quarta-feira, 30 de junho de 2010

Crise na candidatura oposicionista: partidos nao se entendem sobre candidato a vice

PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Serra não estanca crise, e chapa sofre novo revés
Marcelo Justo
Folha de S.Paulo, 30.06.2010

Irmão de Alvaro Dias se lança ao governo e dá palanque para Dilma no PR
Após tensas reuniões e intervenção de FHC, PSDB e DEM não obtêm acordo sobre indicação do candidato a vice
(Foto) O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao sair de reunião entre líderes do DEM e do PSDB em hotel na capital paulista

DE SÃO PAULO - Não bastasse a crise com DEM, a chapa José Serra-Alvaro Dias sofreu ontem um novo revés. O senador Osmar Dias (PDT-PR) anunciou a decisão de concorrer ao governo do Paraná, consolidando palanque para a petista Dilma Rousseff no Estado.
Acertada ontem numa reunião entre Osmar e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a decisão representa um duplo golpe para a candidatura de Serra. Além de oferecer um palanque para Dilma, desmonta o principal argumento em favor de Dias na queda-de-braço entre PSDB e DEM para indicar o vice de Serra.
Até ontem, Osmar dizia que não seria candidato ao governo do PR caso Dias, seu irmão, fosse vice de Serra.
Ontem, porém, Osmar disse a interlocutores que, como não haverá "disputa direta" entre eles, não haverá problema em integrar outra coalizão.
Nas reuniões com o DEM, o tucanato usou a perspectiva de implosão do palanque de Dilma como motivo para indicação de Dias. Com a candidatura de Osmar, esse trunfo não existe mais.
No final da noite, a avaliação entre líderes tucanos era de que o lançamento da candidatura de Osmar fragiliza a indicação de Alvaro Dias.
Esse ingrediente azedará mais a relação com o DEM, que ameaçou suspender sua convenção, afinal confirmada para hoje, em Brasília. O presidente do partido, Rodrigo Maia, disse que "se possível" a sigla apoiará Serra. Após duas tensas reuniões, tucanos e democratas não chegaram a um consenso. Serra atuou diretamente e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi acionado para tentar convencer os aliados a aceitar Alvaro Dias.
A definição sairia de um novo encontro da cúpula do DEM ontem à noite em Brasília -o terceiro em 24 horas.
Os democratas diziam que, sem acordo, a convenção poderia ser cancelada. O encontro acabou sem o anúncio do fim do impasse. A decisão ficou para a convenção de hoje, que começará às 8h.
Em telefonemas aos democratas, Serra apelou para o instinto de sobrevivência do DEM: alegou que o veto a Dias impõe risco não só ao PSDB mas ao futuro da aliança. Para pressionar, tucanos recrutaram democratas nos Estados nos quais o DEM depende do apoio do PSDB para ser mais competitivo: a ameaça é abandonar essas alianças se o DEM romper com o PSDB nacionalmente.
Convocado a pedido de Serra, FHC pediu responsabilidade a todos na reunião. Ao sair, não descartou o risco de ruptura: "Certeza [de que a aliança está mantida], nunca pode se dizer que sim".
A cúpula do DEM chegou a admitir até a substituição de Dias por outro tucano, mas mantinha o veto ao senador. Já o PSDB insistia no tucano. Apesar de a hipótese de recuo existir de ambos os lados, a estratégia é esticar a corda para ver quem cede. Se o DEM decidir manter o veto, o PSDB terá de negociar.

Colaborou DIMITRI DO VALLE, de Curitiba

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Blog de Josias de Souza (FSP):
FHC aconselha Serra a ‘rever’ escolha de Álvaro Dias

Em conversa que manteve com José Serra na noite passada, Fernando Henrique Cardoso aconselhou o presidenciável tucano a rever a escolha de seu vice.

FHC reunira-se horas antes, num hotel de São Paulo, com integrantes da cúpula do DEM. Recolheu objeções à indicação do tucano Álvaro Dias.

Rodrigo Maia, Jorge Bornhausen e Agripino Maia despejaram diante de FHC um discurso bem ensaiado. Evitaram o uso de vocábulos como rompimento e veto.

Porém, deixaram claro que faltou método à escolha de Álvaro Dias. Ficou entendido que, excluído do processo, o DEM sairia humilhado se o aceitasse.

Na expressão de Agripino Maia, líder do DEM no Senado, era preciso “zerar o jogo”, reabrindo a negociação.

Presidente de honra do DEM, Bornhausen levou à mesa um episódio ocorrido há três meses. Envolveu Pimenta da Veiga (PSDB-MG), ex-ministro de FHC.

Bornhausen contou que, ao ser informado de que o nome de Pimenta era cogitado para ocupar a vice de Serra, tocou o telefone para ele.

Perguntou a Pimenta se estava mesmo “no páreo”. Ouviu do interlocutor uma resposta negativa. Lamentou.

Segundo o relato feito a FHC, Bornhausen disse a Pimenta que, mercê das boas relações que mantém com o DEM, seu nome seria uma boa alternativa.

O caso foi rememorado a pretexto de esclarecer a FHC que, embora preferisse a escolha de um vice de seus quadros, o DEM não se opunha à chamada chapa “puro-sangue”, só de tucanos.

O que o parceiro do PSDB não digere é o fato de o nome de Álvaro Dias lhe ter sido apresentado como um prato feito.

Pior: o DEM soube do desfecho por meio de uma mensagem levada ao micro-blog por Roberto Jefferson, presidente do PTB.

Acionado por Serra para dobrar a tribo ‘demo’, FHC saiu da reunião convencido de que Álvaro Dias tornara-se um problema, não uma solução. Levou suas apreensões a Serra.

Pelo telefone, um dos mandachuvas do DEM foi informado, no início da madrugada desta quarta (30), que FHC aconselhara a Serra a revisão da escolha.

Esperava-se que Serra abrisse mão de Álvaro Dias antes do raiar do Sol. Algo que não havia ocorrido até o horário em que esse texto foi redigido: 2h40.

Além de FHC, participaram da reunião com os 'demos' outros dois tucanos: o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e o líder do partido na Câmara, João Almeida (BA).

À noite, já em Brasília, Rodrigo Maia avistou-se com parlamentares do DEM. Relatou o teor da conversa inconclusiva de São Paulo.

A despeito de arrostar uma gripe que evoluíra para a febre, o presidente do DEM disse que ficaria de prontidão na madrugada, à espera de novidades.

Trava-se uma corrida contra o relógio. O DEM realiza nesta quarta sua convenção nacional. O edital de convocação prevê o início para as 8h e o término para as 13h.

Deve começar mais tarde. E quanto ao encerramento? “Posso empurrar a convenção até a meia-noite”, disse Rodrigo aos seus pares.

Pela lei, a definição do partido não pode passar de hoje. Nas palavras de Rodrigo, “se possível”, o DEM vai ratificar a coligação com Serra.

Sob o condicional, esconde-se um par de desejos do DEM: 1) que Serra abra mão de Álvaro Dias; 2) que escolha, “se possível”, um vice 'demo'.

No final da noite, o ministro petista Alexandre Padilha, coordenador político de Lula, levou ao micro-blog uma má notícia para Serra. Anotou:

“Agora já posso falar. Quero parabenizar o senador Osmar Dias pela decisão de ser candidato a governador no Paraná. Agora SOMOS TODOS OSMAR!!!”

Filiado ao PDT, Osmar Dias dizia, até a véspera: se o irmão Álvaro Dias fosse confirmado na vice de Serra, disputaria o Senado coligado com o PSDB-PR.

Mudou de ideia depois de uma conversa com o ministro Carlos Lupi (Trabalho), mandachuva do PDT. Osmar vai à corrida pelo governo paranaense coligado ao PT e ao PMDB.

Serra optara por Álvaro Dias sob a alegação de que, com ele, atraía Osmar e implodia o palanque de Dilma Rousseff no Paraná. O argumento virou pó.

Se refugar o conselho de FHC, o presidenciável tucano talvez não perca o horário de TV do DEM. Mas terá do seu lado um “aliado” absolutamente desmotivado.

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Escrito por Josias de Souza às 02h42

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