Lula orientou Dilma Rousseff, concorrente do PT, a não entrar no bate-boca para não jogar mais combustível na crise.
Para Lula, o fato de Ciro ter dito que ele está “navegando na maionese” não passa de “bobagem”, mas a declaração referente a Serra - definido pelo deputado como “mais preparado, mais legítimo e mais capaz” do que Dilma - foi recebida como traição.Em público, Lula não comentou a entrevista de Ciro ao portal iG.
“Estou mudo”, disse ele, ao chegar ontem para a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso. Longe dos holofotes, porém, não escondeu a contrariedade. No seu diagnóstico, Ciro quebrou o acordo de tudo fazer para ajudar Dilma.
O presidente qualificou a situação como “dolorosa”. A auxiliares, afirmou que não havia chamado Ciro para uma conversa a sós, até hoje, porque aguardava um sinal do PSB. Na prática, não sabia o que fazer. A certa altura, chegou mesmo a achar que ele aceitaria ser candidato ao governo de São Paulo, com o apoio do PT. Era o script combinado.
Depois, quando Ciro começou a bater cada vez mais duro, Lula recebeu da cúpula do PSB a garantia de que a desistência do cearense da disputa presidencial seria “administrada”. O ex-ministro, porém, fugiu do controle.
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O golpe de graça do PSB
Editorial do Estado de São Paulo, 24.04.2010:
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) marcou para terça-feira as exéquias da candidatura Ciro Gomes ao Planalto. Se dependesse da cúpula da legenda, as pretensões presidenciais do deputado pelo Ceará deveriam se desmanchar “espontaneamente”, em fogo brando, como já sugerem as pesquisas. Mas depois que - em um artigo tipicamente agressivo - ele chamou os socialistas às falas para se decidirem de uma vez por todas, o comando da agremiação resolveu antecipar o desenlace, mediante um golpe de graça para salvar a face de Ciro.
Em seguida a uma consulta aos diretórios regionais da sigla, neste fim de semana, a executiva socialista de 18 membros resolverá na terça o que de há muito resolvido está: o partido não terá candidato próprio à sucessão do presidente Lula e se integrará à caravana dilmista. Numa de suas exortações para que o PSB fizesse o contrário, indo consigo à disputa, o duas vezes ex-presidenciável argumentou que, de outro modo, a sigla estaria fadada a imitar o PC do B em matéria de subserviência ao governo. É verdade, mas não toda a verdade.
De um lado, o cacife político da legenda era e é notoriamente insuficiente para contrariar a estratégia eleitoral lulista do “nós e eles”, firmada depois que se dissiparam as dúvidas sobre a saúde da então ministra Dilma Rousseff. A sorte de Ciro foi, como se diz, selada a partir do momento em que o presidente e o PT concluíram que a entrada em cena de um segundo nome governista, embora garantisse que a sucessão só se decidirá no segundo tempo, representaria um risco incalculável para as chances de Dilma.
Não seria o lulismo que se exporia à eventualidade de ver migrar para ele parcela decisiva do eleitorado, à medida que as limitações da candidata se revelassem insuperáveis. No limite, melhor perder com Dilma - hipótese que Lula trataria de tornar inconcebível - do que ganhar na segunda rodada com o instável e boquirroto aliado, que ainda ontem acusou Lula de “navegar na maionese” ao se achar o “Todo-Poderoso”. Ciro detesta o PT quase tanto quanto o PSDB a que já esteve filiado, considerando ambos faces da mesma suposta hegemonia política paulista.
Além disso, no que dependesse do PMDB, Ciro morreria na praia. Não foi ele quem classificou a aliança PT-PMDB — neste caso coberto de razão — como um “roçado de escândalos”? (O que levou Dilma a atribuir-lhe o pecado da soberba.) De outro lado, com 28 deputados, formando a oitava bancada das 20 da Câmara, e apenas 3 governadores, o PSB precisa compor-se com o PT para não definhar no plano regional. Os socialistas têm 11 candidatos a governador, mas só 3 deles apoiados pelos petistas. E, correndo por fora, a anunciada aspiração do partido de “duplicar a bancada” federal se tornaria ainda mais despropositada do que já parece.
O próprio Ciro não tem moral para se queixar do presidente ou de seus correligionários. Afinal, ele aceitou prestar-se à ostensiva jogada de Lula para tirá-lo do pleito nacional, concordando em transferir do Ceará para São Paulo, seu Estado natal, o seu título de eleitor. Com isso, Ciro apequenou a sua alardeada imagem de altivez e independência, mesmo sabendo serem praticamente desprezíveis as chances de o PT paulista fechar com a sua candidatura ao governo estadual. Numa versão caridosa, ele teria querido dar uma prova de lealdade a Lula, na expectativa de que, ao fim e ao cabo, o “Todo-Poderoso” o deixasse competir no páreo principal. Se assim entendesse, agiria como um néscio - o que ele não é.
O esperado fim da quimera de Ciro privará a campanha de uma presença desejável, como desejável é a da ex-ministra Marina Silva, para, entre outras coisas, ampliar o debate das questões nacionais.
Por deploráveis que sejam os seu rompantes temperamentais e os estereótipos nos quais se enreda com frequência, é inegável que ele demonstra ter luz própria quando fala sobre o País - mais do que a escolhida de Lula, que outra coisa não diz a não ser que o seu padrinho é o máximo. Também por isso, talvez, Ciro julga o tucano José Serra “mais preparado, mais legítimo, mais capaz” do que ela.
Reinaldo Azevedo, 23.04.2010
Em entrevista a Eduardo Oinegue, do iG, o deputado Ciro Gomes (PSB) rasga o verbo e afirma que “Lula está navegando na maionese”; que o tucano José Serra “é mais preparado, mais legítimo e mais capaz ” de “enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos”; que o presidente nacional do partido, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, e o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, “não estão no nível que a história impõe a eles” e antevê que o PT tentará, de novo, algo parecido com o escândalo dos aloprados. E avisa: “”Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou.”
Trechos da entrevista:
Lula:
“Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz”.
Serra
“Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos.”
PSB
[Eduardo Campos e Roberto Amaral, dirigentes do PSB] “não estão no nível que a História impõe a eles”.
Aloprados
“Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma merda”.
Crise futura
“Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase econômica e aparentemente boa, a discussão fica escondida. Mas precisa ser feita. Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir”
Apoio a Dilma
“Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou. Sei lá. Vai ver viajo, vou virar intelectual. Vou fazer outra coisa”.
Comentários Reinaldo Azevedo:
A posição de Ciro (ver abaixo), a ser mantida, é serena se comparada àquilo que Lula e o PT fizeram com ele. Jamais vi um aliado tão fiel ser tratado com tamanha descortesia. “Descortesia”? A palavra não cabe porque isso é ofensa de salão. O ex-governador do Ceará foi vítima é de brutalidade mesmo.
E é o que sempre acontece com qualquer um que tente ter uma relação minimamente altiva com o PT e, particularmente, com Lula. Já escrevi que Ciro nunca entendeu a natureza do partido e a raiz intelectual de sua formação, que não compreende um governo de coalizão coisa nenhuma!
Coalizão significa unir as principais forças políticas do país, concentrando-se no que se considera essencial. Os petistas só entendem a relação de subordinação, e aqueles que se juntam a seu “projeto” têm de ter a cara que tem o PMDB lulista, este liderado por gigantes morais como José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá.
Ciro foi convidado a fazer parte desse festim e a ter um naco do poder, como um peemedebista qualquer, regalando-se com alguma divisão do governo, onde pode fazer seus pequenos grandes negócios. O deputado do PSB queria mais: queria ser protagonista na política. Não existe esse espaço no PT.
Lula foi esvaziando Ciro com a técnica e a paciência de um taxidermista. Tirou-lhe a vitalidade eleitoral e o encheu de palha, de modo que ele pudesse conservar, durante algum tempo ao menos, a aparência de figura relevante na sucessão. Até que chegou a hora do golpe: a visita de Dilma Rousseff ao Ceará, o que, vamos convir, foi de um desrespeito brutal.
Notem que narrativa interessante: o petista levou Ciro a transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo e despachou Dilma para fazer embaixadinha no Ceará. Em suma: deu-lhe de presente o que ele jamais terá — São Paulo — e tentou lhe roubar o que ele tinha: o Ceará. O jornalismo amigo do PT tentou atribuir a visita de Dilma àquele estado a um erro da candidata ou da coordenação de campanha. Bobagem! Pode até ter sido um erro, mas cometido pela cúpula do partido. Nem isso cabe a Dilma decidir. Não custa lembrar que até para evocar palavras de otimismo, como fez no programa do tal Datena, ela recorre a Lula — ou, pior, à mãe de Lula.
A forma como o lulo-petismo trata um aliado dá conta do que esse gente gostaria de fazer com adversários. O escândalo dos aloprados, que Ciro relembra em sua entrevista, dá uma pista.
O PT tem um norte moral: tudo o que não serve à hegemonia do partido deve ser destruído. E, bem…, no que diz respeito à relação Ciro Gomes-PT (consulte o arquivo do blog), não foi por falta de aviso.
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LULA, UM ESPECIALISTA EM ESMAGAR PESSOAS
Na entrevista (ler dois posts anteriores sobre o assunto), Ciro Gomes afirma que pode até se afastar da política. Pois é… Quando brigou com os tucanos de São Paulo, fizeram dele um gigante. Depois de se aliar aos petistas, pode até desistir da política. Ciro precisa repensar que estranha relação é essa em que os inimigos servem para torná-lo grande, e os amigos, para destruí-lo. Não seria o caso de um ajustamento de conduta, de modo que estas duas categorias — aliados e relevância política — possam andar juntas?
Não creio que desista. Mas, caso o faça, poderia se dedicar, quem sabe?, à vida acadêmica. Há um campo de estudo bastante interessante, que jamais será investigado pela “subintelectuália esquerdopata” das universidades: “O que aconteceu, nos últimos 30 anos, com qualquer um que tenha contestado Lula?”
Uma boa pesquisa requer frieza analítica. Mas a experiência pessoal pode ajudar. Dou algumas pistas:
- Lula destruiu todos os seus adversários no sindicalismo, estivessem eles à “esquerda” ou à “direita”. Sobreviveu quem se dobrou ou se vendeu. Vejam o caso de Joaquinzão, o dito grande pelego do “sindicalismo reacionário”: morreu pobre e abandonado num asilo. Lula, o “progressista e socialista”, é quem é;
- Lula relegou a uma expressão não mais do que regional lideranças de esquerda ou “progressistas” egressas do pré-64, como Leonel Brizola e Miguel Arraes;
- Lula esmagou politicamente todos aqueles que tentaram, quando isso não lhe era pessoalmente conveniente, qualquer diálogo com outras forças políticas. Vejam o que aconteceu com os três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves (José Eudes, Beth Mendes e Airton Soares) com ou Luíza Erundina, que aceitou ser ministra de Itamar Franco;
- Lula desmoralizou, chegando ao poder, as alas à esquerda do partido. Posso até achar que ele fez muito bem, mas elas eram suas aliadas, não minhas, e faziam o discurso histórico do petismo;
- Lula sempre tratou a pontapés qualquer um que ousasse contestar a sua liderança no partido (ou em qualquer outro assunto), como sabe, por exemplo, o senador Cristovam Buarque (DF), hoje no PDT, demitido por telefone;
E Lula, finalmente, trata como inimiga a ser destruída a própria história do Brasil, ao tentar desconstruir a biografia de todos os governantes que o antecederam — em parte, contou com a colaboração de Ciro por um período ao menos.
Nada cresce à sombra de Lula, deputado Ciro Gomes, se não for com a plena concordância do… frondoso Lula! E o que lhe garantiu tal poder? É dono, sem dúvida, de uma notável inteligência política. Isso conta muito. Lidera um partido que se estrutura para substituir a sociedade, não para governá-la. E isso é fundamental. E, não menos importante, o PT tem uma presença maciça na imprensa. E isso não é de hoje. Querem um exemplo até banal? Quem primeiro chamou o Democratas de “demo” e seus membros de “demos” foi o PT. O termo é hoje empregado como linguagem referencial pelos jornalistas — já o vi em títulos na primeira página.
Qualquer político que ambicione ter existência própria, deputado Ciro Gomes, deve se preparar para enfrentar essa máquina em vez de se aliar a ela. O PT entende duas categorias: oposição, que ele tenta destruir por meios lícitos e ilícitos, e subordinação.
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COMEÇOU O TRABALHO PETISTA PARA FAZER DE CIRO A GENI
O PT já começou o trabalho de desmoralização do deputado Ciro Gomes (PSB), um precioso aliado até anteontem. Percebam a arrogância contida nestas palavras do líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (SP):
“Nós garantimos a ele a possibilidade de sair para o governo de São Paulo, ele não topou. Nós não concordamos com a tese de sua candidatura para a Presidência. Ele que tem que arcar com a política dele; por isso, está sendo muito injusto com o PT e com o presidente”.
Notaram? Generosamente, “ofereceram” a Ciro a possibilidade de se candidatar ao governo de São Paulo!!! E não “concordaram” com a candidatura!!! Ciro e o PSB não foram livres, como se nota, nem para decidir isso.
Vaccarezza está dizendo o seguinte: “Como ele não concordou com a nossa decisão, então tivemos de atropelá-lo. Logo, a culpa é dele. Ele era livre para concordar”.
Eis o PT!
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“O tratamento que deram a Ciro não foi leal”
Na Folha Online:
Lideranças do PSDB endossaram nesta sexta-feira as palavras do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) de que o tucano José Serra é “mais preparado” para assumir a Presidência da República do que a pré-candidata petista Dilma Rousseff. Além de comemorar as farpas de Ciro disparadas a Dilma, os tucanos também se mostraram surpresos com o fato de um aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticá-lo publicamente –já que Ciro disse que Lula “navega na maionese”.
Na opinião dos oposicionistas, Ciro reagiu depois de ser “escanteado” pelo presidente Lula, que optou por fazer de Dilma a sua candidata. “Ele foi cozinhado grosseiramente, depois percebeu que sequer seria candidato a governador de São Paulo. O tratamento que deram a ele não foi leal”, disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
Para o líder tucano na Câmara, deputado João Almeida (BA), Ciro se “iludiu” com o presidente Lula quando acreditou que seria o candidato da base aliada ao Palácio do Planalto. “O Ciro não entendeu a personalidade do Lula. Achou que seria valorizado, mas o projeto do Lula é a Dilma”, afirmou.
Na opinião de Almeida, as recentes declarações de Lula mostram que o presidente está “cada vez mais distante da realidade”, por isso acha que Lula “viaja na maionese”.
Para Virgílio, as críticas de Ciro beneficiam diretamente a pré-candidatura de Serra ao governo federal. “Com o peso nacional do Ciro, é relevante reconhecer que o melhor para o Brasil é o Serra. Ele não é obrigado a gostar do Serra, mas é importante reconhecer que a eleição com ele seria muito mais interessante do que com a Dilma”, afirmou.
O tucano disse que Ciro errou ao transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, atendendo um pedido de Lula, para que disputasse o governo estadual. Como Ciro insistiu na sua candidatura ao Palácio do Planalto, o PT elevou o senador Aloizio Mercadante (SP) a pré-candidato do partido ao governo do Estado.
[Observação PRA: Só não concordo com uma observação acima, do deputado João Almeida (PSDB-BA), de que o projeto de Lula é a Dilma. Não, não é; o projeto de Lula é Lula!. As simple as that.]
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LÍDER DE LULA NO SENADO DIZ QUE CIRO AGE COM “IMATURIDADE” E “NÃO ESTÁ AJUDANDO”!!!
Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado e membro da bancada de Educação Moral e Cívica do PMDB, também reagiu às declarações de Ciro Gomes:
“Ele virou uma metralhadora giratória e atirou para todos os lados. Está agindo com imaturidade. Eu lamento as declarações dele, especialmente porque o deputado é uma pessoa que pode ajudar muito o País e não está contribuindo, não está ajudando”.
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‘JÁ LHE DEI MEU CORPO, MINHA ALEGRIA, JÁ ESTANQUEI MEU SANGUE, QUANDO FERVIA, OLHA A VOZ QUE ME RESTA…
Vejam este trechinho de um texto da Folha Online: “Questionado sobre as declarações do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, limitou-se a cantarolar a música “Gota d’Água”, de Chico Buarque…
Volto
Chico é um bobo político e um grande letrista (o que não quer dizer “grande poeta”, que poesia é outra coisa). “Gota d’Água” é uma das suas mais belas criações e dá voz ao amante que, embora fiel, é tratado com desprezo: cedeu ao outro seu corpo, sua alegria, até sua dignidade. No momento em que fala, está por um triz, pronto a explodir, a dar um desfecho “à festa”. Na peça homônima, de Chico e Paulo Pontes (uma releitura de Medéia, de Eurípedes), a letra assume um significado um tanto distinto. Mas isso não cabe agora.
Ao ser irônico e grosseiro com Ciro Gomes, o presidente do PT não deixa de empregar uma referência pertinente. Metaforicamente, Ciro foi esse amante que entregou tudo ao PT. Até o seu domicílio eleitoral! Segue a letra.
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor,
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água
Encerro
O que resta a Ciro? A voz! Tomara que ele saiba empregá-la para o bem da democracia brasileira. Vamos ver.
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NA TV, CIRO REPETE QUE SERRA É MAIS PREPARADO DO QUE DILMA PARA GOVERNAR O BRASIL E REITERA QUE PT PREPARA DOSSIÊ CONTRA O TUCANO
É… Ciro Gomes foi cem por cento Ciro Gomes na entrevista ao SBT Brasil.
Repetiu tudo o que está no texto assinado por Eduardo Oinegue, publicado no iG, mas negou que tenha concedido uma entrevista ao portal… Vai ver o jornalista desenvolveu o dom da adivinhação. Atacou, como de hábito, José Serra — que trataria, segundo ele, os adversários como inimigos —, mas repetiu que o tucano está mais preparado para governar o Brasil. Num particular, e bastante relevante, Ciro avançou um tanto mais. Já chego lá.
Ciro admitiu que Lula e o PT atuaram para desidratar sua candidatura e voltou a criticar José Dirceu, que teria ido à casa de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), para fazer ameaças: o PT retiraria o apoio a Cid caso Ciro fosse candidato. pelo PSB “Esse [José Dirceu], eu já mandei pastar”.
Dirceu ser um dos coordenadores da campanha de Dilma é, segundo Ciro, um dos erros cometidos pelo PT: “Um desacato ao Judiciário e à opinião pública”. Disse que os primeiros movimentos de Dilma o deixaram arrepiado: a visita ao túmulo de Tancredo e a ida ao Ceará, “sem nem um telefonema”. E emendou: “Não porque eu seja um coronel, mas porque eu sou candidato, caramba!”
Ciro não se disse ainda um não-candidato — já que seu partido toma a decisão oficial na terça-feira —, mas sabe que está fora do jogo. Foi ambíguo sobre o futuro: num dado momento, afirmou que obedecerá às diretrizes do partido; noutro, que vai cantar em outra freguesia, dando a entender que deixa o PSB.
Dossiê
Na “não-entrevista” (!!!) ao iG, Ciro afirmou que o PT recorreria de novo a coisas como o dossiê dos aloprados. Na entrevista ao SBT Brasil, ele se estendeu um pouco mais: deu a entender que o governo já mobilizou o Ministério da Justiça para tentar envolver o candidato do PSDB à Presidência com supostas irregularidades da Alstom.
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Ciro frustra o Planalto e irrita Lula com elogio a tucano
Vera Rosa e Tânia Monteiro
O Estado de S.Paulo, 24.04.2010
De todas as estocadas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a que mais surpreendeu e irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o elogio feito pelo antigo aliado a José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Furioso, Lula orientou Dilma Rousseff, concorrente do PT, a não entrar no bate-boca para não jogar mais combustível na crise.
Para Lula, o fato de Ciro ter dito que ele está “navegando na maionese” não passa de “bobagem”, mas a declaração referente a Serra - definido pelo deputado como “mais preparado, mais legítimo e mais capaz” do que Dilma - foi recebida como traição.Em público, Lula não comentou a entrevista de Ciro ao portal iG.
“Estou mudo”, disse ele, ao chegar ontem para a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso. Longe dos holofotes, porém, não escondeu a contrariedade. No seu diagnóstico, Ciro quebrou o acordo de tudo fazer para ajudar Dilma.
O presidente qualificou a situação como “dolorosa”. A auxiliares, afirmou que não havia chamado Ciro para uma conversa a sós, até hoje, porque aguardava um sinal do PSB. Na prática, não sabia o que fazer. A certa altura, chegou mesmo a achar que ele aceitaria ser candidato ao governo de São Paulo, com o apoio do PT. Era o script combinado.
Depois, quando Ciro começou a bater cada vez mais duro, Lula recebeu da cúpula do PSB a garantia de que a desistência do cearense da disputa presidencial seria “administrada”. O ex-ministro, porém, fugiu do controle.
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O golpe de graça do PSB
Editorial do Estado de São Paulo, 24.04.2010:
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) marcou para terça-feira as exéquias da candidatura Ciro Gomes ao Planalto. Se dependesse da cúpula da legenda, as pretensões presidenciais do deputado pelo Ceará deveriam se desmanchar “espontaneamente”, em fogo brando, como já sugerem as pesquisas. Mas depois que - em um artigo tipicamente agressivo - ele chamou os socialistas às falas para se decidirem de uma vez por todas, o comando da agremiação resolveu antecipar o desenlace, mediante um golpe de graça para salvar a face de Ciro.
Em seguida a uma consulta aos diretórios regionais da sigla, neste fim de semana, a executiva socialista de 18 membros resolverá na terça o que de há muito resolvido está: o partido não terá candidato próprio à sucessão do presidente Lula e se integrará à caravana dilmista. Numa de suas exortações para que o PSB fizesse o contrário, indo consigo à disputa, o duas vezes ex-presidenciável argumentou que, de outro modo, a sigla estaria fadada a imitar o PC do B em matéria de subserviência ao governo. É verdade, mas não toda a verdade.
De um lado, o cacife político da legenda era e é notoriamente insuficiente para contrariar a estratégia eleitoral lulista do “nós e eles”, firmada depois que se dissiparam as dúvidas sobre a saúde da então ministra Dilma Rousseff. A sorte de Ciro foi, como se diz, selada a partir do momento em que o presidente e o PT concluíram que a entrada em cena de um segundo nome governista, embora garantisse que a sucessão só se decidirá no segundo tempo, representaria um risco incalculável para as chances de Dilma.
Não seria o lulismo que se exporia à eventualidade de ver migrar para ele parcela decisiva do eleitorado, à medida que as limitações da candidata se revelassem insuperáveis. No limite, melhor perder com Dilma - hipótese que Lula trataria de tornar inconcebível - do que ganhar na segunda rodada com o instável e boquirroto aliado, que ainda ontem acusou Lula de “navegar na maionese” ao se achar o “Todo-Poderoso”. Ciro detesta o PT quase tanto quanto o PSDB a que já esteve filiado, considerando ambos faces da mesma suposta hegemonia política paulista.
Além disso, no que dependesse do PMDB, Ciro morreria na praia. Não foi ele quem classificou a aliança PT-PMDB — neste caso coberto de razão — como um “roçado de escândalos”? (O que levou Dilma a atribuir-lhe o pecado da soberba.) De outro lado, com 28 deputados, formando a oitava bancada das 20 da Câmara, e apenas 3 governadores, o PSB precisa compor-se com o PT para não definhar no plano regional. Os socialistas têm 11 candidatos a governador, mas só 3 deles apoiados pelos petistas. E, correndo por fora, a anunciada aspiração do partido de “duplicar a bancada” federal se tornaria ainda mais despropositada do que já parece.
O próprio Ciro não tem moral para se queixar do presidente ou de seus correligionários. Afinal, ele aceitou prestar-se à ostensiva jogada de Lula para tirá-lo do pleito nacional, concordando em transferir do Ceará para São Paulo, seu Estado natal, o seu título de eleitor. Com isso, Ciro apequenou a sua alardeada imagem de altivez e independência, mesmo sabendo serem praticamente desprezíveis as chances de o PT paulista fechar com a sua candidatura ao governo estadual. Numa versão caridosa, ele teria querido dar uma prova de lealdade a Lula, na expectativa de que, ao fim e ao cabo, o “Todo-Poderoso” o deixasse competir no páreo principal. Se assim entendesse, agiria como um néscio - o que ele não é.
O esperado fim da quimera de Ciro privará a campanha de uma presença desejável, como desejável é a da ex-ministra Marina Silva, para, entre outras coisas, ampliar o debate das questões nacionais.
Por deploráveis que sejam os seu rompantes temperamentais e os estereótipos nos quais se enreda com frequência, é inegável que ele demonstra ter luz própria quando fala sobre o País - mais do que a escolhida de Lula, que outra coisa não diz a não ser que o seu padrinho é o máximo. Também por isso, talvez, Ciro julga o tucano José Serra “mais preparado, mais legítimo, mais capaz” do que ela.
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