Esta articulista, um professor do Rio Grande do Sul, toca nos pontos certos do que parece ser uma estratégia de longo prazo para submeter completamente o principal partido nacional, na verdade um arquipélago de caciques oportunistas, à vontade do centro atual de poder.
LULA DETONA SARNEY PARA MANDAR NO SENADO E SUBMETER O PMDB
Paulo G. M. de Moura
17/06/2009
O artigo que você vai ler a seguir foi escrito no dia 08 de janeiro de 2004 e publicado no site do jornalista Diego Casagrande, sob o título: O GOVERNO LULA E O PMDB; O PMDB E O GOVERNO LULA.
Naquela oportunidade, muito precocemente antecipei o destino do PMDB a partir do momento em que colocou sua sede de poder a serviço de Lula. Estranha-me que, até o momento, ninguém na mídia e no meio político tenha percebido que, por trás dos sucessivos escândalos que abalam José Sarney e corroem a imagem pública do Senado, está a mão invisível de Lula.
A reação ridícula de Sarney à merecida campanha de descrédito e destruição a que é submetido pelo PT, revela que nem ele e nem a cúpula peemedebista que o cerca percebeu que Lula executa uma operação estratégica de captura do comando do Senado. Como ganho secundário, o PT pretende decapitar a atual cúpula do PMDB, visando submeter esse partido ao imperativo estratégico da aliança pró-Dilma em 2010.
As últimas pesquisas nacionais permitiram ao PT vislumbrar a possibilidade real de eleger Dilma, a se confirmar a hipótese de que a preferida de Lula avançou sobre eleitores de Serra, ao invés de crescer apenas sobre eleitores do PT, com imaginavam os tucanos.
Tendo sido contrariado na sua pretensão de controlar o Senado da República - e por extensão, o Congresso Nacional – o PT, sob ordens de Lula, decidiu mandar José Sarney para o mesmo lugar para o qual FHC mandou Sarney; ACM, Jader Barbalho e Renan Calheiros ao final de seu segundo mandato: para casa. Lula ressuscitou-os para governar, e prepara-se para aniquilá-los às vésperas da eleição de Dilma.
Em janeiro de 2004, afirmei:
A forma como o presidente Lula vem conduzindo a sempre protelada reforma ministerial, oferece razões de sobra para os peemedebistas ficarem com a pulga atrás da orelha. Uma breve olhada nos resultados das votações que o Palácio do Planalto colheu no Congresso ao longo de 2003, é suficiente para confirmar que sua base de sustentação, até o momento, é maior e mais fiel do que aquela que deu sustentação ao ex-presidente FHC. Parte desse apoio veio do PSDB e do PFL. No entanto, há muito não se via os peemedebistas tão unidos, meticulosos e disciplinados no apoio dado a um presidente. É grande também, no PMDB, a expectativa de acordos com o PT nas eleições municipais que se aproximam, pois, controlando mais de 1200 prefeituras, os peemedebistas esperam contar não necessariamente com alianças com os petistas, mas principalmente com verbas e obras que permitam turbinar seu desempenho nas urnas.
Comparando-se a forma como o PMDB se relacionou com os ex-presidentes Sarney e FHC, pode-se dizer, a julgar pelo que se lê na imprensa, que a cobrança de contrapartida que esse partido tem feito ao presidente, pelo apoio decisivo que tem dado ao governo no Congresso, é para lá de cuidadosa e discreta.
Num primeiro momento, a protelação da anunciada entrada do PMDB no ministério se deu pelo argumento de que era preciso o PMDB comprovar fidelidade nas votações, e também, pelo interesse do Palácio do Planalto, hiper-preocupado com sua própria imagem, de proceder a mexida no primeiro escalão na virada do ano, quando a opinião pública estaria desmobilizada pelas festas e férias dessa época, poupando o presidente do desgaste pela acusação de praticar o mesmo fisiologismo que condenava nos adversários quando era de oposição.
Mas o ano virou, a data prometida aos dirigentes do PMDB para a entrada no ministério, seis de janeiro, passou, e nada da tal reforma ministerial sair.
Nas páginas da imprensa, especuladores já derrubaram e empossaram quase uma dezena de ministros e substitutos, sem que de fato, nada tenha mudado no governo. Pelo contrário, o presidente elogia seus auxiliares, condena a imprensa por desserviço ao interesse público, tranqüiliza seus ministros, e desmente especuladores assegurando que os auxiliares destituídos pela imprensa seguirão nos cargos por vontade de Lula.
Que mistério se esconde por trás de tanta hesitação e protelação?
Tudo indica que a explicação para a angustiante espera dos peemedebistas esteja numa das características congênitas do petismo, que o pragmatismo da cúpula governista não conseguiu traduzir em prática aceita pela base partidária, com fez ao enfiar goela abaixo das suas bases, essa política econômica. No PT, quando se trata de partilhar o poder, o buraco é mais embaixo.
A concepção que orienta a estratégia de poder do petismo é hegemonista. O PT se construiu negando-se a fazer alianças com “partidos burgueses”. Os petistas somente passaram a aceitar alianças pragmáticas com adversários submissos e em condição de inferioridade, que ao longo do tempo vão subsumindo à crescente força da máquina de poder do PT.
O PDT, notadamente a sessão gaúcha desse partido, sabe bem disso, pois passou por uma amarga experiência no governo de Olívio Dutra. Os pedetistas deram apoio decisivo à apertada vitória de Olívio Dutra sobre Antônio Britto na eleição de 1998 para o governo estadual, mas receberam como contrapartida espaços irrelevantes no governo. Em seguida os pedetistas foram enxotados, deixando pelo caminho, ou melhor, deixando nas fileiras do PT, parte de seus quadros (dentre os quais a ministra Dilma Roussef), cooptados por uma bem sucedida estratégia de ocupação de espaços, que na concepção do petismo, passa pela extinção lenta e gradual do partido do senhor Leonel Brizola. Trata-se da mesma estratégia adotada em relação ao senhor Miro Teixeira nesse exato momento.
As tensões internas que o PT vive nesse momento, em que precisa sacrificar parte de seu poder dentro do governo para acomodar o PMDB, têm origem na necessidade de a burocracia dirigente do governo e da máquina partidária administrarem perante suas bases sedentas de poder, a fórmula através da qual irão aplicar ao PMDB, a mesma estratégia que vem sendo aplicada ao PDT. A divergência é sobre a dose e o timing do veneno. Não é sobre o que fazer com o PMDB no longo prazo.
Ou seja, os quadros intermediários da burocracia petista que ocupam os escalões médios do governo, ou que, nos estados, sonham com cargos nas prefeituras a serem conquistadas, obedecendo à lógica hegemonista a partir da qual foram educados, somente engolem a aliança com o PMDB, se a esse partido forem concedidos cargos de importância secundária. Na ótica petista, os espaços a serem concedidos ao PMDB no governo devem ser suficientes para comprar a continuidade do seu apoio no Congresso, mas insuficientes para conferir aos peemedebistas, qualquer vantagem estratégica, ainda que localizada em alguns municípios ou regiões em que PT e PMDB disputam um contra o outro o poder local ou regional. Como ocorreria, por exemplo, se Olívio Dutra perdesse o ministério das Cidades, com orçamento engordado, justamente para o partido que é seu principal adversário no Rio Grande do Sul.
O conceito que orienta as alianças de sustentação de governos por partidos democráticos, pressupõe a partilha do poder, com as virtuais conseqüências localizadas que esse tipo de acordo impõe aos aliados em âmbito nacional. Essa concepção é inaceitável para cultura política petista, que se imagina herdeira legítima do direito ao poder hegemônico (no limite total) sobre a sociedade brasileira. No fundo, os petistas vêem-se com apóstolos de uma missão histórica cuja missão é refundar a sociedade brasileira, seja para “construir” seu futuro sob novas bases, seja para reescrever seu passado sob a ótica do partido redentor.
Políticos como José Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer & Cia, podem ser acusados de tudo, menos de ingênuos. Recuso-me a acreditar que não percebam o que se passa. Na concepção petista, a aliança com o PMDB não é de curto prazo. Envolve também o projeto de reeleição de Lula em 2006. Mas, desde que sob as bases que servem aos interesses hegemonistas do PT. Ou seja, os petistas têm que sair ganhando tudo e sempre.
No longo prazo, como vem acontecendo com o PDT - que desaparece na mesma proporção em que o PT cresce - o destino do PMDB, na estratégia petista, é rigorosamente o mesmo que os petistas destinam aos seguidores de Brizola.
Tendo agido como agiram até o momento em relação ao governo Lula, os peemedebistas têm todo o direito de sair atirando se não receberem o que merecem pelos serviços prestados. Mas, mesmo que, sob circunstâncias do jogo, venham a ganhar o quinhão de poder que lhes é devido, como os bônus deles decorrentes, não será por falta de aviso que se deixarão iludir e engolir pela máquina de moer “aliados” que o comissário Joseph Dirceu comanda com avidez maquiavélica.
Cumprir-se-á a profecia?
Ou as velhas raposas do PMDB reagirão à altura, dando o troco ao PT na CPI da Petrobrás?
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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