segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

186) Propaganda politica: quando a mentira predomina...

Creio, sinceramente, que as pessoas podem se equivocar; podem ser ignorantes, errar, ou simplesmente contar uma história pela metade. O que não se pode fazer é distorcer deliberadamente, enganar, fraudar, mentir.
Isso é desonestidade intelectual, mau caratismo, má fé ou simplesmente falta de caráter.

Na TV, PT diz que Lula estabilizou economia
Ao lado de Dilma
Maria Lima
O Globo, 12/12/2009

BRASÍLIA - Apesar de ter sido um crítico feroz do Plano Real, que em 94 chamou de "estelionato eleitoral", e de ter brigado contra a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva omitiu resultados das políticas econômicas dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e atribuiu ao seu governo, no programa do PT na TV na quinta-feira, grande mérito na estabilização da economia. Protagonista do programa ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula exaltou conquistas dos sete anos de seu governo, turbinou números de empregos gerados no período e prometeu que, em breve, o Brasil atingirá o patamar de quinta maior economia do planeta.

Historiadores e cientistas políticos contestam dados apresentados e criticam o tom de endeusamento de Lula, como se ele fosse o criador de toda a história recente no Brasil. Um trecho do programa diz que, em 2002, "o país que tinha tudo, mas que não tinha nada". Os governos FH e Itamar, com o Real, conseguiram driblar uma inflação que beirava os dois dígitos, abriram a economia para entrada bilionária de investimentos, e fizeram privatizações bem-sucedidas na área de telecomunicações e outros setores.

" Daqui a alguns anos, os livros de história vão dizer que Lula foi o pai dos pobres e Fernando Henrique, o avô "

O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a grande vantagem do bom momento que o Brasil vive, apesar da crise, é o resultado de 15 anos de boa política econômica e social.

- Daqui a alguns anos, os livros de história vão dizer que Lula foi o pai dos pobres e Fernando Henrique, o avô. Essa sequência é fundamental. A continuidade foi o grande segredo. O grande personagem desse momento é o brasileiro, não Lula ou FH. O brasileiro realizou um potencial que estava meio adormecido nas duas décadas anteriores. FH plantou muita coisa, e Lula colheu. E Lula plantou outro tipo de cultura de resultado mais imediato, como o Bolsa Família, que, na verdade, é a continuidade do Bolsa Escola do FH - avalia Neri.

Bombardeio contra o Real
Em 26 de junho de 1994, candidato do PT à Presidência, Lula bombardeava o Plano Real e uma pesquisa segundo a qual a maioria dos eleitores desejava a sua continuidade. "O plano ainda não foi implantado. Quero saber como é que a pesquisa foi conduzida para chegar a esse resultado. O povo está calejado e não vai cair em mais um estelionato eleitoral", disse Lula, que acabou derrotado por Fernando Henrique. Agora, no programa, cita todas as conquistas advindas da estabilização econômica, como a criação de 12 milhões de empregos com carteira assinada desde 2003.

- São dados turbinados. O número da FGV é 8,8 milhões de empregos no período, que já é muito bom. Não sei de onde são os 12 milhões. Isso seria Alice no País das Maravilhas - contesta Marcelo Neri.

O historiador Marco Antonio Vila criticou o fato de o programa do PT mostrar todas as conquistas como fruto exclusivo da política adotada por Lula. Mas disse que não se surpreendeu, porque, para Lula, a história sempre começa com ele.

- Pessoalmente ele sempre agiu assim e isso não é um ato falho, é uma estratégia, de apagar as figuras ou a historia que vieram antes dele. Para Lula, o sindicalismo não começou com os anarquistas, mas com ele, em 75. Em termos partidários considera que o primeiro partido dos trabalhadores foi o PT, que é ele. E age como se fosse o primeiro governo a colocar ordem no mundo - critica Vila.

Dutra: críticas são dor de cotovelo do PSDB
A direção nacional do PT confirma que a estratégia do partido nos programas gratuitos de rádio e TV é mesmo realçar os feitos do governo Lula. O presidente eleito do partido, José Eduardo Dutra, disse que as críticas são resultado da "dor de cotovelo" dos tucanos. Sobre a contestação de alguns dados, como o número de empregos com carteira assinada, Dutra afirmou que os realizadores do programa foram até generosos com o governo FH.

- Acho que houve uma infiltração tucana na elaboração do programa do PT. O que foi turbinado foi o número de empregos com carteira assinada do governo FH. Nosso programa diz que foram gerados 5 milhões de empregos no governo passado. Segundo o Caged, o saldo ao fim de oito anos foi de 700 mil - disse.

"Isso é conversa para boi dormir de tucano com dor de cotovelo"
O dirigente petista também rebateu as críticas sobre o fato de o programa se referir às conquistas econômicas, como estabilidade e avanços sociais, como se fossem apenas do governo atual, sem levar em conta o Plano Real e as ações do governo Itamar Franco.

- Engraçado: no seu programa, o PSDB só falou dos oito anos do governo FH e nenhum intelectual reclamou. Lógico que nosso objetivo é mostrar os oito anos do Lula. Isso é conversa para boi dormir de tucano com dor de cotovelo. O Aécio mostrou um monte de coisa (de Minas) e não disse que tudo começou com o Itamar - reagiu Dutra.

Líderes de PSDB e DEM criticaram o programa do PT, em que Dilma aparece numa espécie de jogral com Lula e é citada como a pessoa que o ajudou a concretizar as grandes realizações do governo.

- Eles deveriam mostrar mais a candidata deles no programa. Não mostraram muito. O candidato não é Lula, mas insistem nessa conversa de que o mundo começou em 2003. O programa é um reconhecimento de que não têm candidatos - disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

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