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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Radiografia das eleicoes - Congresso em Foco (1.11.2010)

O site do Congresso em Foco, um serviço informativo independente, fornece os dados completos e algumas análises das eleições presidenciais encerrradas em 31.10.2010.
Desde já cabe fazer uma pequena-grande correção, quando o editorialista afirma que: "Dilma Rousseff, a primeira mulher a exercer o cargo mais importante do país, é dona de quase 56 milhões de votos."
Não, não é, e isso é tão evidente, aos olhos de qualquer observador isento que nem seria preciso corrigir o jornalista que escreveu essa bobagem.
Quem seria Dilma, o que seria de Dilma, a criatura eleitoral de Lula, se ela tivesse de disputar sozinha, apenas com base em seus méritos (ou deméritos) próprios uma eleição?
Respondo simplesmente: NADA, NINGUÉM.
Sem Lula, a criatura eleitoral, o boneco de Lula não teria absolutamente nenhuma expressão eleitoral.
Ela simplesmente não é dona desses 56 milhões de votos. Talvez venha a ser, algum dia, alguma vez, em alguma eleição, mas não nesta.
Ela simplesmente não existiria sem a vontade do seu chefe, dono e patrão.
Ela é o resultado de uma escolha de bolso de colete, como se diz, de um "dedazo", como diriam os mexicanos (em relação às antigas escolhas do PRI). No caso do Brasil, muito pior, pois o partido dela, supostamente dela, não teve nenhum papel, repito NENHUM, na escolha da criatura eleitoral.
A escolha foi feita solitariamente pelo "dono" do partido, depois que todos os demais líderes foram sendo derrubados por episódios de corrupção e malfeitorias diversas, um retrato perfeito de onde chegou o PT como "partido" político.
Se formos ver, não apenas o círculo de "alianças" eleitorais do PT e de Lula, a quadrilha de onorevole que apoia o governo, e também os mapas eleitorais comparados, das bases políticas do PT entre 1994 e 2010, veremos que o PT foi sendo "empurrado" para os chamados "grotões", como eles designavam, depreciativamente, as bases de apoio do coronelato mais atrasado e mais reacionário da política brasileira.
O PT ficou com o seu exército de assistidos -- que votam nele apenas por dependência alimentar -- concentrados no curral eleitoral do Bolsa-Família, ficou com as militâncias políticas e sindicais que mamam nas tetas do Estado, das agências públicas e das estatais (e que não querem largar a mamata) e ficou justamente com essa fração atrasada da política brasileira, os bandidos e oportunistas de sempre, aqueles que estão sempre com o governo, qualquer governo, sempre que for para mamar também.
Para um petista sincero -- se é que existe ainda essa figura idealista -- deve ser duro ter de aguentar a "grande transformação", a descida para os grotões; é preciso ter muito estômago para aguentar os novos companheiros de viagem, e sobretudo é preciso ter muita cara de pau para assistir às denúncias de imprensa contra seus corruptos e vigaristas e ainda assim não só ter de ficar quieto mas sobretudo ter de defender essa gente de rouba e não faz. É preciso muito estômago para aguentar o asco...
Enfim, termino por aqui e reporto-me agora aos números, sabendo já a quem atribuir os votos de um e de outro candidato.
Paulo Roberto de Almeida

Congresso em Foco, Segunda-Feira, 1 de Novembro de 2010
01/11/2010 - 07h00
O raio X da disputa presidencial
Apesar da grande vantagem obtida por Dilma, Serra teve no segundo turno a melhor performance do PSDB em uma campanha presidencial desde 1998. Veja onde os dois presidenciáveis se saíram melhor, nas votações de ontem e do dia 3 de outubro
Dilma sai das eleições com quase 56 milhões de votos. Mas Serra garantiu à oposição seu melhor desempenho desde a última eleição de FHC
Sylvio Costa, Rudolfo Lago e Edson Sardinha
Para quem nunca disputou na vida uma eleição, trata-se de uma estreia política impressionante. A nova presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, a primeira mulher a exercer o cargo mais importante do país, é dona de quase 56 milhões de votos. Às 2h desta segunda-feira, com 99,99% dos votos apurados, sua votação era de 55,7 milhões de votos. Dilma venceu as eleições em 16 estados e no Distrito Federal. E teve do seu lado a totalidade dos estados do Nordeste.

Apesar da vitória imensa, as eleições de 2010 foram as mais apertadas dos últimos anos. Esse equilíbrio ficou bastante claro, por exemplo, no desempenho que os dois candidatos tiveram nas capitais.

Dilma perde na comparação com o desempenho de Lula  em 2002 e 2006. E Serra cresce nas comparações com ele mesmo em 2002 e com Geraldo Alckmin em 2006. Mesmo com a expressiva vitória obtida por Dilma, a oposição demonstrou considerável poder de fogo na votação de ontem.

Além de vencer a eleição em dez estados, José Serra (PSDB) teve o melhor desempenho do seu partido desde 1998, quando Fernando Henrique derrotou Lula no primeiro turno. O tucano manteve a vantagem que já havia conseguido em oito unidades federativas e virou o jogo em outras três, Rio Grande do Sul, Goiás e Espírito Santo.
Dilma, que superou Serra em mais de 12 milhões de votos (ou 12 pontos percentuais), ganhou a disputa no Distrito Federal e mais 16 estados. Em alguns deles, sua vitória foi estrondosa. Destacaram-se Amazonas (onde ela conquistou 80,57% dos votos válidos), Ceará (77,35%), Maranhão (79,09%) e Pernambuco (75,65%).
Serra obteve sua maior votação proporcional em dois pequenos estados, Acre (onde o governador eleito, já no primeiro turno, é o senador petista Tião Viana) e Roraima. No Acre, com 99% dos votos apurados, o ex-governador paulista contabilizava 69,68% dos votos válidos. Em Roraima, ele teve 66,56%.

Histórico 
Dilma obteve no segundo turno pouco mais de 56% dos votos válidos, enquanto Serra obteve quase 44%. O candidato do PSDB sai das eleições com 43,7 milhões de votos. São mais de 10 milhões de votos além do que ele obteve nas eleições de 2002, quando saiu do Ministério da Saúde como o candidato do governo para enfrentar Lula.

Naquela ocasião, Serra somou 33,4 milhões de votos. Se a vantagem de Dilma sobre Serra em 2010 foi de 12 milhões de votos, a vantagem de Lula sobre Serra em 2002 foi de 19,4 milhões de votos. 
Em 2002, Serra venceu o segundo turno em um único estado: Alagoas. E teve 38,7% dos votos, contra 61,3% obtidos por Lula.
Em termos percentuais, a vitória de Lula sobre Serra em 2002 foi mais folgada que a vitória sobre Geraldo Alckmin em 2006. Lula obteve 60,83% dos votos, contra 39,17% de Alckmin. O candidato tucano venceu em cinco estados e no Distrito Federal: Roraima, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do DF. Lula fez 58,3 milhões de votos, e Alckmin 37,5 milhões. Em termos numéricos, porém, Lula despachou Alckmin com uma diferença maior de votos com relação à disputa com Serra em 2002: a vantagem de Lula sobre Alckmin foi de 20,8 milhões de votos.

Onde cada um foi melhor
Mesmo longe de ter sido capaz de reverter o resultado da eleição, Serra melhorou seu desempenho neste segundo turno sobre Dilma, em comparação com o primeiro turno.

No último dia 3 de outubro, Dilma venceu as eleições em 18 estados (Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul).

Serra ganhou em oito (Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina), e Marina Silva, do PV, no Distrito Federal.
O Congresso em Foco preparou para você um mapa completo das eleições deste ano. Aqui, você verá todos os números das eleições no primeiro e no segundo turno. Os dados estão atualizados até as 2h de hoje (segunda, 1 de novembro), quando estavam apurados 99,99% dos votos destas eleições.
Clique aqui para ver o mapa completo das eleições de 2010


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Resultados eleitorais (a 99 por cento)

Eleições 2010:Apuração
dilma   PT
55.744.942
56,05%
josé serra   PSDB
43.707.036
43,95%
Brancos   2,3% (2.452.503)

Nulos   4,4% (4.688.612)

Abstenção   21,5% (29.189.119)

Eleitorado apurado
135.782.484

99,98%
 
Seções totalizadas
399.912

domingo, 31 de outubro de 2010

Posicao de um cetico - Mauricio David

Meus caros :

Muitos me perguntam com relação a minha posição no quadro eleitoral. Como quase todos os brasileiros, vi acercar-se o momento eleitoral com grande otimismo de que seria esta a oportunidade de discussão dos grandes problemas nacionais. A frustração é imensa com relação à postura menor dos dois candidatos que chegam à final.

No primeiro turno apoiei e votei na Marina, mais voltado para a sua postura ética e de compromisso com a procura de caminhos alternativos. Era uma candidatura condenada de antemão ao insucesso eleitoral, mas a votação que a Marina obteve bem demonstrou que a opção que  quase vinte milhões de brasileiros  tomamos deixou plantada uma semente...

No segundo turno, após muito meditar, optei por anular o meu voto, adotando a posição : Nem Dilma nem Serra ! , mas com apoio crítico ao vencedor.

Discordo veementemente - como já manifestei inúmeras vezes aos amigos com que me correspondo - da histeria que tomou conta das campanhas (mais por parte dos militantes/militontos do que dos candidatos em, si). A postura de que "o Brasil vai acabar" se a Dilma vencer e vice versa se o vencedor fosse o Serra, é, no fundo, a postura de energúmenos e facistóides, de esquerda e de direita.

Tanto a Dilma quanto o Serra são brasileiros íntegros, decentes, patriotas, dedicados ao País, com uma tradição de compromisso com a causa da Democracia e da Justiça Social.

Conheço o Serra há quarenta anos ! No Chile do exílio, tínhamos um grupo que se dedicava, na mais absoluta clandestinidade, a preparar um boletim de notícias - o Frente Brasileiro de Informações - que circulava as denúncias de mortes, prisões, torturas no Brasil. Até hoje tenho problemas derivados com a militancia nesta época, inclusive tendo sido demitido do BNDES após retornar do exílio por determinação do SNI ( cumprida fielmente pela "esquerda geiselista" que dirigia o BNDES nesta ocasião). As reuniões de preparação deste boletim se faziam semanalmente na minha casa e a minha proximidade com o Serra vem desde esta época, pois o Serra era um dos coordenadores do FBI ( hoje, com a redemocratização do Brasil, estas coisas já podem ser ditas...). Depos, fundamos juntos o PSDB em 1988 e juntos integramos o seu primeiro Diretório Nacional e Executiva. Posso testemunhar que o Serra é um quadro político de grande valor, embora tenhamos sempre divergido em questões políticas secundárias e pela personalidade - digamos assim - "complicada" do Serra.

Por que não voto no Serra ? Sinceramente, tenho a sensação - após conhecê-lo por quarenta anos - que o Serra não seria um bom Presidente para o Brasil. É uma pessoa autoritária, egocêntrica, com tendencia a se cercar de pessoas dedicadas e aplicadas, mas até certo ponto medíocres. Na constelação do Serra, êle é a única pessoa que pode brilhar. Não tem a capacidadde de seduzir e de dirigir ( dirigir diferente de comandar). Tenderia a ser o seu próprio ministro da Fazenda, presidente do Banco Central, ministro das  Relações Exteriores, etc,. colocando personagens de segundo plano à frentes destes cargos e assumindo êle efetivamente a condição do governo.
Um esquema como este não pode dar certo no Brasil de hoje.

Conheço a Dilma há trinta anos ! Somos da mesma geração e tivemos os mesmos  ideais dos anos sessenta. Seguimos caminhos diferentes na luta e na vida : ela aderiu à luta armada e pagou um elevado preço por isto, enfrentando com muita dignidade prisão e torturas. Reconstruiu a sua vida no exílio interior. Eu combati duramente, no movimento de resistencia à ditadura, o erro do caminho militarista da luta armada. Paguei um prço elevado, sofrendo também prisões e violências do regime ditatorial. Tive que partir para 10 longos anos de exílio, trocando de país -como dizia Brecht - como quem troca de sapatos : Chile, Suécia, Alemanha, Suécia.

Nossos caminhos - da Dilma e meu- se cruzaram quado emergimos ambos do exílio, a fins dos anos setenta, com a Anistia : a Dilma saindo do exílio interior, eu e minha companheira Beatriz retornando do exílio exterior em companhia do Brizola. Nos reencontramos, Dilma e eu, no movimento de construção de uma alternativa no Brasil do Socialismo Democrático através do movimento em torno de Brizola. Fundamos ambos o PDT e de sua Direção fizemos parte. Cedo percebi as limitações do "brizolismo" e com êle rompi em 1986 (depois de vários choques anteriores). Dilma seguiu o mesmo percurso, rompendo com o brizolismo alguns anos mais tarde.

Guardo dela a recordação de uma pessoa valorosa e combativa, firme em em seus ideais.
`
Por que não voto na Dilma ? Em primeiro lugar, porque acho que ela - a exemplo do Serra - na busca pelo Poder aceitou se cercar do que de pior existe na política brasileira.

Ambos - Serra e Dilma, Dilma e Serra - estão cercados da escória política brasilera. Não acredito em movimento transformador feito em aliança com a bandidagem politica ! Minha posição é esta. Ponto !

Por isto tomei a decisão de  votar amanhã anulando o meu voto, em forma de protesto. É um voto pelo Brasil, pela alternãncia de projetos para o Brasil . Nem Dilma nem Serra ! Vou anular o meu voto. E, como moro neste país e êle será dos meus filhos e dos netos, estarei em uma posição de apoio crítico à Dilma, que tudo indica será a vencedora no pleito de amanhã. Apoio crítico, porque quero que o seu governo dê certo. Tudo farei para isto. Mas que estou cético, estou...

Um abraço a todos, bom voto amanhã na esperança de que, no futuro, possamos construir uma sociedad mais justa, mais humana e solidária aqui no nosso Brasil ( apesar dos pts e psdbs da vidas...),

seu amigo cético

Mauricio David

Analises da jornada eleitoral - editorial Estado, Dora Kramer, Sergio Fausto

Afinal, o que queremos?
Editorial - O Estado de S.Paulo
30 de outubro de 2010

Encerra-se hoje a mais longa campanha eleitoral de que se tem notícia no País, e certamente em todo o mundo: oito anos de palanque na obstinada perseguição de um projeto de poder populista assentado sobre o carisma e a popularidade de um presidente que, se por um lado tem um saldo positivo de realizações econômico-sociais a apresentar, por outro lado, desprovido de valores democráticos sólidos, coloca em risco a sustentabilidade de suas próprias realizações na medida em que deliberadamente promove a erosão dos fundamentos institucionais republicanos. Essa é a questão vital sobre a qual deve refletir o eleitor brasileiro, hoje, ao eleger o próximo presidente da República: até onde o lulismo pode levar o Brasil?

Quanto tempo esse sentimento generalizado de que hoje se vive materialmente melhor do que antes resistirá às inevitáveis consequências da voracidade com que o aparelho estatal tem sido privatizado em benefício de interesses sindical-partidários? Tudo o que ambicionamos é o pão dos programas assistenciais e do crédito popular farto e o circo das Copas do Mundo e Olimpíada?

Lamentavelmente, as questões essenciais do País não foram contempladas em profundidade pelo pífio debate político daquela que foi certamente a mais pobre campanha eleitoral, em termos de conteúdo, de que se tem notícia no Brasil. Mais uma conquista para a galeria dos "nunca antes neste país" do presidente Lula, que nessa matéria fez de tudo. Deu a largada oficial para a corrida sucessória, mais de dois anos atrás, ao arrogar-se o direito de escolher sozinho a candidata de seu partido. Deu o tom da campanha, com a imposição da agenda - a comparação entre "nós e eles", entre o "hoje e ontem", entre o "bem e o mal" - e com o mau exemplo de seu destempero verbal.

Uma das consequências mais nefastas dessa despolitização que a era lulo-petista tem imposto ao País como condição para sua perpetuação no poder é o desinteresse - resultante talvez do desencanto -, ou pelo menos a indulgência, com que muitos brasileiros tendem a considerar a realidade política que vivemos. A aqueles que acreditam que podem se refugiar na "neutralidade", o antropólogo Roberto DaMatta se dirigiu em sua coluna dessa semana no Caderno 2: "Você fica neutro quando um presidente da República e um partido que se recusaram a assinar a Constituição e foram contra o Plano Real usam de todos os recursos do Estado que não lhes pertencem para ganhar o jogo? (...) Será que você não enxerga que o exemplo da neutralidade é fatal quando há uma óbvia ressurgência do velho autoritarismo personalista por meio do lulismo, que diz ser a ‘opinião pública’? O que você esperava de uma disputa eleitoral no contexto do governo de um partido dito ideológico, mas marcado por escândalos, aloprados e nepotismo? Você deixaria de tomar partido, mesmo quando o magistrado supremo do Estado vira um mero cabo eleitoral de uma candidata por ele inventada? É válido ser neutro quando o presidente vira dono de uma facção, como disse com precisão habitual FHC? Se o time do governo deve sempre vencer porque tem certeza absoluta de que faz o melhor, pra que eleição?"

Quatro anos atrás, nesta mesma página editorial, dizíamos que "as eleições de hoje são o ponto culminante da mais longa campanha eleitoral de que se tem notícia no Brasil. Desde 1.º de janeiro de 2003, quando assumiu a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva não deixou, um dia sequer, de se dedicar à campanha para a reeleição. Tudo o que fez, durante seu governo (...) teve por objetivo esticar o mandato por mais quatro anos". Erramos. O horizonte descortinado por Lula era, já então, muito mais amplo. Sua ambição está custando à Nação um preço caríssimo que só poderá ser materialmente aferido mais para a frente. Mas que já se contabiliza em termos éticos, toda vez que o primeiro mandatário do País desmoraliza sua própria investidura e não se dá ao respeito. Mais uma vez, essa semana, no Rio de Janeiro, respondeu com desfaçatez a uma pergunta sobre o uso eleitoral de inaugurações: "Não posso deixar de governar o Brasil por conta das eleições." Ele que, em oito anos no poder, só pensou em eleições!

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Imagem e semelhança
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo, 31 de outubro de 2010

Hoje à noite o Brasil terá novo presidente. Depois de oito anos de Presidência "irradiada" - como se dizia na era das transmissões exclusivamente radiofônicas - daqui a dois meses o País volta ao normal em termos de conduta presidencial.
A menos que Luiz Inácio da Silva pretenda substituir-se ao presidente - seja como chefe da oposição ou como tutor da chefe da Nação - e ocupe todo dia algum microfone por alguma razão, chega ao fim um período peculiar no que tange à figura de alguém que fez da Presidência um exercício de egolatria.
Daí a singularidade da campanha eleitoral que ontem chegou ao fim, exatamente no molde pretendido por Lula: uma guerra desprovida de conteúdo político (na melhor acepção do termo), na qual o que menos importou foram os atributos dos candidatos e os respectivos projetos de País.
Sinal mais expressivo é que nenhum dos dois se deu ao trabalho de expor ao eleitorado um plano de governo bem explicado e detalhado. E pelo pior dos motivos: medo de criar polêmica e, com isso, prejudicar as chances de vitória.
Embromaram no que seria substantivo e capricharam no adjetivo, no "aqui e agora" do embate. Diga-se, por sinal, que esse tipo de atitude seria impossível se o voto fosse facultativo, com os candidatos precisando lutar pelo interesse do eleitor.
Prevaleceu uma disputa na qual o eleitor foi ora espectador, ora massa de manobra, ora inocente útil, e Lula o protagonista.

A sociedade foi ativa ao provocar um segundo turno?
É relativo: o segundo turno é da regra, sempre esteve no cenário. Representou apenas um fato surpreendente em relação ao quadro de artificialismo triunfante criado pela máquina de propaganda governamental em conjunto com pesquisas, cujos números acabaram se mostrando excessivos no tocante ao favoritismo da candidata oficial.
Lula conseguiu exatamente o que queria ao se impor como a figura central da campanha. Não lhe importa a evidência de que isso significa uma deformação institucional. Por si fácil de ser entendida, mas podemos ilustrar com o exemplo mais ou menos recente da então presidente do Chile, Michelle Bachelet, que mesmo popularíssima perdeu a eleição. Só não perdeu a compostura.

Para não ir longe, mas recuando bem mais no tempo, tivemos aqui Fernando Henrique Cardoso na transição civilizada para o PT. Mérito? Só porque a comparação é com Lula, pois de verdade seria uma obrigação.
Fragilizado politicamente, José Sarney ficou distante da eleição de 1989 servindo apenas de muro de pancadas dos muitos candidatos da época.
Itamar Franco não jogou o governo na luta pelo sucessor. Fernando Collor, com toda ausência de zelo pela coisa pública e arrogância doentia, enfrentou o período de acusações, investigações e impedimento sem fazer um centésimo do que Lula fez em matéria de abuso da máquina pública.
Pintou e bordou como nunca se viu diante de parte da sociedade perplexa, parte embasbacada, parte inebriada com a chance de comprar e crente que tudo se deveu à vontade, à coragem e à sensibilidade social de Lula.
Fez e aconteceu nas barbas da Justiça Eleitoral totalmente leniente e de um Ministério Público ausente.
Usou governo, ministros, capacidade de pressão, ludibriou e ainda se fez de ofendido quando a oposição resolveu parar de apanhar calada. Conseguiu que, ao final, a impressão fosse de "baixarias de parte a parte".
Quem fez campanha ilegal por dois anos e transgrediu fora do limite de qualquer responsabilidade? Pois é.
Na regra limpa, no mano a mano, Dilma Rousseff teria chegado aonde chegou? Pois é.
Pode-se argumentar que os presidentes citados, à exceção de Itamar, foram derrotados pelas circunstâncias.
Lula saiu vencedor, no mínimo no quesito popularidade. Falta ainda esperar que a História conte a história toda: aquela parte que fala da credibilidade e fica para sempre.

Abstenção. Hoje não é demais repetir: "O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam". Arnold Toynbee.

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A miséria da política
Sergio Fausto
O Estado de S.Paulo, 30 de outubro de 2010
Campanhas eleitorais raramente se destacam pela discussão substantiva dos temas mais relevantes para o futuro do país. Principalmente agora que o marketing ganhou precedência sobre a política e os candidatos obedecem às orientações emanadas da "ciência" dos marqueteiros.
Essa é uma tendência em todas as democracias, que se manifesta com especial força nos países onde o peso da imprensa escrita é minúsculo comparado ao da televisão, as identidades partidárias são diluídas, a média do eleitorado tem nível de instrução baixo e a indústria do marketing e da propaganda goza de grande fama e prestígio.
Assim, não chega a surpreender a pobreza da discussão política nas eleições que hoje se encerram. Não surpreende, mas decepciona, sobretudo quando se considera a riqueza dos avanços obtidos e dos problemas gerados ou não resolvidos ao longo dos últimos 16 anos, em geral muito positivos para o País. Era de esperar que o desenvolvimento (em sentido amplo) observado nesse período se refletisse em maior qualidade do debate político. Não foi o que se viu.
A pobreza da discussão política nestas eleições foi uma escolha das campanhas e dos principais candidatos. Com a contribuição inestimável do sr. presidente da República, que entrou na disputa como chefe de torcida uniformizada.
A pobreza da campanha oficial derivou da decisão de fabricar mentiras para estigmatizar o governo Fernando Henrique Cardoso e criar mitos para engrandecer o governo atual, em doses muito além do aceitável numa disputa política minimamente comprometida com os fatos e com uma interpretação razoável a seu respeito. Já a pobreza da campanha oposicionista decorreu essencialmente da recusa - maior no primeiro do que no segundo turno - a responder às mentiras referentes ao passado e desconstruir os mitos relativos ao presente. Nessa toada, por ação ou omissão, uma e outra campanha concorreram, ainda que em graus diferentes, para distorcer o passado, mitificar o presente e embaçar o futuro.
Tome-se o exemplo do tratamento dispensado à Petrobrás e ao pré-sal. A campanha oficial procurou pregar a mentira de que o governo FHC tencionava privatizar a companhia. Lorota de pernas curtas: como se não bastasse a suposta intenção jamais ter figurado em programa, discurso ou documento do governo anterior, há carta pública do ex-presidente ao Senado comprometendo-se com a permanência da Petrobrás em mãos do Estado brasileiro, sob o regime de competição regulada estabelecido em 1997. A companhia não apenas permaneceu sob controle estatal, como se tornou muito mais competitiva sob o novo regime.
Findo o monopólio da Petrobrás, mas assegurada a propriedade da União sobre o subsolo brasileiro, com mais competição, novas empresas e maiores investimentos, a participação do setor de petróleo e gás cresceu de 2% para 12% do produto interno bruto (PIB), gerando maior renda e mais e melhores empregos. Base sólida para o candidato do PSDB passar à ofensiva e perguntar o porquê de o governo atual querer mudar, para a exploração do pré-sal, um regime que se mostrou tão bem-sucedido. Quais as vantagens e os riscos de o Estado brasileiro ingressar no comércio de barris de petróleo, em lugar de arrecadar tributos? A quem poderia interessar a entrada do Estado num negócio pouco transparente que tanta margem oferece a ganhos ilícitos? A legislação atual já não permite, por simples decreto presidencial, capturar para o Estado brasileiro os ganhos extraordinários que possam advir da exploração do pré-sal? Por que, então, fazer uma mudança atabalhoada, em regime de urgência constitucional, sem tempo para que o Congresso Nacional e a sociedade pudessem conhecê-la e discuti-la? Nenhuma dessas perguntas foi feita.
Em vez de aceitar a luta política no centro do ringue - onde se poderiam confrontar dois modelos distintos de gestão do Estado e regulação da economia -, a candidatura do PSDB escolheu os cantos do tablado, na suposição de que o embate de biografias, em torno da competência gerencial para implementar programas setoriais, lhe fosse assegurar uma "merecida vitória", como se a política fosse uma prova de méritos individuais.
Tão importante quanto discutir a Petrobrás e o pré-sal teria sido pôr em pauta o tamanho da carga tributária. Será sustentável a mobilidade social ascendente observada nos últimos anos sem uma reforma tributária que reduza responsavelmente a carga de impostos, melhore a qualidade da tributação e permita o desenvolvimento do setor de pequenas e médias empresas? Ou vamos apostar que a emergência da chamada classe C será sustentada pelo emprego e renda gerados pela expansão do Estado e pelo fortalecimento das grandes empresas, as únicas capazes de suportar a carga tributária atual e mover-se no cipoal tributário existente? Silêncio total sobre um assunto vital para o futuro do País, em que duas visões sobre o Estado, a economia e a sociedade poderiam haver se confrontado. O que se ouviu foram apenas promessas eleitorais de mais gastos públicos correntes, cujo ritmo de crescimento precisa ser contido para tornar viável a redução da carga tributária.
Conduzidas as campanhas desse modo, sobrou a falsa impressão de que a escolha se dará entre um candidato que tem notável currículo político-administrativo e se apresenta como um continuador melhorado das "proezas" que se fizeram nos últimos oito anos, embora não conte com o apoio do autor das proezas, e uma candidata com modesto currículo político-administrativo, mas que tem o vistoso apoio do chefe de sua torcida, chefe de Estado nas horas vagas.
Ainda assim é muito bom votar. Já tinha quase 30 anos quando votei pela primeira vez para presidente. Meus filhos, com menos de 20, já o fizeram neste 3 de outubro. Viva a democracia! E vamos às urnas, pois. Meu voto não é segredo: é Serra.
DIRETOR EXECUTIVO DO iFHC, É MEMBRO DO GACINT-USP. E-MAIL: SFAUSTO40@HOTMAIL.COM


terça-feira, 10 de agosto de 2010

A politica externa de Serra: especulacoes criativas...

Com Serra, uma diplomacia clássica
Patrícia Campos Mello
O Estado de S.Paulo, 09/08/2010

A meta tucana é dar uma guinada, para longe do Irã, de Chávez, de Cuba. E com o comércio gerido por uma SuperCamex, sem o Itamaraty

Rever o Mercosul, afastar-se de países não-democráticos como Cuba, Irã e ditaduras africanas, e abandonar o viés ideológico da política comercial são as linhas-mestras da plataforma de política externa do candidato José Serra (PSDB). Mas o assunto está longe de ter um grande destaque nas propostas de governo dos dois candidatos da oposição.

Mas, segundo apurou o Estado, as diretrizes do tucano vão propor a flexibilização do Mercosul, liberando o Brasil para buscar acordos bilaterais, e a criação de uma SuperCamex, nos moldes do United States Trade Representative (USTR), que daria à política comercial do País status de ministério, subordinado à Presidência. De quebra, seria uma maneira de "despolitizar" a política comercial e acabar com a grande influência do Itamaraty sobre o assunto.

Não existe um núcleo formal dentro da campanha de Serra para debater o assunto, mas há três nomes ouvidos pelo candidato e que apresentam sugestões. Na área de comércio exterior, Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e atual presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, e Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da FIESP e ex-secretário executivo da Camex no governo FHC. Para política externa, o mais ouvido é Sérgio Amaral, que foi porta-voz do governo FHC e cotado para ser chanceler em um eventual governo tucano. Xico Graziano, o coordenador do programa de governo de Serra, supervisiona.

Os tucanos minimizam a política de diversificar os destinos de exportação brasileira, uma das grandes bandeiras do governo Lula. Para os petistas, foi essa diversificação que permitiu ao Brasil passar quase incólume pela crise financeira mundial. Os tucanos afirmam que a estratégia seguiu motivos políticos e não trouxe benefícios concretos, pois as vendas para África e Oriente Médio, por exemplo, continuam sendo minúsculas. Uma aposta mais acertada, argumentam, seria aprofundar os acordos na América do Sul, liberar o Brasil para mais acordos bilaterais e intensificar as relações com os EUA.

Na visão dos tucanos, a diplomacia da era Lula associou o Brasil a nações não democráticas, prejudicando seu "soft power" e sua capacidade de liderança global. Serra já afirmou que o líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad, integra a "turma de ditadores" da história, como Adolf Hitler e Josef Stalin. "O que ganhamos com essa aproximação? Nada. E perdemos muito em imagem e credibilidade", diz Sérgio Amaral. "Este governo tem a tendência de ver o mundo através de afinidades ideológicas, e nem sempre é assim."

Para Amaral, apostar no G-20 é exemplo de atuação construtiva do Brasil, que deve se aprofundar, enquanto associar-se ao Irã na questão nuclear não é. Os tucanos minimizam o fato de o Brasil ter adquirido um destaque maior no cenário internacional durante o governo Lula. As diretrizes de Serra devem abordar o que a campanha chama de "falso protagonismo" do Brasil, ao se oferecer de mediador de assuntos polêmicos como o conflito do Oriente Médio e a questão nuclear no Irã.

Amaral admite que o carisma do presidente Lula ajudou o Brasil a conseguir mais espaço no cenário internacional, mas entende que os presidentes dos outros países são pragmáticos. "Se o novo presidente, seja quem for, levar adiante políticas que são importantes, será respeitado internacionalmente", diz . Sua avaliação é que o Brasil tem a desempenhar, na América do Sul, um papel que até agora não conseguiu. "Se você não consegue propor uma visão para a América do Sul e atuar em conflitos aqui, como o das papeleiras (conflito entre Uruguai e Argentina por causa de instalação de indústrias de celulose na fronteira), qual é o sentido de tentar resolver o conflito no Oriente Médio?"

A cobrança já foi comentada por José Eduardo Dutra, presidente do PT. "O efeito principal da política externa se dá na economia, nas relações comerciais. Dizia-se que, se a gente não embarcasse na Alca, seria uma tragédia para o Brasil. A Alca já foi sepultada. E qual o resultado de nossa política externa? Até 2002, 60% das exportações brasileiras eram para a União Europeia, Estados Unidos e Japão. Hoje, esses três representam menos de 40%. Tivemos uma diversificação que permitiu um desempenho melhor durante a crise."

Um dos projetos centrais dos tucanos, em um eventual governo Serra, é despolitizar a política comercial - criando uma SuperCamex, órgão com status de ministério dedicado a conduzir a política comercial do País. "Hoje em dia, o Itamaraty tem o controle da política comercial", diz Rubens Barbosa.

"Queremos uma espécie de USTR, subordinado à Presidência, que seria uma Camex fortalecida." Para Barbosa e Roberto Giannetti, a Camex vive relegada a um comando de terceiro escalão. Se fosse promovida a ministério, daria maior prioridade à política comercial. "Os outros ministérios como o da Agricultura e o Itamaraty, precisam se subordinar à Camex para decisões de comércio exterior", diz Barbosa. "Se o Itamaraty, por exemplo, quer um acordo com a Rússia, precisa passar pela Camex." Uma ideia seria o próprio Serra coordenar essa SuperCamex nos primeiros seis meses de governo.

O candidato tucano avalia que o Mercosul tem falhas graves. Define-o como "uma farsa" e "uma barreira para que o Brasil possa fazer acordos comerciais". Não se trata de extingui-lo, avisa Rubens Barbosa, mas de flexibilizá-lo: "Precisamos liberar o País para procurar acordos bilaterais". Hoje em dia, o Mercosul é uma união aduaneira, estrutura que exige concordância de todos os sócios para se fechar um acordo comercial, e uma tarifa externa comum para importação de terceiros países. Giannetti e Barbosa defendem retroceder a um estágio anterior, apenas de livre comércio, liberando os países do bloco para fazer acordos bilaterais.

Essa ideia de flexibilização deverá constar das diretrizes de política externa do programa de Serra. "Nos últimos cinco anos, 100 acordos bilaterais de comércio foram fechados no mundo, mas o Brasil fechou apenas um, com Israel", diz o texto proposto.

Na relação com a Argentina, os tucanos pregam um endurecimento. Esse país, na avaliação de Barbosa, "está desrespeitando regras da Organização Mundial de Comércio (OMC), violando o tratado com as sucessivas medidas protecionistas contra produtos brasileiros". A decisão do governo brasileiro de ceder ao Paraguai na renegociação das tarifas de energia excedente de Itaipu é para ele "outro exemplo da política de generosidade do governo".

Serra também tem feito críticas ao governo do presidente boliviano Evo Morales: os bolivianos, em seu entender, estariam fazendo "corpo mole" em relação ao tráfico de drogas e o governo seria "cúmplice" disso. O governo Lula reagiu com ironias. "Serra está tentando ser o exterminador do futuro da política externa. Já destruiu o Mercosul, quer destruir nosso relacionamento com a Bolívia e já disse que Mahmoud Ahmadinejad é um Hitler", comentou o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia.

O melhor caminho, segundo os tucanos, seria aprofundar os acordos existentes na América do Sul, enquanto se buscam novos acordos bilaterais. E Amaral diz que é preciso fazer valer as regras do bloco. "A Argentina impõe barreiras, nós entendemos. A Bolívia se apropria da Petrobrás, o Brasil entende. Não dá para só compreender e tolerar; sendo condescendentes com a violação das regras, nós estamos desfazendo as instituições do bloco", diz o ex-porta-voz de FHC.

A Rodada Doha de negociações comerciais, outra prioridade no governo Lula, poderia ficar de molho em um governo tucano. "No governo Lula, ficaram oito anos preocupados com Doha e descuidaram do resto", ataca Barbosa. "A ideia é esquecer Doha por enquanto e agilizar acordos bilaterais", sugere Amaral. O governo atual, diz ele, orienta-se "por uma realidade ultrapassada, com uma mentalidade pré-fim da Guerra Fria". Um exemplo disso, segundo ele, são as alianças de países de Terceiro Mundo para chegar a mudanças. A China fez outra coisa: "Abandonou essa visão norte e sul e atua em simbiose com os EUA. A Índia também, e foi reconhecida como potência nuclear ao assinar um acordo nuclear com Washington."

Ele também acha que está na hora de o Brasil reativar o relacionamento com os EUA. "Por muito tempo os EUA foram vistos com desconfiança, e com motivo, por causa de suas ingerências em questões financeiras, de comércio e política interna dos países da região", diz. "Mas hoje as circunstâncias são totalmente diferentes. O novo presidente tem uma proposta de não ingerência nos assuntos dos países, de multilateralismo. Ele representa muito do que nós queríamos. Podemos adotar uma política de confiança."

A relação com a Casa Branca, que azedou após divergências no caso de Honduras e do Irã, precisa ser resgatada, acredita a oposição. O Brasil costurou com a Turquia um acordo para troca de combustível nuclear do Irã. Para os EUA, o acordo era insuficiente e ameaçava o consenso necessário à adoção de sanções contra os iranianos no Conselho de Segurança da ONU. A posição do Departamento de Estado era que o Brasil mostrava-se "ingênuo" e estava sendo usado pelo Irã - cujo objetivo, segundo eles, era apenas ganhar tempo. A secretária de Estado americana , Hillary Clinton, anunciou sanções um dia depois de o Itamaraty comemorar o acordo com a Turquia - o que irritou profundamente o governo brasileiro.

Essa decisão deu origem a várias críticas contra o presidente Barack Obama. O governo brasileiro se sentiu traído pela Casa Branca, que não esperou os resultados do acordo mediado pelo Brasil. Lula entendeu que Obama estava dando um tiro no pé ao endurecer contra o Irã. "Não foi uma atitude de quem ganhou o Nobel da Paz", afirmou.

Outra divergência ocorre no caso de Honduras. Os americanos acham que o Brasil tem sido duro demais com o presidente eleito, Porfírio Lobo, e intransigente em sua defesa do líder deposto Manuel Zelaya - o que estaria atrapalhando a reconstrução da estabilidade política dos hondurenhos.

A Casa Branca vê os movimentos do Brasil com reservas. Uma das consequências disso é que a visita de Obama ao País deve ficar para o próximo governo. Amaral resume o impasse: "Não dá para ter uma política de defesa da democracia em Honduras, e uma diferente em Cuba".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Numeros do TSE: candidatos e partidos

ELEIÇÕES:

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou os números da eleição do próximo 3 de outubro. O Brasil terá nada menos do que 134 milhões de eleitores votando em mais de 20 mil candidatos. São 9 candidatos à presidência da República, 182 candidatos a governador de Estado, 288 candidatos a senador da República, 5.869 candidatos a deputado federal e 14.491 candidatos a deputado estadual. Participam das eleições 27 partidos políticos.

Com esses números, o Brasil pode ser considerado uma das maiores democracias do mundo.

Isso quanto ao volume, ou quantidade.
Agora, quanto à qualidade...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Eleicoes presidenciais e politica externa: o que fiz em 2006

Este trabalho foi preparatório às eleições presidenciais de 2006. Pretenderia fazer igual em 2010.

A política externa nas campanhas presidenciais:
antecipando o debate das eleições de 2006

Paulo Roberto de Almeida

Tendo acompanhado a temática da política externa nas campanhas presidenciais desde 1989, depois de já ter estudado durante anos a interação que o Congresso e os partidos políticos mantêm em relação aos temas de relações internacionais e de política exterior do Brasil, minha constatação é clara: a política externa entrou, definitivamente, nas campanhas eleitorais. Trata-se de realidade nova que cabe examinar, antes que os próprios candidatos façam sua aparição nas telas de televisão e também nas páginas do boletim ADB (ver a pequena bibliografia in fine).
Meus primeiros diagnósticos assumiam, invariavelmente, um tom pessimista: eu simplesmente constatava que a política externa era marginal do ponto de vista da atuação dos partidos políticos e que as questões de relações internacionais e de relacionamento externo do Brasil eram secundárias nas preocupações dos líderes políticos, quando não ficavam distantes de todo e qualquer discurso de campanha. Quanto os temas entravam em alguma campanha presidencial, era mais pelo lado prosaico ou negativo: lamentava um candidato as “perdas internacionais” que estavam sendo supostamente impostas ao País pelas empresas multinacionais, condenava, um outro, a dívida externa “extorsiva” e uma imaginária “submissão” ao FMI e insistia, um terceiro, na velha arenga da defesa das indústrias nacionais que estariam sendo “sucateadas” e entregues, de “mãos atadas”, aos interesses externos. Como regra geral, no Brasil, ninguém se elege tratando de política externa ou de temas diplomáticos e internacionais. Seria isso ainda verdade?
Esse cenário parece ter mudado substancialmente ao longo dos anos, por boas e más razões. Seja pelo crescimento da interface brasileira com o mundo, a começar pela própria região, seja pela internalização de problemas externos, extremamente facilitada pelas redes de comunicações, o fato é que, pela primeira vez em nossa história política, os temas de política exterior e de integração regional estarão no centro do debate da próxima campanha presidencial, também aqui por boas e más razões. Por um lado, o Brasil passou a estar bem mais vinculado aos movimentos da economia mundial, tanto nos aspectos propriamente econômicos como nos políticos – pela posição de liderança em negociações internacionais –, além de que a ação de grupos de interesse e de movimentos externos passa a influenciar diretamente o cenário interno, como se pode constatar mediante uma rápida consulta à agenda das principais autoridades governamentais.
Por outro lado, o Brasil também está “importando” parte do debate que se dá em cenários estrangeiros, regionais ou internacionais, com certo “contrabando” conceitual de idéias e propostas que não correspondem a uma agenda político-econômica propriamente interna, e sim responde a ações e posições de grupos, movimentos e partidos estrangeiros que tendem a refletir interesses que lhes são próprios. Apenas dois exemplos bastariam para ficar claro o que isto pode representar em termos de defesa dos interesses nacionais nos foros multilaterais: a velha questão do “dumping social”, travestida de “cláusula social”, que foi incorporada às demandas de certas centrais sindicais, bem como o apoio interno a posturas contrárias ao interesse nacional no terreno das negociações agrícolas internacionais, que resulta da importação acrítica de posições como as da ATTAC francesa por movimentos sociais brasileiros operando na órbita do Fórum Social Mundial. Não preciso sequer mencionar dois patéticos plebiscitos organizados em 2001 e 2002 pelos mesmos movimentos sociais, um sobre a dívida externa, o outro sobre a Alca, cujas maiorias “albanesas” contra o pagamento da primeira e a favor da rejeição da segunda dizem tudo sobre essa contaminação da agenda interna pela importação acrítica de posições simplistas ao extremo mas que representam interesses de determinados grupos sociais em outros países.
Independentemente desses exemplos canhestros de debate “enviesado”, o fato é que a política externa adentrou o terreno político nacional e deve figurar em posição central, ou pelo menos preeminente, nas eleições presidenciais de outubro de 2006. Independentemente também do fato de que a sociedade possa estar dividida na maior parte das escolhas efetuadas pelas autoridades responsáveis pela nossa política externa e pela condução da diplomacia, o fato é que essas autoridades foram em grande medida responsáveis pela “popularização” da política externa enquanto tema do cotidiano, e não mais sua entronização restrita, como uma espécie de agenda “bizarra”, restrita a uns quantos “especialistas”. Pela primeira vez em muitos anos, quiçá de forma inédita em nossa história, todos, ou quase todos, os temas da agenda diplomática brasileira foram “transferidos” para o cotidiano dos leitores de jornais, ouvintes de rádio e espectadores de jornais televisionados. A política externa do Brasil permeia os temas da agenda interna como nunca ocorreu no Brasil, e isso deverá igualmente refletir-se na próxima campanha presidencial.
Antes que as plataformas eleitorais nessa área adentrem, portanto, as páginas do boletim ADB, caberia balizar o debate entre os candidatos, cujo perfil definitivo só será de fato conhecido por ocasião das convenções partidárias do mês de junho. Pode-se antecipar, com pouca margem a dúvidas, que a maior parte parte dos debates eleitorais a partir de agosto de 2006, nos temas de relações internacionais e de política externa, será travada em torno das posições diplomáticas assumidas pelo governo Lula, o que nada mais é senão uma decorrência lógica da centralidade que ela veio a ter no conjunto das políticas governamentais.
Com efeito, sem entrar no mérito das avaliaçoes qualitativas ou de argumentos opinativos, a atual política externa reflete, com bastante coerência, as posições de política internacional exibidas pelo PT e pelo seu único candidato presidencial ao longo de sua trajetória em direção ao poder. Não deveria existir disputa em torno disso, pois trata-se apenas de uma constatação de fato. Em nenhuma outra área das políticas governamentais a identidade entre o partido e o governo é tão ampla e a interface tão colada ao “modelo original” quanto na política externa: inclinações, preferências, discursos, ações, tudo isso reflete, com razoável identidade de propósitos, aquilo que escreviam e argumentavam os líderes do PT quando se encontravam na oposição. Seria natural que, uma vez no poder, se dispusessem a colocar em prática suas idéias. É, aparentemente, o que está sendo feito, com algumas adaptações de estilo e de forma dadas pelo tratamento técnico que cada dossiê recebe dos profissionais da diplomacia.
O que poderá ser abordado, portanto, na campanha eleitoral, é se as posições do PT e do governo Lula, em matéria de política externa, terão ou não correspondido às percepções e necessidades do país, tal como percebido ou refletido pelos demais líderes políticos, pelos especialistas da área e pelos agentes que normalmente constituem grupos com interesse direto na “economia” da política externa, com destaque para os setores produtivos e exportadores. À diferença de tempos passados, as plataformas de governo de cada um dos candidatos, que deverão circular a partir de julho e agosto de 2006, tenderão a reservar espaço maior do que o normal aos principais itens da agenda internacional do Brasil. Nesses documentos, e nos debates que se seguirão, algumas simplificações serão inevitáveis, dada a natureza do debate eleitoral, mas é de se supor que os especialistas mais conhecidos nesta área – alguns dos quais figuram na literatura compilada a esse respeito, disponível no link bibliográfico, in fine) – saberão aprofundar as principais questões de interesse público, relevantes para um debate bem informado sobre essa problemática agora central na definição das políticas públicas do Brasil.

Para saber mais:
ADB - Associação dos Diplomatas Brasileiros. “A partir da hipótese de ser eleito Presidente da República, qual é a sua visão do que será o Brasil e sua inserção no mundo em dez anos?” (resposta do candidato Lula), boletim ADB. Brasília: ano II, n.11, março 1994, p. 8-9.
-------- . “Uma política externa para o fim do século” (resposta do candidato Fernando Henrique Cardoso), boletim ADB, ano II, n. 14, junho 1994, p. 14-16.
-------- . “A inserção do Brasil na economia internacional” (resposta do candidato Leonel Brizola), boletim ADB, ano II, n. 14, junho 1994, p. 20-21.
-------- . “A inserção do Brasil na comunidade internacional” (resposta do candidato Orestes Quércia), boletim ADB, ano II, n. 15, julho de 1994, p. 8-9.
-------- . “Os candidatos a presidente da República e a política externa”, ADB, ano X, n. 41, julho-setembro 2002, p. 18-23.
Almeida, Paulo Roberto de: “A política externa nas campanhas presidenciais, de 1989 a 2002, e a diplomacia do governo Lula”, in Relações internacionais e Política externa do Brasil. 2ª ed.; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p. 255-308.
-------- . “A política externa nas campanhas eleitorais brasileiras: a experiência dos escrutínios presidenciais de 1989, de 1994 e de 1998”, Revista Internacional de Estudos Políticos, Rio de Janeiro: UERJ, v. 1, n. 2, agosto 1999, p. 253-286.
-------- . “A Política da Política Externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-1990”, in José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), IV vol.: Prioridades, Atores e Políticas. São Paulo: Annablume-Nupri/USP, 2000, p. 381-447.
-------.“Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula”, Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília: IBRI, ano 47, nº 1, 2004, p. 162-184; disponível no link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/1260PExtLula.pdf.
-------. “Diplomacia presidencial: cronologia de viagens e visitas, 2002-2006”, disponível em formato html no link: http://textospra.blogspot.com/2006/04/68-diplomacia-presidencia-viagens-e.html#links e, em formato pdf, no link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/1584ViagVisitLula02a06.pdf.
-------. “Uma bibliografia preliminar sobre a diplomacia do Governo Lula: uma classificação tentativa com base na literatura disponível”, disponível no link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1587BiblioDiploGovLula.pdf.

Paulo Roberto de Almeida, Brasília, 24 de abril de 2006
pralmeida@mac.com - www.pralmeida.org
http://diplomatizando.blogspot.com/

sábado, 26 de junho de 2010

Peculiaridades do processo eleitoral

Entre o céu e o inferno
Ruy Fabiano - jornalista
O Globo, 26.06.2010

A presente eleição exibe uma singularidade: o candidato principal não está na disputa. É o presidente Lula. Ele mesmo não fez cerimônia quanto a isso. Disse que o “vazio da cédula” será preenchido com o nome de Dilma Roussef, mas o candidato é ele.

Nenhum antecessor, em qualquer época, portou-se assim. Os paradigmas mais próximos são as eleições chilenas e as colombianas. Mas nenhum dos dois presidentes – Michele Bachelet e Alvaro Uribe -, embora ostentassem índices de popularidade até superiores aos de Lula (Bachelet deixou o governo com 84% e Uribe com 82%, enquanto Lula tem 76%), agiram com a mesma contundência.

Nenhum disse que ele próprio era o candidato, e o sucessor um poste. Dilma resigna-se ao papel, pois sabe que, em outras circunstâncias, não teria chances. O que não se sabe – e as pesquisas estão longe de esclarecer – é a consistência dessa estratégia.

No Chile, não funcionou; o candidato de Michelet perdeu. Na Colômbia, funcionou; o de Uribe ganhou. Em ambos, a população estava, como aqui, satisfeita com o governo.

Mas no Chile, com instituições estáveis e economia sólida, o eleitor não viu perigo na mudança. Na Colômbia, atormentada pelo narcotráfico, viu. E elegeu o personagem da continuidade, exatamente o encarregado de combater as Farcs, o ministro da Defesa, general Juan Manuel Santos.

O quadro brasileiro mistura um pouco as duas coisas: tem instituições razoavelmente estáveis e economia em alta, como o Chile; mas vive os tormentos da criminalidade, como a Colômbia. O narcotráfico mata 50 mil pessoas por ano, a maioria jovens e pobres.

É o equivalente a cem vezes o total de mortos nos 21 anos de ditadura militar – e isso por ano. O eleitor convive com um cenário paradoxal: de um lado o cenário de prosperidade que a máquina de propaganda do governo lhe exibe diariamente na mídia; de outro, o noticiário policial da mesma mídia. Entre o céu e o inferno.

O governo ancora seu discurso na prosperidade e, a partir dela, fala dos outros temas: saúde, educação, emprego, desenvolvimento. A oposição, sem êxito, diz que pode mais. Prefere disputar votos no que está dando certo, avalizando o cenário de bem-estar que o governo proclama. Despreza, até aqui, o potencial do mal-estar social que convive nessa conjuntura.

O máximo que fez foi propor a criação de um Ministério da Segurança, sem aprofundar as deficiências que o justificam e como se propõe a supri-las. E há reflexos contundentes da ação da rede criminosa continental, que tem nas Farcs um de seus pilares, em segmentos como saúde pública e educação.

As relações do governo brasileiro com aquela entidade, que vive do roubo de gado, venda de drogas (sobretudo para o Brasil) e sequestro de pessoas (com campos de concentração na selva amazônica) são ainda nebulosas, para dizer o mínimo.

Jamais houve uma condenação explícita. Ao contrário, Lula sugeriu que se transformassem em partido político e Marco Aurélio Garcia recusa-lhe o rótulo de organização terrorista, atribuído por Estados Unidos e União Europeia.

É um flanco em aberto que explica a porosidade da fronteira boliviana, mencionada de passagem por Serra, de onde procedem 90% da cocaína vendida ao Brasil, aqui processada e revendida pelo tráfico. Por aí, chega-se aos 50 mil brasileiros assassinados anualmente, o que caracteriza uma guerra civil silenciosa – ou nem tanto.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O PT exagerou na cara de pau: uma desfacatez muito grande

Este blog se ocupa de questões políticas, de temas partidários, e de eleições e preferências políticas. Ele se ocupa de ideias, entre outras ideias politicas, mas sobretudo de princípios, valores, políticas públicas. Ele pretende preservar a dignidade das boas ideias politicas e contribuir para a melhora dos "costumes políticos" no Brasil.
Raramente, ou quase nunca, eu postaria uma matéria como essa que vai abaixo, se não fosse por uma legítima indignação com a mentira, a desfaçatez, a cara-de-pau e a sem-vergonhice, tão evidentes no tema básica.
Ou seja, o partido que vem usando golpes baixos, que vem montando dossiês e que mente desbragadamente com respeito a suas patifarias pretende acusar os adversários de fazer todas aquelas trapaças às quais ele mesmo recorre e usa extensa e intensivamente.
Como se diz em linguagem popular: é muita cara-de-pau.
Creio que atitudes como essa, merecem denúncia e repúdio indignado, pelo menos da parte de todos aqueles que gostariam de ver uma campanha presidencial de alto nível, com eleições marcadas pela lisura, pelo debate aberto, pela sinceridade de propósitos, enfim.
Minha contribuição à campanha atual, para manter meus princípios e valores, seria confirmar meu total repúdio a esse tipo de atitude, e dizer o que segue:
1) A campanha política será marcada por uma disputa eleitoral entre dois candidatos em torno dos quais se dará o debate político sobre como cada um pretende conduzir a próxima presidência, com base nas suas percepções pessoais sobre os problemas principais do Brasil e suas propostas de soluções. Não estão em causa a administração FHC e sequer a de Lula. As manipulações e tentativas para desviar o foco do debate e orientá-lo em comparações com o passado são a meu ver equivocadas.
2) A acusação de que a oposição aposta no "quanto pior melhor" é de absoluta má-fé e de distorção da verdadeira realidade. Quem recorre a todos os expedientes para tentar ganhar é o PT, que intervem vergonhosamente num diretório estadual para distorcer a vontade de seus militantes e quadros regionais.
3) Acusar alguém de "submissão internacional" é de tão baixo nível que sequer cabe uma rejeição desse inventado propósito, feito de má-fé, numa atitude praticamente criminosa.
4) Finalmente, quando aos grandes temas propostos para campanha -- "reforma agrária, democratização da comunicação social e implantação do imposto sobre grandes riquezas" -- minhas únicas observações são estas: reforma agrária é uma questão praticamente marginal hoje em dia, pertencendo ao Brasil de um passado de agricultura atrasada e pouco capitalizada; "democratização da comunicação social" é um outro nome para a tentativa autoritária e liberticida de controlar a imprensa, criando o que se chama de "grande irmão censor"; imposto sobre as grandes fortunas pode até ser discutido, mas num contexto eleitoral significa pretender fazer demagogia classista, jogando os pobres contra os ricos, para tentar fazer crer que os pobres estariam em melhor situação se esse imposto fosse criado, já que anima a sanha distributivista dos ingênuos, que não sabem que seria mais uma maneira de dar dinheiro a um Estado já superdimensionado, um ogro insaciável em sua extorsão tributária.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.06.2010)

PT volta a atacar imprensa e fala em manipulação
Leila Suwwan
O Globo, 16/06/2010

Partido aprova resolução afirmando que oposição usará golpes baixos e grandes meios de comunicação na campanha

Resolução política do PT aprovada na última sexta-feira ataca a imprensa e afirma que a disputa será marcada por "golpes baixos" e "tentativa de manipulação dos meios de comunicação". O documento afirma que a oposição e seus "apoiadores nos meios de comunicação" tentarão influenciar o resultado da eleição. Também conclama a militância a transformar os esforços da chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) em uma campanha de massas, e a insistir na comparação entre os governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso.

O documentou resultou da reunião do Diretório Nacional do partido, semana passada, em São Paulo, e foi divulgado no site do PT. Na mesma reunião, foi decidida a intervenção no diretório regional do Maranhão para garantir o apoio à reeleição de Roseana Sarney (PMDB) para o governo. O diretório regional havia optado pelo apoio a Flávio Dino (PCdoB).

O documento já antecipava orientações presentes também no discurso do presidente Lula na convenção do partido, no último domingo, quando ele avaliou como "quase absoluta" a chance de vitória. "Devemos estar preparados para uma campanha de golpes baixos. (...) E que sinaliza qual será o comportamento de uma parte da oposição durante nosso futuro governo", diz o texto do partido.

O documento afirma que "a oposição e seus apoiadores nos meios de comunicação já demonstraram, por diversas vezes, estar dispostos a absolutamente tudo para tentar ganhar as eleições". "Farão de tudo para levar a eleição ao segundo turno, apoiando outras candidaturas, estimulando a judicialização da política, usando os grandes meios de comunicação como boletins de campanha, atacando os direitos humanos, torcendo para que a nova etapa da crise internacional altere para pior as condições do Brasil, produzindo crise cambial, alta de juros e primarização de nossa pauta de exportações."

O diagnóstico é baseado em acontecimentos das últimas semanas, sem citar o suposto dossiê e acusando o candidato tucano, José Serra, de usurpar mensagens de continuidade. A análise do partido é de que a estratégia do PSDB não teve êxito. Fala em dianteira nas pesquisas, crescimento de Dilma e "estancamento" de Serra - os candidatos estavam tecnicamente empatados nas últimas sondagens. O PT pede que a militância "não baixe a guarda".

O texto acusa o tucano José Serra de "submissão" internacional: "O candidato da oposição ataca a política externa brasileira, deixando evidente que sua opção é pela submissão aos poderosos de ontem, sem perceber que o mundo está mudando e que nosso país já é um dos protagonistas de uma nova época que está nascendo".

A resolução apresenta uma espécie de manual para discussões eleitorais, ancorado na comparação entre os governos Lula (2003-2010) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

"Interessa explicar as vantagens do modelo de partilha frente ao modelo de concessão; o papel decisivo que os bancos públicos jogaram, para evitar os efeitos mais perversos da crise internacional; o papel da elevação do salário mínimo e de programas de transferência de renda, para estimular um mercado interno que sustentou o crescimento do país", afirma o documento.

O texto pede o envolvimento dos partidos de esquerda, movimentos sociais e intelectuais para aprofundar o caráter popular do governo e alcançar três objetivos: reforma agrária, democratização da comunicação social e implantação do imposto sobre grandes riquezas.

domingo, 23 de maio de 2010

Pesquisas eleitorais (23/05): Dilma sobe e empata com Serra

Dilma sobe e empata com Serra
Fernando Rodrigues
FOLHA DE S. PAULO, domingo, 23 de maio de 2010

A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, atingiu sua melhor marca até hoje numa pesquisa Datafolha e está empatada com seu concorrente direto, José Serra (PSDB). Ambos têm 37%, segundo levantamento nacional realizado ontem e anteontem. Na pesquisa anterior, feita em 15 e 16 de abril, Dilma tinha 30% - ou seja, a intenção de voto na petista subiu sete pontos.

Dilma sobe 7 pontos e empata com Serra, aponta Datafolha

Tucano cai 5 pontos desde levantamento de abril e ambos aparecem com 37%

Petista atinge melhor marca na série do instituto, lidera na espontânea e também registra empate no 2" turno; Marina se mantém com 12

BRASÍLIA - A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, atingiu sua melhor marca até hoje numa pesquisa Datafolha e está empatada com José Serra (PSDB). Ambos estão com 37%.

O levantamento foi realizado ontem e anteontem com 2.660 entrevistas.

A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Marina Silva (PV) aparece com 12%. Os que votam em branco, nulo ou em nenhum somam 5%. Indecisos são 9%. Na comparação com a última pesquisa Datafolha, realizada em 15 e 16 de abril, Dilma teve uma alta de sete pontos percentuais -de 30% para 37%. Já Serra caiu cinco pontos, saindo de 42% para os mesmos 37%.

Essa é a primeira vez que ambos aparecem empatados no Datafolha, que traz outros números positivos para a petista.

TV e Lula

"O principal fato que pode ser apontado como responsável por essa alta da candidata é o programa partidário de TV que o PT apresentou recentemente", diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha. Na semana passada, o PT foi à TV com vários comerciais de 30 segundos e com seu programa mais longo, de dez minutos. A estrela dessa investida de marketing foi Dilma Rousseff, com Lula como cabo eleitoral. Na pesquisa espontânea, quando os entrevistados não são apresentados a uma lista com os nomes dos candidatos, a curva da intenção de voto de Dilma continuou a descrever uma sólida curva ascendente. Ela tinha 8% em dezembro.

Em abril, estava com 13%. Agora, foi a 19% e está isolada em primeiro lugar. José Serra pontuou 14% -ele também vem subindo nesse quesito, mas em ritmo mais lento. Ainda na pesquisa espontânea, há também 5% que dizem ter intenção de votar em Lula , que não pode ser candidato. Outros 3% declarar querer votar no "candidato do Lula".

E 1% respondem "no PT" ou no "candidato do PT". Em tese, portanto, o potencial de voto espontâneo em Dilma pode ser de 28% -os seus 19% e mais outros 9% dos que desejam votar em Lula, em quem ele indicar ou em um nome apresentado pelo PT.

2º turno e rejeição

Quando são colocados na lista de candidatos os concorrentes de partidos pequenos, o cenário não se altera muito. Dilma e Serra continuam empatados, cada um com 36%. Marina tem 10%.

E só dois nanicos pontuam: José Maria Eymael (PSDC) e Zé Maria (PSTU). Dilma também colheu bom resultado na rejeição: seu índice caiu de 24% para 20% enquanto o de Serra subiu de 24% para 27%.

Marina também teve um resultado positivo, pois sua rejeição caiu de 20% para 14%. Na projeção de segundo turno, os dois estão tecnicamente empatados: a petista tem 46% contra 45% do tucano. Em abril, Serra aparecia dez pontos à frente da petista nesse quesito, com 50% a 40%.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um general sincero demais...

Normalmente, uma entrevista como essa não deveria ser transcrita aqui. Mas ela reflete um estado de ânimo entre os militares e, como tal, deve ter um papel nas próximas eleicões, estando assim justificada sua reprodução.

ENTREVISTA - MAYNARD MARQUES SANTA ROSA
Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país
LUCAS FERRAZ, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE, COLUNISTA DA FOLHA
Folha de S.Paulo, 17 de maio de 2010

General pivô de polêmica defende que ditadura de 1964 foi autoritária, mas não totalitária, e deixou imprensa "amplamente livre"

RESPONSÁVEL até fevereiro deste ano pelo Departamento de Pessoal do Exército, o general Maynard Marques Santa Rosa, 65, disse à Folha que está em andamento um processo para transformar o Brasil numa "ditadura totalitária comunista" e que o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é parte dessa estratégia.
Ele afirma que "com certeza" há exagero quando se fala em tortura na ditadura militar (1964-85). "Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Não existe, porque não se deixava sair [da prisão]. Então, foi a bondade, entre aspas, dos torturadores que permitiu que saíssem [no Brasil]."

O general foi duro em relação à pré-candidata Dilma Rousseff ao dizer que a Comissão da Verdade, criada pelo PNDH, só seria correta "se você perguntasse a Dilma quantas pessoas ela assaltou, torturou, matou..."
Quanto à eleição, diz não estar animado: "Na Dilma, não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra".
Santa Rosa foi exonerado após a Folha ter publicado e-mail em que ele classificou a Comissão da Verdade de "comissão da calúnia integrada por fanáticos". Ficou encostado no Comando da Força até passar para a reserva, em 31 de março. Segundo diz, "95% do Exército" pensa como ele. A diferença é que Santa Rosa é um dos raros casos de militar que diz o que pensa em público.



FOLHA - Qual é sua opinião sobre o governo Lula?
MAYNARD MARQUES SANTA ROSA - Acho o presidente uma pessoa simpática, tem empatia com o público e sensibilidade em detectar os anseios da massa. O que é diferente da linha governamental que ele segue. Está rodeado de pessoas impregnadas de preconceito e ideologia. O governo tem várias caras. Ideologicamente, é intolerante, autoritário. Para ser mais preciso, tem anseio totalitário.

FOLHA - O Lula?
SANTA ROSA - O governo. O presidente, não. Não sei se ele é usado ou se ele usa esse grupo para promover seus interesses.

FOLHA - O que caracteriza o autoritarismo do governo?
SANTA ROSA - A intolerância com opiniões contrárias. Quem examinar o Programa Nacional de Direitos Humanos vai interpretar o que digo. Aquilo é um tratado ideológico de extrema intolerância, onde se pretende regular uma sociedade inteira. Adota o tal princípio da transversalidade. Na medida em que se têm intenções que transcendem Legislativo e Judiciário, são pretensões que transcendem até preceitos da Constituição, portanto, totalitárias.

FOLHA - Em que parte o 3º PNDH transcende Legislativo e Judiciário?
SANTA ROSA - Quando propõe a institucionalização de mecanismos ilegais. Ingerir no processo judicial de reintegração de posse transcende a lei e na estimulação da degradação dos costumes à revelia da tradição cristã que temos, ao estimular a homoafetividade.

FOLHA - Totalitarismo não é o contrário, exigir que todos tenham o mesmo comportamento?
SANTA ROSA - Querer consertar isso com outra penada mais totalitária é que é o erro. Temos de deixar fluir a natureza, inclusive nas relações sociais.

FOLHA - Os dois planos elaborados no governo FHC já não continham basicamente os mesmos pontos.
SANTA ROSA - O primeiro plano não choca ninguém. Embora tenha bandeiras polêmicas, obedece ao princípio da naturalidade, não faz a sociedade civil engolir pontos que não lhe pertencem, diferentemente do de agora, fabricado de fora.

FOLHA - De fora? De onde?
SANTA ROSA - Se você pesquisar a similitude entre a Constituição venezuelana, e também a equatoriana e a boliviana, que são clones adaptados aos seus países, vai verificar qual é a origem. Isso tudo é uma composição organizada, é uma conspiração internacional.

FOLHA - Durante seus 49 anos no Exército, o sr. conheceu muitos gays nas Forças Armadas?
SANTA ROSA - Não, existe uma rejeição inata da estrutura militar contra isso. O problema é que existe uma articulação, no sentido de transformar a sociedade, colocar uma nova cultura goela abaixo na classe média, e isso é apenas uma fase preliminar para depois se implementar o que se quiser.

FOLHA - E o que se quer?
SANTA ROSA - Uma ditadura totalitária.

FOLHA - Comunista?
SANTA ROSA - Exatamente. Primeiro, transformar os costumes da sociedade, para, por último, implementar o sistema totalitário. Falar isso no século 21 é quase uma aberração.

FOLHA - Após 21 anos de ditadura, a democracia não é irreversível?
SANTA ROSA - Não acho. O povo não reage, está numa situação letárgica. Nosso povo não tem opinião, e quem tem se cala. Estamos anestesiados.

FOLHA - No seu e-mail contra o plano não havia nada disso.
SANTA ROSA - O nosso foco era a defesa da instituição militar.

FOLHA - Nosso? De quem?
SANTA ROSA - Meu. O foco militar era porque, se se conseguisse abrir a Comissão da Verdade, o resto seria facilmente alastrado. Houve uma reação institucional à qual até o próprio ministro [Nelson Jobim] aderiu, reconhecendo que iria causar uma desarmonia grande. Então, ele contrapôs aquele protesto que levou o presidente a flexibilizar a redação do plano.

FOLHA - Que nota o sr. dá para o ministro Nelson Jobim?
SANTA ROSA - Para o momento, é o melhor que se tem. É preparado, foi ministro do STF, da Justiça, tem relacionamentos de alto nível e é inteligente. O Ministério da Defesa é uma necessidade, faz parte da modernidade do Estado.

FOLHA - Como o sr. define o regime de 1964?
SANTA ROSA - Um regime emergencial, um mal que livrou o país de um mal maior.

FOLHA - E a tortura?
SANTA ROSA - Nunca foi institucionalizada, é um subproduto do conflito. A tortura começou com os chamados subversivos. Inúmeros foram justiçados e torturados por eles próprios, porque queriam mudar de opinião. A tortura nunca foi oficial.

FOLHA - O sr. critica que o plano está transportando para o país um regime autoritário, mas não foi justamente o de 1964?
SANTA ROSA - Foi autoritário, mas não totalitário.

FOLHA - Qual é a diferença?
SANTA ROSA - A imprensa, por exemplo, foi amplamente livre.

FOLHA - Como?!
SANTA ROSA - Só teve censura no momento de pico, a partir do AI-5 [1968]. Se não houvesse um enrijecimento político naquela oportunidade, poderia se perder o controle. Considero isso tudo um mal, mas um mal menor e necessário.

FOLHA - O sr. aceita um militar torturando uma pessoa indefesa, um jovem, uma mulher, desarmados?
SANTA ROSA - Nenhum militar torturou ninguém. Se houve, foi no Dops [Departamento de Ordem Política e Social, oficialmente vinculado à polícia].

FOLHA - Não é covardia matar pessoas e torturar rapazes e moças, algumas grávidas, depois de presas?
SANTA ROSA - Sinceramente, não sei de nenhum caso. O que existe é produto de imaginação.

FOLHA - O sr. tem dúvida? A própria ex-ministra Dilma Rousseff foi presa e torturada.
SANTA ROSA - Ela diz que foi torturada, mas... Só no Brasil, a pessoa que sobrevive, e está com boa saúde, alega a tortura para ganhar os benefícios, sejam políticos ou de pensão.

FOLHA - É mentira que houve tortura?
SANTA ROSA - Com certeza absoluta. Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Ou chinês? Não existe, porque não se deixava sair [da prisão]. Então foi a bondade, entre aspas, dos torturadores que permitiram que saíssem [no Brasil]. Institucionalmente, legalmente, não houve [tortura]. Não posso afirmar que, fora do controle, não tenha havido.

FOLHA - Não é justo, portanto, ter uma Comissão da Verdade para apurar se houve ou não houve?
SANTA ROSA - Seria justo se os dois lados dissessem a verdade. Se você perguntar a Dilma Rousseff quantas pessoas ela assaltou, torturou, matou...

FOLHA - Até onde se sabe, ela não matou ninguém.
SANTA ROSA - É o que ela alega. Sabe-se que tem vítima.

FOLHA - Qual é a sua opinião sobre José Serra? Ele foi presidente da UNE, exilado no Chile...
SANTA ROSA - É um administrador competente, um gestor público excelente, tanto que, se voltar para São Paulo, se reelege. Mas eu estou me atendo ao produto do trabalho dele.

FOLHA - E a Marina Silva?
SANTA ROSA - Tem uma visão da Amazônia igual à da Fundação Ford, igual à dos americanos. É uma visão internacionalista.

FOLHA - O sr. vota em quem?
SANTA ROSA - Na Dilma não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Entrevista de Lula a El Pais

A arrogância e a suficiência não costumam combinar com um eleitorado educado, ainda que possam se acomodar com um eleitorado "rústico". "Eu não vejo a possibilidade de perdermos as eleições", pode ser a marca dessa arrogância típica de que se sente acima e além do tempo histórico, e deste mundo em que vivemos...
O inacreditável, também, é ele se apropriar da política econômica anterior, achar que é sua, e pretender que ninguém pode mudar, como se ele fosse o distribuidor onipotente e onisciente da boa palavra e o garantidor de algo que pretendeu destruir antes de ser presidente.
É o que se chama de desonestidade intelectual, embora essa última palavra não combine com o quadro em questão...
Paulo Roberto de Almeida

Lula diz que não há espaço para mudanças
Valor Econômico, 10/05/2010

De São Paulo - Em entrevista publicada ontem pelo jornal espanhol "El País", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse não acreditar na possibilidade de que a ex-ministra Dilma Rousseff, que ele indicou como candidata do PT à sua sucessão, sofra uma derrota nas eleições de outubro. "Eu não vejo a possibilidade de perdermos as eleições", afirmou o presidente.

Lula disse também que seu sucessor não terá espaço para promover mudanças significativas na política econômica essencialmente conservadora que ele adotou em seus dois mandatos. "Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum absurdo", declarou o presidente. "O povo quer seguir caminhando e não voltar atrás."

Lula defendeu as realizações de seu governo e a maneira como reagiu à fase mais aguda da crise econômica mundial no ano passado. "Se o Brasil mantiver nos próximos cinco anos a seriedade nas políticas fiscal e monetária, nos investimentos e no controle da inflação, tem tudo para se transformar numa potência respeitada no mundo", afirmou.

Ao falar sobre o que planeja fazer depois que deixar a Presidência, o presidente sugeriu que poderá se afastar do debate político nacional para não atrapalhar o sucessor. "O melhor serviço que um ex-presidente da República pode prestar é ficar calado, deixar quem ganhar as eleições governar e permanecer em silêncio", afirmou Lula na entrevista.

É exatamente o contrário do que o presidente prometeu fazer há uma semana, quando fez um discurso inflamado num evento organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para comemorar o dia 1º de maio e ameaçou voltar aos palanques das centrais sindicais no ano que vem para atacar o próximo presidente. "Se for alguém ruim, a gente vem aqui meter o pau", disse Lula aos sindicalistas. "Se for alguém bom, a gente vem aqui ajudar e aplaudir."

domingo, 9 de maio de 2010

Uma declaracao de principios, preventiva - Paulo R Almeida

Declaração preventiva sobre as eleições
Paulo Roberto de Almeida

Como faço sempre em períodos pré-eleitorais, começo a reunir materiais sobre os candidatos, os programas (estes bem mais tardios), sobre os próprios processos eleitorais, enfim, o conjunto de elementos informativos e analíticos que me permita acompanhar o desenrolar das campanhas e as próprias eleições com pleno conhecimento de causa sobre quem são, o que representam cada um dos candidatos, quais suas idéias e intenções, quais as conseqüências para o Brasil da eleição de um ou outro, em especial quais são os impactos para a política externa do Brasil, de forma a me dar domínio completo sobre as eleições, tudo isso bem antes da votação propriamente dita.
Geralmente eu abria uma pastinha e começava a coletar os materiais pertinentes, classificando-os por tipo e data, para permitir recuperação e alguma redação de artigo ou ensaio analítico quando a necessidade se manifestar. Agora (e desde 2006) abri um blog especialmente dedicado ao tema: Eleições Presidenciais 2010 (http://eleicoespresidenciais2010.blogspot.com/). Ele está disponível para consultas, mas não para comentários, já que não pretendo entabular conversações sobre o assunto com quer que seja, uma vez que eleições sempre são controversas e se prestam a manifestações de paixões exacerbadas (como futebol e outras coisas).

Não tenho porque expressar minhas preferências eleitorais, já que isto não vem ao caso, mas também não tenho porque esconder minhas posições de princípio, que são públicas e notórias, cidadão brasileiro que sou moderadamente participante nos assuntos da nação. É com esse espírito que venho agora, antes que a campanha comece, expressar essas posições, como forma de deixar claro o que penso sobre o processo eleitoral em si, e o que penso ser melhor para o Brasil.
Vamos lá.

Não temos controle, os cidadãos comuns, sobre a escolha dos candidatos, pelo menos não diretamente. Eles são escolhidos pelas máquinas partidárias, com base numa aferição de suas chances de ganhar a competição eleitoral. Aí talvez entremos nós, os eleitores comuns, se por acaso somos escolhidos para responder a algum questionário de instituto de pesquisa. Eu nunca fui escolhido por um e não tenho idéia de como são formuladas as questões abertas e fechadas. Tampouco pertenço a qualquer partido e não tenho a intenção de me filiar a qualquer um, em qualquer tempo e lugar. Não se trata de uma posição absoluta, mas é um princípio compatível com meus outros valores, entre eles o de absoluta independência de julgamento, o livre arbítrio na escolha de minhas próprias posições: nunca aceitaria ter de acatar posições desenhadas por outros de cujo processo de elaboração eu mesmo não tenha participado. Nisso sou um anarquista radical: simplesmente não conseguiria deixar de pensar com minha própria cabeça para aceitar um menu pret-à-porter, ou seja, pré-configurado.
Por isso mesmo, eis aqui meu primeiro princípio eleitoral: eu nunca aceitaria um candidato que tenha sido imposto por outros, sem que ele mesmo tenha lutado por sua indicação, com empenho pessoal – intelectual e organizacional – na seleção, na disputa de posições, na exposição de suas qualidades, na manifestação aberta de seu pensamento. Candidato de bolso do colete, jamais seria algo aceitável do meu ponto de vista. Só quem pensa com sua própria cabeça, e encontra-se preparado para debater e defender suas próprias posições. Fica o aviso...

Com relação a posições, vou logo dizendo o que sou a favor e objetivamente contrário. Sou a favor da democracia mais aberta possível, com total liberdade dos meios de comunicação e a menor participação desejável de publicidade governamental. Sou contrário a governos gastando dinheiro público com propaganda em seu próprio favor. Sou contrário ao envolvimento do poder com as eleições, de qualquer forma e em qualquer grau. Governo é governo, e eleições são eleições: aceito o princípio de uma re-candidatura (a contragosto), mas creio que o candidato deve se separar do governante, ou vice-versa. Sempre existem abusos de poder. Acho que os juízes (sou contra juízes eleitorais, apenas juízes “normais” que julguem com base em leis claras) devem ser muito severos com as confusões eventuais, mas no plano da imprensa, sou pela total liberdade de opinião. Meu segundo princípio é, então, a maior liberdade para todos, sem controles estatais. Tenho horror daqueles que dizem que é preciso “democratizar os meios de comunicação” e que a sociedade precisa se armar para “controlar a grande mídia”. A sociedade já controla a grande mídia, deixando de assistir ou comprar aquilo de que não gosta.
Também sou a favor de quem não coloca o Estado, ou o próprio governo, acima da sociedade, como fazem tantos políticos, eventualmente equivocados de boa-vontade, ao considerarem que só o Estado pode fazer “bondades” para a população de baixa renda, no pressuposto de que o capitalismo – que nem o PCdoB pensa em abolir no Brasil – é um sistema inerentemente injusto e desigual. Sou a favor da iniciativa privada e da privatização de alguns monstros estatais que foram criados ou vem sendo alimentados a golpes de subsídios públicos – ou seja, o meu, o seu, o nosso dinheiro – de maneira tão intensa quanto irracional nos últimos tempos. Por exemplo: que sentido tem transferir bilhões de dólares a uma empresa como a Petrobras, que conseguiria facilmente se abastecer no mercado de créditos privados? Só pode ser por uma concepção equivocada do que sejam prioridades em gastos públicos. Pois bem: tenho horror de gente que se equivoca com o meu dinheiro. Este é, portanto, o meu terceiro princípio: o Estado não deve fazer aquilo que pode ser feito pela própria sociedade, pela iniciativa privada, que arrisca o dinheiro do empresário, não o meu.

Transparência e honestidade pessoal no trato da coisa pública me parecem, mas isso é o mínimo, essenciais para qualquer pessoa que pretenda cargos elevados na hierarquia política. É muito fácil perceber a sinceridade ou a hipocrisia nas falas de um político: basta olhar nos olhos. Quem não consegue olhar para os telespectadores, sem desviar os olhos para algum teleprompter, que possa lhe guiar as idéias (quando as tem) parece ter um grave problema de credibilidade e de articulação de frases simples, sinceras, diretas, falando diretamente ao eleitor. Pode ser um quarto princípio, mas prefiro colocar como requerimento básico...

Existem vários outros elementos que poderiam integrar esta lista, como posicionamentos sobre diferentes assuntos da vida econômica, política e social. Mas creio que não devo moldar os candidatos de acordo com minhas preferências pessoais. Prefiro esperar as primeiras declarações para depois então me manifestar a respeito.

Paulo Roberto de Almeida (Shanghai, 9 de maio de 2010)

A imprensa sempre incomoda - Guilherme Fiuza

O chicote democrático do governo Lula
Guilherme Fiuza
O Globo, 23 de março de 2010

Zapata não poderia ter feito isso. Quase três meses em greve de fome e cismou de morrer logo no dia em que Lula chegou a Cuba para abraçar Fidel Castro. Como disse o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi muito azar do presidente.

Dá para compreender por que o novo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), coordenado pelo mesmo Vannuchi, prevê garrotes e mordaças à imprensa. As notícias às vezes são muito inconvenientes.

Só servem para atrapalhar o governo popular, em sua marcha rumo ao paraíso social.

Orlando Zapata, operário, prisioneiro da ditadura de Fidel, morreu no colo de Lula. Isso foi o que indignou o representante máximo dos direitos humanos no governo brasileiro. Poderia ter morrido uma semana antes, uma semana depois, sem atrapalhar a agenda do filho do Brasil e seu silêncio sorridente ao lado de Fidel e Raúl Castro. É mesmo muito azar.

Essa sofisticada concepção de direitos humanos serve para explicar muita coisa, inclusive a nova filosofia de controle social da mídia.

A candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff a enteada do filho do Brasil vem aí para botar a imprensa nos eixos. O PNDH-3 é um dos chicotes democráticos que vêm dizer como os veículos de comunicação devem tratar a pessoa humana. Como disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra, é a reação à guerra de extermínio da mídia burguesa contra seu partido iniciada em 2005, no escândalo do mensalão. Aliás, a descoberta do valerioduto também foi muito azar.

Lula e Dilma estão fazendo sua parte. Em recente comício na Favela da Rocinha ou seria melhor não dizer comício, porque eles ficam zangados , o presidente disse aos pobres que a mídia só dá notícia ruim. Ou notícia que não existe.


Nunca antes na história deste país se viu um presidente da República democraticamente eleito dizer ao povo que ele não deve confiar na imprensa.

Com a nova filosofia de controle social da mídia, o governo quer botar a imprensa nos eixos



De fato, a imprensa brasileira anda muito estranha. Passou os últimos anos tentando descobrir quem é Dilma Rousseff, e não conseguiu. Alguma coisa está errada aí. Quem sabe a razão não está com o coronel Chávez, parceiro de Lula, que deixou de conversa mole e saiu censurando os veículos insensíveis a seu governo maravilhoso? É bem verdade que a Venezuela, com aquele petróleo todo, está indo para a ruína econômica, com a maior inflação do planeta. Mas isso foi muito azar.

Dilma é a gerentona, mulher de pulso firme uma espécie de Margaret Thatcher da esquerda. Pelo menos era essa a instrução que vinha na embalagem. Não é simpática? Paciência. Uma grande gestora não precisa ter sorriso doce. Aí surgiu o problema.

Os jornalistas, esses insatisfeitos, quiseram conhecer as obras completas da grande gestora. Não encontraram nem as incompletas. Ela teve passagens opacas pela burocracia estatal gaúcha e foi ministra de Minas e Energia. Nesse cargo, implantou um modelo tarifário populista, ao estilo argentino, numa gestão que até hoje divide os especialistas do setor elétrico: uns a consideram medíocre, outros a julgam desastrosa.

Impertinentes, os repórteres continuaram à procura das façanhas administrativas de Dilma Rousseff. Encontraram o que se sabe: disputa partidária, conchavo, manejo de dossiês, teoria conspiratória. Lula tinha razão: só notícia ruim.

Uma pesquisa feita pelo governo mostrou que a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a dama do pré-sal e outras placas colocadas no poste não colaram. O povo ignorou. O que funciona mesmo é o mantra Dilma é Lula. Chato é quando a imprensa se aproxima para ver se é ou não é. A candidata ruge um meu filho ou um tem dó, combinando uma intolerância de Zélia com um olhar apavorado de Pitta. Será Dilma o Celso Pitta de Lula?

Bem, o que a imprensa disser não interessa. Eles se entendem diretamente com o povo. E o povo acha que Dilma é Lula. Até a eleição, pode até descobrir que Dilma é José Dirceu. Mas aí será muito azar.

sábado, 8 de maio de 2010

A pergunta de uma jovem estudante sobre participacao eleitoral, e a minha resposta...

Recebi, de uma estudante a seguinte pergunta:


On May 9, 2010, at 3:05 AM, A..... O........ wrote:

Olá Paulo, sou estudante e estava fazendo uma pesquisa e encontrei seu Blog sobre eleições presidenciais 2010 que me ajudou muito. Gostaria de saber de você a opinião sobre uma questão que logo irei estudar, Se o jovem perdeu o interesse pela participação eleitoral. O que acha?
Tenha um ótimo fim de semana.
Obrigada :D

Minha resposta:

A.......,
Existem todos os tipos de jovens. Os muito estudiosos, como voce parece ser, e aqueles que nao gostam de estudar. Existem os que se interessam por politica, por curiosidade intelectual, aqueles que gostariam de melhorar o pais e a sociedade, e acreditam, corretamente, que a politica é a via mais apropriada para isso (em lugar de fazer revolucao, como acreditamos no passado), e existem tambem aqueles que querem ver na politica uma maneira de ganhar dinheiro, de ficar rico, sem precisar trabalhar em profissoes "normais".
Enfim, nao apenas jovens, existem todos os tipos de pessoas que tem opinioes diversas sobre a politica.
Eleicao é parte da politica, e é um exercício de direito cidadao, no Brasil uma obrigacao tambem, pois o voto é obrigatorio, como se fossemos um bando de carneiros, que tem de seguir ordens superiores.
Parto do principio de que o voto teria de ser livre, apenas um direito, nao uma obrigacao, mas infelizmente nao é assim, inclusive porque os politicos sabem que se for livre, mais da metade, talvez, da populacao nao vai votar, por desinteresse, por nojo, por preguica.
De fato, a politica no Brasil de hoje nos dá essa sensaçao de nojo, dada a sucessao de escandalos no Parlamento, os milhoes gastos com privilegios e inutilidades. Os politicos sao, em sua grande maioria, mediocres e oportunistas.
É natural, nessas condicoes, que nao apenas os jovens, mas a populacao em geral, se desinteresse das eleicoes, que considere todos os politicos ladroes, indignos de receber os seus votos.
E no entanto, esse seria um erro, pois se o jovem se abstem de votar, ai sim estaria colaborando, involuntariamente, a que os oportunistas, os ladroes, os incompetentes, mas dotrados de recursos, consigam se eleger, no lugar dos melhores preparados ou dotados de boas intencoes para com a politica (porque tambem os ha), na medida em que os desonestos ricos por sair por ai comprando votos, prometendo maravilhas para pessoas pouco educadas e tudo o que sabemos.
Os jovens portanto devem participar da politica e das eleicoes, mas devem em primeiro lugar se informar melhor, separar o bom do mau candidato, o honesto do ladrao, o demagogo do sincero e assim por diante.
Isso se adquire pela informacao de boa qualidade, pelo estudo das propostas, pelo conhecimento dos problemas do pais.
Seja uma jovem consciente e expresse sua opiniao de modo claro e dirigido para a melhoria do pais.
Cordialmente,
------------------------------
Paulo Roberto Almeida

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Confusao no campo aliado e governista: retrato de uma candidatura enquanto jovem...

Apenas transcrevendo uma matéria de jornal, puramente descritiva:

PT mineiro ignora apelo de Lula, faz prévias e atrapalha palanque de Dilma
Eduardo Kattah de Belo Horizonte, Vera Rosa de Brasília
O Estado de S.Paulo, 03 de maio de 2010

Dispostos a adiar ao máximo a definição do candidato da base aliada ao governo de Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, e o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias, disputaram ontem uma prévia no PT e endureceram o tom contra o PMDB. Patrus criticou a política da "moeda de troca" e Pimentel rejeitou "ultimatos".

O novo enfrentamento irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contrariado, Lula mandou avisar os dois de que quer o impasse resolvido até o fim deste mês. Para ele, a "novela" em Minas já começa a atrapalhar a campanha da petista Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.

A prévia foi convocada pelo PT para a escolha do candidato ao Palácio da Liberdade. Para garantir o apoio do PMDB a Dilma, porém, Lula concordou em ceder à principal reivindicação do partido, que pede a cabeça da chapa para o senador Hélio Costa. Na composição desejada pelo Planalto, o PT fica com uma vaga ao Senado, além da vice.

"Na história do Brasil e do PT, Minas Gerais nunca foi tratada como moeda de troca", desafiou Patrus, que largou na frente. Na primeira apuração parcial dos votos, contabilizadas as urnas de 97 dos 605 municípios, Patrus liderava a consulta com 51,60% (3.026 votos). Pimentel tinha 48,40% (2.835 votos).

O esforço do Planalto para o acordo em Minas tem fator adicional: trata-se do segundo colégio eleitoral do País, hoje administrado pelo PSDB. Detalhe: o candidato do PSDB, José Serra, está bem à frente de Dilma na região Sudeste.

Amigo de Dilma e um dos principais coordenadores de sua campanha, Pimentel disse não haver motivos para preocupação e garantiu que a petista terá "palanque único" no Estado.

Lula já deu sinal verde para o Diretório Nacional do PT intervir na seção mineira, caso o partido não se entenda com Costa. Quer solução rápida porque o PMDB promoverá um megaencontro no próximo dia 15 para anunciar o aval a Dilma e apresentar o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), como vice da chapa. O governo está de olho no tempo de TV do PMDB.

"O meu querido amigo Hélio Costa não tem condições de dar ultimato ao PT", provocou Pimentel. "Ele sabe que não pode fazer isso e não o fará."

O nome do vencedor da prévia sairá hoje, mas terá de passar pelo crivo do encontro estadual do PT, de 21 a 23 deste mês. A ideia, porém, é ganhar tempo e empurrar a definição do candidato até junho para cansar o PMDB e fazer o partido desistir do plano de eleger Costa à cadeira ocupada por Antonio Anastasia (PSDB).

"Fixar prazo, em política, empobrece a discussão", insistiu Pimentel. "O prazo legal de registro da chapa é 3 de julho."

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, não escondeu o desconforto do governo com o impasse. "A nossa expectativa é de que o PT de Minas encerre logo essa disputa e sente com os aliados para que possamos montar o palanque único e começar a campanha da Dilma no Estado", afirmou Padilha. "Não existe candidato que saia sozinho." Pelos cálculos do PT mineiro, o quórum da prévia foi baixo: dos 108 mil filiados aptos a votar, o comparecimento às urnas não ultrapassou 30 mil.


Sinal amarelo nos Estados

Outros problemas para os petistas

Maranhão
Lula entrou em campo para obrigar o PT do Maranhão a apoiar a candidatura da governadora Roseana Sarney (PMDB). Antigo adversário da família Sarney, o PT decidiu se aliar ao deputado Flávio Dino (PC do B). Mas uma ala do partido, com cargos na equipe de Roseana, promete rever a decisão.

Pará
Para apoiar a reeleição da governadora Ana Júlia Carepa (PT), o deputado Jader Barbalho (PMDB) quer reconquistar cargos estratégicos. Em rota de colisão com Ana Julia, Jader flerta com os tucanos e ameaça lançar seu sobrinho, José Priante, ao governo, garantindo um lugar na chapa para o Senado.
Rio
Candidato a um segundo mandato, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), prometeu aval a Dilma, mas não admite que ela pise no palanque de seu adversário, Anthony Garotinho (PR). O PT não sabe como administrar o problema, pois Garotinho também espera retribuição por aderir à campanha de Dilma.

Paraná
O PT pode perder o apoio do senador Osmar Dias (PDT), candidato ao governo. Ele está aborrecido com a insistência do PT em lançar Gleise Hoffmann ao Senado porque quer que ela seja vice na chapa. Alega que o PT está atrapalhando as negociações com o PP e flerta com o PSDB de Beto Richa.

Rio Grande do Sul
O PMDB está em cima do muro. O ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, não declarou apoio ao tucano José Serra, nem fechou com Dilma. A base aliada está dividida: o PT lançou Tarso Genro, o PSB apresentou Beto Albuquerque e o PP ameaça fechar aliança com a governadora Yeda Crusius (PSDB).

Bahia
São cada vez mais fortes as estocadas entre o governador Jaques Wagner (PT), candidato à reeleição, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). Os partidos governistas estão divididos e o PR aderiu a Geddel.