As propostas econômicas de Serra
Coluna Econômica de Luis Nassif
28/04/2010
Em entrevista à agência Reuters, fontes ligadas ao candidato José Serra apresentaram algumas idéias que deverão ser implementadas, caso seja eleito.
Algumas são recorrentes, como a história de renegociação de contratos quando eleito. Ou redução de quadros comissionados.
O ponto que importa é a questão do câmbio.
Historicamente, Serra nunca acreditou que medidas pontuais de desoneração da produção como sucedâneo para o câmbio apreciado. Na entrevista, sugere-se que, durante as eleições, ele indicará para o mercado que deseja um dólar a 2 reais. E acredita que, pelo efeito indução, o mercado chegará até lá.
Na verdade é uma aposta arriscada. Na eleição de Lula, em 2002, o câmbio saltou para 4 reais provocando uma enorme agitação.
Mas, ao mesmo tempo, remete para a questão de como ir até um patamar adequado simplesmente manipulando a taxa de juros do Banco Central – que hoje é o principal componente da apreciação do real, à medida que atrai capitais especulativos para o país.
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A entrevista é curiosa por explicitar o que o candidato pensa. Não é nada muito diferente do pensamento da equipe econômica de Dilma Rousseff. Os dois lados sabem da necessidade de corrigir o câmbio e reduzir a vulnerabilidade nas contas externas.
A questão é que intenções como essa não costumam ser anunciadas antecipadamente, porque provocam ebulições no mercado cambial.
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Mesmo assim, quando Dilma Rousseff anuncia plena ênfase às exportações, através de desoneração tributária, devolução dos créditos-prêmio de exportação e outras medidas, sabe-se de antemão que serão insuficientes.
Não há medida de redução de custos, de desoneração, que compense as variações cambiais. Para se obter ganhos de 10% no preço final dos produtos brasileiros, tornando-se mais competitivos, é necessário um esforço descomunal de melhoria tributária, de infra-estrutura.
Todo esse esforço vai por água abaixo mediante uma mera decisão do BC de aumentar a taxa Selic e não impor nenhuma restrição à entrada de capitais externos.
Tanto do lado de Serra quanto de Dilma há a convicção sobre a necessidade de impor taxas maiores à entrada de capitais externos.
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Na entrevista à Reuters, os porta-vozes de Serra anunciam que o BC não será entregue a nenhum porta-voz do mercado. No máximo, diretores convocados do mercado, por seu conhecimento técnico, mas dispostos a cumprir a agenda do governo.
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Essa uniformidade de idéias em relação ao câmbio mostra que o ciclo mercadista efetivamente chegou ao fim. Não fosse o ano eleitoral, esse fim poderia ter sido abreviado.
Esses anos de câmbio apreciado roubaram muitos pontos percentuais do PIB, impediram a modernização do parque industrial brasileiro, dizimaram as exportações de manufaturados, reduziram a qualidade do emprego, bloquearam as inovações na indústria.
No balanço do país após a redemocratização, Fernando Henrique Cardoso e Lula entrarão para a história por razões variadas: o primeiro por ter ajudado a consolidar a democracia; o segundo, pelo salto nas políticas de inclusão social.
Mas ambos pagarão o preço de jamais terem ousado enfrentar a maldição do câmbio apreciado.
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