sexta-feira, 30 de abril de 2010

431) Um raro chamado ao bom-senso - Ubiratan Iorio

Abaixo, o artigo do mês de maio de meu site, www.ubirataniorio.org
Artigo do Mês - Ano IX – Nº 98 – Maio de 2010

E A LOUCURA CONTINUA CAMPEANDO...

Ubiratan J. Iorio

O mundo parece ter virado de cabeça para baixo. O certo deixou de ser certo e o errado de ser errado; o que sempre foi considerado como virtude deixou de sê-lo e o que era vício já não é mais vício. Pais jogam filhas do alto de edifícios e de pontes; filhas matam pais e em seguida vão para o motel com o namorado; maridos assassinam esposas e vice-versa; políticos sabidamente corruptos, além de não serem impedidos de concorrer a novos mandatos, frequentemente são reeleitos; médicos abusam sexualmente de pacientes; babás maltratam bebês inocentes; professoras são agredidas por alunos; leis instituem cotas disso e daquilo, sobrepondo-as ao mérito; o governo gasta o que pode – e o que nós, “contribuintes” compulsórios, não podemos – para eleger sua candidata; a direita (envergonhada não sei de quê) não tem coragem de mostrar a cara; e os defensores dos valores morais herdados de nossos antepassados e da economia de mercado estão acuados e, diante de tantas pressões contrárias, muitos deles pensam em desistir da luta, o que é um erro.

Recolhi, em apenas um dia, três manifestações evidentes de que a loucura continua campeando na terra que Caminha tanto exaltou. Deixo-as com vocês, para sua reflexão.

Primeira manifestação: mais um ministério!

Em entrevista ao Jornal da TV Bandeirantes, em 26 de abril, o candidato tucano à presidência do país, instado pelo entrevistador Datena a pronunciar-se sobre o que pensa do MST, após dizer o que todos já sabemos – ou seja, que os invasores de terras alheias, financiados com recursos oficiais, usam a bandeira da reforma agrária como mero pretexto para seus fins políticos – sacou do coldre uma declaração que mostra bem o que representa a disputa política, pela quinta eleição presidencial consecutiva, entre dois partidos de esquerda, o seu e o (dito) dos “trabalhadores”: a de que, caso seja eleito, criará mais um ministério, o da “segurança”...

Mamma mia, mais um ministério! Qualquer paralelepípedo esquecido na mais longínqua rua deste nosso belo e estranho país sabe, há muitos e muitos anos, que a melhor receita para um governo não resolver um problema é criar um ministério (ou secretaria especial) dedicado a solucionar esse problema!

Lula, até agora, é campeão absoluto em criar ministérios e secretarias especiais para acomodar aliados, companheiros e tendências. Com ele, já são trinta e sete, quase quarenta, o mesmo número dos existentes em Cuba e a metade dos que existiam na antiga União Soviética. E Serra demonstra que, com ele, as coisas não mudarão, pois o candidato da “oposição”, simplesmente, promete criar mais um, dessa vez para enfrentar os crimes, inclusive – como inferi da entrevista - os praticados pelo MST. Difícil de acreditar, mas é verdade!

Qualquer governo que revele respeito pelos direitos de propriedade sabe que, para acabar com as invasões dos baderneiros do campo basta ao governo aplicar a lei – ou seja, chamar a polícia do estado onde ocorre a invasão, retirar os invasores e seus “coordenadores”, processá-los e aplicar, pura e simplesmente, o Código Penal, já que os que aprovaram nossa Constituição “cidadã”, com todos os seus defeitos (incluindo o conceito malicioso de “função social da terra”), não se atreveram a abolir o direito de propriedade. Para os demais crimes, cabe o mesmo procedimento, com a ressalva de que, dada a dimensão do problema, há necessidade urgente de investimentos para modernizar as polícias e de disposição para tornar as penas mais severas, o que aumentará ao mesmo tempo a probabilidade de captura e o rigor do castigo reparatório, inibindo assim os criminosos potenciais e reduzindo sensivelmente as taxas de criminalidade.

Mas Serra quer criar um ministério apenas para cuidar da segurança interna, como se fossem poucos os paquidermes que povoam a Esplanada e como se, no seu governo, nem de longe houvesse possibilidade de aparelhamento político do novo filhote de elefante. E, ainda, como se as diversas polícias já existentes - civis, militares, municipais, federal, rodoviária, força nacional de segurança, etc., não fossem capazes de resolver a grave questão do crime na cidade e no campo e a simples vontade política e o consequente respeito à lei, garantido pelas autoridades, não fossem suficientes para manter a ordem.

Ouvidos pela mídia, os chamados “especialistas em segurança”, em geral sociólogos de esquerda, apoiaram em sua maioria a proposta do governador paulista.

É apavorante.

Segunda manifestação: “meu governo será mais de esquerda que o de Dilma”!

No último final de semana, a economista luso-brasileira Maria da Conceição Tavares - aquela que chorou de alegria quando Sarney criou o Plano Cruzado (quando a boa teoria econômica recomendava que a tristeza é que deveria ter sido o motivo do choro, diante de tamanho equívoco) - completou 80 anos e seus amigos e ex-alunos ofereceram-lhe uma festa no Rio de Janeiro. Lá estavam dois velhos discípulos e seguidores de suas ideias intervencionistas: Serra e Dilma.

Em dado momento da comemoração, conforme noticiou o jornal O Globo na mesma segunda-feira, 26 de abril, Serra viu-se cercado por antigos companheiros de “exílio” (as aspas são necessárias, porque muitos dos que hoje recebem a chamada “bolsa-terrorismo” se auto-exilaram) e, para tentar ganhar ou recuperar a simpatia – e os votos – dos velhos comunistas, fez questão de frisar que o seu governo seria mais de “esquerda” do que o de Dilma...

E pensar que o tucano, diante do simulacro de polarização em que se transformaram as eleições presidenciais no Brasil, é apresentado como se fosse o candidato da “direita”...

É assustador!

Terceira manifestação: o Ministério da Justiça quer soltar 20% dos presos do país!

Também no mesmo dia 26 de abril – que, pelo visto, deveria ser doravante considerado como o Dia da Loucura – os jornais noticiaram que o Ministério da Justiça, devido às precárias condições dos presídios brasileiros, pretende colocar na rua, sob regime de monitoramento eletrônico, 20% do total de presos, o que equivale a cerca de 80.000 condenados por diversos crimes. E pensar que tal proposta ocorreu poucos dias depois de terem libertado aquele maníaco pedófilo que acabou se enforcando na prisão, após ter praticado mais seis assassinatos de meninos depois que foi solto por “bom comportamento”...

Alegam os defensores da absurda proposta que, como o sistema prisional do país não trata os presos com dignidade – o que é verdade – então a solução é soltar os que mostrarem “bom comportamento”. Um dos defensores da idéia chegou a afirmar em entrevista na TV que se um preso, após ser solto, voltasse a delinqüir, ele seria facilmente recapturado graças ao sistema de monitoramento eletrônico. Isto nos conduz imediatamente a uma pergunta simples e objetiva: e se o tal delito fosse um assassinato, o gênio que deu a entrevista teria também poderes para ressuscitar a vítima? Será que ele trará de volta à vida os seis meninos que foram mortos pelo maníaco? Ou que fará retornar a alegria às suas famílias e a tantas outras atingidas por crimes praticados em condições semelhantes?

Não seria mais respeitoso para com a população que sempre respeitou a lei se, ao invés de libertarem condenados antes do cumprimento total de suas penas, colocando em risco inadmissível todas as pessoas de bem, construíssem tantos presídios quanto fossem necessários para abrigar com um mínimo de dignidade indivíduos que já comprovaram serem nocivos para a sociedade? Não venham dizer que não há recursos para isso, porque para outros fins bem menos necessários ao bem comum (porém, mais eleitoreiros) os dados demonstram que eles existem - e de sobra.

Do jeito que a coisa caminha, qualquer dia desses outro cérebro iluminado irá propor que, para que a população carcerária pare de crescer, a polícia deverá ser proibida de prender e os juízes de condenar... Ou algum outro luminar sugerirá que, doravante, por decreto, crime não será mais considerado crime e justiça também não será mais justiça... Felizmente, não há possibilidade de um terceiro gênio sugerir que todas as pessoas de bem sejam trancafiadas e todos os bandidos sejam soltos, porque, neste caso, não haveria recursos para construir tantos presídios, embora, muito provavelmente, alguém já deva ter pensado em uma “solução” desse tipo...

É aterrador.

Conclusão simples

O Brasil – assim como o mundo – está de ponta-cabeça. A raiz mais profunda de toda essa maluquice é o abandono dos valores morais que forjaram a civilização ocidental, com a morte de Deus decretada unilateralmente (se fosse hoje, teria sido por Medida Provisória) por Nietzshe, o niilismo, os ataques orquestrados contra o Papa e a Igreja Católica (o que é diferente de punir meia dúzia de padres pedófilos, que devem ser processados na Justiça comum por seus crimes e afastados da Igreja por seu péssimo exemplo). O vácuo causado por todos esses fenômenos estimulou a politização do sistema moral e do sistema econômico, com o avanço crescente do Estado sobre o indivíduo e vem transformando nossa sociedade em um enorme hospício.

Ou acabamos com o relativismo moral ou ele terminará conosco, instituindo definitivamente a barbárie em suas diversas manifestações. E o que vem a ser um homem compulsoriamente desnudado, por meio de permanentes lavagens cerebrais, de princípios morais, senão uma criatura bárbara, semelhante a um animal irracional, despida, portanto, de sua própria dignidade? E o que vem a ser a servidão do indivíduo ao Estado, senão uma forma de barbárie, talvez uma das mais hediondas, torpes, vis e abjetas?

Mas não se preocupe. Sorria! Sua conta bancária já está há tempos sendo monitorada pelo Estado e em breve, - se você não botar a boca no trombone - sua vida privada e todos os seus atos também o estarão. E se, por infelicidade (já que ninguém é perfeito), praticar algum delito moral grave, não será punido por isso e a mídia poderá até transformar você em manchete, capa de revista e chamá-lo para programas na televisão...

Como diz meu dileto amigo, o filósofo Alberto Oliva, da UFRJ, “a loucura campeia”. E, pelo visto, continuará a campear e a ditar as regras do jogo por muito tempo na terra descoberta por Cabral...

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