quinta-feira, 8 de abril de 2010

376) Taticas eleitorais: o campo governista

SOBRE PETISTAS E LOBOS. OU: QUANDO DILMA TENTOU DERRUBAR PALOCCI, E ELE RECEBEU O APOIO DE TUCANOS E DEMOCRATAS
Reinaldo Azevedo
7 abril 2010

Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, visitou ontem a cidade de Ouro Preto, em Minas, acompanhada de três pré-candidatos ao governo do Estado: os petistas Fernando Pimentel (que deve mesmo coordenar a sua campanha) e Patrus Ananias e o peemedebista Hélio Costa, que hoje lidera a bolsa de apostas para ser o nome do Planalto no estado. A candidata disse ser preferível um palanque único do governismo, mas que isso não se impõe etc e tal. E voltou com aquela sua metáfora de cordeiros e lobos: “Vou dizer quem são essas pessoas. Quem, da oposição, tentar agora passar como sucessor do presidente Lula, não sendo, é um lobo em pele de cordeiro. Aqueles que tentarem fingir que não divergiram do governo, que não têm projeto diferente, que não criticaram e não propuseram o fim de políticas de governo.” Sabem quem já “fingiu” no apoio ao governo? Dilma! Chego lá. Antes, outras coisinhas.

Essa é Dilma. Disse que iria dizer e não disse nada. Enrolou, com aquele seu português característico. Sua fala tem umas pausas muito particulares, como se o pensamento saísse perseguindo as palavras, de modo que há sempre uma espécie de descompasso rítmico nas suas sentenças. Mas, afinal, quem é que tenta “passar como sucessor do presidente Lula sem ser?”

Que se saiba, Lula ainda não tem sucessor. Será aquele que sair das urnas. Pode parecer bobagem, mas o ato falho é muito significativo. No fundo, Dilma acredita que Lula nomeia o seu continuador mais ou menos como um monarca absolutista poderia escolher quem vai ocupar o trono. A fala de Dilma só faria sentido se ela estivesse se referindo ao próprio PT — alguém que tomaria o lugar de Lula como comandante máximo do partido. Ali ele manda e desmanda. Mas isso está longe de acontecer.

Há algo até engraçado nisso tudo. O PT tem uma única estratégia: “Lula ou não-Lula”. Se os petistas forem malsucedidos em satanizar o candidato da oposição, as chances de Dilma diminuem drasticamente. Na dúvida entre uma de duas coisas contraditórias, ela escolhe as duas. E quais são elas?

1 - HIPÓTESE TERRORISTA - A oposição pretende acabar com tudo: PAC, Bolsa Família, ProUni, o Paraíso, a maçã, Adão e Eva…;
2 - HIPÓTESE DO FALSO CONTINUADOR - Nesse caso, o candidato de oposição, SEGUNDO DILMA, apresenta-se como seguidor de Lula.

Mas, afinal, Dilma pretende acusar José Serra de destruidor ou de continuador da obra de Lula? Ela ainda não sabe. Então fica nessa história de lobo em pele de cordeiro, que chamou de “imagem bíblica”. Dilma pertenceu a organizações terroristas no passado, mas jura que nunca participou de nenhuma ação armada nem matou ninguém. Agora sabemos o que fazia naquele tempo de Molipo, VPR, VAR-Palmares… Lia a Bíblia!

E foi no Livro, em Mateus 7,15, que aprendeu:”Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestidos de ovelhas, e dentro são lobos roubadores”. Por isso ela resolveu dar atenção a um profeta verdadeiro: Carlos Lamarca! Lobo em pele de lobo!

Dilma é que tentou derrubar Palocci
Ora, investigue-se a fundo essa postura de Dilma. De fato, o que ela faz é criminalizar a política. A oposição estaria impedida de… se opor! E que se pergunte: quantas foram as vezes que os adversários de Lula inviabilizaram os seus projetos? A única derrota importante foi o fim da CPMF — garantido com votos da base governista. Durante um bom tempo, já tratei aqui do assunto, a verdadeira base de apoio de Lula-Palocci no Senado foi o… PSDB!!!

Políticos gostam de falar para desmemoriados. Mas eu não sou! Em 2005, Dilma Rousseff se alinhou com aqueles que queriam derrubar Antônio Palocci, então ministro da Fazenda - que, reitero, recebeu integral apoio de tucanos e pefelistas (hoje democratas). Leiam, se quiserem, reportagem da Folha intitulada Agora é Dilma quem combate Palocci, de 30 de outubro de 2005.

E a luta de Dilma foi longa. No dia 11 de novembro, a mesma Folha noticiava:
Em jantar com PMDB, Dilma “queima” rival
Na véspera de ouvir do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não desejava que divergências no governo se tornassem públicas, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) voltou a criticar o colega da Fazenda, Antonio Palocci. Em jantar anteontem com a bancada do PMDB no Senado, disse que Palocci “só pensa em superávit primário” e não tem “criatividade e abertura” para discutir outra política econômica, segundo o relato de presentes ao encontro, no apartamento do líder do partido, Ney Suassuna (PB).
De acordo com Dilma, Palocci “sumiu das solenidades públicas” por causa das acusações de corrupção em sua gestão em Ribeirão Preto. “Não apareceu no encontro com o Bush [George W. Bush, presidente dos EUA que visitou Brasília no fim de semana]. Mais: Dilma afirmou ter “respaldo” do PT para “enfrentar” Palocci no debate sobre gastar mais (acelerar liberação de verbas) e pediu ajuda do PMDB para isso.
Disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria se espelhar no antecessor Fernando Henrique Cardoso para se relacionar com o Congresso
(…)
No jantar, Dilma afirmou que pensou que, na Casa Civil, poderia debater economia com Palocci, mas ele “só fica com a avaliação do corpo técnico, fechado com a sua igrejinha”. Citou alguns auxiliares, como Jorge Rachid.
Dilma disse que, quando foi ministra das Minas e Energia, teve uma ousadia que Palocci não teria na Fazenda. Afirmou que enfrentou empresários, contrariou interesses e tentou “algo diferente”.
“Precisamos de mais encontros assim”, disse Dilma, que surpreendeu os peemedebistas pela franqueza. Dos 20 senadores do partido, apenas três não participaram do evento.

Voltei
Como se nota, essas histórias edificantes parecem ficar bem nas alegorias, bíblicas ou não, sobre lobos e cordeiros. O ambiente em que Dilma tentou dar uma rasteira em Palocci (o que só Francenildo conseguiria mais tarde, por “méritos” do então ministro) não se parecia muito com um convento, não é mesmo? Palocci é até hoje muito grato a senadores tucanos que lhe garantiram apoio integral.

Dilma diz que não está apostando no “bateu, levou” (até porque o outro lado está levando mesmo sem ter batido) e que insiste nas diferenças para distinguir “dois projetos”. Quais projetos? O dela talvez seja realizar os 89% do PAC que ficaram faltando, né? Essa história de “dois projetos” é só a volta ao monotema: a suposta disputa entre Lula e FHC - a disputa inexistente.

PS - O Palocci que ela tentou derrubar é agora um dos coordenadores de sua campanha. Qual é a função do ex-ministro? Sustentar que Dilma e “amiga” dos mercados, que não tem nada de radical, que é uma convertida e não faz mal! Ou seja: Palocci está aí para dar credibilidade à pele de cordeiro! Mas a patinha…

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