A disputa na arena digital
Alexandre Oltramari
Veja, 19.12.2009
Os políticos brasileiros estão se armando para usar bem a internet em 2010. A rede oferece várias maneiras de chegar aos eleitores – e-mails, newsletters, blogs e a criação de websites interativos são as mais comuns. A fronteira das redes sociais já começa também a ser desbravada. Nessas redes as pessoas criam páginas em que seus amigos e os amigos dos amigos trocam informações de interesse comum, formando extensas comunidades virtuais. Entre elas a mais dinâmica é o Twitter, serviço de troca de mensagens curtas com até 140 caracteres que se tornou uma febre mundial. Nele, as pessoas se interligam de um modo peculiar: elas seguem e são seguidas. Um tuiteiro de muito sucesso pode ter milhares de seguidores. Seguir significa cadastrar-se no Twitter de alguém e, então, habilitar-se a receber automaticamente todas as mensagens mandadas por aquele usuário.
Na política, o Twitter pode funcionar como um palanque eletrônico com muito maior potencial para dar uma estocada em um adversário do que para construir uma reputação. Imagine um candidato a governador que consiga, por exemplo, 50 000 seguidores em seu Twitter e que, em média, cada um dos seus seguidores tenha, digamos, outra centena de seguidores. Cada mensagem desse político chegaria quase instantaneamente a 5 milhões de pessoas. Uma velha raposa da política comparou o papel eleitoral do Twitter ao poder que os padres católicos desfrutavam nas paróquias do interior do Brasil nos anos 50 e que os pastores protestantes têm hoje: Padre ajuda pouco e atrapalha muito. Ou seja, uma palavrinha a favor de um político dita no púlpito não motiva muito, mas uma ameaça de excomunhão, que pode ser feita com menos de 140 caracteres, se espalha destrutivamente com o poder das fofocas entre os paroquianos.
A pedido de VEJA, a empresa Direct Labs monitorou durante uma semana os quase 10 milhões de usuários de Twitter no Brasil. O interesse era descobrir o que os tuiteiros andam falando dos candidatos potenciais à Presidência da República em 2010. A Direct Labs valeu-se do Scup, um serviço digital que monitora o conceito de pessoas e empresas no mundo digital. O Scup rastreia as conversações dos chamados perfis abertos (usuários que não acionaram os mecanismos de privacidade do Twitter). Para a pesquisa pedida por VEJA, os analistas cruzaram os nomes dos candidatos com os adjetivos associados a eles nas trocas de mensagens dos tuiteiros brasileiros entre 8 e 14 de dezembro. Com base nesses dados, foi possível obter uma boa ideia da imagem do candidato.
Os analistas captaram as referências eletrônicas ao governador de São Paulo, José Serra, à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao deputado federal Ciro Gomes e à senadora Marina Silva, prováveis candidatos à sucessão do presidente Lula. As menções aos presidenciáveis foram lidas 8 milhões de vezes. A senadora Marina Silva, que trocou o PT pelo PV, é a menos citada, mas é a que aparece mais frequentemente associada a palavras de admiração. Em termos eleitorais, qual é o significado da pesquisa para os candidatos? Pequeno. Infelizmente para Marina e felizmente para Dilma e Serra, os mais lanhados nas mensagens entre os tuiteiros, eles não formam um grupo de pessoas com a cara da média do eleitorado brasileiro. Mais de 90% dos tuiteiros do Brasil vivem no Sudeste e no Sul – quase a metade mora em São Paulo e tem entre 21 e 25 anos. Majoritariamente, são pessoas solteiras (82%) e com alto nível de escolaridade (70% têm ensino superior completo ou cursam pós-graduação).
Ainda assim é importante saber o que esse grupo privilegiado de brasileiros pensa de seus políticos. A boa reputação no mundo virtual é importante porque ela pode transpor a fronteira da rede e ajudar a formar a opinião de quem não acessa a internet, diz Marcelo Brandão, marketeiro político. O deputado federal Fernando Gabeira, do PV do Rio de Janeiro, sabe disso. Gabeira montou uma equipe que atualiza seu Twitter constantemente. Diz ele: Parte do que é publicado ali acaba repercutindo até na televisão. A equipe de Dilma Rousseff considera a ferramenta essencial para o sucesso da candidatura da ministra. Seus marqueteiros recrutaram Ben Self, um dos operadores da campanha virtual de Obama. Serra, que é um fervoroso tuiteiro, ainda não se mexeu nesse campo com objetivos eleitorais, mas pode-se esperar para breve uma ardente disputa entre eles na arena digital.
sábado, 19 de dezembro de 2009
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