terça-feira, 13 de abril de 2010

395) O tom do discurso do candidato da Oposicao - editorial do Estadao

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A resposta ao 'nós e eles'
Editorial O Estado de S.Paulo
13 de abril de 2010 | 0h 00

O PSDB finalmente expôs a sua alternativa ao plebiscito a que o presidente Lula, o PT e a candidata Dilma Rousseff querem reduzir a campanha sucessória - como que coagindo o eleitor a escolher entre a história oficial do governo que se vai e a sua versão daquele que se foi há 9 anos. No encontro de lançamento da candidatura José Serra, sábado último em Brasília, o ex-governador apresentou pela primeira vez a sua resposta para a armação eleitoral com que o lulismo pretende camuflar o contraste entre o noviciado de Dilma ("a minha biografia é o governo Lula", reconhece) e o currículo político-administrativo do adversário.

De um lado, Serra denunciou as "falanges do ódio" que dividem os brasileiros entre ricos e pobres, nortistas e sulistas, patriotas e inimigos da pátria - a construção populista que se condensa no "nós e eles" de Lula e serve de arrimo ideológico para o seu postiço plebiscito. De outro, o tucano se declarou apto a "fazer mais" do que este governo, cujas deficiências o condutor varre para o canto com a desenvoltura proporcionada por sua extravagante popularidade. Numa amostra do que terá a criticar no plano administrativo - descontada a esqualidez moral e política do petismo no poder -, apontou o dedo para diversos fracassos de Lula.

Transitando entre temas de variado apelo popular - da economia à política externa -, demorou-se na questão educacional e denunciou, além da má qualidade do ensino, "um retrocesso grave dos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes". Credenciado pelo seu desempenho como ministro da área, afirmou que a saúde pública estagnou ou avançou muito pouco, "mas pode avançar muito mais e nós sabemos como fazer isso acontecer". Na mesma linha, disse que o Brasil poderia ter crescido mais se a infraestrutura nacional não tivesse sido relegada, a ponto de o transporte de uma tonelada de soja de Mato Grosso ao Porto de Paranaguá custar mais do que dali até a China, como exemplificou. Foi o desnudamento do PAC.

Chamou a atenção dos observadores o fato de Serra ter conseguido evitar tanto o tom tecnocrático quanto o falsamente coloquial; foi incisivo, mas não ofensivo. Para os otimistas, ele já teria encontrado o tom certo para se dirigir ao eleitor, enquanto Dilma ainda tropeça na forma, tentando imitar Lula, e sobretudo no conteúdo, com a sua crescente coleção de impropriedades. A mais recente escapou em um evento arranjado de última hora pelo PT em São Bernardo para concorrer com o encontro da oposição em torno de seu candidato. Buscando desqualificar o opositor, dessa vez no plano pessoal, disse que não foge "quando a situação fica difícil" - Serra se exilou depois do golpe de 1964, como se tantos dos atuais companheiros dela não tivessem feito o mesmo.

O tucano, por sua vez, limitou os seus ataques à esfera política. Ao arrolar as mudanças experimentadas pelo Brasil desde a redemocratização, lembrou que não foram "conquistas de um só homem ou de um só governo, muito menos de um único partido". Disse que "o Brasil não tem dono", mas é dos brasileiros que "não dispõem de uma boquinha, dos que exigem ética na vida pública, dos que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida". Eleitoralmente, é cedo para saber o que terá representado a estreia do candidato. Politicamente, no entanto, o ato foi o passo sincronizado que de há muito os tucanos e seus aliados não conseguiam dar.

Ninguém, nem Serra, encarnou melhor esse movimento do que o seu antigo rival tucano pela indicação para o Planalto, o agora ex-governador mineiro Aécio Neves. Acolhido aos gritos de "vice, vice", surpreendeu pela robustez de suas expressões de apoio ao paulista, incluindo a promessa de estar ao seu lado "onde quer que seja convocado" - embora depois reiterasse o seu projeto de se candidatar ao Senado. Surpreendeu ainda mais pela contundência inédita de suas críticas ao PT e pela ênfase com que instou a oposição a comparar, sim, os governos Fernando Henrique e Lula, não se furtando a elogiar as privatizações das telecomunicações e da siderurgia, difamadas pelo lulismo. "Não há nada", desafiou, "do que nos envergonhar."
O Estado de S.Paulo

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