O papel da oposição
Editorial - O Estado de S.Paulo
03 de novembro de 2010
"Minha mensagem de despedida neste momento não é um adeus. É um até logo. A luta continua." Ao reconhecer a vitória de Dilma Rousseff, José Serra exortou os oposicionistas a se articularem para cumprir o papel que lhes cabe no cenário político nacional. "Para os que nos imaginam derrotados - acrescentou - quero dizer: nós estamos apenas começando uma luta de verdade." É ver para crer.
Um dos fatores decisivos da vitória de Lula foi o comportamento errático, quando não pura e simplesmente omisso, da oposição, ao longo de oito anos de governo petista e na campanha eleitoral deste ano. Lula elegeu-se em 2002 com a imagem de líder popular que fez contrastar com a de intelectual, representante da elite, de seu antecessor, Fernando Henrique. Com grande competência, Lula soube manipular esse contraste para construir a própria imagem de líder e defensor dos fracos e oprimidos e colar nos opositores o estigma de inimigos do povo. FHC virou anátema. Seu governo, "herança maldita". E a oposição, como que sofrendo de grave crise de identidade, assistiu inerme a toda essa mistificação. A tal ponto que em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, Lula estava blindado e imune aos efeitos negativos da corrupção que grassava ao seu redor. Por muito menos, alguns anos antes Fernando Collor fora forçado a renunciar à Presidência.
É animador, portanto, ouvir o até agora principal líder da oposição convocar seus companheiros à continuação da luta política. Pois toda nação democrática necessita de governo competente e honesto tanto quanto de oposição viva e operante, pronta e apta a fazer cumprir o fundamento da alternância no poder.
Condições objetivas para o exercício de uma oposição eficiente a partir de 1.º de janeiro existem, apesar de a base governista ter aumentado no Congresso Nacional. A oposição sai das urnas com desempenho melhor, nos pleitos majoritários, do que quatro anos atrás. A diferença de votos entre Dilma e Serra foi menor, em cerca de 10 milhões de votos, do que aquela que Lula teve sobre Alckmin em 2006, o que pode ser explicado em parte, é claro, pelo fato de que Dilma não é Lula. Além disso, o PSDB acaba de conquistar 8 governos estaduais (foi o partido que mais governadores elegeu), que se somam aos 2 do DEM e abrangem a maioria dos Estados mais populosos e prósperos, como São Paulo, Minas, Paraná e Santa Catarina.
A mesma disposição manifestada por Serra foi reiterada pelo presidente nacional dos tucanos, senador Sérgio Guerra, para quem "o PT e os que ganharam de nós nesta eleição trabalharam para construir uma hegemonia, e não uma democracia. No Congresso, vamos agir para que o contraditório se estabeleça". Por sua vez, depois de defender a necessidade de o maior partido da oposição partir para alianças e até fusões, o governador de São Paulo, Alberto Goldman, colocou o dedo na ferida: "Nós não fomos suficientemente combativos ao longo dos oito anos do governo Lula."
Pode facilitar o trabalho da futura oposição o fato de que Dilma, apesar de dispor de ampla base de apoio parlamentar, certamente não terá sobre seus aliados o mesmo controle que detém o atual presidente. E, certamente ainda mais relevante, o bloco governista poderá bater cabeça diante de previsíveis e inevitáveis discrepâncias entre políticas a serem defendidas pela próxima presidente e aquelas hoje adotadas por Lula. A considerar, ainda, a evidência de que uma importante legenda da base governista, o PSB, chega a 2011 fortalecido pelo aumento de sua bancada parlamentar e pela eleição de 6 governadores, quase todos no maior reduto petista - o Nordeste. Disposto, portanto, a trilhar tanto quanto possível seus próprios caminhos em direção à sucessão presidencial de 2014.
Mas qualquer projeto oposicionista se frustrará, principalmente em termos de consolidação da democracia, se não houver a sincera disposição de banir da vida política duas práticas nefandas que o lulo-petismo consagrou: o exercício da oposição, como fez no plano nacional até 2003, pautado exclusivamente por interesses eleitorais e o tratamento de adversários políticos como inimigos a serem dizimados. A oposição há que ser firme e combativa, sempre, e construtiva, quando possível.
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
A marcha da autocracia: metodos conhecidos
Parece incrível que alguém tenha de se lembrar que o Senado deve ser um poder independente da presidência da República. As instituições políticas no Brasil conhecem um processo irreversível de deterioração, e os homens políticos caminham para uma subordinação aos donos do dinheiro que ainda não tinha sido vista no Brasil com essa força.
TAMAR FRANCO DEFENDE UM SENADO INDEPENDENTE!
(Nota de sua assessoria, ontem) 1. Itamar Franco: Ex-presidente diz que Constituição estabelece que o senador deve julgar o presidente da República e que, para isso, não deve ser atrelado ao Poder Executivo. O candidato ao Senado pela coligação “Somos Minas Gerais”, Itamar Franco, defende a independência dos senadores em relação ao Poder Executivo. Ontem, em seu Twitter, Itamar afirmou que a primeira atribuição constitucional de um senador é julgar o presidente da República. “A primeira atribuição constitucional de um senador é julgar o presidente da República”. E perguntou: “Como pode um candidato anunciar-se senador do presidente?”
2. No entendimento de Itamar Franco, que já foi senador por 16 anos, em dois mandatos, o parlamentar deve preservar sua isenção, em vez de dizer que será um representante do presidente da República. Um dos motivos que teriam levado ao enfraquecimento do Poder Legislativo, segundo o ex-presidente da República, foi o atrelamento do Congresso ao Governo Federal. “Precisamos resgatar a independência dos Poderes”, afirma.
3. Itamar acredita que o senador deve defender os interesses do seu Estado de origem na Câmara Alta. “Outra atribuição, além de julgar o presidente, é estudar o endividamento dos estados e municípios. Dessa forma, ele pode atuar em prol do Estado e dos prefeitos, que é o que Aécio e eu pretendemos fazer caso eleitos”, diz o ex-presidente. Uma das frentes de trabalho em que pretende atuar é a defesa do pacto federativo. Segundo ele, a União arrecada muito e transfere pouco para os outros entes federativos. “Precisamos efetivar uma distribuição mais justa dos recursos, de tal forma que as cidades que dependem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) tenham como sobreviver”, disse o candidato.
60% DO SENADO PERMITIRIAM TUDO AO PT!
Trechos do artigo de Renata Lo Prete, do "Painel da Folha" na Folha de SP (02).
1. Se foi assim nos últimos quatro anos, e se a onda, seja ela "vermelha" ou "continuísta", naturalmente desenha uma correlação de forças ainda mais confortável em caso de vitória petista, para que tanta gana? Embora no calor do palanque Lula transmita a impressão de ressentimento, sua motivação é essencialmente objetiva.
2. Ele invoca o papel de vítima do Senado para entrar de sola nas campanhas estaduais e ajudar a construir, para a eventual Presidência de Dilma, uma maioria ao redor de 60% das 81 cadeiras. Da aprovação de emendas constitucionais ao eventual debate sobre a instalação de uma Constituinte exclusiva, tudo é viável quando se tem uma base como essa.
3. Ainda é cedo para prever o tamanho exato que alcançará essa maioria. O voto para o Senado tradicionalmente se consolida mais tarde que o dos demais cargos majoritários -e neste ano, diferentemente de 2006, o eleitor será instado a escolher dois senadores. Até onde a vista alcança, porém, não há dúvida de que os governistas morderão muitas das vagas hoje ocupadas pela oposição. Uma coisa é certa: a estratégia "take no prisioners" de Lula guarda menos relação com um passado de privações do que com um futuro cheio de possibilidades.
TAMAR FRANCO DEFENDE UM SENADO INDEPENDENTE!
(Nota de sua assessoria, ontem) 1. Itamar Franco: Ex-presidente diz que Constituição estabelece que o senador deve julgar o presidente da República e que, para isso, não deve ser atrelado ao Poder Executivo. O candidato ao Senado pela coligação “Somos Minas Gerais”, Itamar Franco, defende a independência dos senadores em relação ao Poder Executivo. Ontem, em seu Twitter, Itamar afirmou que a primeira atribuição constitucional de um senador é julgar o presidente da República. “A primeira atribuição constitucional de um senador é julgar o presidente da República”. E perguntou: “Como pode um candidato anunciar-se senador do presidente?”
2. No entendimento de Itamar Franco, que já foi senador por 16 anos, em dois mandatos, o parlamentar deve preservar sua isenção, em vez de dizer que será um representante do presidente da República. Um dos motivos que teriam levado ao enfraquecimento do Poder Legislativo, segundo o ex-presidente da República, foi o atrelamento do Congresso ao Governo Federal. “Precisamos resgatar a independência dos Poderes”, afirma.
3. Itamar acredita que o senador deve defender os interesses do seu Estado de origem na Câmara Alta. “Outra atribuição, além de julgar o presidente, é estudar o endividamento dos estados e municípios. Dessa forma, ele pode atuar em prol do Estado e dos prefeitos, que é o que Aécio e eu pretendemos fazer caso eleitos”, diz o ex-presidente. Uma das frentes de trabalho em que pretende atuar é a defesa do pacto federativo. Segundo ele, a União arrecada muito e transfere pouco para os outros entes federativos. “Precisamos efetivar uma distribuição mais justa dos recursos, de tal forma que as cidades que dependem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) tenham como sobreviver”, disse o candidato.
60% DO SENADO PERMITIRIAM TUDO AO PT!
Trechos do artigo de Renata Lo Prete, do "Painel da Folha" na Folha de SP (02).
1. Se foi assim nos últimos quatro anos, e se a onda, seja ela "vermelha" ou "continuísta", naturalmente desenha uma correlação de forças ainda mais confortável em caso de vitória petista, para que tanta gana? Embora no calor do palanque Lula transmita a impressão de ressentimento, sua motivação é essencialmente objetiva.
2. Ele invoca o papel de vítima do Senado para entrar de sola nas campanhas estaduais e ajudar a construir, para a eventual Presidência de Dilma, uma maioria ao redor de 60% das 81 cadeiras. Da aprovação de emendas constitucionais ao eventual debate sobre a instalação de uma Constituinte exclusiva, tudo é viável quando se tem uma base como essa.
3. Ainda é cedo para prever o tamanho exato que alcançará essa maioria. O voto para o Senado tradicionalmente se consolida mais tarde que o dos demais cargos majoritários -e neste ano, diferentemente de 2006, o eleitor será instado a escolher dois senadores. Até onde a vista alcança, porém, não há dúvida de que os governistas morderão muitas das vagas hoje ocupadas pela oposição. Uma coisa é certa: a estratégia "take no prisioners" de Lula guarda menos relação com um passado de privações do que com um futuro cheio de possibilidades.
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quarta-feira, 26 de maio de 2010
Uma certa maneira de fazer politica - Cristiano Romero
O jogo pesado da sucessão na Previ
Cristiano Romero
Valor Econômico, 26/05/2010
O velho cacoete de setores sindicais, de tentar macular a reputação alheia para defender interesses muito particulares, veio à tona no processo de definição dos novos dirigentes da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BB). A prática é antiga. Envia-se a integrantes do governo e a jornalistas documentos apócrifos, com falsas denúncias sobre uma determinada pessoa, esperando que, com isso, a autoridade se sinta constrangida a nomeá-la.
Intitulada "Informação Relevante", uma carta anônima foi enviada há alguns dias ao Palácio do Planalto, ao Ministério da Fazenda e às diretorias da Previ e do BB. Nela, o vice-presidente de Cartões e Novos Negócios e Varejo do BB, Paulo Caffarelli, aparece como gestor de "passagem desastrosa" pela Previ. Além disso, é chamado - pecado mortal! - de "tucano". A primeira acusação não pegou, mas a segunda pode ter contribuído para tirar Caffarelli da presidência do maior fundo de pensão do Brasil e da América Latina. O "adjetivo" grudou nele feito tatuagem.
Caffarelli, que também preside a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito, era a primeira opção de Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, para substituir Sérgio Rosa no comando da Previ. Assim como o escolhido ao fim do processo - Ricardo Flores, vice-presidente de Crédito, Controladoria e Risco Global do BB -, Caffarelli é funcionário de carreira do banco há 29 anos. É um técnico na acepção ampla da palavra. E, por isso mesmo, alvo fácil de interesses sindicais contrariados.
Filho de um frentista do interior do Paraná, Caffarelli, a exemplo do irmão, é um daqueles brasileiros que ascenderam socialmente depois de entrar para o Banco do Brasil por meio de concurso público. Aos 46 anos, chegou a vice-presidente da instituição depois de 28 anos de carreira, um feito notável. Bendine pensou inicialmente em Caffarelli para a Previ, como poderia ter escolhido Flores desde o começo - do mesmo modo que Caffarelli, Flores tem carreira sólida no BB, tendo ingressado no banco como menor aprendiz.
Mas Caffarelli foi acusado, de forma covarde, de ter "vínculos" com os tucanos, o que levou ao veto do governo à sua indicação. Efetivamente, ele não tem essa ligação. E se tivesse, isso não faria dele um sujeito de caráter duvidoso, assim como não faria na hipótese de ele ser petista, coisa que ele também não é.
A carta apócrifa, enviada também a esta coluna, diz que, ao trabalhar na Previ entre 1999 e 2000, Caffarelli teria feito "maus negócios" ao investir R$ 500 milhões na Paranapanema e ao comprar debêntures de uma empresa ligada ao banco Marka, que fechou as portas em 1999. Acusou-se também o atual executivo do BB de vender R$ 500 milhões de ações da Itaúsa na véspera de a empresa anunciar "lucro recorde".
O problema da "denúncia" é que, nos dois anos em que passou na Previ, Caffarelli trabalhou na área imobiliária do fundo, portanto, longe das operações mencionadas no falso dossiê. Os detratores foram adiante - o ataque foi amplo, afinal, a ideia era que alguma nódoa pegasse no vice-presidente do BB. Desta vez, a acusação foi de tráfico de influência, envolvendo Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
A carta enviada ao governo acusa Caffarelli de ser um "interlocutor" de Marina "para encaminhamento de seus pedidos no Banco do Brasil". Não foram explicitados que pedidos seriam esses, mas a ideia, aqui, é sugerir uma afinidade que nunca existiu. Os maganos lembraram-se, inclusive, de mencionar a marca e a cor do carro da filha do ministro que, segundo eles, teria "vaga cativa na garagem do prédio do BB na Avenida Paulista". Esta coluna apurou que Marina esteve naquela agência, conversando com Caffarelli sobre uma possível abertura de conta bancária. Simples assim. O resto é pura chantagem.
Desconfia-se que a sanha contra Caffarelli, e mais recentemente contra os executivos escolhidos para gerir a Previ - afinal, Bendine acabou nomeando outro técnico para o cargo -, tenha origem no movimento sindical. É difícil comprovar porque os documentos são apócrifos, embora exista uma forte suspeita sobre o afilhado político de um importante deputado do PT. Ocupante de um cargo relevante numa das empresas afiliadas do BB, ele teria sido preterido dentro do banco e estaria estrebuchando.
O fato é que o movimento sequer é político-partidário - ele procurou atingir, primeiro, o técnico; depois, a família de um ministro de Estado (do PT); daqui a pouco, também o presidente da República (já circulam em Brasília histórias muito mal contadas e, por isso mesmo, irreproduzíveis). Isso mostra que o sindicalismo de resultados não tem ideologia.
Falsas denúncias também foram disseminadas no início do governo Lula para barrar nomeações técnicas na Receita Federal e na Polícia Federal. Sindicalistas ligados ao PT não suportaram a ideia de ver Lula no poder sem que eles recebessem seu naco. Em alguns momentos, sindicatos e políticos também se unem para prestar serviço político-eleitoral, como no caso dos aloprados, autores do falso dossiê criado para tentar desmoralizar José Serra na campanha ao governo de São Paulo, em 2006.
Cristiano Romero
Valor Econômico, 26/05/2010
O velho cacoete de setores sindicais, de tentar macular a reputação alheia para defender interesses muito particulares, veio à tona no processo de definição dos novos dirigentes da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BB). A prática é antiga. Envia-se a integrantes do governo e a jornalistas documentos apócrifos, com falsas denúncias sobre uma determinada pessoa, esperando que, com isso, a autoridade se sinta constrangida a nomeá-la.
Intitulada "Informação Relevante", uma carta anônima foi enviada há alguns dias ao Palácio do Planalto, ao Ministério da Fazenda e às diretorias da Previ e do BB. Nela, o vice-presidente de Cartões e Novos Negócios e Varejo do BB, Paulo Caffarelli, aparece como gestor de "passagem desastrosa" pela Previ. Além disso, é chamado - pecado mortal! - de "tucano". A primeira acusação não pegou, mas a segunda pode ter contribuído para tirar Caffarelli da presidência do maior fundo de pensão do Brasil e da América Latina. O "adjetivo" grudou nele feito tatuagem.
Caffarelli, que também preside a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito, era a primeira opção de Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, para substituir Sérgio Rosa no comando da Previ. Assim como o escolhido ao fim do processo - Ricardo Flores, vice-presidente de Crédito, Controladoria e Risco Global do BB -, Caffarelli é funcionário de carreira do banco há 29 anos. É um técnico na acepção ampla da palavra. E, por isso mesmo, alvo fácil de interesses sindicais contrariados.
Filho de um frentista do interior do Paraná, Caffarelli, a exemplo do irmão, é um daqueles brasileiros que ascenderam socialmente depois de entrar para o Banco do Brasil por meio de concurso público. Aos 46 anos, chegou a vice-presidente da instituição depois de 28 anos de carreira, um feito notável. Bendine pensou inicialmente em Caffarelli para a Previ, como poderia ter escolhido Flores desde o começo - do mesmo modo que Caffarelli, Flores tem carreira sólida no BB, tendo ingressado no banco como menor aprendiz.
Mas Caffarelli foi acusado, de forma covarde, de ter "vínculos" com os tucanos, o que levou ao veto do governo à sua indicação. Efetivamente, ele não tem essa ligação. E se tivesse, isso não faria dele um sujeito de caráter duvidoso, assim como não faria na hipótese de ele ser petista, coisa que ele também não é.
A carta apócrifa, enviada também a esta coluna, diz que, ao trabalhar na Previ entre 1999 e 2000, Caffarelli teria feito "maus negócios" ao investir R$ 500 milhões na Paranapanema e ao comprar debêntures de uma empresa ligada ao banco Marka, que fechou as portas em 1999. Acusou-se também o atual executivo do BB de vender R$ 500 milhões de ações da Itaúsa na véspera de a empresa anunciar "lucro recorde".
O problema da "denúncia" é que, nos dois anos em que passou na Previ, Caffarelli trabalhou na área imobiliária do fundo, portanto, longe das operações mencionadas no falso dossiê. Os detratores foram adiante - o ataque foi amplo, afinal, a ideia era que alguma nódoa pegasse no vice-presidente do BB. Desta vez, a acusação foi de tráfico de influência, envolvendo Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
A carta enviada ao governo acusa Caffarelli de ser um "interlocutor" de Marina "para encaminhamento de seus pedidos no Banco do Brasil". Não foram explicitados que pedidos seriam esses, mas a ideia, aqui, é sugerir uma afinidade que nunca existiu. Os maganos lembraram-se, inclusive, de mencionar a marca e a cor do carro da filha do ministro que, segundo eles, teria "vaga cativa na garagem do prédio do BB na Avenida Paulista". Esta coluna apurou que Marina esteve naquela agência, conversando com Caffarelli sobre uma possível abertura de conta bancária. Simples assim. O resto é pura chantagem.
Desconfia-se que a sanha contra Caffarelli, e mais recentemente contra os executivos escolhidos para gerir a Previ - afinal, Bendine acabou nomeando outro técnico para o cargo -, tenha origem no movimento sindical. É difícil comprovar porque os documentos são apócrifos, embora exista uma forte suspeita sobre o afilhado político de um importante deputado do PT. Ocupante de um cargo relevante numa das empresas afiliadas do BB, ele teria sido preterido dentro do banco e estaria estrebuchando.
O fato é que o movimento sequer é político-partidário - ele procurou atingir, primeiro, o técnico; depois, a família de um ministro de Estado (do PT); daqui a pouco, também o presidente da República (já circulam em Brasília histórias muito mal contadas e, por isso mesmo, irreproduzíveis). Isso mostra que o sindicalismo de resultados não tem ideologia.
Falsas denúncias também foram disseminadas no início do governo Lula para barrar nomeações técnicas na Receita Federal e na Polícia Federal. Sindicalistas ligados ao PT não suportaram a ideia de ver Lula no poder sem que eles recebessem seu naco. Em alguns momentos, sindicatos e políticos também se unem para prestar serviço político-eleitoral, como no caso dos aloprados, autores do falso dossiê criado para tentar desmoralizar José Serra na campanha ao governo de São Paulo, em 2006.
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