sábado, 24 de abril de 2010

422) Ciro Gomes: o destempero de um candidato "suicidado"

CIRO: “LULA VIAJA NA MAIONESE; SERRA É MAIS PREPARADO; DIREÇÃO DO PSB NÃO ESTÁ À ALTURA DO DESAFIO DA HISTÓRIA; PT VAI TENTAR OUTRO ESCÂNDALO DOS ALOPRADOS; NÃO ME PEÇAM PARA IR À TELEVISÃO”
Reinaldo Azevedo, 23.04.2010

Em entrevista a Eduardo Oinegue, do iG, o deputado Ciro Gomes (PSB) rasga o verbo e afirma que “Lula está navegando na maionese”; que o tucano José Serra “é mais preparado, mais legítimo e mais capaz ” de “enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos”; que o presidente nacional do partido, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, e o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, “não estão no nível que a história impõe a eles” e antevê que o PT tentará, de novo, algo parecido com o escândalo dos aloprados. E avisa: “”Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou.”

Trechos da entrevista:
Lula:
“Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz”.

Serra
“Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos.”

PSB
[Eduardo Campos e Roberto Amaral, dirigentes do PSB] “não estão no nível que a História impõe a eles”.

Aloprados
“Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma merda”.

Crise futura
“Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase econômica e aparentemente boa, a discussão fica escondida. Mas precisa ser feita. Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir”

Apoio a Dilma
“Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou. Sei lá. Vai ver viajo, vou virar intelectual. Vou fazer outra coisa”.

Comentários Reinaldo Azevedo:

A posição de Ciro (ver abaixo), a ser mantida, é serena se comparada àquilo que Lula e o PT fizeram com ele. Jamais vi um aliado tão fiel ser tratado com tamanha descortesia. “Descortesia”? A palavra não cabe porque isso é ofensa de salão. O ex-governador do Ceará foi vítima é de brutalidade mesmo.

E é o que sempre acontece com qualquer um que tente ter uma relação minimamente altiva com o PT e, particularmente, com Lula. Já escrevi que Ciro nunca entendeu a natureza do partido e a raiz intelectual de sua formação, que não compreende um governo de coalizão coisa nenhuma!

Coalizão significa unir as principais forças políticas do país, concentrando-se no que se considera essencial. Os petistas só entendem a relação de subordinação, e aqueles que se juntam a seu “projeto” têm de ter a cara que tem o PMDB lulista, este liderado por gigantes morais como José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá.

Ciro foi convidado a fazer parte desse festim e a ter um naco do poder, como um peemedebista qualquer, regalando-se com alguma divisão do governo, onde pode fazer seus pequenos grandes negócios. O deputado do PSB queria mais: queria ser protagonista na política. Não existe esse espaço no PT.

Lula foi esvaziando Ciro com a técnica e a paciência de um taxidermista. Tirou-lhe a vitalidade eleitoral e o encheu de palha, de modo que ele pudesse conservar, durante algum tempo ao menos, a aparência de figura relevante na sucessão. Até que chegou a hora do golpe: a visita de Dilma Rousseff ao Ceará, o que, vamos convir, foi de um desrespeito brutal.

Notem que narrativa interessante: o petista levou Ciro a transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo e despachou Dilma para fazer embaixadinha no Ceará. Em suma: deu-lhe de presente o que ele jamais terá — São Paulo — e tentou lhe roubar o que ele tinha: o Ceará. O jornalismo amigo do PT tentou atribuir a visita de Dilma àquele estado a um erro da candidata ou da coordenação de campanha. Bobagem! Pode até ter sido um erro, mas cometido pela cúpula do partido. Nem isso cabe a Dilma decidir. Não custa lembrar que até para evocar palavras de otimismo, como fez no programa do tal Datena, ela recorre a Lula — ou, pior, à mãe de Lula.

A forma como o lulo-petismo trata um aliado dá conta do que esse gente gostaria de fazer com adversários. O escândalo dos aloprados, que Ciro relembra em sua entrevista, dá uma pista.

O PT tem um norte moral: tudo o que não serve à hegemonia do partido deve ser destruído. E, bem…, no que diz respeito à relação Ciro Gomes-PT (consulte o arquivo do blog), não foi por falta de aviso.

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LULA, UM ESPECIALISTA EM ESMAGAR PESSOAS
Na entrevista (ler dois posts anteriores sobre o assunto), Ciro Gomes afirma que pode até se afastar da política. Pois é… Quando brigou com os tucanos de São Paulo, fizeram dele um gigante. Depois de se aliar aos petistas, pode até desistir da política. Ciro precisa repensar que estranha relação é essa em que os inimigos servem para torná-lo grande, e os amigos, para destruí-lo. Não seria o caso de um ajustamento de conduta, de modo que estas duas categorias — aliados e relevância política — possam andar juntas?

Não creio que desista. Mas, caso o faça, poderia se dedicar, quem sabe?, à vida acadêmica. Há um campo de estudo bastante interessante, que jamais será investigado pela “subintelectuália esquerdopata” das universidades: “O que aconteceu, nos últimos 30 anos, com qualquer um que tenha contestado Lula?”

Uma boa pesquisa requer frieza analítica. Mas a experiência pessoal pode ajudar. Dou algumas pistas:
- Lula destruiu todos os seus adversários no sindicalismo, estivessem eles à “esquerda” ou à “direita”. Sobreviveu quem se dobrou ou se vendeu. Vejam o caso de Joaquinzão, o dito grande pelego do “sindicalismo reacionário”: morreu pobre e abandonado num asilo. Lula, o “progressista e socialista”, é quem é;

- Lula relegou a uma expressão não mais do que regional lideranças de esquerda ou “progressistas” egressas do pré-64, como Leonel Brizola e Miguel Arraes;

- Lula esmagou politicamente todos aqueles que tentaram, quando isso não lhe era pessoalmente conveniente, qualquer diálogo com outras forças políticas. Vejam o que aconteceu com os três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves (José Eudes, Beth Mendes e Airton Soares) com ou Luíza Erundina, que aceitou ser ministra de Itamar Franco;

- Lula desmoralizou, chegando ao poder, as alas à esquerda do partido. Posso até achar que ele fez muito bem, mas elas eram suas aliadas, não minhas, e faziam o discurso histórico do petismo;

- Lula sempre tratou a pontapés qualquer um que ousasse contestar a sua liderança no partido (ou em qualquer outro assunto), como sabe, por exemplo, o senador Cristovam Buarque (DF), hoje no PDT, demitido por telefone;

E Lula, finalmente, trata como inimiga a ser destruída a própria história do Brasil, ao tentar desconstruir a biografia de todos os governantes que o antecederam — em parte, contou com a colaboração de Ciro por um período ao menos.

Nada cresce à sombra de Lula, deputado Ciro Gomes, se não for com a plena concordância do… frondoso Lula! E o que lhe garantiu tal poder? É dono, sem dúvida, de uma notável inteligência política. Isso conta muito. Lidera um partido que se estrutura para substituir a sociedade, não para governá-la. E isso é fundamental. E, não menos importante, o PT tem uma presença maciça na imprensa. E isso não é de hoje. Querem um exemplo até banal? Quem primeiro chamou o Democratas de “demo” e seus membros de “demos” foi o PT. O termo é hoje empregado como linguagem referencial pelos jornalistas — já o vi em títulos na primeira página.

Qualquer político que ambicione ter existência própria, deputado Ciro Gomes, deve se preparar para enfrentar essa máquina em vez de se aliar a ela. O PT entende duas categorias: oposição, que ele tenta destruir por meios lícitos e ilícitos, e subordinação.

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COMEÇOU O TRABALHO PETISTA PARA FAZER DE CIRO A GENI
O PT já começou o trabalho de desmoralização do deputado Ciro Gomes (PSB), um precioso aliado até anteontem. Percebam a arrogância contida nestas palavras do líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (SP):

“Nós garantimos a ele a possibilidade de sair para o governo de São Paulo, ele não topou. Nós não concordamos com a tese de sua candidatura para a Presidência. Ele que tem que arcar com a política dele; por isso, está sendo muito injusto com o PT e com o presidente”.

Notaram? Generosamente, “ofereceram” a Ciro a possibilidade de se candidatar ao governo de São Paulo!!! E não “concordaram” com a candidatura!!! Ciro e o PSB não foram livres, como se nota, nem para decidir isso.

Vaccarezza está dizendo o seguinte: “Como ele não concordou com a nossa decisão, então tivemos de atropelá-lo. Logo, a culpa é dele. Ele era livre para concordar”.

Eis o PT!

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“O tratamento que deram a Ciro não foi leal”
Na Folha Online:
Lideranças do PSDB endossaram nesta sexta-feira as palavras do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) de que o tucano José Serra é “mais preparado” para assumir a Presidência da República do que a pré-candidata petista Dilma Rousseff. Além de comemorar as farpas de Ciro disparadas a Dilma, os tucanos também se mostraram surpresos com o fato de um aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticá-lo publicamente –já que Ciro disse que Lula “navega na maionese”.

Na opinião dos oposicionistas, Ciro reagiu depois de ser “escanteado” pelo presidente Lula, que optou por fazer de Dilma a sua candidata. “Ele foi cozinhado grosseiramente, depois percebeu que sequer seria candidato a governador de São Paulo. O tratamento que deram a ele não foi leal”, disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Para o líder tucano na Câmara, deputado João Almeida (BA), Ciro se “iludiu” com o presidente Lula quando acreditou que seria o candidato da base aliada ao Palácio do Planalto. “O Ciro não entendeu a personalidade do Lula. Achou que seria valorizado, mas o projeto do Lula é a Dilma”, afirmou.

Na opinião de Almeida, as recentes declarações de Lula mostram que o presidente está “cada vez mais distante da realidade”, por isso acha que Lula “viaja na maionese”.

Para Virgílio, as críticas de Ciro beneficiam diretamente a pré-candidatura de Serra ao governo federal. “Com o peso nacional do Ciro, é relevante reconhecer que o melhor para o Brasil é o Serra. Ele não é obrigado a gostar do Serra, mas é importante reconhecer que a eleição com ele seria muito mais interessante do que com a Dilma”, afirmou.

O tucano disse que Ciro errou ao transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, atendendo um pedido de Lula, para que disputasse o governo estadual. Como Ciro insistiu na sua candidatura ao Palácio do Planalto, o PT elevou o senador Aloizio Mercadante (SP) a pré-candidato do partido ao governo do Estado.

[Observação PRA: Só não concordo com uma observação acima, do deputado João Almeida (PSDB-BA), de que o projeto de Lula é a Dilma. Não, não é; o projeto de Lula é Lula!. As simple as that.]

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LÍDER DE LULA NO SENADO DIZ QUE CIRO AGE COM “IMATURIDADE” E “NÃO ESTÁ AJUDANDO”!!!
Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado e membro da bancada de Educação Moral e Cívica do PMDB, também reagiu às declarações de Ciro Gomes:

“Ele virou uma metralhadora giratória e atirou para todos os lados. Está agindo com imaturidade. Eu lamento as declarações dele, especialmente porque o deputado é uma pessoa que pode ajudar muito o País e não está contribuindo, não está ajudando”.

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‘JÁ LHE DEI MEU CORPO, MINHA ALEGRIA, JÁ ESTANQUEI MEU SANGUE, QUANDO FERVIA, OLHA A VOZ QUE ME RESTA…
Vejam este trechinho de um texto da Folha Online: “Questionado sobre as declarações do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, limitou-se a cantarolar a música “Gota d’Água”, de Chico Buarque…

Volto
Chico é um bobo político e um grande letrista (o que não quer dizer “grande poeta”, que poesia é outra coisa). “Gota d’Água” é uma das suas mais belas criações e dá voz ao amante que, embora fiel, é tratado com desprezo: cedeu ao outro seu corpo, sua alegria, até sua dignidade. No momento em que fala, está por um triz, pronto a explodir, a dar um desfecho “à festa”. Na peça homônima, de Chico e Paulo Pontes (uma releitura de Medéia, de Eurípedes), a letra assume um significado um tanto distinto. Mas isso não cabe agora.

Ao ser irônico e grosseiro com Ciro Gomes, o presidente do PT não deixa de empregar uma referência pertinente. Metaforicamente, Ciro foi esse amante que entregou tudo ao PT. Até o seu domicílio eleitoral! Segue a letra.

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor,
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água


Encerro
O que resta a Ciro? A voz! Tomara que ele saiba empregá-la para o bem da democracia brasileira. Vamos ver.

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NA TV, CIRO REPETE QUE SERRA É MAIS PREPARADO DO QUE DILMA PARA GOVERNAR O BRASIL E REITERA QUE PT PREPARA DOSSIÊ CONTRA O TUCANO
É… Ciro Gomes foi cem por cento Ciro Gomes na entrevista ao SBT Brasil.

Repetiu tudo o que está no texto assinado por Eduardo Oinegue, publicado no iG, mas negou que tenha concedido uma entrevista ao portal… Vai ver o jornalista desenvolveu o dom da adivinhação. Atacou, como de hábito, José Serra — que trataria, segundo ele, os adversários como inimigos —, mas repetiu que o tucano está mais preparado para governar o Brasil. Num particular, e bastante relevante, Ciro avançou um tanto mais. Já chego lá.

Ciro admitiu que Lula e o PT atuaram para desidratar sua candidatura e voltou a criticar José Dirceu, que teria ido à casa de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), para fazer ameaças: o PT retiraria o apoio a Cid caso Ciro fosse candidato. pelo PSB “Esse [José Dirceu], eu já mandei pastar”.

Dirceu ser um dos coordenadores da campanha de Dilma é, segundo Ciro, um dos erros cometidos pelo PT: “Um desacato ao Judiciário e à opinião pública”. Disse que os primeiros movimentos de Dilma o deixaram arrepiado: a visita ao túmulo de Tancredo e a ida ao Ceará, “sem nem um telefonema”. E emendou: “Não porque eu seja um coronel, mas porque eu sou candidato, caramba!”

Ciro não se disse ainda um não-candidato — já que seu partido toma a decisão oficial na terça-feira —, mas sabe que está fora do jogo. Foi ambíguo sobre o futuro: num dado momento, afirmou que obedecerá às diretrizes do partido; noutro, que vai cantar em outra freguesia, dando a entender que deixa o PSB.

Dossiê
Na “não-entrevista” (!!!) ao iG, Ciro afirmou que o PT recorreria de novo a coisas como o dossiê dos aloprados. Na entrevista ao SBT Brasil, ele se estendeu um pouco mais: deu a entender que o governo já mobilizou o Ministério da Justiça para tentar envolver o candidato do PSDB à Presidência com supostas irregularidades da Alstom.

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Ciro frustra o Planalto e irrita Lula com elogio a tucano
Vera Rosa e Tânia Monteiro
O Estado de S.Paulo, 24.04.2010

De todas as estocadas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a que mais surpreendeu e irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o elogio feito pelo antigo aliado a José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Furioso, Lula orientou Dilma Rousseff, concorrente do PT, a não entrar no bate-boca para não jogar mais combustível na crise.

Para Lula, o fato de Ciro ter dito que ele está “navegando na maionese” não passa de “bobagem”, mas a declaração referente a Serra - definido pelo deputado como “mais preparado, mais legítimo e mais capaz” do que Dilma - foi recebida como traição.Em público, Lula não comentou a entrevista de Ciro ao portal iG.

“Estou mudo”, disse ele, ao chegar ontem para a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso. Longe dos holofotes, porém, não escondeu a contrariedade. No seu diagnóstico, Ciro quebrou o acordo de tudo fazer para ajudar Dilma.

O presidente qualificou a situação como “dolorosa”. A auxiliares, afirmou que não havia chamado Ciro para uma conversa a sós, até hoje, porque aguardava um sinal do PSB. Na prática, não sabia o que fazer. A certa altura, chegou mesmo a achar que ele aceitaria ser candidato ao governo de São Paulo, com o apoio do PT. Era o script combinado.

Depois, quando Ciro começou a bater cada vez mais duro, Lula recebeu da cúpula do PSB a garantia de que a desistência do cearense da disputa presidencial seria “administrada”. O ex-ministro, porém, fugiu do controle.

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O golpe de graça do PSB

Editorial do Estado de São Paulo, 24.04.2010:

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) marcou para terça-feira as exéquias da candidatura Ciro Gomes ao Planalto. Se dependesse da cúpula da legenda, as pretensões presidenciais do deputado pelo Ceará deveriam se desmanchar “espontaneamente”, em fogo brando, como já sugerem as pesquisas. Mas depois que - em um artigo tipicamente agressivo - ele chamou os socialistas às falas para se decidirem de uma vez por todas, o comando da agremiação resolveu antecipar o desenlace, mediante um golpe de graça para salvar a face de Ciro.

Em seguida a uma consulta aos diretórios regionais da sigla, neste fim de semana, a executiva socialista de 18 membros resolverá na terça o que de há muito resolvido está: o partido não terá candidato próprio à sucessão do presidente Lula e se integrará à caravana dilmista. Numa de suas exortações para que o PSB fizesse o contrário, indo consigo à disputa, o duas vezes ex-presidenciável argumentou que, de outro modo, a sigla estaria fadada a imitar o PC do B em matéria de subserviência ao governo. É verdade, mas não toda a verdade.

De um lado, o cacife político da legenda era e é notoriamente insuficiente para contrariar a estratégia eleitoral lulista do “nós e eles”, firmada depois que se dissiparam as dúvidas sobre a saúde da então ministra Dilma Rousseff. A sorte de Ciro foi, como se diz, selada a partir do momento em que o presidente e o PT concluíram que a entrada em cena de um segundo nome governista, embora garantisse que a sucessão só se decidirá no segundo tempo, representaria um risco incalculável para as chances de Dilma.

Não seria o lulismo que se exporia à eventualidade de ver migrar para ele parcela decisiva do eleitorado, à medida que as limitações da candidata se revelassem insuperáveis. No limite, melhor perder com Dilma - hipótese que Lula trataria de tornar inconcebível - do que ganhar na segunda rodada com o instável e boquirroto aliado, que ainda ontem acusou Lula de “navegar na maionese” ao se achar o “Todo-Poderoso”. Ciro detesta o PT quase tanto quanto o PSDB a que já esteve filiado, considerando ambos faces da mesma suposta hegemonia política paulista.

Além disso, no que dependesse do PMDB, Ciro morreria na praia. Não foi ele quem classificou a aliança PT-PMDB — neste caso coberto de razão — como um “roçado de escândalos”? (O que levou Dilma a atribuir-lhe o pecado da soberba.) De outro lado, com 28 deputados, formando a oitava bancada das 20 da Câmara, e apenas 3 governadores, o PSB precisa compor-se com o PT para não definhar no plano regional. Os socialistas têm 11 candidatos a governador, mas só 3 deles apoiados pelos petistas. E, correndo por fora, a anunciada aspiração do partido de “duplicar a bancada” federal se tornaria ainda mais despropositada do que já parece.

O próprio Ciro não tem moral para se queixar do presidente ou de seus correligionários. Afinal, ele aceitou prestar-se à ostensiva jogada de Lula para tirá-lo do pleito nacional, concordando em transferir do Ceará para São Paulo, seu Estado natal, o seu título de eleitor. Com isso, Ciro apequenou a sua alardeada imagem de altivez e independência, mesmo sabendo serem praticamente desprezíveis as chances de o PT paulista fechar com a sua candidatura ao governo estadual. Numa versão caridosa, ele teria querido dar uma prova de lealdade a Lula, na expectativa de que, ao fim e ao cabo, o “Todo-Poderoso” o deixasse competir no páreo principal. Se assim entendesse, agiria como um néscio - o que ele não é.

O esperado fim da quimera de Ciro privará a campanha de uma presença desejável, como desejável é a da ex-ministra Marina Silva, para, entre outras coisas, ampliar o debate das questões nacionais.

Por deploráveis que sejam os seu rompantes temperamentais e os estereótipos nos quais se enreda com frequência, é inegável que ele demonstra ter luz própria quando fala sobre o País - mais do que a escolhida de Lula, que outra coisa não diz a não ser que o seu padrinho é o máximo. Também por isso, talvez, Ciro julga o tucano José Serra “mais preparado, mais legítimo, mais capaz” do que ela.

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