A "imprensa golpista" da' a resposta a quem pretende dar um golpe na liberdade de expressao...
Todo poder tem limite
Editorial - Folha de S.Paulo
Domingo, 26 de setembro de 2010
Os altos índices de aprovação popular do presidente Lula não são fortuitos. Refletem o ambiente internacional favorável aos países em desenvolvimento, apesar da crise que atinge o mundo desenvolvido. Refletem,em especial, os acertos do atual chefe do Estado.
Lula teve o discernimento de manter a política econômica sensata de seu antecessor. Seu governo conduziu à retomada do crescimento e ampliou uma antes incipiente política de transferências de renda aos estratos sociais mais carentes.A desigualdade social, ainda imensa, começa a se reduzir. Ninguém lhe contesta seriamente esses méritos.
Nem por isso seu governo pode julgar-se acima de críticas.O direito de inquirir,duvidar e divergir da autoridade pública é o cerne da democracia, que não se resume apenas à preponderância da vontade da maioria.
Vai longe, aliás, o tempo em que não se respeitavam maiorias no Brasil. As eleições são livres e diretas, as apurações, confiáveis -e ninguém questiona que o vencedor toma posse e governa.
Se existe risco à vista, é de enfraquecimento do sistema de freios e contrapesos que protege as liberdades públicas e o direito ao dissenso quando se formam ondas eleitorais avassaladoras, ainda que passageiras. Nesses períodos, é a imprensa independente quem emite o primeiro alarme, não sendo outro o motivo do nervosismo presidencial em relação a jornais e revistas nesta altura da campanha eleitoral.
Pois foi a imprensa quem revelou ao país que uma agência da Receita Federal plantada no berço político do PT, no ABC paulista, fora convertida em órgão de espionagem clandestina contra adversários.
Foi a imprensa quem mostrou que o principal gabinete do governo, a assessoria imediata de Lula e de sua candidata Dilma Rousseff, estava minado por espantosa infiltração de interesses particulares. É de calcular o grau de desleixo para com o dinheiro e os direitos do contribuinte ao longo da vasta extensão do Estado federal.
Esta Folha procura manter uma orientação de independência, pluralidade e apartidarismo editoriais, o que redunda em questionamentos incisivos durante períodos de polarização eleitoral.
Quem acompanha a trajetória do jornal sabe o quanto essa mesma orientação foi incômoda ao governo tucano. Basta lembrar que Fernando Henrique Cardoso,na entrevista em que se despediu da Presidência, acusou a Folha de haver tentado insuflar seu impeachment.
Lula e a candidata oficial têm-se limitado até aqui a vituperar a imprensa, exercendo seu próprio direito à livre expressão, embora em termos incompatíveis com a serenidade requerida no exercício do cargo que pretendem intercambiar.
Fiquem ambos advertidos, porém, de que tais bravatas somente redobram a confiança na utilidade pública do jornalismo livre. Fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa serão repudiadas -e qualquer governo terá de violar cláusulas pétreas da Constituição na aventura temerária de implantá-lo.
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O mal a evitar
Editorial - O Estado de S.Paulo
Domingo, 26/09/2010
A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.
Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.
Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar.
domingo, 26 de setembro de 2010
Propostas resumidas dos principais candidatos
Eleições 2010
Propostas de Marina Silva
Saúde
• Ampliar o Programa Saúde Família com financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS).
• Focar em ações preventivas.
Educação
• Investir em todos os níveis da educação formal.
• Criar o Sistema Nacional de Educação.
• Ampliar acesso às tecnologias.
• Criação de novos projetos educacionais e profissionalizantes.
Programas Sociais
• Criar uma terceira geração de programas sociais, cujo objetivo é avançar projetos realizados pelo governo como o Bolsa da Família.
• Estabelecer parceria com a iniciativa privada.
• Criar Programa Internet para todos.
Economia
• Estimular a geração de “empregos verdes”, ligados a empresas sustentáveis.
• Criar incentivos fiscais para promover a baixa emissão e consumo de carbono.
• Promover gestão estratégica de recursos naturais não renováveis.
Segurança
• Criar uma nova estrutura institucional para a Segurança Pública.
• Investir em políticas preventivas.
Nesta quinta-feira, 23, o Opinião e Notícia lista os principais projetos de Marina Silva, a candidata do PV à presidência da República. Confira o programa de governo de Marina para as áreas da Saúde, Educação, Programas Sociais, Economia e Segurança.
Propostas de José Serra
Saúde
• Criar clínicas voltadas para o tratamento de usuários de drogas.
• Entregar em dois anos 150 Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs).
Educação
• Investir em infraestrutura das escolas básicas.
• Ampliar investimentos no ensino em sala de aula, colocando dois professores por turma de primeira série do Ensino Fundamental.
• Criar mais de 1 milhão de novas vagas em escolas técnicas por todo o país.
Programas Sociais
• Ampliar o Programa Bolsa Família.
• Criar o ProTec, projeto em que concede bolsas do governo a estudantes que queiram fazer cursos profissionalizantes em escolas particulares.
Economia
• Estimular o crescimento econômico e a geração de empregos com obras de infraestrutura.
Segurança
• Criação do Ministério da Segurança Pública.
Propostas de Dilma Roussef
Saúde
• Ampliação de projetos do governo Lula como o Programa de Saúde da Família (PSF) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
• Aumento de investimentos na produção e distribuição nacional de medicamentos.
Educação
• Dar prioridade à erradicação do analfabetismo.
• Criação do Sistema Nacional Articulado de Educação, cujo objetivo é ‘redesenhar’ os mecanismos empregados na gestão da Educação.
Programas Sociais
• Ampliar o Programa Bolsa Família e reforçar projetos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
• Expansão do programa Territórios da Cidadania.
Economia
• Manutenção da política econômica adotada pelo governo Lula.
• Realizar reforma tributária a fim de reduzir encargos dos trabalhadores.
• Ampliação do emprego formal.
• Manutenção da política de valorização do salário mínimo.
• Exploração dos recursos do Pré-Sal.
Segurança
• Expansão do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), para os 27 estados (atualmente, o programa está presente em 22 estados da federação).
• Criação de um Fundo Constitucional de Segurança Pública para subsidiar salários de policiais civis e militares.
Cultura
• Implantação do Plano Nacional de Cultura e do Sistema Nacional de Cultura.
• Expansão de programas de estímulo ao consumo e difusão de bens culturais, como o Vale Cultura.
Propostas de Marina Silva
Saúde
• Ampliar o Programa Saúde Família com financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS).
• Focar em ações preventivas.
Educação
• Investir em todos os níveis da educação formal.
• Criar o Sistema Nacional de Educação.
• Ampliar acesso às tecnologias.
• Criação de novos projetos educacionais e profissionalizantes.
Programas Sociais
• Criar uma terceira geração de programas sociais, cujo objetivo é avançar projetos realizados pelo governo como o Bolsa da Família.
• Estabelecer parceria com a iniciativa privada.
• Criar Programa Internet para todos.
Economia
• Estimular a geração de “empregos verdes”, ligados a empresas sustentáveis.
• Criar incentivos fiscais para promover a baixa emissão e consumo de carbono.
• Promover gestão estratégica de recursos naturais não renováveis.
Segurança
• Criar uma nova estrutura institucional para a Segurança Pública.
• Investir em políticas preventivas.
Nesta quinta-feira, 23, o Opinião e Notícia lista os principais projetos de Marina Silva, a candidata do PV à presidência da República. Confira o programa de governo de Marina para as áreas da Saúde, Educação, Programas Sociais, Economia e Segurança.
Propostas de José Serra
Saúde
• Criar clínicas voltadas para o tratamento de usuários de drogas.
• Entregar em dois anos 150 Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs).
Educação
• Investir em infraestrutura das escolas básicas.
• Ampliar investimentos no ensino em sala de aula, colocando dois professores por turma de primeira série do Ensino Fundamental.
• Criar mais de 1 milhão de novas vagas em escolas técnicas por todo o país.
Programas Sociais
• Ampliar o Programa Bolsa Família.
• Criar o ProTec, projeto em que concede bolsas do governo a estudantes que queiram fazer cursos profissionalizantes em escolas particulares.
Economia
• Estimular o crescimento econômico e a geração de empregos com obras de infraestrutura.
Segurança
• Criação do Ministério da Segurança Pública.
Propostas de Dilma Roussef
Saúde
• Ampliação de projetos do governo Lula como o Programa de Saúde da Família (PSF) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
• Aumento de investimentos na produção e distribuição nacional de medicamentos.
Educação
• Dar prioridade à erradicação do analfabetismo.
• Criação do Sistema Nacional Articulado de Educação, cujo objetivo é ‘redesenhar’ os mecanismos empregados na gestão da Educação.
Programas Sociais
• Ampliar o Programa Bolsa Família e reforçar projetos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
• Expansão do programa Territórios da Cidadania.
Economia
• Manutenção da política econômica adotada pelo governo Lula.
• Realizar reforma tributária a fim de reduzir encargos dos trabalhadores.
• Ampliação do emprego formal.
• Manutenção da política de valorização do salário mínimo.
• Exploração dos recursos do Pré-Sal.
Segurança
• Expansão do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), para os 27 estados (atualmente, o programa está presente em 22 estados da federação).
• Criação de um Fundo Constitucional de Segurança Pública para subsidiar salários de policiais civis e militares.
Cultura
• Implantação do Plano Nacional de Cultura e do Sistema Nacional de Cultura.
• Expansão de programas de estímulo ao consumo e difusão de bens culturais, como o Vale Cultura.
sábado, 25 de setembro de 2010
Cotas raciais na campanha presidencial
Especialistas criticam silêncio dos presidenciáveis sobre questão racial
Agência Brasil, 22/09/2010 17:22
Posted Blog Contra a Racializaçao do Brasil, 24 Sep 2010
A menos de 15 dias das eleições, o tema desigualdade racial não está entre os mais citados nos programas políticos dos candidatos à Presidência da República. Para o professor de antropologia e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa – INCT, da Universidade de Brasília (UnB), José Jorge de Carvalho, o silêncio é sintomático e demonstra o desinteresse dos candidatos. “É preocupante o silêncio dos candidatos. O poder no Brasil não quer que o Estado assuma a herança de desigualdade racial como algo que deve ser priorizado”, disse.
Dados da Síntese de Indicadores Sociais 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram um crescimento da população que se declara preta ou parda nos últimos dez anos. Enquanto em 1999 5,4% se considerava preta e 40% parda, em 2009 este percentual passou para 6,9% e 44,2% respectivamente.
Outros indicadores, entretanto, como analfabetismo, analfabetismo funcional, acesso à educação e a diferença de rendimentos demonstram que a desigualdade persiste. Na categoria ocupação profissional, por exemplo, os brancos representam 69,6% dos empregadores, enquanto os pretos são 3,0% e os pardos 27,4%. Entre os sem carteira assinada e os empregados domésticos, os pretos e pardos são maioria, representando juntos 57,8% e 61,8% respectivamente.
Após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, o Estatuto de Igualdade Racial (Lei 12.288) foi aprovado este ano, com a supressão do sistema de cotas raciais nas universidades, um dos principais pleitos da comunidade negra.
Ainda este semestre o tema deverá voltar ao debate público, quando será julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a legalidade de cotas nas universidades. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a primeira, em 2002, a adotar um programa de reserva de vagas para alunos negros.
Apesar da inexistência de uma lei federal, segundo a pesquisa do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), ligado à UERJ, este ano as ações afirmativas, incluindo as cotas raciais e sociais, já são realidade em 71,4% das 98 universidades estaduais e federais do país.
Para o professor Carvalho, o país avançou muito nos últimos anos no acesso de alunos negros nas universidades. “Apesar do número de professores negros nas universidades não chegar a 1%, conseguimos incluir mais estudantes negros nos últimos oito anos do que em todo o século 20. Era de se esperar que isso fosse pauta imprescindível da disputa eleitoral”, afirmou.
A superação da violência e da discriminação étnico-racial são outros desafios para o próximo presidente. Segundo Carvalho, a juventude negra de 16 a 24 anos tem três vezes mais chance de ser assassinada do que os jovens brancos. “Hoje se fala no genocídio da juventude negra. As ações afirmativas são políticas pacificadoras, quando se transmite mais cidadania se evita que jovens negros entrem na delinquência e combate-se a intolerância e o racismo”, disse.
A Educafro, uma rede de 200 pré-vestibulares para pobres e negros, enviou aos candidatos à Presidência da República uma carta de comprometimento às reivindicações da comunidade negra. O diretor executivo da entidade, Frei David, destacou três pontos principais do documento.
“Queremos que os políticos assumam as orientações definidas pelo Estatuto da Igualdade Racial e ponham em prática todos os compromissos previstos no Plano Nacional de Políticas de Igualdade Racial, entre eles, que seja feito um trabalho de treinamento e conscientização das polícias. É preciso reduzir a matança de negros devido ao racismo institucional”, afirmou.
Por fim ressaltou a necessidade de fiscalização do cumprimento da Lei 11.645 que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas e universidades.
As assessorias de imprensa dos candidatos à Presidência da República Marina Silva (PV), José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) foram procuradas pela reportagem da Agência Brasil. A assessoria da candidata Dilma Rousseff informou que não poderia se manifestar, pois o programa de governo da candidata não estava concluído. O comitê do candidato José Serra não respondeu. A candidata Marina Silva disse que é favorável às cotas raciais para que seja reparado um erro histórico cometido contra os negros.
Agência Brasil, 22/09/2010 17:22
Posted Blog Contra a Racializaçao do Brasil, 24 Sep 2010
A menos de 15 dias das eleições, o tema desigualdade racial não está entre os mais citados nos programas políticos dos candidatos à Presidência da República. Para o professor de antropologia e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa – INCT, da Universidade de Brasília (UnB), José Jorge de Carvalho, o silêncio é sintomático e demonstra o desinteresse dos candidatos. “É preocupante o silêncio dos candidatos. O poder no Brasil não quer que o Estado assuma a herança de desigualdade racial como algo que deve ser priorizado”, disse.
Dados da Síntese de Indicadores Sociais 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram um crescimento da população que se declara preta ou parda nos últimos dez anos. Enquanto em 1999 5,4% se considerava preta e 40% parda, em 2009 este percentual passou para 6,9% e 44,2% respectivamente.
Outros indicadores, entretanto, como analfabetismo, analfabetismo funcional, acesso à educação e a diferença de rendimentos demonstram que a desigualdade persiste. Na categoria ocupação profissional, por exemplo, os brancos representam 69,6% dos empregadores, enquanto os pretos são 3,0% e os pardos 27,4%. Entre os sem carteira assinada e os empregados domésticos, os pretos e pardos são maioria, representando juntos 57,8% e 61,8% respectivamente.
Após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, o Estatuto de Igualdade Racial (Lei 12.288) foi aprovado este ano, com a supressão do sistema de cotas raciais nas universidades, um dos principais pleitos da comunidade negra.
Ainda este semestre o tema deverá voltar ao debate público, quando será julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a legalidade de cotas nas universidades. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a primeira, em 2002, a adotar um programa de reserva de vagas para alunos negros.
Apesar da inexistência de uma lei federal, segundo a pesquisa do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), ligado à UERJ, este ano as ações afirmativas, incluindo as cotas raciais e sociais, já são realidade em 71,4% das 98 universidades estaduais e federais do país.
Para o professor Carvalho, o país avançou muito nos últimos anos no acesso de alunos negros nas universidades. “Apesar do número de professores negros nas universidades não chegar a 1%, conseguimos incluir mais estudantes negros nos últimos oito anos do que em todo o século 20. Era de se esperar que isso fosse pauta imprescindível da disputa eleitoral”, afirmou.
A superação da violência e da discriminação étnico-racial são outros desafios para o próximo presidente. Segundo Carvalho, a juventude negra de 16 a 24 anos tem três vezes mais chance de ser assassinada do que os jovens brancos. “Hoje se fala no genocídio da juventude negra. As ações afirmativas são políticas pacificadoras, quando se transmite mais cidadania se evita que jovens negros entrem na delinquência e combate-se a intolerância e o racismo”, disse.
A Educafro, uma rede de 200 pré-vestibulares para pobres e negros, enviou aos candidatos à Presidência da República uma carta de comprometimento às reivindicações da comunidade negra. O diretor executivo da entidade, Frei David, destacou três pontos principais do documento.
“Queremos que os políticos assumam as orientações definidas pelo Estatuto da Igualdade Racial e ponham em prática todos os compromissos previstos no Plano Nacional de Políticas de Igualdade Racial, entre eles, que seja feito um trabalho de treinamento e conscientização das polícias. É preciso reduzir a matança de negros devido ao racismo institucional”, afirmou.
Por fim ressaltou a necessidade de fiscalização do cumprimento da Lei 11.645 que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas e universidades.
As assessorias de imprensa dos candidatos à Presidência da República Marina Silva (PV), José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) foram procuradas pela reportagem da Agência Brasil. A assessoria da candidata Dilma Rousseff informou que não poderia se manifestar, pois o programa de governo da candidata não estava concluído. O comitê do candidato José Serra não respondeu. A candidata Marina Silva disse que é favorável às cotas raciais para que seja reparado um erro histórico cometido contra os negros.
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Pesquisas: mudancas em vista
Datafolha: está explicado o nervosismo de Lula
Por Fernando Rodrigues
Folha de S.Paulo, 22/09/2010
O que parecia ser apenas uma reação extemporânea e sem conexão com a realidade ficou agora mais fácil de ser entendida. A angustia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser explicada pelos números da pesquisa Datafolha que acaba de ser divulgada (e foi realizada nos dias 21 e 22.set.2010).
Agora, Dilma Rousseff (PT) tem 49% (tinha 51% há uma semana). José Serra (PSDB) está com 28% (tinha 27%) e Marina Silva (PV) registrou 13% (contra 11% no levantamento anterior). Aqui, todas as pesquisas.
Ou seja, há uma semana Dilma liderava com 51% e estava 12 pontos percentuais à frente de seus adversários somados. Agora, ela está com 49% e os adversário com 42%. A vantagem encolheu para 7 pontos.
É evidente que Dilma continua a franco favorita para vencer a disputa do dia 3 de outubro. Mas algum ruído aconteceu. Exatamente após a eclosão do caso de tráfico de influência na Casa Civil. Daí o nervosismo de Lula, da própria candidata e de vários assessores de alto escalão na campanha petista.
Até duas semanas atrás, havia muita convicção de que Dilma venceria no primeiro turno com uma avalanche de votos. Agora, a certeza continua a existir entre petistas, mas todos temendo que possa estar se estabelecendo uma tendência que leve a disputa para o segundo turno.
Dilma se deu mal em quase todos os segmentos da pesquisa Datafolha. Também confirmou-se que a curva de rejeição da petista sobe lentamente desde meados de agosto, quando 19% diziam que não votariam nela de jeito nenhum. No início deste mês, a taxa foi a 21%. Semana passada, era 22%. Agora, 24%.
José Serra, entretanto, continua o mais rejeitado, por 31% –o mesmo percentual do levantamento anterior. Marina tem uma taxa de 17% (era 18% na última pesquisa). Aliás, a verde tem sido a maior beneficiada do embate entre Dilma e Serra e do ambiente beligerante reinante na campanha.
Numa simulação de segundo turno, Dilma teria hoje 55% contra 38% de Serra. Os percentuais eram de 57% e 35% na sondagem passada. Ou seja, a diferença entre os dois candidatos desceu de 22 para de 17 pontos.
Embora esteja com apoio para vencer a eleição no primeiro turno, a petista perdeu pontos de forma marcante entre eleitores com renda mensal de cinco a dez salários mínimos (caiu de 47% para 37%), entre os de 35 a 44 anos (saiu de 54% para 50%), na Bahia (de 65% para 61%), Distrito Federal (de 43% para 36%) e cidade do Rio de Janeiro (47% para 42%).
No Paraná, Dilma confirmou sua queda da semana anterior. Ela tinha 46% entre os paranaenses nos dias 8 e 9 deste mês. Desceu para 41% semana passada. Agora, está com 39%. Serra manteve-se em 35%.
Entre os vários resultados negativos, o Datafolha trouxe um dado amplamente favorável para Dilma: 75% dos eleitores acham que ela vai ganhar no dia 3 de outubro. Na semana anterior essa expectativa de vitória era de 72%.
Por Fernando Rodrigues
Folha de S.Paulo, 22/09/2010
O que parecia ser apenas uma reação extemporânea e sem conexão com a realidade ficou agora mais fácil de ser entendida. A angustia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser explicada pelos números da pesquisa Datafolha que acaba de ser divulgada (e foi realizada nos dias 21 e 22.set.2010).
Agora, Dilma Rousseff (PT) tem 49% (tinha 51% há uma semana). José Serra (PSDB) está com 28% (tinha 27%) e Marina Silva (PV) registrou 13% (contra 11% no levantamento anterior). Aqui, todas as pesquisas.
Ou seja, há uma semana Dilma liderava com 51% e estava 12 pontos percentuais à frente de seus adversários somados. Agora, ela está com 49% e os adversário com 42%. A vantagem encolheu para 7 pontos.
É evidente que Dilma continua a franco favorita para vencer a disputa do dia 3 de outubro. Mas algum ruído aconteceu. Exatamente após a eclosão do caso de tráfico de influência na Casa Civil. Daí o nervosismo de Lula, da própria candidata e de vários assessores de alto escalão na campanha petista.
Até duas semanas atrás, havia muita convicção de que Dilma venceria no primeiro turno com uma avalanche de votos. Agora, a certeza continua a existir entre petistas, mas todos temendo que possa estar se estabelecendo uma tendência que leve a disputa para o segundo turno.
Dilma se deu mal em quase todos os segmentos da pesquisa Datafolha. Também confirmou-se que a curva de rejeição da petista sobe lentamente desde meados de agosto, quando 19% diziam que não votariam nela de jeito nenhum. No início deste mês, a taxa foi a 21%. Semana passada, era 22%. Agora, 24%.
José Serra, entretanto, continua o mais rejeitado, por 31% –o mesmo percentual do levantamento anterior. Marina tem uma taxa de 17% (era 18% na última pesquisa). Aliás, a verde tem sido a maior beneficiada do embate entre Dilma e Serra e do ambiente beligerante reinante na campanha.
Numa simulação de segundo turno, Dilma teria hoje 55% contra 38% de Serra. Os percentuais eram de 57% e 35% na sondagem passada. Ou seja, a diferença entre os dois candidatos desceu de 22 para de 17 pontos.
Embora esteja com apoio para vencer a eleição no primeiro turno, a petista perdeu pontos de forma marcante entre eleitores com renda mensal de cinco a dez salários mínimos (caiu de 47% para 37%), entre os de 35 a 44 anos (saiu de 54% para 50%), na Bahia (de 65% para 61%), Distrito Federal (de 43% para 36%) e cidade do Rio de Janeiro (47% para 42%).
No Paraná, Dilma confirmou sua queda da semana anterior. Ela tinha 46% entre os paranaenses nos dias 8 e 9 deste mês. Desceu para 41% semana passada. Agora, está com 39%. Serra manteve-se em 35%.
Entre os vários resultados negativos, o Datafolha trouxe um dado amplamente favorável para Dilma: 75% dos eleitores acham que ela vai ganhar no dia 3 de outubro. Na semana anterior essa expectativa de vitória era de 72%.
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pesquisas eleitorais,
tendências
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Estado das pesquisas eleitorais: uma inversao de tendencia?
Tracking Vox Populi:
7 de setembro: Dilma 56%, Serra 21%, Marina 8%
19 de setembro: Dilma 53%, Serra 24%, Marina 9%
21 de setembro: Dilma 51%, Serra 25%, Marina 9%
Comentário PRA:
Pode ser bem mais do que isso, dada a tendência do Vox Populi a favorecer a candidatura oficial.
7 de setembro: Dilma 56%, Serra 21%, Marina 8%
19 de setembro: Dilma 53%, Serra 24%, Marina 9%
21 de setembro: Dilma 51%, Serra 25%, Marina 9%
Comentário PRA:
Pode ser bem mais do que isso, dada a tendência do Vox Populi a favorecer a candidatura oficial.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Rebaixamento da campanha eleitoral: democracia em jogo no Brasil
A democracia de Lula
Merval Pereira
O Globo, 21.09.2010
Dando como liquidada a fatura eleitoral, com a eleição de sua candidata no primeiro turno, o presidente Lula resolveu soltar seus cachorros para cima dos que ainda resistem ao que pretende ser uma razia às hostes inimigas: os meios de comunicação e os partidos oposicionistas que têm a ousadia de andar elegendo senadores e governadores em alguns estados pelo país.
Em Minas, por exemplo, onde o ex-governador Aécio Neves, além de se eleger para o Senado, está elegendo seu candidato ao governo e mais o ex-presidente Itamar Franco para a segunda vaga do Senado, Lula foi em socorro de Hélio Costa, do PMDB, candidato de sua coligação, e para tal resolveu ameaçar os prefeitos que apoiam Antonio Anastasia.
Disse explicitamente que não será um candidato do DEM ou do PSDB que conseguirá trazer do governo federal petista as melhores verbas para Minas.
A linguagem de cabo-eleitoral estava na boca de quem pode concretizar a ameaça, neste e num próximo governo petista.
Uma atitude antirrepublicana a coroar tantos procedimentos aéticos cometidos pelo presidente da República durante a campanha eleitoral.
A reação negativa que provocou nos políticos mineiros, ciosos de seus compromissos com o estado a ponto de rejeitarem a candidatura Serra por a imaginarem em oposição aos interesses de Minas, foi imediata e pode se refletir em uma rejeição também ao PT.
Esse procedimento autoritário já acontecera em outros estados em que a oposição está vencendo, como quando disse em Santa Catarina que é preciso extirpar o DEM, ou quando, em Pernambuco, foi grosseiro com o ex-vice-presidente Marco Maciel chamandoo de marco zero, ou quando vai ao Rio Grande do Norte espezinhar especificamente o senador José Agripino Maia, do DEM.
Como sempre nessas ocasiões, o presidente Lula extrapola a luta partidária para se colocar em uma arena em que a regra é matar ou morrer, e para tanto se utiliza dos instrumentos do governo, como a TV estatal que filma todos os seus comícios para uso interno, ou as inaugurações improvisadas para estar à noite, fora do expediente, nos comícios de sua candidata previamente marcados em combinação com a agenda oficial.
Com seu comportamento marcadamente antirrepublicano, abusando do poder político que a presença eventual na Presidência da República lhe dá, e das regalias que o cargo lhe concede, Lula vai manchando essa campanha eleitoral e a provável vitória da candidata oficial.
E se irrita com os meios de comunicação que não se submetem a seus caprichos absolutistas, invertendo o sentido da História, como, aliás, é seu hábito fazer.
Ao discursar num comício ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, em Campinas, sábado passado, Lula vituperou contra jornais e revistas que, segundo ele, se comportam como se fossem partido político, e chegou ao auge de seus delírios de grandeza ao afirmar que ele, sim, formava a opinião pública.
Usou o plural majestático nós para se referir a si próprio e aos presentes ao comício como a opinião pública", que não precisa mais de formadores de opinião para se decidir.
Nas duas ocasiões quando se dispõe a aniquilar a oposição e quando fala mal dos meios de comunicação Lula está renegando suas próprias palavras, o que também já se tornou um hábito.
Ao final da campanha de 2002, vitorioso nas urnas, Lula fez questão de, em seu primeiro pronunciamento público, ressaltar que a Justiça Eleitoral e a participação imparcial do presidente Fernando Henrique Cardoso no processo eleitoral contribuíram para que os resultados das eleições representassem a verdadeira vontade do povo brasileiro.
Já com relação à imprensa, o presidente Lula, em 3 de maio de 2006, conforme relembrou em nota de protesto a Associação Nacional dos Jornais, declarou ao assinar a declaração de Chapultepec, um compromisso com a liberdade de expressão, que devia à liberdade de imprensa do meu país o fato de termos conseguido, em 20 anos, chegar à Presidência. Perdi três eleições.
Eu duvido que tenha um empresário de imprensa que, em algum momento, tenha me visto fazer uma reclamação ou culpando alguém porque eu perdi as eleições. Ao declarar que ele sim representa a opinião pública junto com o seu povo, o presidente Lula tenta inverter os termos da equação, distorcendo a própria gênese da opinião pública, ligada ao surgimento do Estado moderno no século XVIII, quando as forças da sociedade passaram a exigir espaço para suas reivindicações contra o absolutismo do reinado.
O papel da imprensa foi fundamental para que a opinião pública tivesse condições de se manifestar e enfrentar o poder absoluto dos reis.
A popularidade de Lula hoje lhe dá essa sensação de poder absoluto. Daí a desqualificar a grande imprensa e querer influenciar diretamente o eleitorado, sobretudo o das regiões mais pobres do país, através dos programas assistencialistas, e a tentativa de controle da mídia regional através de verbas de publicidade.
Da mesma maneira que aperfeiçoou e modernizou os instrumentos de controle dos oligarcas, se aliando com eles para influenciar o eleitorado com seus programas assistencialistas, Lula quer controlar os meios de comunicação através de financiamentos diretos, subsídios e propaganda governamental.
Para os que não se submetem a essa política, fica cada vez mais evidente que um eventual governo Dilma vai tentar aprovar no Congresso uma legislação especial que permita o controle dos meios de comunicação através dos mais diversos conselhos, o chamado controle social da mídia, a exemplo do que já acontece na Venezuela de Chávez e a Argentina dos Kirchner está tentando.
A reação desmesurada da candidata oficial a uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que mostrou problemas em sua gestão à frente de uma secretaria no governo do Rio Grande do Sul dá bem a medida de sua tolerância à livre circulação de notícias críticas.
Merval Pereira
O Globo, 21.09.2010
Dando como liquidada a fatura eleitoral, com a eleição de sua candidata no primeiro turno, o presidente Lula resolveu soltar seus cachorros para cima dos que ainda resistem ao que pretende ser uma razia às hostes inimigas: os meios de comunicação e os partidos oposicionistas que têm a ousadia de andar elegendo senadores e governadores em alguns estados pelo país.
Em Minas, por exemplo, onde o ex-governador Aécio Neves, além de se eleger para o Senado, está elegendo seu candidato ao governo e mais o ex-presidente Itamar Franco para a segunda vaga do Senado, Lula foi em socorro de Hélio Costa, do PMDB, candidato de sua coligação, e para tal resolveu ameaçar os prefeitos que apoiam Antonio Anastasia.
Disse explicitamente que não será um candidato do DEM ou do PSDB que conseguirá trazer do governo federal petista as melhores verbas para Minas.
A linguagem de cabo-eleitoral estava na boca de quem pode concretizar a ameaça, neste e num próximo governo petista.
Uma atitude antirrepublicana a coroar tantos procedimentos aéticos cometidos pelo presidente da República durante a campanha eleitoral.
A reação negativa que provocou nos políticos mineiros, ciosos de seus compromissos com o estado a ponto de rejeitarem a candidatura Serra por a imaginarem em oposição aos interesses de Minas, foi imediata e pode se refletir em uma rejeição também ao PT.
Esse procedimento autoritário já acontecera em outros estados em que a oposição está vencendo, como quando disse em Santa Catarina que é preciso extirpar o DEM, ou quando, em Pernambuco, foi grosseiro com o ex-vice-presidente Marco Maciel chamandoo de marco zero, ou quando vai ao Rio Grande do Norte espezinhar especificamente o senador José Agripino Maia, do DEM.
Como sempre nessas ocasiões, o presidente Lula extrapola a luta partidária para se colocar em uma arena em que a regra é matar ou morrer, e para tanto se utiliza dos instrumentos do governo, como a TV estatal que filma todos os seus comícios para uso interno, ou as inaugurações improvisadas para estar à noite, fora do expediente, nos comícios de sua candidata previamente marcados em combinação com a agenda oficial.
Com seu comportamento marcadamente antirrepublicano, abusando do poder político que a presença eventual na Presidência da República lhe dá, e das regalias que o cargo lhe concede, Lula vai manchando essa campanha eleitoral e a provável vitória da candidata oficial.
E se irrita com os meios de comunicação que não se submetem a seus caprichos absolutistas, invertendo o sentido da História, como, aliás, é seu hábito fazer.
Ao discursar num comício ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, em Campinas, sábado passado, Lula vituperou contra jornais e revistas que, segundo ele, se comportam como se fossem partido político, e chegou ao auge de seus delírios de grandeza ao afirmar que ele, sim, formava a opinião pública.
Usou o plural majestático nós para se referir a si próprio e aos presentes ao comício como a opinião pública", que não precisa mais de formadores de opinião para se decidir.
Nas duas ocasiões quando se dispõe a aniquilar a oposição e quando fala mal dos meios de comunicação Lula está renegando suas próprias palavras, o que também já se tornou um hábito.
Ao final da campanha de 2002, vitorioso nas urnas, Lula fez questão de, em seu primeiro pronunciamento público, ressaltar que a Justiça Eleitoral e a participação imparcial do presidente Fernando Henrique Cardoso no processo eleitoral contribuíram para que os resultados das eleições representassem a verdadeira vontade do povo brasileiro.
Já com relação à imprensa, o presidente Lula, em 3 de maio de 2006, conforme relembrou em nota de protesto a Associação Nacional dos Jornais, declarou ao assinar a declaração de Chapultepec, um compromisso com a liberdade de expressão, que devia à liberdade de imprensa do meu país o fato de termos conseguido, em 20 anos, chegar à Presidência. Perdi três eleições.
Eu duvido que tenha um empresário de imprensa que, em algum momento, tenha me visto fazer uma reclamação ou culpando alguém porque eu perdi as eleições. Ao declarar que ele sim representa a opinião pública junto com o seu povo, o presidente Lula tenta inverter os termos da equação, distorcendo a própria gênese da opinião pública, ligada ao surgimento do Estado moderno no século XVIII, quando as forças da sociedade passaram a exigir espaço para suas reivindicações contra o absolutismo do reinado.
O papel da imprensa foi fundamental para que a opinião pública tivesse condições de se manifestar e enfrentar o poder absoluto dos reis.
A popularidade de Lula hoje lhe dá essa sensação de poder absoluto. Daí a desqualificar a grande imprensa e querer influenciar diretamente o eleitorado, sobretudo o das regiões mais pobres do país, através dos programas assistencialistas, e a tentativa de controle da mídia regional através de verbas de publicidade.
Da mesma maneira que aperfeiçoou e modernizou os instrumentos de controle dos oligarcas, se aliando com eles para influenciar o eleitorado com seus programas assistencialistas, Lula quer controlar os meios de comunicação através de financiamentos diretos, subsídios e propaganda governamental.
Para os que não se submetem a essa política, fica cada vez mais evidente que um eventual governo Dilma vai tentar aprovar no Congresso uma legislação especial que permita o controle dos meios de comunicação através dos mais diversos conselhos, o chamado controle social da mídia, a exemplo do que já acontece na Venezuela de Chávez e a Argentina dos Kirchner está tentando.
A reação desmesurada da candidata oficial a uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que mostrou problemas em sua gestão à frente de uma secretaria no governo do Rio Grande do Sul dá bem a medida de sua tolerância à livre circulação de notícias críticas.
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Merval Pereira
sábado, 18 de setembro de 2010
O estado da campanha, ou o estado a que chegamos (3): Dora Kramer
À deriva
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo, 17.09.2010
É o que dá o Congresso despir-se de suas prerrogativas, a oposição não funcionar, a sociedade se alienar, a universidade se calar, a cultura se acovardar, o Ministério Público se intimidar e a Justiça demorar a decidir: perde-se a referência do que seja certo ou errado.
Chega-se ao ponto de uma testemunha dizer com todos os efes e erres que uma quadrilha de traficantes de influência funciona a partir da Casa Civil da Presidência da República e que a segunda pessoa na hierarquia, substituta da ministra hoje candidata a presidente do Brasil, intermediava contatos mediante o pagamento de R$ 40 mil mensais.
Foi essa quantia que o consultor Rubnei Quícoli disse ao jornal Folha de S. Paulo que o filho e o afilhado da ministra cobraram dele para "apressar" a liberação de recursos do BNDES.
Antes disso, a revista Veja já apresentara outro caso - menos contundente até - de venda de influência na Casa Civil, com a mesma família da mesma Erenice Guerra, até ontem ministra e, na época da transação denunciada agora, secretária executiva e braço direito de Dilma Rousseff.
Se Dilma não sabia quem era Erenice, trabalhando com ela desde o Ministério de Minas e Energia, e se Erenice não sabia o que faziam seus parentes é ainda pior. Duas ineptas a quem se pode enganar facilmente, sendo que uma delas se dispõe a dirigir a República, a fazer escolhas estratégicas e a se responsabilizar por milhares de contratações.
Quando se trata de escândalos é arriscado falar em superlativos. Sempre pode haver um maior e um mais grave no dia seguinte. Mas o governo habitualmente dá um jeito de encerrar o assunto, jogar a sujeira para debaixo do tapete de maneira a tornar tudo banal e absolutamente sem importância diante dos benefícios que recebem os mais pobres, o crédito dos remediados e as benesses dos mais ricos.
Será udenismo, farisaísmo, tucanismo, direitismo ou golpismo considerar grave a Casa Civil - o gabinete mais importante da República depois do presidencial - ser o centro de três escândalos, um pior que o outro, no período de seis anos?
No primeiro, em 2004, descobriu-se que o braço direito do ministro era dado à prática da extorsão; foi filmado pedindo propina a um bicheiro. Waldomiro Diniz foi demitido "a pedido" e nada mais aconteceu.
No segundo, em 2007, descobriu-se que fora produzido na Casa Civil um dossiê com os gastos de Fernando Henrique e Ruth Cardoso para chantagear a oposição na investigação sobre gastos da atual Presidência. Um funcionário de baixo escalão foi devolvido ao "órgão de origem".
Na época, a desfaçatez chegou ao ponto de a então ministra Dilma Rousseff dizer que telefonara para se desculpar com a ex-primeira-dama e que fora uma boa conversa. Ruth, falecida pouco depois, não desmentiu Dilma em público, mas nem houve pedido de desculpas nem a conversa foi cordial.
No terceiro, em 2010, é o que se vê e ouve. Erenice Guerra, era mais do que evidente, precisava sair para preservar a candidatura de Dilma e acalmar a grita. Não fosse a proximidade da eleição, a amiga Erenice continuaria sendo defendida como foi até horas antes de aparecer uma testemunha da tentativa de extorsão e enterrar os argumentos sobre golpes, factoides e armações.
Mesmo que seja verdadeira a inverossímil versão de que ela redigiu uma nota de resposta sem consultar nenhum capa preta do palácio, Erenice apenas seguiu o exemplo que vem de cima e carregou nas tintas eleitorais como tem mandado o figurino.
O governo fez uma conta de custo benefício e, pelo jeito, achou que sairia mais barato afastá-la. De fato, por pior que seja a repercussão e por mais que a demissão evidencie o fundamento das denúncias, a manutenção da acusada no cargo seria injustificável. Haveria três problemas: rebater as acusações, defender a ministra e explicar o que ela ainda estava fazendo na chefia da Casa Civil.
A respeito do impacto eleitoral, assim como no caso das quebras de sigilo na Receita Federal, este é o aspecto menos relevante, embora seja de espantar a indiferença geral. É que a eleição passa, o Brasil continua e toda conta um dia é cobrada.
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo, 17.09.2010
É o que dá o Congresso despir-se de suas prerrogativas, a oposição não funcionar, a sociedade se alienar, a universidade se calar, a cultura se acovardar, o Ministério Público se intimidar e a Justiça demorar a decidir: perde-se a referência do que seja certo ou errado.
Chega-se ao ponto de uma testemunha dizer com todos os efes e erres que uma quadrilha de traficantes de influência funciona a partir da Casa Civil da Presidência da República e que a segunda pessoa na hierarquia, substituta da ministra hoje candidata a presidente do Brasil, intermediava contatos mediante o pagamento de R$ 40 mil mensais.
Foi essa quantia que o consultor Rubnei Quícoli disse ao jornal Folha de S. Paulo que o filho e o afilhado da ministra cobraram dele para "apressar" a liberação de recursos do BNDES.
Antes disso, a revista Veja já apresentara outro caso - menos contundente até - de venda de influência na Casa Civil, com a mesma família da mesma Erenice Guerra, até ontem ministra e, na época da transação denunciada agora, secretária executiva e braço direito de Dilma Rousseff.
Se Dilma não sabia quem era Erenice, trabalhando com ela desde o Ministério de Minas e Energia, e se Erenice não sabia o que faziam seus parentes é ainda pior. Duas ineptas a quem se pode enganar facilmente, sendo que uma delas se dispõe a dirigir a República, a fazer escolhas estratégicas e a se responsabilizar por milhares de contratações.
Quando se trata de escândalos é arriscado falar em superlativos. Sempre pode haver um maior e um mais grave no dia seguinte. Mas o governo habitualmente dá um jeito de encerrar o assunto, jogar a sujeira para debaixo do tapete de maneira a tornar tudo banal e absolutamente sem importância diante dos benefícios que recebem os mais pobres, o crédito dos remediados e as benesses dos mais ricos.
Será udenismo, farisaísmo, tucanismo, direitismo ou golpismo considerar grave a Casa Civil - o gabinete mais importante da República depois do presidencial - ser o centro de três escândalos, um pior que o outro, no período de seis anos?
No primeiro, em 2004, descobriu-se que o braço direito do ministro era dado à prática da extorsão; foi filmado pedindo propina a um bicheiro. Waldomiro Diniz foi demitido "a pedido" e nada mais aconteceu.
No segundo, em 2007, descobriu-se que fora produzido na Casa Civil um dossiê com os gastos de Fernando Henrique e Ruth Cardoso para chantagear a oposição na investigação sobre gastos da atual Presidência. Um funcionário de baixo escalão foi devolvido ao "órgão de origem".
Na época, a desfaçatez chegou ao ponto de a então ministra Dilma Rousseff dizer que telefonara para se desculpar com a ex-primeira-dama e que fora uma boa conversa. Ruth, falecida pouco depois, não desmentiu Dilma em público, mas nem houve pedido de desculpas nem a conversa foi cordial.
No terceiro, em 2010, é o que se vê e ouve. Erenice Guerra, era mais do que evidente, precisava sair para preservar a candidatura de Dilma e acalmar a grita. Não fosse a proximidade da eleição, a amiga Erenice continuaria sendo defendida como foi até horas antes de aparecer uma testemunha da tentativa de extorsão e enterrar os argumentos sobre golpes, factoides e armações.
Mesmo que seja verdadeira a inverossímil versão de que ela redigiu uma nota de resposta sem consultar nenhum capa preta do palácio, Erenice apenas seguiu o exemplo que vem de cima e carregou nas tintas eleitorais como tem mandado o figurino.
O governo fez uma conta de custo benefício e, pelo jeito, achou que sairia mais barato afastá-la. De fato, por pior que seja a repercussão e por mais que a demissão evidencie o fundamento das denúncias, a manutenção da acusada no cargo seria injustificável. Haveria três problemas: rebater as acusações, defender a ministra e explicar o que ela ainda estava fazendo na chefia da Casa Civil.
A respeito do impacto eleitoral, assim como no caso das quebras de sigilo na Receita Federal, este é o aspecto menos relevante, embora seja de espantar a indiferença geral. É que a eleição passa, o Brasil continua e toda conta um dia é cobrada.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
O estado da campanha, ou o estado a que chegamos (2): em retrospecto...
Em retrospecto, chega a ser ironico o que diz o presidente do PT...
PT pede para Polícia Federal investigar caso Erenice
Eduardo Militão
Congresso em Foco, 16/09/2010
Partido também abre representações criminal e civil contra denunciante por ter certeza de que acusações não procedem
O Partido dos Trabalhadores revolveu ir à Justiça para tentar desvincular a candidata Dilma Rousseff das denúncias envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, que deixou o governo hoje. Segundo o consultor de empresas Rubnei Quícoli, o lobby promovido pela família de Erenice incluía suborno de R$ 5 milhões para a pré-candidatura de Dilma, de acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
No final da tarde desta quinta-feira (16), o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, anunciou que o partido vai pedir à Polícia Federal que investigue se são verdadeiras as acusações de Quícoli. Ao mesmo tempo, o PT vai abrir uma representação criminal por calúnia e difamação contra o consultor, que ainda responderá a uma ação cível pedindo uma indenização.
Dutra afirmou que as ações contra o denunciante serão antecipadas às conclusões da PF porque os petistas têm certeza de que as afirmações de Quícoli são falsas. “Nós temos absoluta convicção de que isso não existiu”, afirmou o presidente nacional do PT, na sede do partido, em Brasília.
Ele fez menção aos dois processos em que Quícoli foi condenado, um deles por receptação de carga roubada. “Nós não admitimos que ninguém, nem mesmo e principalmente uma cidadão com essa folha corrida, faça essa tentativa de forjar a partipação do PT nesse episódio”, disse Dutra.
O presidente do partido disse que não vai orientar a PF a ouvir a ex-ministra Erenice Guerra, o filho dela, Israel Guerra, ou o ex-diretor dos Correio, Marco Antônio Oliveira, embora acredite que este último deverá ser ouvido.
De acordo com Quícoli, Oliveira lhe pediu R$ 5 milhões no início deste ano para ver o projeto de energia solar ser aprovado pelo BNDES para pagar dívida da “mulher de ferro”, apontada pelo consultor como sendo Dilma. Oliveira negou a afirmação. Em nota divulgada hoje, o BNDES rechaçou que o projeto patrocinado por Quícoli tenha sido rejeitado por conta de lobbies.
Segundo Dutra, só o presidente do PT e o tesoureiro tinham autorização para pedir dinheiro para a pré-campanha até 5 de junho. Depois, disso, só o tesoureiro. Dutra disse que, se for provado que Oliveira pediu recursos em nome do partido, ele também será processado.
Só insinuação
O presidente do PT afirmou hoje que não vai haver processo contra o consultor Fábio Baracat, entrevistado pela revista Veja. Ele afirma que pagou propina para o filho de Erenice Guerra, também citado por Quícoli, para fechar contratos com os Correios. Baracat relatou à revista uma frase atribuída a Erenice, sobre o atraso nos pagamentos: “Entenda, Fábio, que nós temos compromissos políticos a cumprir”.
Segundo Dutra, isso não motivará processos porque não foi citada diretamente a campanha de Dilma. “Isso foi só uma insinuação.”
Obstrução
O presidente nacional do PT disse que Erenice saiu para poder se defender. E avaliou que ela tomou essa atitude também para não ser acusada de obstruir as investigações da Comissão de Ética da Presidência e da Controladoria Geral da União (CGU).
Dutra evitou dizer se a saída de Erenice foi boa para blindar a campanha de ataques. “A campanha não tem relação com o governo. A decisão da saída foi do governo”, argumentou Dutra. Ele disse que bom para a campanha seria que houvesse debate de propostas e não “baixaria” patrocinada pela oposição.
Após denúncia de lobby, Erenice deixa Casa Civil
PT pede para Polícia Federal investigar caso Erenice
Eduardo Militão
Congresso em Foco, 16/09/2010
Partido também abre representações criminal e civil contra denunciante por ter certeza de que acusações não procedem
O Partido dos Trabalhadores revolveu ir à Justiça para tentar desvincular a candidata Dilma Rousseff das denúncias envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, que deixou o governo hoje. Segundo o consultor de empresas Rubnei Quícoli, o lobby promovido pela família de Erenice incluía suborno de R$ 5 milhões para a pré-candidatura de Dilma, de acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
No final da tarde desta quinta-feira (16), o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, anunciou que o partido vai pedir à Polícia Federal que investigue se são verdadeiras as acusações de Quícoli. Ao mesmo tempo, o PT vai abrir uma representação criminal por calúnia e difamação contra o consultor, que ainda responderá a uma ação cível pedindo uma indenização.
Dutra afirmou que as ações contra o denunciante serão antecipadas às conclusões da PF porque os petistas têm certeza de que as afirmações de Quícoli são falsas. “Nós temos absoluta convicção de que isso não existiu”, afirmou o presidente nacional do PT, na sede do partido, em Brasília.
Ele fez menção aos dois processos em que Quícoli foi condenado, um deles por receptação de carga roubada. “Nós não admitimos que ninguém, nem mesmo e principalmente uma cidadão com essa folha corrida, faça essa tentativa de forjar a partipação do PT nesse episódio”, disse Dutra.
O presidente do partido disse que não vai orientar a PF a ouvir a ex-ministra Erenice Guerra, o filho dela, Israel Guerra, ou o ex-diretor dos Correio, Marco Antônio Oliveira, embora acredite que este último deverá ser ouvido.
De acordo com Quícoli, Oliveira lhe pediu R$ 5 milhões no início deste ano para ver o projeto de energia solar ser aprovado pelo BNDES para pagar dívida da “mulher de ferro”, apontada pelo consultor como sendo Dilma. Oliveira negou a afirmação. Em nota divulgada hoje, o BNDES rechaçou que o projeto patrocinado por Quícoli tenha sido rejeitado por conta de lobbies.
Segundo Dutra, só o presidente do PT e o tesoureiro tinham autorização para pedir dinheiro para a pré-campanha até 5 de junho. Depois, disso, só o tesoureiro. Dutra disse que, se for provado que Oliveira pediu recursos em nome do partido, ele também será processado.
Só insinuação
O presidente do PT afirmou hoje que não vai haver processo contra o consultor Fábio Baracat, entrevistado pela revista Veja. Ele afirma que pagou propina para o filho de Erenice Guerra, também citado por Quícoli, para fechar contratos com os Correios. Baracat relatou à revista uma frase atribuída a Erenice, sobre o atraso nos pagamentos: “Entenda, Fábio, que nós temos compromissos políticos a cumprir”.
Segundo Dutra, isso não motivará processos porque não foi citada diretamente a campanha de Dilma. “Isso foi só uma insinuação.”
Obstrução
O presidente nacional do PT disse que Erenice saiu para poder se defender. E avaliou que ela tomou essa atitude também para não ser acusada de obstruir as investigações da Comissão de Ética da Presidência e da Controladoria Geral da União (CGU).
Dutra evitou dizer se a saída de Erenice foi boa para blindar a campanha de ataques. “A campanha não tem relação com o governo. A decisão da saída foi do governo”, argumentou Dutra. Ele disse que bom para a campanha seria que houvesse debate de propostas e não “baixaria” patrocinada pela oposição.
Após denúncia de lobby, Erenice deixa Casa Civil
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quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Politica brasileira: o que vem pela frente
Dois retratos da atualidade política:
O PT de Dirceu que Dilma esconde
UOL, 15/09/2010 - 11h26
A declaração de que o PT terá mais poder com Dilma do que com Lula, feita pelo ex-ministro José Dirceu, eterno presidente de fato do partido, é motivo para reflexões, avaliações e projeções muito sérias. Até porque --ou principalmente porque-- o PT tem sido um ausente do discurso de Dilma na campanha.
A equação não fecha: Dilma disfarça o partido, mas o partido vai ter ainda mais poder no governo dela?
No debate Rede TV!/Folha, no domingo à noite, Dilma relegou mais uma vez o PT ao segundo plano, referindo-se ao 'presidente Lula' e ao 'nosso governo' como os seus verdadeiros partidos. Mas Dirceu entregou o jogo: o PT é que vai dar as cartas no governo Dilma --que, não custa lembrar, era do PDT até outro dia.
A julgar pelas pesquisas, o PT vem numericamente forte por aí. Vai fazer uma bancada grande e experiente no Senado (calcanhar-de-Aquiles de Lula) e tende a ultrapassar o PMDB como maior bancada na Câmara. (Aliás, desbancando a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves para a presidência da Casa.)
O PT, então, será o líder no Congresso de uma imensa tropa formada desde o PC do B ao PP de Maluf, depois de já ter transformado a CUT, o MST e a UNE em agências do governo, financiadas com recursos públicos; já ter aparelhado o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras, o BNDES; e estar em vias de 'extirpar' a oposição, como disse Lula sobre o DEM, enquanto ataca pessoalmente os tucanos Tasso Jereissatti no Ceará e Arthur Virgílio no Amazonas.
E aí entra a fala de Dirceu: 'A eleição de Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político'. Leia-se: Lula foi um meio para se chegar a um fim, ao tal 'projeto político'. Agora, falta explicar exatamente do que se trata, antes que o governo e o projeto se instalem. Dilma entregou um programa 'hard' de manhã ao TSE e, de tarde, retirou e entregou outro 'light'. Até agora, não se sabe ao certo qual é para valer.
Um dos laboratórios do 'projeto político' de Dirceu foi a liderança do PT na Câmara antes da eleição de Lula, que atuava e respirava conforme Dirceu mandava. Era ali o foco dos dossiês, das CPIs, das denúncias de todo tipo contra Collor, contra Itamar, contra Fernando Henrique, contra tudo e contra todos os demais.
E não é que foi dali que saíram Erenice Guerra, José Dias Toffoli, Márcio Silva? Saíram direto da central de dossiês contra adversários para o comando do país.
Erenice surgiu meio do nada e virou ministra da Casa Civil, principal cargo do governo. Toffoli é um ótimo sujeito, mas tinha todas as desvantagens e nenhum dos atributos para ser ministro, nada mais nada menos, do Supremo Tribunal Federal. E o tal do Márcio Silva é advogado da campanha de Dilma e dono de um escritório meteórico que, como diz o Painel da Folha de hoje (15/09/10), 'é assunto de advogados há muito estabelecidos em Brasília'.
Dilma teve a consideração de indicar a amiga e braço-direito Erenice Guerra como sua sucessora na Casa Civil. Mas, agora que a Casa Civil caiu (de novo) sob o peso da parentada toda dele, teve a desconsideração de rebaixá-la à condição de 'mera assessora'.
Deve estar aí a chave da questão: tem hora de esconder e tem hora de mostrar. É o PT das Erenices dos dossiês, do aparelhamento e do patrimonialismo que vai tocar o 'projeto político' em curso no país?
E com o inestimável apoio do PMDB, evidentemente.
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Eleições 2010
Leia a íntegra da palestra do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu em encontro com petroleiros petistas na Bahia
O Globo, 14/09/2010 às 23h13m
SALVADOR - "A eleição da Dilma é mais importante do que a eleição do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa. A Dilma não era uma liderança que tinha uma grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula foi criando, como outros tiveram, como o Brizola, como o Arraes e tantos outros. A direita teve também aqui mesmo uma liderança que foi o próprio ACM, independente do fisiologismo, do abuso de poder, contudo era uma liderança popular, tanto é que era popular na Bahia. Tinha força político-eleitoral. Então, ela é a expressão do projeto político, da liderança do Lula e do nosso acúmulo desses 30 anos, porque nós acumulamos, nós demos continuidade ao movimento social.
Se nós queremos aprofundar as mudanças, temos que cuidar do partido e temos que cuidar dos movimentos sociais, da organização popular. Temos que cuidar da consciência política, da educação política e temos cuidar das instituições, fazer reforma política e temos que nos transformar em maioria. Nós não somos maioria no país, nós temos uma maioria para eleger o presidente até porque fazemos uma aliança ampla. Vamos lembrar que nossa aliança é PC do B, PDT, PSB, PMDB, PT, PRB e PR. Eu digo assim das grandes expressões, dos partidos que têm força política-eleitoral.
O PP é um partido de centro-direita, muito regional, é verdade, não tem nacional, tanto é que só tem um senador, governador talvez não eleja nenhum. Independente de nós termos essa coalização, o PT é a base dela. A mídia agora já começa a discutir a nossa política, se vai fazer ajuste, se não vai; se vai estatizar ou não vai; se vai fazer concessão ou não vai. E começa a discutir se o PT está sendo desprestigiado ou não. Aquilo que nós temos de maior qualidade, que é o Lula, eles querem apresentar como negativo, porque o Lula é maior que o PT. Eles é que não têm ninguém maior que o partido deles.
Ainda bem que nós temos o Lula, que é duas vezes maior que o PT. Mas nós temos que transformar o PT num partido (inaudível). O PT teve 17% de voto em 2002/2006 para a Câmara, que calcula a força de um partido no mundo todo. Não é o voto majoritário. Vai ter agora 21, 23%, eu espero, tudo indica. Tem que ter 33% em 2014. O PT tem que se renovar, tem que abrir o PT para a juventude (aplausos).
Eu dou o exemplo do Padilha, que há alguns anos era dirigente da UNE, era médico voluntário social no Pará, estava fazendo trabalho social como médico, e hoje é ministro de um dos ministérios mais importantes que tem. O Orlando, do PC do B, Orlando Silva para não ficar só no PT, que aliás é nosso, era presidente da UNE alguns anos atrás... O Lindberg, que vai ser senador agora. Então, nós temos que voltar a transformar o PT em uma instituição política. Uma instituição política tem valor, programa, instrumentos, sedes, atividades cultural, social, tem recursos que auto sustentam, com o fundo partidário, porque nós temos que defender que existe o fundo partidário.
O fundo partidário brasileiro teria que ser duas, três vezes maior, que é a média do mundo. Então, nós temos que transformar de novo o partido, para o que ele foi criado. É lógico que o PT é um grande partido político, tem força político-eleitoral, social. Nós já temos um acúmulo de políticas públicas, de experiência. Então, nós temos que fazer essa mudança no partido. Essa é a principal. E consolidar as nossas organizações populares, porque eles estão consolidando a deles. Você viu que agora eles criaram, eles estão criando através das empresas instituições para fazer disputa político-cultural e político-eleitoral, fundações, centros de estudo. Fora o que eles têm da mídia, do poder econômico. Podem observar. E estão mandando as pessoas para o exterior.
Agora mesmo tiveram uma série de bolsistas, jornalistas, que vão para os Estados Unidos, inclusive este que escreveu essa última matéria da "Veja". Nós temos que fazer isso também. Mas nós temos que fazer sempre com alianças. Uma coisa que eu sempre defendo: nós vamos criar um jornal do sindicato, do partido? Não. Porque quando nós falamos aqui dos grupos econômicos, do empresário brasileiro, nós temos que lembrar a etapa que nós estamos vivendo, o momento histórico que estamos vivendo.
Nós não podemos fazer política sem olhar a história do Brasil e o acúmulo de forças e o crescimento nosso. Nós não vivemos um período em que nós somos hegemônicos na sociedade, que nós temos maioria na sociedade, muito menos um período ou ciclo revolucionário no mundo. Nós vivemos um ciclo no mundo de grande defensiva, de grande (inaudível) do movimento socialista internacional. de repensar o socialismo, nós temos Vietnã, China, Cuba nós temos que olhar para tudo isso.
Quando nós pusemos o Alencar como vice do Lula, nós ganhamos a eleição. Como nós ganhamos essa eleição quando o PMDB não ficou com o PSDB. Aquele movimento anti-Renan Calheiros, anti-Sarney... vocês não vão acreditar que eles são éticos, né? Eles, evidentemente, o que queriam era romper a aliança nossa com o PMDB. Um mês depois, o Serra estava fazendo aliança com o PMDB.
O presidente estava indicando o vice, porque em 2002 a Rita Camata foi a vice dele. Nós criamos uma distensão no PMDB, foi o Jarder, o Sarney, o próprio Quércia em São Paulo, o Itamar em Minas Gerais, foi um trabalho que nós fizemos, o Eunício no Ceará. 30%, 40% apoiou o Lula já no primeiro turno e, depois, no segundo turno, ampliou isso. O Rigotto no Rio Grande do Sul. Nós colocamos uma cunha dentro do PMDB. O que eu quero dizer é o seguinte: as alianças não são político-partidárias, não são parlamentares. As alianças são na sociedade. O parlamentar é a expressão.
Nós, quando fizemos a aliança com o Zé Alencar, nós fizemos a aliança com (inaudível), empresário. O Zé Alencar, apesar de ser um grande empresário, de ter sido presidente da Federação da Indústria de Minas várias vezes, vice da CNI, e de ser um líder - ele é um líder, não era um burocrata sindical - porque também tem os pelegos sindicais, não é só nós que temos esse problema. Eles também têm as burocracias sindicais deles, poderosíssimas. Aqui vocês conhecem no Nordeste muitas federações e confederações que têm muitos empresários. O Albano Franco, por exemplo. O nosso aliado, Armando Monteiro Neto está saindo agora, vai se eleger senador, tudo indica. Como aqui, nós vamos eleger os dois lá.
Qual era a aliança? Aliança produtivista, nacionalista, desenvolvimentista e aliança de voltar para dentro, para o mercado interno, de decolar o Brasil no mundo, e a sociedade entendeu isso. As alianças são, no fundo, expressão de programas econômicos e de políticas de investimento. E o estágio que nós vivemos no Brasil é de reorganização do Estado nacional. Porque ele foi desmontado durante 20, 30 anos. Ele sempre foi golpeado pela direita. Tudo o que o Getúlio fez, o Dutra assumiu e desmanchou. Tudo o que nós tínhamos construído em 40 anos, a ditadura militar começou a desmanchar. Mas aí dentro das Forças Armadas assume uma ala do governo que tem uma visão nacionalista estatal também, que foi o governo Geisel, que é um governo ditatorial, mas não antinacional, não é um governo privativo.
O BNDES está consolidando, fundindo a base dos setores, senão nós não conseguimos competir no mundo, como foi (inaudível). Nós temos que fortalecer o Brasil, o estado, a política econômica e distribuir renda, acabar com a pobreza e resgatar de novo o papel do estado no Brasil. E vamos ter que reformar a burocracia brasileira que nós só começamos. Não é verdade essa "discursera" do Serra. Fomos nós que voltamos a fazer planos de cargos e carreiras, que voltamos a valorizar o servidor, a dar condições de novo. Eles falam: os sindicalistas dirigiam as empresas estatais. É verdade, nós indicamos sindicalistas mesmo. Agora, vamos ver o balanço da Funcef nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula, vamos ver a Petrobras nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula, o Banco do Brasil nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula. Saneamos a empresa, recuperamos a gestão e a eficiência, não fizemos nenhum investimento como eles fizeram vários absolutamente desastrosos. (..)
(...)Reforma política e educação, quer oportunidades, evidente que é um pouco mistificação dizer que você vai dar igualdade oportunidade na educação você viabiliza uma maior igualdade social na sociedade. Depende das outras condições. Mas é evidente que a educação é fundamental. Nós estamos mal nisso. Nós fizemos muito no nosso governo, mas vocês sabem, nós temos filhos nas escolas, nós sabemos disso. Nós conhecemos, somos professores, muitos de nós e sabemos da situação.
É como policial militar, um agente da PF ganha inicial quase 9 mil reais, agente, não o delegado, que ganha 13, 14 mil. Quanto ganha uma professora de fundamental? Agora nós demos um piso de 1.200 reais. Na verdade, esse piso tinha que ser 2.500, para começar. Então, olha como nós temos que mudar. Lógico que nós mudamos muito. O orçamento da educação multiplicou por três, que é o dobro tirando a inflação. Mas como a Dilma diz tem que investir 7% do PIB na educação. Como nós vamos ter que reestruturar a saúde pública também, consolidar o SUS e aperfeiçoar, porque a situação ainda é muito difícil na saúde pública. Você vai num posto de saúde, o Brasil tem melhorado muito nestes dez anos, mas tem muito o que melhorar.
A política, o que a direita faz? Quem pode ter poder? Primeiro o poder econômico, as forças armadas. As forças armadas estão hoje profissionalizadas, o poder econômico se aliou com qual poder? Com a mídia. E qual é o poder que pode se contrapor ao poder econômico e ao poder da mídia no Brasil? É o poder político, que tem problemas graves de fisiologias, de corrupção, tem desqualificação, mas eles não fazem contra o poder econômico e da mídia, quando surgem problemas de corrupção, de problemas graves, o tipo de campanha que eles fazem contra o parlamento e contra os partidos políticos.
Mesmo levando em conta os graves problemas de nosso sistema político, problema de caixa 2, os graves problemas de corrupção que têm na administração pública, em grande parte para financiar campanha eleitoral, porque o sistema está apoiado nisso, no poder econômico. Não tem campanha de menos de 3 ou 5 milhões de reais, 7 ou 8 milhões hoje no Brasil. Campanha de governador é 40,50,60. Campanha de presidente é 200, 300 milhões. Ora, quem vai financiar isso? As pessoas físicas? Não, as empresas. Aí começa: nomeação dirigida, licitação dirigida, emenda dirigida, superfaturamento, tráfico de influência. Não é que vai acabar, mas o financiamento público, o voto em lista, mandato talvez de seis anos para senador. Nós temos que repensar o sistema político brasileiro. E nós somos o maior interessado porque a direita está usando isso para desqualificar a política e para afastar o povo da política. (...)
(...)As outra reformas, a tributária, a democratização dos meios de comunicação, o problema da terra, das forças armadas, que são questões que não estão equacionadas no Brasil ainda hoje, elas dependem da nossa maioria, depende do pais se consolidar porque o país só resolve problemas quando são maduros (...)
Nós somos um partido e uma candidatura que coloca em risco o que eles tão batendo, todos articulistas da Globo escrevem e falam na TV, todos os analistas deles: a noção das garantias individuais e da constituição, que nós queremos censurar a imprensa, que o problema no Brasil é a liberdade de imprensa? Gente do céu. Como alguém pode afirmar do Brasil é(...). Não existe excesso de liberdade. Pra quem já viveu em ditadura(...)
Dizem que nós queremos censurar a imprensa. Diz que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, bom, é que não existe excesso de liberdade, mas o abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem. Que está na Constituição igualzinho a liberdade, a Constituição não colocou o direito de resposta e de imagem, a honra, abaixo ou acima da proibição da censura e da censura prévia, corretamente, ou do direito de informação e da liberdade de imprensa, de expressão. São todas cláusulas pétreas.
Mas os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência, se vocês lerem os discursos do Carlos Ayres Britto, que aquilo não é voto é discurso político, a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil que é um escândalo. Mas eles estão preparando a agenda deles para o primeiro ano de governo. Como a imprensa já está pressionando pela constituição do governo, já está disputando a constituição do governo. Pode começar a ler nas entrelinhas, quem quer que ela empurra para ser ministro disso, ministro daquilo, e já está disputando para fazer ajuste fiscal....
Como a gente está vendo, a mídia como está se comportando com a Dilma, já dá para imaginar como vai ser comigo no dia do julgamento. Estou até fazendo dieta, mantendo os 80 quilos para me preparar para o debate.(...)
(...) Já começou a apresentar uma série de ideias e de propostas do PMDB, que nós necessariamente não concordamos com o partido. Não que elas sejam incompatíveis com o nosso programa, mas são abordagens diferentes que nós temos para a questão da educação, do ajuste fiscal, da política macroeconômica.
Então, sim. O governo sempre é disputado. E nessa disputa do governo, as forças políticas de oposição, elas pesam também. Por que com o apoio da imprensa, eles tentam formar a opinião pública forçando determinadas definições ou tentar impedir que nós apliquemos determinadas políticas. Ou paralisando no Congresso ou criando um clima na sociedade contrário, basta ver a ação já que nós estamos aqui numa casa das estatais, participação ampla dos petroleiros;
O que a Folha de S. Paulo fez com a capitalização da Petrobras em qualquer país do mundo poderia dar um processo contra o jornal. Poderia dar uma intervenção da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), ou de organismo de regulação que existe no país. Mas ela fez a campanha. Da mesma maneira, que eles estavam contra o pré-sal. Toda a mídia se posicionou contra a nova regularização do pré-sal. O Fundo, a empresa, a apropriação da receita do petróleo, da nova forma que nós vamos fazer, por partilha e não por concessão.
O governo é sempre disputado e é disputado entre os aliados e dentro do PT também.
A melhor maneira de nos preparar é agora eleger uma grande bancada do PT de deputados e senadores, que você começa sendo um partido majoritário na Câmara e tendo uma bancada que garante com mais um partido maioria simples no Senado. O ideal é que o PT e o PMDB fizesse maioria de 41 no Senado, mas não vai acontecer isso. Nós vamos fazer entre 32 a 36 senadores, os dois partidos. Mas com PDT, PSB e PC do B talvez a gente faça.
Depois do pós, o 1º de janeiro, durante o governo, a força do partido e a presença do partido se expressa muito pela participação do partido na vida política do país. Um partido com 30% de votos não pode ser desprezado por nenhum presidente da República. Nós temos que chegar para discutir com propostas. As decisões tem que ser acertadas. Tem uma disputa contra nós na comunicação.
Vejam a campanha que eles fizeram esses anos todos contra o Bolsa Família. Eles não combatiam a política externa do presidente. Porque eles não tinham ideia do peso dela, da integração sul-americana a ferro e fogo.
Nós temos que nos preparar para a disputa dessa fixação da mídia comigo. Primeiro é que eu disputo, eu enfrento. Eu não deixo nada sem resposta. Eu faço a disputa política na sociedade, no meu blog, dentro do PT. Segundo é que eu continuei participando da vida política do país, da vida do PT. Terceiro que eles querem que eu seja condenado, eles querem me banir da vida política do país. Eles tentaram, inclusive, me impedir de exercer minha profissão. Eles me caçaram, eu saí do governo, fiquei inelegível, depois começaram uma campanha contra minhas atividade de advogado e consultor. Fizeram durante esses cinco anos, e no ano de 2008, quatro vezes em conluio com a PF, com o MP e o Poder Judiciário, eles tentaram me prender. Sendo que não há nada contra mim.
Isso faz parte da disputa política. Como eu representava o PT, eu fui alvo. Quem tem que provar é o MP, que não conseguiu provar nada. O processo já terminou. Só falta ser julgado. Eu pelo menos nunca senti ou me programei em ser candidato. Eu nem ia ser candidato em 2006. Eu combinei com o Gushiken. Felizmente teremos nossa candidata que vai ser eleita. E nós vamos fazer isso com prazer. Eu pelo menos vou votar com prazer. E depois falar para eles: Ó, não adiantou nada. Estamos aí mais quatro anos(...)
Quando se fez o balanço da agenda, a maioria dos companheiros que estão dirigindo a campanha e a própria candidata cancelaram vários compromissos. Na minha avaliação foi um erro o cancelamento, mas ele é justificado. Mas a nossa candidata estava num momento muito difícil, muito cansada, tendo que se dedicar aos programas de televisão. Tendo que ir aos estados, porque a campanha estava em crise em MG, em SP, PR, SC, a presença dela era importantíssima. Ela praticamente não foi ao Norte do país, vocês já perceberam isso?
Do Maranhão até o Acre alguém aqui tem notícia de que a Dilma tenha ido a esses estados? Isso é inédito em campanha eleitoral no Brasil. Porque, primeiro nós temos mais de 40 anos de idade, segundo que ela passou por um câncer. Ela sente muito isso ainda. E a tensão dessa campanha foi muito grande. Se vocês observarem a responsabilidade dela é enorme. Tomamos com dor essa decisão.
Infelizmente aconteceu isso, o cancelamento da agenda. Várias agendas. Ela, por exemplo, ela não tinha ido a SC. A Ideli (Salvatti) estava sendo ridicularizada pelos adversários. O Lula ainda não tinha gravado para ela, pro Lessa, pro Iberê(...) Imagina governar o país e fazer campanha? E com essa pressão toda que nós estamos sofrendo. Por que o pau tá comendo em cima de nós. Eles não estão recuados, né? Eles estão lutando.
O PT de Dirceu que Dilma esconde
UOL, 15/09/2010 - 11h26
A declaração de que o PT terá mais poder com Dilma do que com Lula, feita pelo ex-ministro José Dirceu, eterno presidente de fato do partido, é motivo para reflexões, avaliações e projeções muito sérias. Até porque --ou principalmente porque-- o PT tem sido um ausente do discurso de Dilma na campanha.
A equação não fecha: Dilma disfarça o partido, mas o partido vai ter ainda mais poder no governo dela?
No debate Rede TV!/Folha, no domingo à noite, Dilma relegou mais uma vez o PT ao segundo plano, referindo-se ao 'presidente Lula' e ao 'nosso governo' como os seus verdadeiros partidos. Mas Dirceu entregou o jogo: o PT é que vai dar as cartas no governo Dilma --que, não custa lembrar, era do PDT até outro dia.
A julgar pelas pesquisas, o PT vem numericamente forte por aí. Vai fazer uma bancada grande e experiente no Senado (calcanhar-de-Aquiles de Lula) e tende a ultrapassar o PMDB como maior bancada na Câmara. (Aliás, desbancando a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves para a presidência da Casa.)
O PT, então, será o líder no Congresso de uma imensa tropa formada desde o PC do B ao PP de Maluf, depois de já ter transformado a CUT, o MST e a UNE em agências do governo, financiadas com recursos públicos; já ter aparelhado o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras, o BNDES; e estar em vias de 'extirpar' a oposição, como disse Lula sobre o DEM, enquanto ataca pessoalmente os tucanos Tasso Jereissatti no Ceará e Arthur Virgílio no Amazonas.
E aí entra a fala de Dirceu: 'A eleição de Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político'. Leia-se: Lula foi um meio para se chegar a um fim, ao tal 'projeto político'. Agora, falta explicar exatamente do que se trata, antes que o governo e o projeto se instalem. Dilma entregou um programa 'hard' de manhã ao TSE e, de tarde, retirou e entregou outro 'light'. Até agora, não se sabe ao certo qual é para valer.
Um dos laboratórios do 'projeto político' de Dirceu foi a liderança do PT na Câmara antes da eleição de Lula, que atuava e respirava conforme Dirceu mandava. Era ali o foco dos dossiês, das CPIs, das denúncias de todo tipo contra Collor, contra Itamar, contra Fernando Henrique, contra tudo e contra todos os demais.
E não é que foi dali que saíram Erenice Guerra, José Dias Toffoli, Márcio Silva? Saíram direto da central de dossiês contra adversários para o comando do país.
Erenice surgiu meio do nada e virou ministra da Casa Civil, principal cargo do governo. Toffoli é um ótimo sujeito, mas tinha todas as desvantagens e nenhum dos atributos para ser ministro, nada mais nada menos, do Supremo Tribunal Federal. E o tal do Márcio Silva é advogado da campanha de Dilma e dono de um escritório meteórico que, como diz o Painel da Folha de hoje (15/09/10), 'é assunto de advogados há muito estabelecidos em Brasília'.
Dilma teve a consideração de indicar a amiga e braço-direito Erenice Guerra como sua sucessora na Casa Civil. Mas, agora que a Casa Civil caiu (de novo) sob o peso da parentada toda dele, teve a desconsideração de rebaixá-la à condição de 'mera assessora'.
Deve estar aí a chave da questão: tem hora de esconder e tem hora de mostrar. É o PT das Erenices dos dossiês, do aparelhamento e do patrimonialismo que vai tocar o 'projeto político' em curso no país?
E com o inestimável apoio do PMDB, evidentemente.
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Eleições 2010
Leia a íntegra da palestra do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu em encontro com petroleiros petistas na Bahia
O Globo, 14/09/2010 às 23h13m
SALVADOR - "A eleição da Dilma é mais importante do que a eleição do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa. A Dilma não era uma liderança que tinha uma grande expressão popular, eleitoral, uma raiz histórica no país, como o Lula foi criando, como outros tiveram, como o Brizola, como o Arraes e tantos outros. A direita teve também aqui mesmo uma liderança que foi o próprio ACM, independente do fisiologismo, do abuso de poder, contudo era uma liderança popular, tanto é que era popular na Bahia. Tinha força político-eleitoral. Então, ela é a expressão do projeto político, da liderança do Lula e do nosso acúmulo desses 30 anos, porque nós acumulamos, nós demos continuidade ao movimento social.
Se nós queremos aprofundar as mudanças, temos que cuidar do partido e temos que cuidar dos movimentos sociais, da organização popular. Temos que cuidar da consciência política, da educação política e temos cuidar das instituições, fazer reforma política e temos que nos transformar em maioria. Nós não somos maioria no país, nós temos uma maioria para eleger o presidente até porque fazemos uma aliança ampla. Vamos lembrar que nossa aliança é PC do B, PDT, PSB, PMDB, PT, PRB e PR. Eu digo assim das grandes expressões, dos partidos que têm força política-eleitoral.
O PP é um partido de centro-direita, muito regional, é verdade, não tem nacional, tanto é que só tem um senador, governador talvez não eleja nenhum. Independente de nós termos essa coalização, o PT é a base dela. A mídia agora já começa a discutir a nossa política, se vai fazer ajuste, se não vai; se vai estatizar ou não vai; se vai fazer concessão ou não vai. E começa a discutir se o PT está sendo desprestigiado ou não. Aquilo que nós temos de maior qualidade, que é o Lula, eles querem apresentar como negativo, porque o Lula é maior que o PT. Eles é que não têm ninguém maior que o partido deles.
Ainda bem que nós temos o Lula, que é duas vezes maior que o PT. Mas nós temos que transformar o PT num partido (inaudível). O PT teve 17% de voto em 2002/2006 para a Câmara, que calcula a força de um partido no mundo todo. Não é o voto majoritário. Vai ter agora 21, 23%, eu espero, tudo indica. Tem que ter 33% em 2014. O PT tem que se renovar, tem que abrir o PT para a juventude (aplausos).
Eu dou o exemplo do Padilha, que há alguns anos era dirigente da UNE, era médico voluntário social no Pará, estava fazendo trabalho social como médico, e hoje é ministro de um dos ministérios mais importantes que tem. O Orlando, do PC do B, Orlando Silva para não ficar só no PT, que aliás é nosso, era presidente da UNE alguns anos atrás... O Lindberg, que vai ser senador agora. Então, nós temos que voltar a transformar o PT em uma instituição política. Uma instituição política tem valor, programa, instrumentos, sedes, atividades cultural, social, tem recursos que auto sustentam, com o fundo partidário, porque nós temos que defender que existe o fundo partidário.
O fundo partidário brasileiro teria que ser duas, três vezes maior, que é a média do mundo. Então, nós temos que transformar de novo o partido, para o que ele foi criado. É lógico que o PT é um grande partido político, tem força político-eleitoral, social. Nós já temos um acúmulo de políticas públicas, de experiência. Então, nós temos que fazer essa mudança no partido. Essa é a principal. E consolidar as nossas organizações populares, porque eles estão consolidando a deles. Você viu que agora eles criaram, eles estão criando através das empresas instituições para fazer disputa político-cultural e político-eleitoral, fundações, centros de estudo. Fora o que eles têm da mídia, do poder econômico. Podem observar. E estão mandando as pessoas para o exterior.
Agora mesmo tiveram uma série de bolsistas, jornalistas, que vão para os Estados Unidos, inclusive este que escreveu essa última matéria da "Veja". Nós temos que fazer isso também. Mas nós temos que fazer sempre com alianças. Uma coisa que eu sempre defendo: nós vamos criar um jornal do sindicato, do partido? Não. Porque quando nós falamos aqui dos grupos econômicos, do empresário brasileiro, nós temos que lembrar a etapa que nós estamos vivendo, o momento histórico que estamos vivendo.
Nós não podemos fazer política sem olhar a história do Brasil e o acúmulo de forças e o crescimento nosso. Nós não vivemos um período em que nós somos hegemônicos na sociedade, que nós temos maioria na sociedade, muito menos um período ou ciclo revolucionário no mundo. Nós vivemos um ciclo no mundo de grande defensiva, de grande (inaudível) do movimento socialista internacional. de repensar o socialismo, nós temos Vietnã, China, Cuba nós temos que olhar para tudo isso.
Quando nós pusemos o Alencar como vice do Lula, nós ganhamos a eleição. Como nós ganhamos essa eleição quando o PMDB não ficou com o PSDB. Aquele movimento anti-Renan Calheiros, anti-Sarney... vocês não vão acreditar que eles são éticos, né? Eles, evidentemente, o que queriam era romper a aliança nossa com o PMDB. Um mês depois, o Serra estava fazendo aliança com o PMDB.
O presidente estava indicando o vice, porque em 2002 a Rita Camata foi a vice dele. Nós criamos uma distensão no PMDB, foi o Jarder, o Sarney, o próprio Quércia em São Paulo, o Itamar em Minas Gerais, foi um trabalho que nós fizemos, o Eunício no Ceará. 30%, 40% apoiou o Lula já no primeiro turno e, depois, no segundo turno, ampliou isso. O Rigotto no Rio Grande do Sul. Nós colocamos uma cunha dentro do PMDB. O que eu quero dizer é o seguinte: as alianças não são político-partidárias, não são parlamentares. As alianças são na sociedade. O parlamentar é a expressão.
Nós, quando fizemos a aliança com o Zé Alencar, nós fizemos a aliança com (inaudível), empresário. O Zé Alencar, apesar de ser um grande empresário, de ter sido presidente da Federação da Indústria de Minas várias vezes, vice da CNI, e de ser um líder - ele é um líder, não era um burocrata sindical - porque também tem os pelegos sindicais, não é só nós que temos esse problema. Eles também têm as burocracias sindicais deles, poderosíssimas. Aqui vocês conhecem no Nordeste muitas federações e confederações que têm muitos empresários. O Albano Franco, por exemplo. O nosso aliado, Armando Monteiro Neto está saindo agora, vai se eleger senador, tudo indica. Como aqui, nós vamos eleger os dois lá.
Qual era a aliança? Aliança produtivista, nacionalista, desenvolvimentista e aliança de voltar para dentro, para o mercado interno, de decolar o Brasil no mundo, e a sociedade entendeu isso. As alianças são, no fundo, expressão de programas econômicos e de políticas de investimento. E o estágio que nós vivemos no Brasil é de reorganização do Estado nacional. Porque ele foi desmontado durante 20, 30 anos. Ele sempre foi golpeado pela direita. Tudo o que o Getúlio fez, o Dutra assumiu e desmanchou. Tudo o que nós tínhamos construído em 40 anos, a ditadura militar começou a desmanchar. Mas aí dentro das Forças Armadas assume uma ala do governo que tem uma visão nacionalista estatal também, que foi o governo Geisel, que é um governo ditatorial, mas não antinacional, não é um governo privativo.
O BNDES está consolidando, fundindo a base dos setores, senão nós não conseguimos competir no mundo, como foi (inaudível). Nós temos que fortalecer o Brasil, o estado, a política econômica e distribuir renda, acabar com a pobreza e resgatar de novo o papel do estado no Brasil. E vamos ter que reformar a burocracia brasileira que nós só começamos. Não é verdade essa "discursera" do Serra. Fomos nós que voltamos a fazer planos de cargos e carreiras, que voltamos a valorizar o servidor, a dar condições de novo. Eles falam: os sindicalistas dirigiam as empresas estatais. É verdade, nós indicamos sindicalistas mesmo. Agora, vamos ver o balanço da Funcef nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula, vamos ver a Petrobras nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula, o Banco do Brasil nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula. Saneamos a empresa, recuperamos a gestão e a eficiência, não fizemos nenhum investimento como eles fizeram vários absolutamente desastrosos. (..)
(...)Reforma política e educação, quer oportunidades, evidente que é um pouco mistificação dizer que você vai dar igualdade oportunidade na educação você viabiliza uma maior igualdade social na sociedade. Depende das outras condições. Mas é evidente que a educação é fundamental. Nós estamos mal nisso. Nós fizemos muito no nosso governo, mas vocês sabem, nós temos filhos nas escolas, nós sabemos disso. Nós conhecemos, somos professores, muitos de nós e sabemos da situação.
É como policial militar, um agente da PF ganha inicial quase 9 mil reais, agente, não o delegado, que ganha 13, 14 mil. Quanto ganha uma professora de fundamental? Agora nós demos um piso de 1.200 reais. Na verdade, esse piso tinha que ser 2.500, para começar. Então, olha como nós temos que mudar. Lógico que nós mudamos muito. O orçamento da educação multiplicou por três, que é o dobro tirando a inflação. Mas como a Dilma diz tem que investir 7% do PIB na educação. Como nós vamos ter que reestruturar a saúde pública também, consolidar o SUS e aperfeiçoar, porque a situação ainda é muito difícil na saúde pública. Você vai num posto de saúde, o Brasil tem melhorado muito nestes dez anos, mas tem muito o que melhorar.
A política, o que a direita faz? Quem pode ter poder? Primeiro o poder econômico, as forças armadas. As forças armadas estão hoje profissionalizadas, o poder econômico se aliou com qual poder? Com a mídia. E qual é o poder que pode se contrapor ao poder econômico e ao poder da mídia no Brasil? É o poder político, que tem problemas graves de fisiologias, de corrupção, tem desqualificação, mas eles não fazem contra o poder econômico e da mídia, quando surgem problemas de corrupção, de problemas graves, o tipo de campanha que eles fazem contra o parlamento e contra os partidos políticos.
Mesmo levando em conta os graves problemas de nosso sistema político, problema de caixa 2, os graves problemas de corrupção que têm na administração pública, em grande parte para financiar campanha eleitoral, porque o sistema está apoiado nisso, no poder econômico. Não tem campanha de menos de 3 ou 5 milhões de reais, 7 ou 8 milhões hoje no Brasil. Campanha de governador é 40,50,60. Campanha de presidente é 200, 300 milhões. Ora, quem vai financiar isso? As pessoas físicas? Não, as empresas. Aí começa: nomeação dirigida, licitação dirigida, emenda dirigida, superfaturamento, tráfico de influência. Não é que vai acabar, mas o financiamento público, o voto em lista, mandato talvez de seis anos para senador. Nós temos que repensar o sistema político brasileiro. E nós somos o maior interessado porque a direita está usando isso para desqualificar a política e para afastar o povo da política. (...)
(...)As outra reformas, a tributária, a democratização dos meios de comunicação, o problema da terra, das forças armadas, que são questões que não estão equacionadas no Brasil ainda hoje, elas dependem da nossa maioria, depende do pais se consolidar porque o país só resolve problemas quando são maduros (...)
Nós somos um partido e uma candidatura que coloca em risco o que eles tão batendo, todos articulistas da Globo escrevem e falam na TV, todos os analistas deles: a noção das garantias individuais e da constituição, que nós queremos censurar a imprensa, que o problema no Brasil é a liberdade de imprensa? Gente do céu. Como alguém pode afirmar do Brasil é(...). Não existe excesso de liberdade. Pra quem já viveu em ditadura(...)
Dizem que nós queremos censurar a imprensa. Diz que o problema é a liberdade de imprensa. O problema do Brasil é excesso, bom, é que não existe excesso de liberdade, mas o abuso do poder de informar, o monopólio e a negação do direito de resposta e do direito da imagem. Que está na Constituição igualzinho a liberdade, a Constituição não colocou o direito de resposta e de imagem, a honra, abaixo ou acima da proibição da censura e da censura prévia, corretamente, ou do direito de informação e da liberdade de imprensa, de expressão. São todas cláusulas pétreas.
Mas os tribunais brasileiros estão formando jurisprudência, se vocês lerem os discursos do Carlos Ayres Britto, que aquilo não é voto é discurso político, a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil que é um escândalo. Mas eles estão preparando a agenda deles para o primeiro ano de governo. Como a imprensa já está pressionando pela constituição do governo, já está disputando a constituição do governo. Pode começar a ler nas entrelinhas, quem quer que ela empurra para ser ministro disso, ministro daquilo, e já está disputando para fazer ajuste fiscal....
Como a gente está vendo, a mídia como está se comportando com a Dilma, já dá para imaginar como vai ser comigo no dia do julgamento. Estou até fazendo dieta, mantendo os 80 quilos para me preparar para o debate.(...)
(...) Já começou a apresentar uma série de ideias e de propostas do PMDB, que nós necessariamente não concordamos com o partido. Não que elas sejam incompatíveis com o nosso programa, mas são abordagens diferentes que nós temos para a questão da educação, do ajuste fiscal, da política macroeconômica.
Então, sim. O governo sempre é disputado. E nessa disputa do governo, as forças políticas de oposição, elas pesam também. Por que com o apoio da imprensa, eles tentam formar a opinião pública forçando determinadas definições ou tentar impedir que nós apliquemos determinadas políticas. Ou paralisando no Congresso ou criando um clima na sociedade contrário, basta ver a ação já que nós estamos aqui numa casa das estatais, participação ampla dos petroleiros;
O que a Folha de S. Paulo fez com a capitalização da Petrobras em qualquer país do mundo poderia dar um processo contra o jornal. Poderia dar uma intervenção da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), ou de organismo de regulação que existe no país. Mas ela fez a campanha. Da mesma maneira, que eles estavam contra o pré-sal. Toda a mídia se posicionou contra a nova regularização do pré-sal. O Fundo, a empresa, a apropriação da receita do petróleo, da nova forma que nós vamos fazer, por partilha e não por concessão.
O governo é sempre disputado e é disputado entre os aliados e dentro do PT também.
A melhor maneira de nos preparar é agora eleger uma grande bancada do PT de deputados e senadores, que você começa sendo um partido majoritário na Câmara e tendo uma bancada que garante com mais um partido maioria simples no Senado. O ideal é que o PT e o PMDB fizesse maioria de 41 no Senado, mas não vai acontecer isso. Nós vamos fazer entre 32 a 36 senadores, os dois partidos. Mas com PDT, PSB e PC do B talvez a gente faça.
Depois do pós, o 1º de janeiro, durante o governo, a força do partido e a presença do partido se expressa muito pela participação do partido na vida política do país. Um partido com 30% de votos não pode ser desprezado por nenhum presidente da República. Nós temos que chegar para discutir com propostas. As decisões tem que ser acertadas. Tem uma disputa contra nós na comunicação.
Vejam a campanha que eles fizeram esses anos todos contra o Bolsa Família. Eles não combatiam a política externa do presidente. Porque eles não tinham ideia do peso dela, da integração sul-americana a ferro e fogo.
Nós temos que nos preparar para a disputa dessa fixação da mídia comigo. Primeiro é que eu disputo, eu enfrento. Eu não deixo nada sem resposta. Eu faço a disputa política na sociedade, no meu blog, dentro do PT. Segundo é que eu continuei participando da vida política do país, da vida do PT. Terceiro que eles querem que eu seja condenado, eles querem me banir da vida política do país. Eles tentaram, inclusive, me impedir de exercer minha profissão. Eles me caçaram, eu saí do governo, fiquei inelegível, depois começaram uma campanha contra minhas atividade de advogado e consultor. Fizeram durante esses cinco anos, e no ano de 2008, quatro vezes em conluio com a PF, com o MP e o Poder Judiciário, eles tentaram me prender. Sendo que não há nada contra mim.
Isso faz parte da disputa política. Como eu representava o PT, eu fui alvo. Quem tem que provar é o MP, que não conseguiu provar nada. O processo já terminou. Só falta ser julgado. Eu pelo menos nunca senti ou me programei em ser candidato. Eu nem ia ser candidato em 2006. Eu combinei com o Gushiken. Felizmente teremos nossa candidata que vai ser eleita. E nós vamos fazer isso com prazer. Eu pelo menos vou votar com prazer. E depois falar para eles: Ó, não adiantou nada. Estamos aí mais quatro anos(...)
Quando se fez o balanço da agenda, a maioria dos companheiros que estão dirigindo a campanha e a própria candidata cancelaram vários compromissos. Na minha avaliação foi um erro o cancelamento, mas ele é justificado. Mas a nossa candidata estava num momento muito difícil, muito cansada, tendo que se dedicar aos programas de televisão. Tendo que ir aos estados, porque a campanha estava em crise em MG, em SP, PR, SC, a presença dela era importantíssima. Ela praticamente não foi ao Norte do país, vocês já perceberam isso?
Do Maranhão até o Acre alguém aqui tem notícia de que a Dilma tenha ido a esses estados? Isso é inédito em campanha eleitoral no Brasil. Porque, primeiro nós temos mais de 40 anos de idade, segundo que ela passou por um câncer. Ela sente muito isso ainda. E a tensão dessa campanha foi muito grande. Se vocês observarem a responsabilidade dela é enorme. Tomamos com dor essa decisão.
Infelizmente aconteceu isso, o cancelamento da agenda. Várias agendas. Ela, por exemplo, ela não tinha ido a SC. A Ideli (Salvatti) estava sendo ridicularizada pelos adversários. O Lula ainda não tinha gravado para ela, pro Lessa, pro Iberê(...) Imagina governar o país e fazer campanha? E com essa pressão toda que nós estamos sofrendo. Por que o pau tá comendo em cima de nós. Eles não estão recuados, né? Eles estão lutando.
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Serra contra a maquina incrustrada no Estado: batalha desigual
Sem comentários.
Paulo Roberto de Almeida
Disputa desigual traz Estado contra Serra
Rosângela Bittar
Valor Econômico, 15/09/2010
A moda, agora, na campanha eleitoral do PSDB, é reviver o esporte que vigorou ao longo do processo de definição da candidatura a presidente do partido, entre novembro do ano passado e fevereiro deste, toda vez que a discussão pendia para o então governador de São Paulo: falar muito mal de José Serra. Políticos importantes da cúpula, os de importância média, aprendizes de feiticeiros, grupos de base eleitoral com influência, até simples simpatizantes atribuem a Serra a culpa pelas dificuldades que todos enfrentam na campanha.
Seria de sua única responsabilidade não crescer nas intenções de voto, ser o seu próprio marqueteiro, não ouvir o comando político, permitir a virada nos Estados, ter se imposto ao ex-governador de Minas - sim, esta também voltou - e, a mais recente, ter tido um desempenho fraco no debate eleitoral. Serra estaria, também, tenso, nervoso, preocupado, indormido.
Bem, em Brasília, segunda-feira, ao longo de uma reunião com a Ordem dos Advogados do Brasil para debater a reforma política, e depois do encontro, José Serra estava absolutamente tranquilo, seguro, cordial, expondo com uma clareza impressionante suas reflexões sobre o tema e, nelas, os riscos que a atual campanha eleitoral tem representado ao Estado de Direito, à Democracia.
Vendo-o em ação, não é possível identificá-lo com o personagem de todas as culpas. Seriam os que o acusam inocentes? Aécio Neves, Tasso Jereissati, Sérgio Guerra, Arthur Virgílio, Álvaro Dias, líderes em geral, qualquer um dos políticos do PSDB que, ao longo dos últimos oito anos, não se encontraram com o exercício da oposição, não souberam definir seus adversários políticos nem criar antídotos aos efeitos monumentais da propaganda, são culpados do que ocorre hoje. E Serra inclusive.
Numa campanha como a de 2010, desde já candidata a ser objeto de aprofundados estudos políticos e, bastante necessários, também jurídicos, dificilmente um outro candidato de oposição, qualquer um, lograria desempenho diferente.
Serra não tem dado sinais de desânimo com as críticas internas e toca a etapa final da campanha exibindo confiança em levá-la ao segundo turno. Em segundo lugar nas intenções de voto para Presidente da República, parece consciente de que está cumprindo um papel histórico.
Serra não está questionando o fato de a candidata do PT, Dilma Rousseff, sua principal adversária, estar muito à frente nas intenções de voto, posição que já ele próprio teve em outro momento da campanha. O recado que chega da sua atual pregação é que está lutando não pelo projeto de seu partido contra o projeto do partido adversário, mas contra um Estado inteiro, capturado por um grupo político cujo líder, o presidente da República, governa para aliados eleitorais.
O Estado está a serviço do terceiro mandato que o presidente Lula ficou impedido constitucionalmente de disputar, mas deu um jeito, construindo agora a ponte para a possibilidade legal de disputar com seu próprio nome, mais adiante, o quarto e o quinto. Não são, portanto, três mandatos, mas cinco, o período pleiteado pelos adversários para o qual a oposição teria que ter se preparado para enfrentar.
Por mais que tivesse o chefe da Nação dito que faria tudo - "tudo é tudo", detalharam seus intérpretes - para eleger presidente quem escolheu para ser, sem um contraditório ou interferência partidária, a oposição não poderia ter imaginado que seria como está sendo: O Estado contra um candidato.
Lula criou o poste, jargão eleitoral com que se define um candidato absolutamente desconhecido, implantou-o e iluminou-o. Em dois anos, colocou seu palanque governamental, integralmente, a serviço desse projeto. Inovou, pois nenhum de seus antecessores se despiram da Presidência para eleger o sucessor.
Nenhum grupo político, também, preparou antídoto para essa ação, nem se sabe se ela existe na crônica eleitoral.
Até aliados jamais ousaram contraditar ou sugerir acréscimos. É obra de um homem só: da transgressão à lei à defesa de extermínio de partido adversário, da impunidade a aliados ao capricho de nominar o próximo alvo.
O presidente Lula nada está fazendo que não tenha feito nos seus oito anos de mandato, mas a oposição, não se sabe por quê, achou que seria diferente. Frustrada agora em suas expectativas, responsabiliza Serra. Não pela perda da disputa, pois ainda não a perdeu e há institutos de pesquisa com credibilidade que ainda apontam possibilidade técnica de a disputa ir ao segundo turno. Mas pelas dificuldades, sendo que boa parte delas decorre do próprio pessimismo.
Esses políticos estão surpresos com a frustração de uma expectativa. O erro de Serra foi o mesmo, ter-se equivocado com o adversário, como todo o PSDB, e não haver se preparado para sustentar a vantagem e fazer a disputa com um presidente do tipo Lula. Precisaria ser uma obra coletiva. Que até, numa análise a posteriori, não teria como evitar muitos problemas, mas teria instrumentalizado melhor os contendores para enfrentá-los.
O PSDB foi ao longo de todo o processo, e ainda é, um poço de dúvidas. As eleições prévias que, vê-se hoje, seriam importantes para o partido, ninguém as quis. Nem Aécio Neves que, se realmente as quisesse, teriam existido. Mas ele tinha dúvidas sobre seu desempenho. Ninguém quis ser o anti-Lula. Acreditavam que, não sendo Lula o candidato, ele atuaria com os limites da Presidência, uma prova de desconhecimento do adversário. Serra entrou numa eleição cuja extrema dificuldade, quase uma impossibilidade, só foi percebida em toda a sua crueza quando se viu que o trabalho para enfrentá-la teria que ter começado oito anos antes.
É Lula que está em jogo. Um Lula destemido, desafiador da Justiça, personalista e possuído por poderes divinais. Quem diz que Serra é culpado não é inocente, e precisa urgentemente trabalhar com a realidade. O que houve até agora foi acerto de Lula com seu eleitorado.
Paulo Roberto de Almeida
Disputa desigual traz Estado contra Serra
Rosângela Bittar
Valor Econômico, 15/09/2010
A moda, agora, na campanha eleitoral do PSDB, é reviver o esporte que vigorou ao longo do processo de definição da candidatura a presidente do partido, entre novembro do ano passado e fevereiro deste, toda vez que a discussão pendia para o então governador de São Paulo: falar muito mal de José Serra. Políticos importantes da cúpula, os de importância média, aprendizes de feiticeiros, grupos de base eleitoral com influência, até simples simpatizantes atribuem a Serra a culpa pelas dificuldades que todos enfrentam na campanha.
Seria de sua única responsabilidade não crescer nas intenções de voto, ser o seu próprio marqueteiro, não ouvir o comando político, permitir a virada nos Estados, ter se imposto ao ex-governador de Minas - sim, esta também voltou - e, a mais recente, ter tido um desempenho fraco no debate eleitoral. Serra estaria, também, tenso, nervoso, preocupado, indormido.
Bem, em Brasília, segunda-feira, ao longo de uma reunião com a Ordem dos Advogados do Brasil para debater a reforma política, e depois do encontro, José Serra estava absolutamente tranquilo, seguro, cordial, expondo com uma clareza impressionante suas reflexões sobre o tema e, nelas, os riscos que a atual campanha eleitoral tem representado ao Estado de Direito, à Democracia.
Vendo-o em ação, não é possível identificá-lo com o personagem de todas as culpas. Seriam os que o acusam inocentes? Aécio Neves, Tasso Jereissati, Sérgio Guerra, Arthur Virgílio, Álvaro Dias, líderes em geral, qualquer um dos políticos do PSDB que, ao longo dos últimos oito anos, não se encontraram com o exercício da oposição, não souberam definir seus adversários políticos nem criar antídotos aos efeitos monumentais da propaganda, são culpados do que ocorre hoje. E Serra inclusive.
Numa campanha como a de 2010, desde já candidata a ser objeto de aprofundados estudos políticos e, bastante necessários, também jurídicos, dificilmente um outro candidato de oposição, qualquer um, lograria desempenho diferente.
Serra não tem dado sinais de desânimo com as críticas internas e toca a etapa final da campanha exibindo confiança em levá-la ao segundo turno. Em segundo lugar nas intenções de voto para Presidente da República, parece consciente de que está cumprindo um papel histórico.
Serra não está questionando o fato de a candidata do PT, Dilma Rousseff, sua principal adversária, estar muito à frente nas intenções de voto, posição que já ele próprio teve em outro momento da campanha. O recado que chega da sua atual pregação é que está lutando não pelo projeto de seu partido contra o projeto do partido adversário, mas contra um Estado inteiro, capturado por um grupo político cujo líder, o presidente da República, governa para aliados eleitorais.
O Estado está a serviço do terceiro mandato que o presidente Lula ficou impedido constitucionalmente de disputar, mas deu um jeito, construindo agora a ponte para a possibilidade legal de disputar com seu próprio nome, mais adiante, o quarto e o quinto. Não são, portanto, três mandatos, mas cinco, o período pleiteado pelos adversários para o qual a oposição teria que ter se preparado para enfrentar.
Por mais que tivesse o chefe da Nação dito que faria tudo - "tudo é tudo", detalharam seus intérpretes - para eleger presidente quem escolheu para ser, sem um contraditório ou interferência partidária, a oposição não poderia ter imaginado que seria como está sendo: O Estado contra um candidato.
Lula criou o poste, jargão eleitoral com que se define um candidato absolutamente desconhecido, implantou-o e iluminou-o. Em dois anos, colocou seu palanque governamental, integralmente, a serviço desse projeto. Inovou, pois nenhum de seus antecessores se despiram da Presidência para eleger o sucessor.
Nenhum grupo político, também, preparou antídoto para essa ação, nem se sabe se ela existe na crônica eleitoral.
Até aliados jamais ousaram contraditar ou sugerir acréscimos. É obra de um homem só: da transgressão à lei à defesa de extermínio de partido adversário, da impunidade a aliados ao capricho de nominar o próximo alvo.
O presidente Lula nada está fazendo que não tenha feito nos seus oito anos de mandato, mas a oposição, não se sabe por quê, achou que seria diferente. Frustrada agora em suas expectativas, responsabiliza Serra. Não pela perda da disputa, pois ainda não a perdeu e há institutos de pesquisa com credibilidade que ainda apontam possibilidade técnica de a disputa ir ao segundo turno. Mas pelas dificuldades, sendo que boa parte delas decorre do próprio pessimismo.
Esses políticos estão surpresos com a frustração de uma expectativa. O erro de Serra foi o mesmo, ter-se equivocado com o adversário, como todo o PSDB, e não haver se preparado para sustentar a vantagem e fazer a disputa com um presidente do tipo Lula. Precisaria ser uma obra coletiva. Que até, numa análise a posteriori, não teria como evitar muitos problemas, mas teria instrumentalizado melhor os contendores para enfrentá-los.
O PSDB foi ao longo de todo o processo, e ainda é, um poço de dúvidas. As eleições prévias que, vê-se hoje, seriam importantes para o partido, ninguém as quis. Nem Aécio Neves que, se realmente as quisesse, teriam existido. Mas ele tinha dúvidas sobre seu desempenho. Ninguém quis ser o anti-Lula. Acreditavam que, não sendo Lula o candidato, ele atuaria com os limites da Presidência, uma prova de desconhecimento do adversário. Serra entrou numa eleição cuja extrema dificuldade, quase uma impossibilidade, só foi percebida em toda a sua crueza quando se viu que o trabalho para enfrentá-la teria que ter começado oito anos antes.
É Lula que está em jogo. Um Lula destemido, desafiador da Justiça, personalista e possuído por poderes divinais. Quem diz que Serra é culpado não é inocente, e precisa urgentemente trabalhar com a realidade. O que houve até agora foi acerto de Lula com seu eleitorado.
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terça-feira, 14 de setembro de 2010
Fazendo campanha com odio
'Precisamos extirpar o DEM da política brasileira', afirma Lula
G1, São Paulo, 13.09.2010
Em comício da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, na noite desta segunda-feira (13), em Joinville (SC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o partido de oposição DEM seja "extirpado" da política brasileira.
Em discurso marcado por críticas à sigla opositora e aos adversários do PT em Santa Catarina, Lula disse que o Democratas "alimenta ódio".
"Eu não quero crer que esse povo extraordinário de Santa Catarina vá pensar em colocar no governo alguém de um partido que alimenta ódio, que entrou na Justiça para acabar com o ProUni [programa federal de concessão de bolsas universitárias], como o DEM entrou", disse Lula.
Segundo última pesquisa do Ibope, o candidato do DEM ao governo de SC, Raimundo Colombo, assumiu a liderança na disputa. Colombo tem o apoio do PSDB e do PMDB do ex-governador Luiz Henrique, apoiado por Lula em 2006 e que hoje disputa vaga no Senado.
"Quando Luiz Henrique foi eleito pensei que ele ia mudar, mas ele trouxe de volta o DEM, que nós precisamos extirpar da política brasileira", disse o presidente.
Em discurso, o presidente também centrou fogo na família Bornhausen, tradicional na política catarinense, do deputado federal Paulo Bornhausen (DEM-SC) e do ex-presidente nacional do partido Jorge Bornhausen.
"Nós já aprendemos demais e sabemos que os Bornhausen não podem vir disfarçados de carneiros, porque já sabemos quem são os Bornhausen, já conhecemos as histórias deles", disse Lula.
Lula critica 'direita raivosa'
Em referência ao escândalo do mensalão, Lula disse ter sido alvo da "direita raivosa" que "levou Getúlio Vargas a dar um tiro no coração" e também impulsionou a ditadura militar no país.
"Essa mesma direita tentou fazer o mesmo comigo em 2005, e não fez. Porque eu tinha um ingrediente a mais, eu tinha vocês, e eles nunca tinham lidado com um presidente da República que tinha nascido no berço da classe operaria desse pais", afirmou.
O presidente citou números de repasses federais a Santa Catarina e disse ter atitude "republicana" em relação a governantes de oposição. Fez menção ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ao afirmar que não distribui verbas por critérios partidários.
"O adversário dessa mulher aqui [Dilma] recebeu mais dinheiro no meu governo do que o Mário Covas [ex-governador de SP] recebeu em oito anos quando o Fernando Henrique Cardoso era do mesmo partido e presidia esse país", disse.
Dilma diz que adversários representam 'passado'
Usando um banco para se apoiar no palco, em razão de uma torção de tornzelo que a levou a usar bota ortopédica, Dilma associou seus adversários ao "passado".
"Queremos o futuro que apresenta para nós a possibilidade desse pais acabar de vez com a miséria, de contnuar se transformando em uma das maiores nações do mundo [...], ou nós queremos a volta da paralisia, do desemprego e da desigualdade?", questionou.
Dilma disse que o Brasil vive um "processo de transformação" que "começou pela mão do nosso presidente Lula". Repetiu discurso estratégico da campanha ao dizer ter recebido do presidente a tarefa de "cuidar da coisa que ele mais ama no mundo, que é o povo brasileiro".
Nos discursos, presidente e candidata não fizeram menção aos episódios de quebras de sigilo na Receita Federal e à denúncia de tráfico de influência na Casa Civil.
Presidente do DEM vê 'desequilíbrio' de Lula
O presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, disse que as declarações de Lula denotam "desequilíbrio" do presidente. Afirmou que Lula "se aproveita de sua popularidade para agredir, tentar pisar em seus adversários", e que o presidente "deve estar com algum problema em relação aos últimos episódios [denúncias de irregularidades na Receita e na Casa Civil]".
Maia afirmou ainda que o presidente busca um "Congresso submisso ao PT" e que o discurso em Santa Catarina reflete "ódio pessoal que não sabe em um estadista, um homem que chegou onde ele chegou".
Presidente completa 15 comícios com Dilma
O comício em Joinville foi o 15º com participação de Dilma e Lula desde o início oficial da corrida presidencial, em julho, e o primeiro em Santa Catarina, estado em que a candidata do PT ao governo, Ideli Salvatti, está em terceiro lugar nas pesquisas.
Lula também já subiu em palanques com Dilma nesta campanha no Rio de Janeiro (RJ), Garanhuns (PE), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Osasco (SP), Mauá (SP), São Bernardo do Campo (SP), Campo Grande (MS), Salvador (BA), Recife (PE), Foz do Iguaçu (PR), Valparaíso (GO) e Betim (MG).
G1, São Paulo, 13.09.2010
Em comício da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, na noite desta segunda-feira (13), em Joinville (SC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o partido de oposição DEM seja "extirpado" da política brasileira.
Em discurso marcado por críticas à sigla opositora e aos adversários do PT em Santa Catarina, Lula disse que o Democratas "alimenta ódio".
"Eu não quero crer que esse povo extraordinário de Santa Catarina vá pensar em colocar no governo alguém de um partido que alimenta ódio, que entrou na Justiça para acabar com o ProUni [programa federal de concessão de bolsas universitárias], como o DEM entrou", disse Lula.
Segundo última pesquisa do Ibope, o candidato do DEM ao governo de SC, Raimundo Colombo, assumiu a liderança na disputa. Colombo tem o apoio do PSDB e do PMDB do ex-governador Luiz Henrique, apoiado por Lula em 2006 e que hoje disputa vaga no Senado.
"Quando Luiz Henrique foi eleito pensei que ele ia mudar, mas ele trouxe de volta o DEM, que nós precisamos extirpar da política brasileira", disse o presidente.
Em discurso, o presidente também centrou fogo na família Bornhausen, tradicional na política catarinense, do deputado federal Paulo Bornhausen (DEM-SC) e do ex-presidente nacional do partido Jorge Bornhausen.
"Nós já aprendemos demais e sabemos que os Bornhausen não podem vir disfarçados de carneiros, porque já sabemos quem são os Bornhausen, já conhecemos as histórias deles", disse Lula.
Lula critica 'direita raivosa'
Em referência ao escândalo do mensalão, Lula disse ter sido alvo da "direita raivosa" que "levou Getúlio Vargas a dar um tiro no coração" e também impulsionou a ditadura militar no país.
"Essa mesma direita tentou fazer o mesmo comigo em 2005, e não fez. Porque eu tinha um ingrediente a mais, eu tinha vocês, e eles nunca tinham lidado com um presidente da República que tinha nascido no berço da classe operaria desse pais", afirmou.
O presidente citou números de repasses federais a Santa Catarina e disse ter atitude "republicana" em relação a governantes de oposição. Fez menção ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ao afirmar que não distribui verbas por critérios partidários.
"O adversário dessa mulher aqui [Dilma] recebeu mais dinheiro no meu governo do que o Mário Covas [ex-governador de SP] recebeu em oito anos quando o Fernando Henrique Cardoso era do mesmo partido e presidia esse país", disse.
Dilma diz que adversários representam 'passado'
Usando um banco para se apoiar no palco, em razão de uma torção de tornzelo que a levou a usar bota ortopédica, Dilma associou seus adversários ao "passado".
"Queremos o futuro que apresenta para nós a possibilidade desse pais acabar de vez com a miséria, de contnuar se transformando em uma das maiores nações do mundo [...], ou nós queremos a volta da paralisia, do desemprego e da desigualdade?", questionou.
Dilma disse que o Brasil vive um "processo de transformação" que "começou pela mão do nosso presidente Lula". Repetiu discurso estratégico da campanha ao dizer ter recebido do presidente a tarefa de "cuidar da coisa que ele mais ama no mundo, que é o povo brasileiro".
Nos discursos, presidente e candidata não fizeram menção aos episódios de quebras de sigilo na Receita Federal e à denúncia de tráfico de influência na Casa Civil.
Presidente do DEM vê 'desequilíbrio' de Lula
O presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, disse que as declarações de Lula denotam "desequilíbrio" do presidente. Afirmou que Lula "se aproveita de sua popularidade para agredir, tentar pisar em seus adversários", e que o presidente "deve estar com algum problema em relação aos últimos episódios [denúncias de irregularidades na Receita e na Casa Civil]".
Maia afirmou ainda que o presidente busca um "Congresso submisso ao PT" e que o discurso em Santa Catarina reflete "ódio pessoal que não sabe em um estadista, um homem que chegou onde ele chegou".
Presidente completa 15 comícios com Dilma
O comício em Joinville foi o 15º com participação de Dilma e Lula desde o início oficial da corrida presidencial, em julho, e o primeiro em Santa Catarina, estado em que a candidata do PT ao governo, Ideli Salvatti, está em terceiro lugar nas pesquisas.
Lula também já subiu em palanques com Dilma nesta campanha no Rio de Janeiro (RJ), Garanhuns (PE), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Osasco (SP), Mauá (SP), São Bernardo do Campo (SP), Campo Grande (MS), Salvador (BA), Recife (PE), Foz do Iguaçu (PR), Valparaíso (GO) e Betim (MG).
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domingo, 12 de setembro de 2010
Fugindo do Debate: as perguntas não respondidas pela candidata oficial
Perguntas que Dilma deixou sem resposta
O Globo, sábado, 11 de setembro de 2010
Ao se recusar a debater com leitores e colunistas do GLOBO, a candidata do PT, Dilma Rousseff, deixou sem resposta perguntas como as duas abaixo:
Verissimo: Se eleita, qual será seu primeiro gesto, aquele ato de impacto que costuma inaugurar governos? Ou não haverá nada disso?
Ricardo Noblat: Se Lula não a tivesse escolhido, a senhora cogitava ser candidata a qualquer outra coisa?
O que Dilma não respondeu
Perguntas que colunistas do GLOBO fariam para a petista, que se recusou a debater
Ancelmo Gois:
Eu gostaria de repetir a pergunta que fiz a Lula, então candidato em 2002, até porque, em que pesem as promessas do atual presidente, de lá para cá o problema se agravou ainda mais. Por que acreditar que, com a senhora na Presidência, o problema da violência poderia ser atenuado?
Merval Pereira:
Candidata, a senhora vem sofrendo uma transformação radical, à vista de todos, tanto na fisionomia quanto na ideologia. Qual é a verdadeira Dilma, a gerentona do governo, que já colocou muitos ministros a chorar depois de discussões, ou a mãe gentil do povo brasileiro? A que coloca o chapéu do MST e diz que não trata dos movimentos sociais na base da polícia, ou a que diz que não convém colocar o chapéu do MST e que não tolerará ilegalidades? A que se orgulha de ter participado da luta armada contra a ditadura e foi saudada por José Dirceu como "minha companheira em armas" ou a que nega ter pegado em armas contra a ditadura? A que classificou de "rudimentar" a proposta do então ministro Antônio Palocci de limitar os gastos do governo, ou a que defende o corte de gastos e tem o mesmo Antônio Palocci como coordenador de sua campanha?
Ilimar Franco:
A necessidade de uma reforma política é recorrente no discurso de todos os partidos. Os presidentes da República falam de sua necessidade, mas nenhum deles assumiu a responsabilidade de levá-la adiante. Nas gestões do presidente Lula, a Câmara esteve próxima de aprovar uma reforma que previa a votação em lista fechada para a Câmara dos Deputados e o financiamento público das campanhas. Se a senhora for eleita presidente da República, pretende trabalhar pela votação de uma reforma política? A senhora é favorável, ou não, ao voto em lista? A senhora é favorável, ou não, ao financiamento
público?
Ricardo Noblat:
Se Lula não a tivesse escolhido para ser candidata à sucessão dele, a senhora cogitava ser candidata a qualquer outra coisa? Caso seja eleita e Lula queira voltar em 2014, a senhora abrirá mão da reeleição?
Jorge Bastos Moreno:
Qual a sua verdadeira posição em relação ao sistema de partilha do pré-sal, já que, como integrante do governo, a senhora não foi tão enfática?
Elio Gaspari:
No campo político a senhora defende a introdução do voto de lista. Vamos ser claros: desde 1946 o eleitor brasileiro votou em candidato para a Câmara dos Deputados, indicando-o nominalmente. Por exemplo: o eleitor quer votar em Dilma Rousseff para deputado e vota em Dilma Rousseff. Como funcionará isso no seu sistema de lista? O eleitor votará no partido, digamos o PTB, presidido por Roberto Jefferson, e qual será a ordem de entrada dos candidatos? A da vontade da direção do PTB ou de qualquer outro partido que organizou a lista?
Zuenir Ventura:
A senhora disse que a oposição está com medo de que uma mulher dê certo na Presidência. A senhora já se considera eleita? Não é cedo para cantar vitória?
Verissimo:
Se eleita, qual será o seu primeiro gesto, aquele ato de impacto que costuma inaugurar governos? Ou não haverá nada disso?
Chico Caruso:
Como pretende conviver com caricaturas e caricaturistas, se for eleita?
Míriam Leitão:
O governo tem banalizado o crime de quebra de sigilo fiscal dos líderes da oposição e familiares do candidato José Serra com frases espantosas. O ministro da Fazenda disse que vazamentos sempre acontecem; o presidente Lula perguntou num comício "cadê esse tal de sigilo?"; a senhora declarou que falar disso é desespero e jogo eleitoral da oposição. Tente imaginar a situação inversa: os dados da sua filha sendo espionados no órgão que deve zelar pela proteção constitucional do sigilo. O que a senhora sentiria? A senhora considera normal que órgãos do Estado sejam usados para espionar adversários políticos?
Flávia Oliveira:
Uma das primeiras medidas do governo Lula na área econômica foi a elevação dos juros básicos para controlar uma inflação crescente em 2002/2003. O resultado foi um primeiro ano de governo com PIB estagnado. Que medidas fiscais e monetárias a senhora pretende adotar no início do seu mandato para manter o Brasil com crescimento econômico e baixa inflação?
Fernando Calazans:
A senhora disse que, se eleita, estenderia a mão para os adversários. A mão ainda pode ser estendida? É possível ou impossível um entendimento, no governo, com o PSDB? Por quê?
Artur Xexéo:
Uma das áreas mais polêmicas do atual governo, a administrada pelo Ministério da Cultura, não recebeu até agora uma só menção no seu programa do horário eleitoral. Caso ganhe as eleições, quais são as suas prioridades na área da cultura?
Joaquim Ferreira dos Santos:
O presidente Lula praticamente não esteve presente a eventos de cultura, como uma peça de teatro, um concerto de clássicos ou música popular. A senhora também não tem sido vista em plateias de cultura. Qual a sua relação pessoal com os hábitos culturais?
Cora Rónai:
A senhora tem sido apresentada, na sua campanha, como um duplo do presidente Lula, "Lula e Dilma", como se ambos tivessem governado o país juntos ao longo dos últimos anos. Caso venha a ser eleita, a parceria continua? Teremos "Dilma e Lula" no poder?
Arnaldo Jabor:
Se a senhora for eleita, vai seguir a trilha do Lula, mais conciliadora, ou vai dar ouvidos às ordens de petistas de carteirinha como Dirceu, Berzoini e outros?
Arnaldo Bloch:
O maestro John Neschling disse que teve um encontro com a senhora e ficou impressionado com seu conhecimento das óperas russas, a ponto de cantar árias inteiras. Como a senhora vê, em contrapartida, a situação da cultura brasileira, completamente ausente do debate eleitoral?
O Globo, sábado, 11 de setembro de 2010
Ao se recusar a debater com leitores e colunistas do GLOBO, a candidata do PT, Dilma Rousseff, deixou sem resposta perguntas como as duas abaixo:
Verissimo: Se eleita, qual será seu primeiro gesto, aquele ato de impacto que costuma inaugurar governos? Ou não haverá nada disso?
Ricardo Noblat: Se Lula não a tivesse escolhido, a senhora cogitava ser candidata a qualquer outra coisa?
O que Dilma não respondeu
Perguntas que colunistas do GLOBO fariam para a petista, que se recusou a debater
Ancelmo Gois:
Eu gostaria de repetir a pergunta que fiz a Lula, então candidato em 2002, até porque, em que pesem as promessas do atual presidente, de lá para cá o problema se agravou ainda mais. Por que acreditar que, com a senhora na Presidência, o problema da violência poderia ser atenuado?
Merval Pereira:
Candidata, a senhora vem sofrendo uma transformação radical, à vista de todos, tanto na fisionomia quanto na ideologia. Qual é a verdadeira Dilma, a gerentona do governo, que já colocou muitos ministros a chorar depois de discussões, ou a mãe gentil do povo brasileiro? A que coloca o chapéu do MST e diz que não trata dos movimentos sociais na base da polícia, ou a que diz que não convém colocar o chapéu do MST e que não tolerará ilegalidades? A que se orgulha de ter participado da luta armada contra a ditadura e foi saudada por José Dirceu como "minha companheira em armas" ou a que nega ter pegado em armas contra a ditadura? A que classificou de "rudimentar" a proposta do então ministro Antônio Palocci de limitar os gastos do governo, ou a que defende o corte de gastos e tem o mesmo Antônio Palocci como coordenador de sua campanha?
Ilimar Franco:
A necessidade de uma reforma política é recorrente no discurso de todos os partidos. Os presidentes da República falam de sua necessidade, mas nenhum deles assumiu a responsabilidade de levá-la adiante. Nas gestões do presidente Lula, a Câmara esteve próxima de aprovar uma reforma que previa a votação em lista fechada para a Câmara dos Deputados e o financiamento público das campanhas. Se a senhora for eleita presidente da República, pretende trabalhar pela votação de uma reforma política? A senhora é favorável, ou não, ao voto em lista? A senhora é favorável, ou não, ao financiamento
público?
Ricardo Noblat:
Se Lula não a tivesse escolhido para ser candidata à sucessão dele, a senhora cogitava ser candidata a qualquer outra coisa? Caso seja eleita e Lula queira voltar em 2014, a senhora abrirá mão da reeleição?
Jorge Bastos Moreno:
Qual a sua verdadeira posição em relação ao sistema de partilha do pré-sal, já que, como integrante do governo, a senhora não foi tão enfática?
Elio Gaspari:
No campo político a senhora defende a introdução do voto de lista. Vamos ser claros: desde 1946 o eleitor brasileiro votou em candidato para a Câmara dos Deputados, indicando-o nominalmente. Por exemplo: o eleitor quer votar em Dilma Rousseff para deputado e vota em Dilma Rousseff. Como funcionará isso no seu sistema de lista? O eleitor votará no partido, digamos o PTB, presidido por Roberto Jefferson, e qual será a ordem de entrada dos candidatos? A da vontade da direção do PTB ou de qualquer outro partido que organizou a lista?
Zuenir Ventura:
A senhora disse que a oposição está com medo de que uma mulher dê certo na Presidência. A senhora já se considera eleita? Não é cedo para cantar vitória?
Verissimo:
Se eleita, qual será o seu primeiro gesto, aquele ato de impacto que costuma inaugurar governos? Ou não haverá nada disso?
Chico Caruso:
Como pretende conviver com caricaturas e caricaturistas, se for eleita?
Míriam Leitão:
O governo tem banalizado o crime de quebra de sigilo fiscal dos líderes da oposição e familiares do candidato José Serra com frases espantosas. O ministro da Fazenda disse que vazamentos sempre acontecem; o presidente Lula perguntou num comício "cadê esse tal de sigilo?"; a senhora declarou que falar disso é desespero e jogo eleitoral da oposição. Tente imaginar a situação inversa: os dados da sua filha sendo espionados no órgão que deve zelar pela proteção constitucional do sigilo. O que a senhora sentiria? A senhora considera normal que órgãos do Estado sejam usados para espionar adversários políticos?
Flávia Oliveira:
Uma das primeiras medidas do governo Lula na área econômica foi a elevação dos juros básicos para controlar uma inflação crescente em 2002/2003. O resultado foi um primeiro ano de governo com PIB estagnado. Que medidas fiscais e monetárias a senhora pretende adotar no início do seu mandato para manter o Brasil com crescimento econômico e baixa inflação?
Fernando Calazans:
A senhora disse que, se eleita, estenderia a mão para os adversários. A mão ainda pode ser estendida? É possível ou impossível um entendimento, no governo, com o PSDB? Por quê?
Artur Xexéo:
Uma das áreas mais polêmicas do atual governo, a administrada pelo Ministério da Cultura, não recebeu até agora uma só menção no seu programa do horário eleitoral. Caso ganhe as eleições, quais são as suas prioridades na área da cultura?
Joaquim Ferreira dos Santos:
O presidente Lula praticamente não esteve presente a eventos de cultura, como uma peça de teatro, um concerto de clássicos ou música popular. A senhora também não tem sido vista em plateias de cultura. Qual a sua relação pessoal com os hábitos culturais?
Cora Rónai:
A senhora tem sido apresentada, na sua campanha, como um duplo do presidente Lula, "Lula e Dilma", como se ambos tivessem governado o país juntos ao longo dos últimos anos. Caso venha a ser eleita, a parceria continua? Teremos "Dilma e Lula" no poder?
Arnaldo Jabor:
Se a senhora for eleita, vai seguir a trilha do Lula, mais conciliadora, ou vai dar ouvidos às ordens de petistas de carteirinha como Dirceu, Berzoini e outros?
Arnaldo Bloch:
O maestro John Neschling disse que teve um encontro com a senhora e ficou impressionado com seu conhecimento das óperas russas, a ponto de cantar árias inteiras. Como a senhora vê, em contrapartida, a situação da cultura brasileira, completamente ausente do debate eleitoral?
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sábado, 11 de setembro de 2010
Pesquisas: fiabilidade em jogo
Encarregado do Ibope pediu R$ 1 milhão para fraudar pesquisa, diz senador
Da Agência Senado, 11.09.2010
Meu comentário: a verdade sobre estes institutos de pesquisa de opinião está vindo à tona bem antes do esperado!
O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) classificou como "criminoso" e "preocupante" o objeto da denúncia feita pelo senador Papaléo Paes (PSDB-AP). Papaléo afirmou que um encarregado do Ibope teria oferecido a manipulação do resultado das pesquisas ao coordenador de campanha de um dos candidatos ao governo do Amapá. A fraude custaria R$ 1 milhão e abrangeria todas as pesquisas até o segundo turno. A oferta foi gravada.
"O senador Papaléo Paes ligou para o Dr. Montenegro, que é o dono do Ibope. O Dr. Montenegro disse que era uma empresa terceirizada que eles contratavam em Belém para fazer a pesquisa no Amapá. Essas pesquisas agora começam a me deixar, digamos assim, completamente incrédulo. Ora, se isso acontece no Amapá, o que não estará acontecendo, por exemplo, em Roraima?", questionou Morazildo, na última quinta-feira, dia 2, da tribuna do Senado.
O senador observou que em Roraima o Ibope também apresentou pesquisas "um pouco preocupantes". Ele lembrou que na campanha eleitoral de 2006, as pesquisas do Ibope sempre apresentavam sua adversária na frente. Somente às vésperas da eleição, ela apresentou uma leve vantagem sobre Mozarildo, que venceu a eleição com 13% de vantagem.
Mozarildo disse que chegou à conclusão de que a pesquisa de Roraima é manipulada, pois, de repente, o atual governador, que sempre esteve atrás nas pesquisas, apareceu na penúltima pesquisa com empate numérico (41% a 41%) e na pesquisa mais recente, já aparece com 6 pontos à frente do adversário. Ele fez um apelo a Montenegro que dê explicações sobre o caso, porque as pesquisas têm uma influência muito grande sobre o eleitor indeciso.
O senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) disse que na Paraíba não é diferente. Para ele, o problema está na terceirização porque não existe co-responsabilidade e as discrepâncias só aumentam. Ele defendeu o aprimoramento da veracidade dos institutos de pesquisa. O senador Augusto Botelho (sem partido-RR) lembrou que, durante a campanha eleitoral, os seus eleitores reclamaram que o seu nome não aparecia nos formulários dos pesquisadores do Ibope.
Vespeiro
Mozarildo também reiterou denúncias feitas sobre o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, em relação a estradas, dívidas e o uso irregular do avião do governo do estado. Segundo o senador, o governador estaria utilizando o avião para viagens particulares de lazer. Ele disse que, nos próximos dias, apresentará uma lista completa dos vôos realizados pelo governador, fornecida pela Infraero, e pedirá uma investigação.
"O nosso estado está se transformando nesse esquema em que uma quadrilha quer dominar tudo, a política, alguns setores de empresas e, ao mesmo tempo, ameaçar quem ouse se contrapuser a ele. Coincidentemente, ontem o meu escritório recebeu dois telefonemas de pessoas, que não se identificaram, dizendo que eu me cuidasse, porque eu estava mexendo em um vespeiro", assinalou.
O senador solicitou ao Senado que lhe fornecesse o serviço de segurança durante a campanha eleitoral em Roraima.
Da Agência Senado, 11.09.2010
Meu comentário: a verdade sobre estes institutos de pesquisa de opinião está vindo à tona bem antes do esperado!
O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) classificou como "criminoso" e "preocupante" o objeto da denúncia feita pelo senador Papaléo Paes (PSDB-AP). Papaléo afirmou que um encarregado do Ibope teria oferecido a manipulação do resultado das pesquisas ao coordenador de campanha de um dos candidatos ao governo do Amapá. A fraude custaria R$ 1 milhão e abrangeria todas as pesquisas até o segundo turno. A oferta foi gravada.
"O senador Papaléo Paes ligou para o Dr. Montenegro, que é o dono do Ibope. O Dr. Montenegro disse que era uma empresa terceirizada que eles contratavam em Belém para fazer a pesquisa no Amapá. Essas pesquisas agora começam a me deixar, digamos assim, completamente incrédulo. Ora, se isso acontece no Amapá, o que não estará acontecendo, por exemplo, em Roraima?", questionou Morazildo, na última quinta-feira, dia 2, da tribuna do Senado.
O senador observou que em Roraima o Ibope também apresentou pesquisas "um pouco preocupantes". Ele lembrou que na campanha eleitoral de 2006, as pesquisas do Ibope sempre apresentavam sua adversária na frente. Somente às vésperas da eleição, ela apresentou uma leve vantagem sobre Mozarildo, que venceu a eleição com 13% de vantagem.
Mozarildo disse que chegou à conclusão de que a pesquisa de Roraima é manipulada, pois, de repente, o atual governador, que sempre esteve atrás nas pesquisas, apareceu na penúltima pesquisa com empate numérico (41% a 41%) e na pesquisa mais recente, já aparece com 6 pontos à frente do adversário. Ele fez um apelo a Montenegro que dê explicações sobre o caso, porque as pesquisas têm uma influência muito grande sobre o eleitor indeciso.
O senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) disse que na Paraíba não é diferente. Para ele, o problema está na terceirização porque não existe co-responsabilidade e as discrepâncias só aumentam. Ele defendeu o aprimoramento da veracidade dos institutos de pesquisa. O senador Augusto Botelho (sem partido-RR) lembrou que, durante a campanha eleitoral, os seus eleitores reclamaram que o seu nome não aparecia nos formulários dos pesquisadores do Ibope.
Vespeiro
Mozarildo também reiterou denúncias feitas sobre o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, em relação a estradas, dívidas e o uso irregular do avião do governo do estado. Segundo o senador, o governador estaria utilizando o avião para viagens particulares de lazer. Ele disse que, nos próximos dias, apresentará uma lista completa dos vôos realizados pelo governador, fornecida pela Infraero, e pedirá uma investigação.
"O nosso estado está se transformando nesse esquema em que uma quadrilha quer dominar tudo, a política, alguns setores de empresas e, ao mesmo tempo, ameaçar quem ouse se contrapuser a ele. Coincidentemente, ontem o meu escritório recebeu dois telefonemas de pessoas, que não se identificaram, dizendo que eu me cuidasse, porque eu estava mexendo em um vespeiro", assinalou.
O senador solicitou ao Senado que lhe fornecesse o serviço de segurança durante a campanha eleitoral em Roraima.
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Ilegalidades eleitorais: dinheiro publico na campanha da candidata oficial
Em qualquer país normal, esse tipo de imoralidade e de crime eleitoral já teria sido sancionado pela legislação e pelos órgãos de controle.
Mundo em Português
Dinheiro público paga apoio a Dilma
Domingos Grilo Serrinha, Correspondente Brasil
Correio da Manhã, 06 Setembro 2010
O dinheiro dos contribuintes brasileiros está a ser indirectamente usado no apoio à candidata governamental à sucessão de Lula, Dilma Rousseff. Ministros, assessores e funcionários do governo, além do próprio Lula da Silva, têm feito combinar a sua agenda de deslocações oficiais com a agenda de campanha de Dilma, para reforçarem o apoio à candidata em vários estados e municípios.
Só o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já fez mais de 40 viagens em três meses, visitando várias regiões do Brasil na mesma altura em que Dilma ali faria comícios ou visitas. Para dar um aspecto de legalidade a essas deslocações, já que a lei eleitoral não permite o uso da máquina e do dinheiro público na campanha eleitoral, a estratégia tem sido usar reuniões ou acções ligadas ao PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, e ao CDES, Conselho de Desenvolvimento Económico e Social.
Com estes pretextos, Padilha e outros ministros viajam de cidade em cidade, reunindo-se com autarcas, empresários e outras forças locais, realçando as obras feitas pelo governo Lula na região e discutindo uma agenda de novas obras e benefícios a serem implementados pelo futuro governo, supostamente comandado por Dilma, que lidera as sondagens com larga vantagem. Como se trata de deslocações oficiais, tudo isto é pago com verbas do erário público, ou seja, do contribuinte.
Segundo o ‘Globo’, a coordenação das viagens dos ministros de acordo com a agenda de Dilma é feita por uma equipa instalada no quarto andar do Palácio do Planalto, a sede da presidência, em Brasília. Mesmo com a preocupação de dar um aspecto legal a essas viagens, o próprio Padilha tem dado umas "escorregadelas", informando no seu Twitter durante deslocações oficiais que aproveitou a viagem para se encontrar com políticos que apoiam Dilma.
Mundo em Português
Dinheiro público paga apoio a Dilma
Domingos Grilo Serrinha, Correspondente Brasil
Correio da Manhã, 06 Setembro 2010
O dinheiro dos contribuintes brasileiros está a ser indirectamente usado no apoio à candidata governamental à sucessão de Lula, Dilma Rousseff. Ministros, assessores e funcionários do governo, além do próprio Lula da Silva, têm feito combinar a sua agenda de deslocações oficiais com a agenda de campanha de Dilma, para reforçarem o apoio à candidata em vários estados e municípios.
Só o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já fez mais de 40 viagens em três meses, visitando várias regiões do Brasil na mesma altura em que Dilma ali faria comícios ou visitas. Para dar um aspecto de legalidade a essas deslocações, já que a lei eleitoral não permite o uso da máquina e do dinheiro público na campanha eleitoral, a estratégia tem sido usar reuniões ou acções ligadas ao PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, e ao CDES, Conselho de Desenvolvimento Económico e Social.
Com estes pretextos, Padilha e outros ministros viajam de cidade em cidade, reunindo-se com autarcas, empresários e outras forças locais, realçando as obras feitas pelo governo Lula na região e discutindo uma agenda de novas obras e benefícios a serem implementados pelo futuro governo, supostamente comandado por Dilma, que lidera as sondagens com larga vantagem. Como se trata de deslocações oficiais, tudo isto é pago com verbas do erário público, ou seja, do contribuinte.
Segundo o ‘Globo’, a coordenação das viagens dos ministros de acordo com a agenda de Dilma é feita por uma equipa instalada no quarto andar do Palácio do Planalto, a sede da presidência, em Brasília. Mesmo com a preocupação de dar um aspecto legal a essas viagens, o próprio Padilha tem dado umas "escorregadelas", informando no seu Twitter durante deslocações oficiais que aproveitou a viagem para se encontrar com políticos que apoiam Dilma.
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O grande coronel da politica brasileira
O MAIOR CORONEL DA HISTÓRIA DO BRASIL
Gustavo Bezerra (link)
Nem José Sarney. Nem Antônio Carlos Magalhães. Nem Odorico Paraguaçu. O maior coronel da política brasileira em todos os tempos chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.
Nenhum outro político encarnou tão perfeitamente as velhas práticas mandonistas dos grotões.
Lula daria farto material para vários livros de Jorge Amado e de Dias Gomes. Ele transformou o coronelismo, que muitos achavam desaparecido, numa forma de arte, uma verdadeira instituição nacional.
Perto de Lula, os antigos oligarcas são meros chefetes de província, simples amadores. Mais que isso: são exemplos de moralidade e espírito republicano.
Assim como os velhos senhores de baraço e cutelo, Lula se gaba de ser popular. E, assim como aqueles, ele baseia sua popularidade numa vasta rede de assistencialismo e numa dedicada clientela, que se sente cada vez mais devedora e se torna cada vez mais estadodependente. Só que em escala federal.
De certa forma, voltamos à República Velha.
Sob Lula e o PT, as práticas coronelísticas foram ampliadas, atingindo um patamar muito mais elevado de sofisticação. Os coronéis dos grotões tinham/têm como principal arma eleitoral cestas básicas e dentaduras. Lula e o PT têm o Bolsa-Família, a reedição do voto de cabresto.
Não é por acaso que Luiz Inácio se sente tão à vontade ao lado de figuras como Fernando Collor, Sarney e Jader Barbalho, que antes deplorava e cujo palanque hoje partilha sem o menor constrangimento.
É que uma prática comum entre os maiorais do sertão é a troca de farpas, ou tiros, para depois se reconciliarem e partilharem o poder, numa grande e alegre festa regada a muito forró, cachaça e buchada de bode.
À semelhança dos coronéis do interior, Lula também possui à sua disposição um exército leal de jagunços (ou melhor, de devotos).
Com a diferença de que estes últimos raramente usam armas de fogo. Em vez do bacamarte e da peixeira, suas armas são os mensalões e dossiês fabricados para intimidar adversários.
Assim como os coronéis de outrora mandavam espancar inimigos e empastelar jornais que lhes denunciavam os desmandos, Lula manda seus cabras violarem os sigilos bancários de seus opositores ou maneja a lei para tentar impor malandramente a censura à imprensa, contando, para isso, com o apoio ou a "neutralidade" de jornalistas amestrados.
Se dependesse dos bate-paus do lulo-petismo, o Brasil seria sua fazenda, digo, seu sindicato.
"Deixo em suas mãos o meu povo", é o refrão da música de campanha da petista Dilma Rousseff, a criatura eleitoral de Lula, à Presidência da República (fabricar sucessores é outra característica do coronelismo). A frase é quase cândida em seu elogio desbragado do atraso.
Passa a idéia, de forma inconfundível, de que o povo é propriedade de alguém, no caso, Lula, tanto que ele está agora "deixando" o povo de herança para Dilma, como se deixa em testamento um rebanho de bois ou de bodes.
"Meu povo", aliás, é um interjeição comum aos mandões locais, significando exatamente isso: o povo é dele, literalmente lhe pertence, como suas esporas e seu chicote. E ai do atrevido que tiver o topete de ameaçar-lhe a autoridade ou de empanar-lhe o brilho!
Em outras épocas, o coronel local dizia a "seu" povo em quem ele deveria votar - geralmente, um parente ou amigo. "Vote em Chiquinho da Farmácia: ele é amigo do coronel Totonho". E assim se perpetuava o sistema, com a eleição de testas-de-ferro e nulidades. Hoje, a campanha eleitoral do PT diz: "Vote em Dilma: ela é amiga de Lula".
O nome disso, em bom português, era (é) curral eleitoral. Hoje, o Brasil é um imenso curral eleitoral do lulo-petismo. Dilma é o Chiquinho da Farmácia do coronel Totonho-Lula.
Uma coisa, porém, separa Lula, o megacoronel de hoje, dos provincianos coronéis de antanho: ao contrário destes, Lula não tem diante de si uma oposição de verdade, intransigente e aguerrida. O que há, em vez disso, é um bando de socialites e galinhas-mortas, mais preocupado em posar de bons-moços e em não assustar o eleitorado do que em chamar as coisas pelo nome.
Quando um deles foge à regra, como fez Indio da Costa, é apenas para ser quase linchado pela "tática do medo" e pelo "erro eleitoral". É que jogam no mesmo time ideológico do adversário, daí sua relutância em mirar em Lula: tendo participado também da construção do mito em torno de sua figura, e inclusive fornecido os instrumentos que lhe permitiram chegar aonde está, têm medo de que o tiro ricocheteie e os atinja. Só lhes resta tentar encostar em sua imagem, numa clara confissão de culpa.
Se Dilma Rousseff for eleita presidente da República, como parecem indicar as pesquisas, essa tradição coronelística da política brasileira, preservada e ampliada por Lula, será coroada.
Dilma, aliás, parece reproduzir em tudo o figurino de manda-chuva do sertão, no que segue fielmente, caninamente, os passos do mestre.
Quando não está declarando seu amor a outros caudilhos como Fidel Castro e Hugo Chávez, ou se comparando a Jesus Cristo e a Tiradentes (com desvantagem para estes, claro), sinhozinho Lula gosta de se apresentar como o "pai do povo". Dilma, por tabela, é a "mãe do povo". É outro traço, o paternalismo, inegavelmente coronelístico do lulo-petismo. Desse matrimônio está prestes a ser parida a maior fraude política da História brasileira.
Gustavo Bezerra (link)
Nem José Sarney. Nem Antônio Carlos Magalhães. Nem Odorico Paraguaçu. O maior coronel da política brasileira em todos os tempos chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.
Nenhum outro político encarnou tão perfeitamente as velhas práticas mandonistas dos grotões.
Lula daria farto material para vários livros de Jorge Amado e de Dias Gomes. Ele transformou o coronelismo, que muitos achavam desaparecido, numa forma de arte, uma verdadeira instituição nacional.
Perto de Lula, os antigos oligarcas são meros chefetes de província, simples amadores. Mais que isso: são exemplos de moralidade e espírito republicano.
Assim como os velhos senhores de baraço e cutelo, Lula se gaba de ser popular. E, assim como aqueles, ele baseia sua popularidade numa vasta rede de assistencialismo e numa dedicada clientela, que se sente cada vez mais devedora e se torna cada vez mais estadodependente. Só que em escala federal.
De certa forma, voltamos à República Velha.
Sob Lula e o PT, as práticas coronelísticas foram ampliadas, atingindo um patamar muito mais elevado de sofisticação. Os coronéis dos grotões tinham/têm como principal arma eleitoral cestas básicas e dentaduras. Lula e o PT têm o Bolsa-Família, a reedição do voto de cabresto.
Não é por acaso que Luiz Inácio se sente tão à vontade ao lado de figuras como Fernando Collor, Sarney e Jader Barbalho, que antes deplorava e cujo palanque hoje partilha sem o menor constrangimento.
É que uma prática comum entre os maiorais do sertão é a troca de farpas, ou tiros, para depois se reconciliarem e partilharem o poder, numa grande e alegre festa regada a muito forró, cachaça e buchada de bode.
À semelhança dos coronéis do interior, Lula também possui à sua disposição um exército leal de jagunços (ou melhor, de devotos).
Com a diferença de que estes últimos raramente usam armas de fogo. Em vez do bacamarte e da peixeira, suas armas são os mensalões e dossiês fabricados para intimidar adversários.
Assim como os coronéis de outrora mandavam espancar inimigos e empastelar jornais que lhes denunciavam os desmandos, Lula manda seus cabras violarem os sigilos bancários de seus opositores ou maneja a lei para tentar impor malandramente a censura à imprensa, contando, para isso, com o apoio ou a "neutralidade" de jornalistas amestrados.
Se dependesse dos bate-paus do lulo-petismo, o Brasil seria sua fazenda, digo, seu sindicato.
"Deixo em suas mãos o meu povo", é o refrão da música de campanha da petista Dilma Rousseff, a criatura eleitoral de Lula, à Presidência da República (fabricar sucessores é outra característica do coronelismo). A frase é quase cândida em seu elogio desbragado do atraso.
Passa a idéia, de forma inconfundível, de que o povo é propriedade de alguém, no caso, Lula, tanto que ele está agora "deixando" o povo de herança para Dilma, como se deixa em testamento um rebanho de bois ou de bodes.
"Meu povo", aliás, é um interjeição comum aos mandões locais, significando exatamente isso: o povo é dele, literalmente lhe pertence, como suas esporas e seu chicote. E ai do atrevido que tiver o topete de ameaçar-lhe a autoridade ou de empanar-lhe o brilho!
Em outras épocas, o coronel local dizia a "seu" povo em quem ele deveria votar - geralmente, um parente ou amigo. "Vote em Chiquinho da Farmácia: ele é amigo do coronel Totonho". E assim se perpetuava o sistema, com a eleição de testas-de-ferro e nulidades. Hoje, a campanha eleitoral do PT diz: "Vote em Dilma: ela é amiga de Lula".
O nome disso, em bom português, era (é) curral eleitoral. Hoje, o Brasil é um imenso curral eleitoral do lulo-petismo. Dilma é o Chiquinho da Farmácia do coronel Totonho-Lula.
Uma coisa, porém, separa Lula, o megacoronel de hoje, dos provincianos coronéis de antanho: ao contrário destes, Lula não tem diante de si uma oposição de verdade, intransigente e aguerrida. O que há, em vez disso, é um bando de socialites e galinhas-mortas, mais preocupado em posar de bons-moços e em não assustar o eleitorado do que em chamar as coisas pelo nome.
Quando um deles foge à regra, como fez Indio da Costa, é apenas para ser quase linchado pela "tática do medo" e pelo "erro eleitoral". É que jogam no mesmo time ideológico do adversário, daí sua relutância em mirar em Lula: tendo participado também da construção do mito em torno de sua figura, e inclusive fornecido os instrumentos que lhe permitiram chegar aonde está, têm medo de que o tiro ricocheteie e os atinja. Só lhes resta tentar encostar em sua imagem, numa clara confissão de culpa.
Se Dilma Rousseff for eleita presidente da República, como parecem indicar as pesquisas, essa tradição coronelística da política brasileira, preservada e ampliada por Lula, será coroada.
Dilma, aliás, parece reproduzir em tudo o figurino de manda-chuva do sertão, no que segue fielmente, caninamente, os passos do mestre.
Quando não está declarando seu amor a outros caudilhos como Fidel Castro e Hugo Chávez, ou se comparando a Jesus Cristo e a Tiradentes (com desvantagem para estes, claro), sinhozinho Lula gosta de se apresentar como o "pai do povo". Dilma, por tabela, é a "mãe do povo". É outro traço, o paternalismo, inegavelmente coronelístico do lulo-petismo. Desse matrimônio está prestes a ser parida a maior fraude política da História brasileira.
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sábado, 4 de setembro de 2010
Serra: desenvolvimentista demais para a Banca - Polibio Braga
A banca não quer saber do “desenvolvimentista” José Serra
Jornalista Políbio Braga, 3.09.2010
Nas últimas 24 horas (quinta para sexta-feira) o editor foi a São Paulo para buscar informações na área econômica.
. Ao circular entre um grupo de 13 banqueiros e executivos do mercado financeiro em evento realizado na avenida Paulista, o editor percebeu o seguinte sobre a sucessão presidencial:
- A banca está com Dilma Roussef.
. A banca acha que o candidato tucano José Serra é desenvolvimentista demais. Caso vença, seu governo dará prioridade ao setor produtivo (à economia real), obrigando os bancos a ganharem dinheiro com o suor do rosto.
. Caso Serra emplaque, o Brasil sairá da liderança mundial dos juros altos.
A banca adora Dilma Rousef. Foi o que constatou o editor em São Paulo.
A banca morre de amores por Antonio Palocci e Henrique Meirelles, o que quer dizer que morre de amores por Dilma Roussef.
Jornalista Políbio Braga, 3.09.2010
Nas últimas 24 horas (quinta para sexta-feira) o editor foi a São Paulo para buscar informações na área econômica.
. Ao circular entre um grupo de 13 banqueiros e executivos do mercado financeiro em evento realizado na avenida Paulista, o editor percebeu o seguinte sobre a sucessão presidencial:
- A banca está com Dilma Roussef.
. A banca acha que o candidato tucano José Serra é desenvolvimentista demais. Caso vença, seu governo dará prioridade ao setor produtivo (à economia real), obrigando os bancos a ganharem dinheiro com o suor do rosto.
. Caso Serra emplaque, o Brasil sairá da liderança mundial dos juros altos.
A banca adora Dilma Rousef. Foi o que constatou o editor em São Paulo.
A banca morre de amores por Antonio Palocci e Henrique Meirelles, o que quer dizer que morre de amores por Dilma Roussef.
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Os candidatos e a politica externa - revista Veja
Desafios brasileiros
Os presidenciáveis e a política externa
Campanha de Dilma foi a única que não citou os direitos humanos
Site da revista Veja, 3/09/2010
Durante esta semana, o site de VEJA apresentou reportagens e entrevistas sobre os principais desafios que o próximo governo deverá enfrentar na área das relações exteriores. Encerrando a série, apresentamos as propostas dos três principais candidatos à Presidência da República, que, a partir de 2011, terão a missão de comandar a política externa do país e ditar novos rumos. As informações apresentadas a seguir foram fornecidas pela coordenação de campanha dos candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).
Chama a atenção o destaque dado por Serra e Marina à promoção dos direitos humanos na relação com outras nações. O tema foi debatido em reportagem da série devido ao fato de o governo Lula haver mantido uma postura leniente em relação a abusos cometidos por colegas - como Hugo Chávez, na Venezuela, e a ditadura castrista de Cuba. [postado in fine]
A campanha de Serra ressalta que, em um eventual governo tucano, as posições a serem defendidas pelo Brasil no tocante aos direitos humanos e à democracia "refletirão os valores que defendemos internamente e não afinidades ideológicas". Marina, por sua vez, diz que o Brasil, sob um eventual governo verde, deveria adora uma postura firme diante de violações dos direitos humanos e democráticos. "Nesse sentido, (o país) deve adotar, considerando sempre o princípio da não intervenção, uma postura crítica com relação a países que violem os direitos humanos e, ao contrário do que tem acontecido, o país não deve relativizar esses princípios em suas relações de estado".
A equipe de Dilma afirma que o atual governo manteve a "estabilidade macroeconômica, reduzindo nossa vulnerabilidade externa (...) num ambiente de aprofundamento da democracia". Contudo, não explica como poderia lidar com a questão dos direitos humanos em um eventual governo da petista. Deixa apenas uma certeza: não haverá mudanças em relação à atual política externa.
Vizinhança - Um ponto em comum entre as propostas de Serra, Marina e Dilma é relativa à integração regional. "Ao Brasil interessa que todos os seus vizinhos cresçam e prosperem. Como maior economia da região, o Brasil dará todo o apoio, de forma realista e sem arroubos de generosidade, para que esse objetivo seja alcançado", diz o texto do tucano. A campanha de Dilma explica que a candidata "seguirá valorizando uma agenda positiva com nossos vizinhos, promovendo a integração física, energética, produtiva, social e política da América do Sul".
Referindo-se especificamente aos destinos do Mercosul, Marina Silva propõe um comércio mais livre, justo e sustentável. "O Brasil deve ter um papel ativo na eliminação das barreiras e distorções que prejudicam o livre comércio. Para isso, deve se valer dos instrumentos que a globalização jurídica lhe oferece, seja no âmbito multilateral (OMC), seja no âmbito regional (Mercosul)", diz a proposta.
Serra promete continuar mantendo o apoio ao bloco, como processo que levará a uma crescente integração comercial dos países do Cone Sul, a médio e longo prazo. O tucano, porém, aponta que será preciso introduzir inovações no grupo. "Para beneficio de todos os países membros, contudo, algumas regras terão de ser flexibilizadas, permitindo que cada país possa negociar individualmente e que o mecanismo de solução de controvérsias seja efetivo". Dilma também apoia o aprofundamente do Mercosul. Mas afirma que, se eleita, trabalharia pelo avanço das negociações com União Européia e "outros blocos".
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Desafios brasileiros
Diplomacia brasileira: muitas embaixadas e afagos a ditadores
Revista Veja, 30/08/2010 - 20:49
[Foto] O chanceler Celso Amorim e o presidente Lula comemoram acordo assinado com o Irã, em maio de 2010 (AFP)
Sob a batuta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo - outras 17 estão em processo de abertura. Atualmente, o país conta com 212 postos. Muitos deles não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. Mas fazem parte de uma estratégia deste governo, que tem priorizado as relações com nações africanas e emergentes. Nos últimos oito anos, por exemplo, Lula visitou 27 nações da África, contra três de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Analistas acreditam que o método pode estar ligado ao desejo brasileiro de conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Uma segunda característica da política externa da atual gestão é a pretensão de mediar conflitos em regiões distantes. Em julho, o chanceler Celso Amorim foi ao Oriente Médio, onde envolveu-se em conversações sobre o processo de paz. Meses antes, palestinos e israelenses já haviam dispensado a intromissão brasileira no complicadíssimo conflito. O Irã também entrou na agenda brasileira. Na contra-mão do que pedia a comunidade internacional, o Brasil queimou parte sua credibilidade ao respaldar um acordo que pretendia garantir aos aiatolás o acesso a urânio enriquecido para fins medicinais. Nenhuma nação, exceto a Turquia, aceitou o tratado, que fracassou: os líderes mundiais sabem que o sonho do radical Mahmoud Ahmadinejad é destruir Israel - e o caminho para isso são as armas atômicas.
Em outro momento, Lula deixou de repreender o opressor governante iraniano em questões relacionadas aos direitos humanos. Foi o caso da condenação por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério. Esquivando-se de censurar publicamente o colega, Lula apenas ofereceu refúgio a Sakineh. Teerã se negou a entregá-la, dizendo que "não havia necessidade de criar problemas ao presidente brasileiro". Acrescentou ainda que "Lula tem um temperamento muito humano e emotivo e provavelmente não recebeu informações suficientes sobre este caso".
Não foi a primeira vez em que Lula preferiu afagar colegas ditadores a zelar pelos direitos humanos. Em fevereiro, o presidente recebeu uma carta de 50 dos 75 presos políticos cubanos detidos na onda de repressão que ficou conhecida como Primavera Negra. Os dissidentes pediam que o governo brasileiro advogasse em favor de sua libertação e, principalmente, falasse sobre a situação de Orlando Zapata, que estava em greve de fome havia mais de 80 dias. Nada disso foi feito. Zapata morreu. E Lula ainda comparou os perseguidos pelo regime castrista a criminosos comuns detidos em prisões brasileiras.
Além dos irmãos Castro e Ahmadinejad, Lula encerra o seu mandato com uma lista de pelo menos outros sete ditadores-amigos. O último agraciado com o título foi Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente de Guiné Equatorial, durante visita oficial em julho. O conjunto da obra faz mal à imagem do Brasil.
Há ainda outras questões relevantes a discutir. É o caso dos rumos do comércio exterior. O Brasil deve seguir financiando projetos em nações vizinhas e até em Cuba? E os grandes acordos comerciais, devemos retomar negociações com blocos regionais? Qual a atual situação do Mercosul e também as suas perspectivas?
Este é um breve panorama das questões mais polêmicas ligadas à atual política externa do governo brasileiro. Durante esta semana, VEJA.com vai analisá-las, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais, para saber que linha o Itamaraty deve adotar no próximo governo. Você também pode participar, dizendo o que pensa sobre o assunto. Deixe sua opinião na área de comentários desta página e participe da enquete a seguir.
[http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/diplomacia-brasileira-muitas-embaixadas-e-afagos-a-ditadores]
Os presidenciáveis e a política externa
Campanha de Dilma foi a única que não citou os direitos humanos
Site da revista Veja, 3/09/2010
Durante esta semana, o site de VEJA apresentou reportagens e entrevistas sobre os principais desafios que o próximo governo deverá enfrentar na área das relações exteriores. Encerrando a série, apresentamos as propostas dos três principais candidatos à Presidência da República, que, a partir de 2011, terão a missão de comandar a política externa do país e ditar novos rumos. As informações apresentadas a seguir foram fornecidas pela coordenação de campanha dos candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).
Chama a atenção o destaque dado por Serra e Marina à promoção dos direitos humanos na relação com outras nações. O tema foi debatido em reportagem da série devido ao fato de o governo Lula haver mantido uma postura leniente em relação a abusos cometidos por colegas - como Hugo Chávez, na Venezuela, e a ditadura castrista de Cuba. [postado in fine]
A campanha de Serra ressalta que, em um eventual governo tucano, as posições a serem defendidas pelo Brasil no tocante aos direitos humanos e à democracia "refletirão os valores que defendemos internamente e não afinidades ideológicas". Marina, por sua vez, diz que o Brasil, sob um eventual governo verde, deveria adora uma postura firme diante de violações dos direitos humanos e democráticos. "Nesse sentido, (o país) deve adotar, considerando sempre o princípio da não intervenção, uma postura crítica com relação a países que violem os direitos humanos e, ao contrário do que tem acontecido, o país não deve relativizar esses princípios em suas relações de estado".
A equipe de Dilma afirma que o atual governo manteve a "estabilidade macroeconômica, reduzindo nossa vulnerabilidade externa (...) num ambiente de aprofundamento da democracia". Contudo, não explica como poderia lidar com a questão dos direitos humanos em um eventual governo da petista. Deixa apenas uma certeza: não haverá mudanças em relação à atual política externa.
Vizinhança - Um ponto em comum entre as propostas de Serra, Marina e Dilma é relativa à integração regional. "Ao Brasil interessa que todos os seus vizinhos cresçam e prosperem. Como maior economia da região, o Brasil dará todo o apoio, de forma realista e sem arroubos de generosidade, para que esse objetivo seja alcançado", diz o texto do tucano. A campanha de Dilma explica que a candidata "seguirá valorizando uma agenda positiva com nossos vizinhos, promovendo a integração física, energética, produtiva, social e política da América do Sul".
Referindo-se especificamente aos destinos do Mercosul, Marina Silva propõe um comércio mais livre, justo e sustentável. "O Brasil deve ter um papel ativo na eliminação das barreiras e distorções que prejudicam o livre comércio. Para isso, deve se valer dos instrumentos que a globalização jurídica lhe oferece, seja no âmbito multilateral (OMC), seja no âmbito regional (Mercosul)", diz a proposta.
Serra promete continuar mantendo o apoio ao bloco, como processo que levará a uma crescente integração comercial dos países do Cone Sul, a médio e longo prazo. O tucano, porém, aponta que será preciso introduzir inovações no grupo. "Para beneficio de todos os países membros, contudo, algumas regras terão de ser flexibilizadas, permitindo que cada país possa negociar individualmente e que o mecanismo de solução de controvérsias seja efetivo". Dilma também apoia o aprofundamente do Mercosul. Mas afirma que, se eleita, trabalharia pelo avanço das negociações com União Européia e "outros blocos".
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Desafios brasileiros
Diplomacia brasileira: muitas embaixadas e afagos a ditadores
Revista Veja, 30/08/2010 - 20:49
[Foto] O chanceler Celso Amorim e o presidente Lula comemoram acordo assinado com o Irã, em maio de 2010 (AFP)
Sob a batuta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo - outras 17 estão em processo de abertura. Atualmente, o país conta com 212 postos. Muitos deles não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. Mas fazem parte de uma estratégia deste governo, que tem priorizado as relações com nações africanas e emergentes. Nos últimos oito anos, por exemplo, Lula visitou 27 nações da África, contra três de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Analistas acreditam que o método pode estar ligado ao desejo brasileiro de conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Uma segunda característica da política externa da atual gestão é a pretensão de mediar conflitos em regiões distantes. Em julho, o chanceler Celso Amorim foi ao Oriente Médio, onde envolveu-se em conversações sobre o processo de paz. Meses antes, palestinos e israelenses já haviam dispensado a intromissão brasileira no complicadíssimo conflito. O Irã também entrou na agenda brasileira. Na contra-mão do que pedia a comunidade internacional, o Brasil queimou parte sua credibilidade ao respaldar um acordo que pretendia garantir aos aiatolás o acesso a urânio enriquecido para fins medicinais. Nenhuma nação, exceto a Turquia, aceitou o tratado, que fracassou: os líderes mundiais sabem que o sonho do radical Mahmoud Ahmadinejad é destruir Israel - e o caminho para isso são as armas atômicas.
Em outro momento, Lula deixou de repreender o opressor governante iraniano em questões relacionadas aos direitos humanos. Foi o caso da condenação por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério. Esquivando-se de censurar publicamente o colega, Lula apenas ofereceu refúgio a Sakineh. Teerã se negou a entregá-la, dizendo que "não havia necessidade de criar problemas ao presidente brasileiro". Acrescentou ainda que "Lula tem um temperamento muito humano e emotivo e provavelmente não recebeu informações suficientes sobre este caso".
Não foi a primeira vez em que Lula preferiu afagar colegas ditadores a zelar pelos direitos humanos. Em fevereiro, o presidente recebeu uma carta de 50 dos 75 presos políticos cubanos detidos na onda de repressão que ficou conhecida como Primavera Negra. Os dissidentes pediam que o governo brasileiro advogasse em favor de sua libertação e, principalmente, falasse sobre a situação de Orlando Zapata, que estava em greve de fome havia mais de 80 dias. Nada disso foi feito. Zapata morreu. E Lula ainda comparou os perseguidos pelo regime castrista a criminosos comuns detidos em prisões brasileiras.
Além dos irmãos Castro e Ahmadinejad, Lula encerra o seu mandato com uma lista de pelo menos outros sete ditadores-amigos. O último agraciado com o título foi Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente de Guiné Equatorial, durante visita oficial em julho. O conjunto da obra faz mal à imagem do Brasil.
Há ainda outras questões relevantes a discutir. É o caso dos rumos do comércio exterior. O Brasil deve seguir financiando projetos em nações vizinhas e até em Cuba? E os grandes acordos comerciais, devemos retomar negociações com blocos regionais? Qual a atual situação do Mercosul e também as suas perspectivas?
Este é um breve panorama das questões mais polêmicas ligadas à atual política externa do governo brasileiro. Durante esta semana, VEJA.com vai analisá-las, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais, para saber que linha o Itamaraty deve adotar no próximo governo. Você também pode participar, dizendo o que pensa sobre o assunto. Deixe sua opinião na área de comentários desta página e participe da enquete a seguir.
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Criminalidade politica, impunidade - editorial O Globo
Impunidade incentiva crime na política
EDITORIAL
O GLOBO, 03/09/2010
Era de se prever uma dura campanha eleitoral. Como todo grupo político, PT e aliados procuram estender o máximo possível seu projeto de poder. Os tucanos, por exemplo, aprovaram alteração constitucional para a reeleição de FH. Por que Lula, PT e partidos da base do governo não poderiam desejar algo semelhante? O problema está nos métodos petistas.
O desenrolar da vida política brasileira desde a redemocratização sinalizava para um alto risco de ações subterrâneas. No final da campanha de 2006, com a tentativa de "aloprados" petistas - um deles, chefe da campanha do candidato do partido ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante - de comprar, com dinheiro vivo, um dossiê falso contra Serra, emergiu a ponta do bunker clandestino que atua além dos limites da lei e do estado de direito para sabotar adversários. Há pouco, um sindicalista dissidente desse grupo, Wagner Cinchetto, garantiu à "Veja" e ao "Estado de S. Paulo" que esse núcleo de "inteligência" age nas sombras desde 2002.
Infelizmente, os piores prognósticos se confirmam, com uma sucessão de fatos degradantes em que, mais uma vez, agentes aloprados deixam impressões digitais em tentativas clandestinas de desestabilizar a candidatura tucana de Serra ao Planalto. Desta vez, para ajudar a eleição de Dilma Rousseff, entendida pela militância como o sonhado "terceiro mandato" de Lula. Traduza-se "terceiro mandato" pela manutenção de pouco mais de 20 mil pessoas empregadas em "cargos de confiança", pela garantia de outros quatro anos de acesso fácil ao dinheiro público por parte de grupos políticos incrustados em aparelhos na máquina pública, de corporações sindicais a organizações políticas como as dos sem-terra. Portanto, para atingir este fim valem todos os meios. Um deles, a quebra do direito constitucional à privacidade, pela obtenção ilegal de informações sigilosas sob a guarda da Receita. Veio a descoberta do uso da delegação da Receita em Mauá para o desvio de declaração de renda do tucano Eduardo Jorge, cujas informações iriam, ou foram, abastecer uma linha de montagem de dossiês existente num escritório de campanha de Dilma Rousseff. Depois, constatou-se que o golpe fizera mais vítimas tucanas, inclusive a filha do candidato do partido ao Planalto, Verônica Serra, alvejada por uma operação escabrosa de uso de falsificações de assinaturas e de carimbo de cartório. Neste crime, foi usada outra base da Receita na Grande São Paulo, a de Santo André. É a impunidade existente no PT que incentiva a militância a agir como delinquentes, espiões. O partido estimula o crime quando dá tratamento de herói a mensaleiros, permite que o aloprado Hamilton Lacerda, da campanha de Mercadante e da gangue do dossiê falso, volte à legenda. Quando a PF pouco ou nada faz para descobrir a origem da montanha de dinheiro levado na mala preta de Hamilton e comparsas para comprar o tal dossiê, ela avisa aos companheiros que "está tudo dominado", "liberou geral". Neste quadro de deterioração do serviço público, não espanta que o feroz Leão da Receita se transforme em dócil gatinho diante do roubo de informações nos seus computadores. Independentemente do resultado das eleições, a sociedade brasileira tem grave doença a debelar: a partidarização do Estado, uma das últimas escalas na degradação da democracia rumo a um regime policial, personalista, autocrático.
EDITORIAL
O GLOBO, 03/09/2010
Era de se prever uma dura campanha eleitoral. Como todo grupo político, PT e aliados procuram estender o máximo possível seu projeto de poder. Os tucanos, por exemplo, aprovaram alteração constitucional para a reeleição de FH. Por que Lula, PT e partidos da base do governo não poderiam desejar algo semelhante? O problema está nos métodos petistas.
O desenrolar da vida política brasileira desde a redemocratização sinalizava para um alto risco de ações subterrâneas. No final da campanha de 2006, com a tentativa de "aloprados" petistas - um deles, chefe da campanha do candidato do partido ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante - de comprar, com dinheiro vivo, um dossiê falso contra Serra, emergiu a ponta do bunker clandestino que atua além dos limites da lei e do estado de direito para sabotar adversários. Há pouco, um sindicalista dissidente desse grupo, Wagner Cinchetto, garantiu à "Veja" e ao "Estado de S. Paulo" que esse núcleo de "inteligência" age nas sombras desde 2002.
Infelizmente, os piores prognósticos se confirmam, com uma sucessão de fatos degradantes em que, mais uma vez, agentes aloprados deixam impressões digitais em tentativas clandestinas de desestabilizar a candidatura tucana de Serra ao Planalto. Desta vez, para ajudar a eleição de Dilma Rousseff, entendida pela militância como o sonhado "terceiro mandato" de Lula. Traduza-se "terceiro mandato" pela manutenção de pouco mais de 20 mil pessoas empregadas em "cargos de confiança", pela garantia de outros quatro anos de acesso fácil ao dinheiro público por parte de grupos políticos incrustados em aparelhos na máquina pública, de corporações sindicais a organizações políticas como as dos sem-terra. Portanto, para atingir este fim valem todos os meios. Um deles, a quebra do direito constitucional à privacidade, pela obtenção ilegal de informações sigilosas sob a guarda da Receita. Veio a descoberta do uso da delegação da Receita em Mauá para o desvio de declaração de renda do tucano Eduardo Jorge, cujas informações iriam, ou foram, abastecer uma linha de montagem de dossiês existente num escritório de campanha de Dilma Rousseff. Depois, constatou-se que o golpe fizera mais vítimas tucanas, inclusive a filha do candidato do partido ao Planalto, Verônica Serra, alvejada por uma operação escabrosa de uso de falsificações de assinaturas e de carimbo de cartório. Neste crime, foi usada outra base da Receita na Grande São Paulo, a de Santo André. É a impunidade existente no PT que incentiva a militância a agir como delinquentes, espiões. O partido estimula o crime quando dá tratamento de herói a mensaleiros, permite que o aloprado Hamilton Lacerda, da campanha de Mercadante e da gangue do dossiê falso, volte à legenda. Quando a PF pouco ou nada faz para descobrir a origem da montanha de dinheiro levado na mala preta de Hamilton e comparsas para comprar o tal dossiê, ela avisa aos companheiros que "está tudo dominado", "liberou geral". Neste quadro de deterioração do serviço público, não espanta que o feroz Leão da Receita se transforme em dócil gatinho diante do roubo de informações nos seus computadores. Independentemente do resultado das eleições, a sociedade brasileira tem grave doença a debelar: a partidarização do Estado, uma das últimas escalas na degradação da democracia rumo a um regime policial, personalista, autocrático.
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O estado da campanha, ou o estado a que chegamos...
Não muito sério, nem muito objetivo, e talvez completamente oposicionista -- certamente não em favor do candidato da oposição, mas em oposição às irracionalidades e mentiras da campanha oficial -- estes dois posts do jornalista Augusto Nunes -- em seu blog na Veja -- revelam, com a ajuda de um "comissário da Língua Portuguesa", o estado a que chegou a campanha oficial, reduzida a um "dilmês" incompreensível, por falhas inacreditáveis de pensamento, ou de simples lógica formal e conceitual, e uma disposição muito grande -- que só pode revelar falhas terríveis de caráter -- a mentir desbragadamente, na indiferença geral da imprensa e do próprio eleitorado.
O Brasil adentrou, se ouso dizer, num "estado mágico" de surrealismo completo na campanha eleitoral, em que nada vale nada, ou seja, em que não adianta qualquer análise crítica das mensagens veiculadas, pois a personalidade megalomaníaca do Nosso Guia a tudo domina e a todos domina.
Uma miséria moral, uma degradação política e uma pobreza de espírito inacreditáveis.
Reproduzo esses posts como amostra do que vai pela campanha.
Paulo Roberto de Almeida
Direto ao Ponto
Celso Arnaldo: uma das mais estarrecedoras entrevistas da curta e assombrosa história política de Dilma sobre a face da Terra (1)
Augusto Nunes, Blog na Veja, 29/08/2010 às 12:56
Ainda bem que fui alertado com algumas horas de antecedência: “Acredite, é uma das mais estarrecedoras entrevistas da curta e assombrosa história política de Dilma sobre a face da Terra”, avisou-me Celso Arnaldo ontem à noite. Claro que acreditei. Nem por isso escapei dos sobressaltos. A coisa é tão perturbadora que, para permitir ao leitor recuperar o fôlego e recuperar-se do assombro, a coluna decidiu publicá-la em dois capítulos. A parte final entra no ar às quatro da tarde. Apertem os cintos, amigos. Estamos entrando no túnel do espanto:
Faltam 35 dias para as eleições e, a menos que seja asfixiada por um colar de anacolutos no discurso de posse, a mulher completamente desarticulada que aparece neste vídeo não é mais a candidata tosca e folclórica à Presidência, uma sátira à la Zorra Total, mas a mulher que vai receber, de mão beijada pelo bafo de Lula, um mandato pelo qual os brasileiros a autorizam a exercitar na prática o conjunto de suas sapiências, suas expertises, nas diferentes áreas da administração federal.
O assunto que Dilma Rousseff escolheu para esta “conversa” com a imprensa é a “assistência integral” à criança. A iniciativa de discorrer sobre o tema foi portanto dela, o que elimina qualquer atenuante para o assombroso teor desta entrevista. É crime doloso, é o infanticídio de um governo natimorto.
Ela chega toda animada, já com ares de presidente e aquele sorriso falso que põe um dente na calçada e logo se recolhe. E aparentemente entusiasmada com o que vira na véspera:
– Até porque, eu tive (sic) ontem na Bahia…
Da Bahia trouxe mais um subsídio para incluir no projeto que promete revolucionar a assistência à criança no Brasil, da barriga da mãe até o “ensino fundamental, mé….fundamental e médio, ensino básico”, como ela explicará mais tarde.
“Salta aos olhos uma coisa, né? Porque um país do tamanho do nosso, com a população de crianças e jovens que nós temos, é um pais que vai tê de sê medido pela capacidade que tivé de fazê uma política que inclua as crianças”.
Seja lá o que for isso, soa como um mea culpa: nos oito anos do governo Lula, os 60 milhões de crianças brasileiras de 0 a 14 anos formaram um coral de Macaulays Culkins: “Esqueceram de nós, esqueceram de nós!!!”
Mas como a presidente Dilma pretende “incluir” as crianças em seu governo?
“De uma forma especial. Que construa o cuidado com as crianças desde o momento da gestação da mãe, passano obviamente pelo parto e chegando até ao atendimento à criança nos seus primeiros anos de vida, que é um momento muito especial”.
A presidente Dilma deve ter aprendido esse “construa” com a ex-companheira Marina, mas aprendeu também que as crianças nascem — aliás depois da gestação da mãe, e não do pai, como às vezes acontecia no governo da oposição — e precisam de cuidados desde o momento em que vêm ao mundo. Ninguém ainda havia pensado nisso.
E o que a presidente Dilma vai fazer, ou já fez, para inventar no Brasil a assistência materno-infantil, que nem Lula pensou em criar? Ela explica com autoridade:
“Nós, pra isso, pra essa, pra esse cuidado, construímos a Rede Cegonha”
Olha ela aí gente!! Novidade: a Rede Cegonha já foi “construída” pela presidente Dilma. Para levar o Brasil no bico.
“A Rede Cegonha é um….primeiro, ela tá baseada num ponto de prevenção, que é o tratamento da mulher quando grávida. O acompanhamento da gravidez, todos os exames de praxe e também a avaliação do feto e todo o acompanhamento que isso requer. Será feito através de Clínicas da Mulher”
Não deu para entender muito bem. Dilma pretende criar isso? O que ela descreve como “meta de governo”, embora com outro nome, é o beabá da assistência materno-infantil, disponível em todo o Brasil. Melhorar é outra história. São Paulo, aliás, tem um programa da mulher quase modelar, em nível municipal e estadual.
“Depois tem a questão fundamental do parto. Ter maternidade de baixo risco e alto risco. E, na sequência, no tratamento dos primeiros dias, meses da criança, é a estrutura de UTIs neonatais, com hospitais de referência da criança”.
A presidente Dilma acaba de criar, por decreto, a Obstetrícia e a Pediatria Neonatal no Brasil. Começa bem. Mas o que será oferecido nesses hospitais de “referência”?
“Cê tem basicamente um atendimento que eles chamam, né, já mais sofisticado, né, com maior nível de complexidade. Então lá se trata de problemas que vão desde a questão do coração, né, por exemplo, crianças que nascem com problemas de coração, passando por todas as doenças que podem levá a risco de vida do bebê”
Nos hospitais criados por Dilma, doenças serão tratadas, bem como doenças afetivas, a tal “questão do coração”.
Mas, depois de dona Cegonha, é hora de introduzir outra pérola que a deslumbra: o SAMU, o já consagrado serviço de resgate federal.
Traduzindo: é o serviço, aliás eficientíssimo e valoroso, que vem até você quando se disca 192. A presidente quer reinventar o SAMU -– lembram do debate da Band, “aquele serviço que transporta crianças”?
“Junto a isso, nós temos o SAMU. Porque o SAMU tem desempenhado no Brasil um papel fundamental, que é juntá toda a rede e olhá onde que tem disponibilidade e onde que a criança, ou o adulto, no caso, deve ser levado”
A presidente Dilma descobriu recentemente que os motoristas e atendentes do SAMU só levam seus passageiros a prontos-socorros e hospitais onde eles possam ser atendidos prontamente, depois da óbvia checagem pelo rádio, no caminho -– é isso que ela chama de “juntá toda a rede e olhá onde tem”.
Mas estava na hora de juntar SAMU com cegonha, não? Lógico:
“Para as crianças criamos o SAMU Cegonha”.
Ah, já criou? Posso chamar? A presidente Dilma aciona a sirene:
“O SAMU Cegonha é basicamente para o atendimento da mulher no momento da gravidez”
Ou seja: engravidou, já chama o SAMU Cegonha para lhe dar os parabéns. Mas espere:
“E o SAMU Cegonha da fase já do bebê é o atendimento pra levá a criança, justamente ou pruma, prum tratamento na UTI neonatal ou prum hospital de referência de alta complexidade”
Ou seja: o SAMU Cegonha fará exatamente o que já fazem as ambulâncias. Mas parece claro que, no governo Dilma, a “fase já do bebê” será coisa de gente grande.
(A segunda e última parte do grande texto de Celso Arnaldo será publicada às quatro da tarde)
[Segue abaixo]
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Direto ao Ponto
Celso Arnaldo completa a radiografia da mais estarrecedora entrevista de Dilma (2)
Augusto Nunes, Blog na Veja, 29/08/2010 às 17:04
A segunda parte do texto de Celso Arnaldo completa a radiografia da entrevista assustadora. Embarquem novamente no trem-bala do horror, amigos. Volto no fim:
Ok, a criança chegou a um hospital de alta complexidade criado por Dilma -– sim, porque ninguém tinha pensado antes num hospital para atender doenças mais graves. O InCor, por exemplo, é uma miragem. O que vai acontecer ali? Agora, sim, Dilma revela o que viu na Bahia que a impressionou tanto:
“Uma proposta que conjuga não só tecnologia de ponta, tecnologia sofisticada pro tratamento da criança, mas também um grande nível de humanização, porque eles usam todo aquela questão do envolvimento da criança, mostrano que a boneca vai, tamém, cuidá da cabeça ou quando a criança é submetida a algum nivel de tratamento mais estressante, tomá os cuidados para garanti que psicologicamente ela se…enfim, ela tenha uma chegada maior a um processo que inclusive é de dor”.
Nos hospitais de Dilma, os doutores serão de uma alegria só — até o dia da “chegada maior” de Dilma pra cuidá da cabeça com a boneca.
Nos longos minutos que se seguem, Dilma se dedica a tentar provar, de novo, que as creches são a diferença entre Bill Gates e Nem do tráfico. Ela repete, no mesmo palavreado vão e leviano, a promessa das 6 mil creches em quatro anos -– mas de novo não explica, nem lhe foi perguntado pela mídia adestrada, porque não convenceu Lula a fazer uma só como protótipo ao longo de oito anos.
Depois da creche, o processo de “atendimento integral” das crianças da presidente Dilma passa evidentemente pela escola. Está em marcha uma revolução que faria o companheiro Paulo Freire parecer uma professorinha de quermesse:
“Já existe 10 mil, em torno de 10 mil escolas no Brasil, é, de ensino, de ensino fundamental, de ensino mé…., de ensino fundamental e médio, de ensino básico, portanto…”
Interrompida pelo Controle Social da Mídia. Se a presidente Dilma passou com louvor na prova de saúde, nessa questão da escola ela precisa estudar um pouquinho mais. Vamos deixar para a próxima?
Uma jornalista então quer saber: por que esse interesse tão súbito da presidente pela “criança integral”?
Atenção para a resposta, professor Sirio Possenti:
– Eu vô sê vó!!
E isso desperta em vovó Dilma não só instintos avoengos como essa dedicação integral à criança, que ela justifica com uma máxima inédita:
– As crianças são o futuro deste país.
Até aqui, Dilma falara sem ser questionada. Timidamente, uma repórter parece perguntar se essa tal Rede Cegonha já não existe em algum lugar. A presidente se irrita, pela primeira vez:
“O Rede Cegonha é uma criação do Rio de Janeiro. Não é nossa. É uma parte também do Mãe Coruja, de Pernambuco. Essa mania das pessoas se adonarem de projetos que estão em curso no Brasil é errado.”
Taí: gostei do “se adonarem” -– em 11 meses de caçada, é a primeira expressão original, e correta, que ouço de Dilma. Mas quem está se adonando dos projetos alheios é a presidente Dilma, não é não?
O SAMU Cegonha, que “nós criamos”, também já não existe, presidente?
“O SAMU Cegonha inclusive ele existe, tem até uma cegonha pintada naquela parte branca da….do…..”
A presidente parece ter até desistido da conclusão do pensamento quando vem o sopro redentor:
– Da ambulância.
– Da ambulância, né?
Seria cômico, se não fosse trágico: nos próximos quatro anos, é isso aí.
Brilhante como sempre, o texto de Celso Arnaldo colide estrondosamente com a indigência mental da sucessora que Lula inventou. Também por isso, não dou por liquidada a disputa pela Presidência da República. Falta um mês para a votação. No calendário político isso é uma eternidade. É mais que suficiente para que a oposição mostre ao Brasil o que vem por aí com a mesma nitidez e objetividade que marcam todos os posts sobre a candidata aqui publicados. Tempo para desconstruir a farsa existe de sobra. O que tem faltado à campanha de José Serra é lucidez, coragem, valentia e, sobretudo, vontade de vencer.
Acompanho confrontos eleitorais desde que nasci. Dois anos depois de derrotado na estreia como candidato a prefeito, e dois anos antes de conquistar o cargo que exerceria quatro vezes, meu pai vivia como sempre viveu: em campanha. Primeiro em Taquaritinga, na região e no Estado de São Paulo, depois como jornalista, testemunhei incontáveis duelos do gênero em todos os níveis — sempre na fila do gargarejo. Sei o que estou dizendo ao afirmar que Dilma Rousseff é a adversária que todo candidato pede a Deus. O problema é que, até agora, José Serra também tem sido.
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Direto ao Ponto
Celso Arnaldo assiste a uma aula na Escolinha Média Fundamental Básica Profissionalizante da Professora Dilma
Augusato Nunes, Blog na Veja, 02/09/2010 às 15:08
Maior especialista em dilmês do país, o jornalista Celso Arnaldo Araújo resolveu assistir a uma aula da candidata que Lula inventou. Tema: educação. O relato comprova que Dilma Rousseff representa um perigo para qualquer brasileiro com mais de dois neurônios: é de matar de rir — e de morrer de medo:
Na redação da revista Manchete, no Rio, onde trabalhei nos meus primeiros cinco anos de carreira, foram bolados alguns dos mais saborosos – porque bem temperados entre a genialidade e a infâmia – títulos de reportagem do jornalismo “fait divers” no Brasil. Muitos ficaram célebres, como “China vai de Mao a Piao” – quando o líder chinês Mao Tse-Tung, doente, foi provisoriamente substituído no governo por seu ministro de Defesa, Lin Piao.
Dei também minhas contribuições a esse capítulo – e meu título mais “escandaloso” foi para uma matéria sobre um médium espírita anão que atraía multidões em Porto Alegre com seu poder de cura:
“O PEQUENO GRANDE MÉDIUM”
Lembro desse episódio anedótico a propósito de…Dilma Rousseff. Sim, a “Pequena grande mentecapta” que, se tudo correr mal, será nossa presidente a partir de primeiro de janeiro de 2011. Há pelo menos dois anos avisada de que Lula lhe apontaria o “dedazo” zapatista para ser sua sucessora, ela teve todo esse tempo para tentar ficar pelo menos à meia altura da missão que lhe caiu ao colo.
Mas o dedo apontado deve ter sido o mindinho esquerdo, ausente – e por isso a indigitada Dilma não se preparou nem minimamente para conhecer e discorrer sobre os temas de maior peso na vida de um país emergente e ainda repleto de carências: saúde, educação, segurança, etc.
Como se viu pelo vídeo anterior, a proposta de Dilma para a saúde pública não tem o alcance de um band-aid – seu desconhecimento sobre o tema, a 30 dias de sua provável eleição, revelou-se assustador. Na mesma “entrevista”, na verdade uma desastrada tentativa de voo-solo para mostrar aura de estadista, ela chegou a ensaiar um blá-blá-blá tatibitate sobre educação – mas parou na iminência de um edema de glote, quase engasgada com o “ensino mé, fundá, médio-fundamental, ou seja, o ensino básico.”
Mas a Dra. Dilma Rousseff, que também não tem o menor senso de autocrítica, o que é próprio dos grandes mentecaptos, deve ter dado alta com louvor para sua doentia performance sobre saúde e repetiu o diagnóstico, no mesmo cenário, a porta de casa – desta vez para completar seu pensamento vivo sobre educação.
Com a mesma blusa branca, a agora Professora Dilma, que acabara de receber o presidente da CNI, “o Robinson”, pôs-se a divagar, já na forma de planos de governo, sobre ideias que acabara de ouvir de orelhada na reunião e que, mal processadas por seu neurônio duplo, resultaram em mais um show de despreparo e desconhecimento absolutos e irreparáveis.
O tumor da Receita é grave e metastático, característica do adenocarcinoma petista. Mas o estado de ignorância integral, mediado pela má-fé, que a candidata quase eleita demonstra sem trégua há 11 meses me parece ainda mais preocupante – porque será doença crônica e incapacitante durante pelo menos quatro anos. Ela não sabe nada sobre o País que pode vir a governar – nem sobre o que fazer com ele.
Na saída da reunião, entre triunfante e compenetrada, começou a falar sobre os “problemas da era do crescimento”. Ou seja, o Brasil de Lula cresceu tanto que, se melhorar, estraga.
“O país, chegando quase ao pleno emprego, nós vamos precisá de qualificá bastante a nossa mão de obra para podê dá um salto”, recita a candidata que dará o maior salto de sua vida sem precisá de se qualificá nem um pouquinho.
Muitas sugestões ouvidas do presidente da CNI viraram “plano de governo” no caminho da sala da casa à calçada da coletiva:
“A CNI tem um processo que é muito interessante di, i qui afina-se com a minha proposta em relação ao ProMédio (programa de bolsas de estudo para alunos de ensino médio e baixa renda, ainda uma ficção), que é combiná o ensino médio com o ensino profissionalizante. Então, no nosso caso, a gente utilizaria, né, as vagas tanto nas escolas, é, nos institutos federais tecnológicos e também de todas as entidades privadas que prestam cursos profissionalizantes. Então a gente compraria vagas e complementaria o ensino técnico com o ensino médio, articulando um no outro. Eles chamam isso de ensino articulado”.
Dilma também gostou muito de algo que ouviu do presidente da CNI sobre o ensino em regiões remotas. Já encampou a ideia, mas vamos ver se ela entendeu direitinho:
“E outra sugestão muito interessante que eu achei é em pequenas cidades no Amazonas usar o ensino técnico móvel. Seria uma capacitação muito parecida com que nós fazemos no Brasil Profissionalizante, que é, por exemplo, eles operam muito com caminhões ou com ônibus. Ali, a escola chega, eles formam eletricistas. Nós fizemos isso aliás no Luz para Todos. No Luz para Todos faltava eletricista e a gente tinha de formá nos próprios lugares”.
Deve ser um projeto maravilhoso, mas a versão de Dilma, aparentemente, é meio esquisita. Caminhões e ônibus transportam muito poucas coisas no Amazonas, um estado basicamente fluvial. Um caminhão ou um ônibus chegando a uma cidade remota com uma escola dentro seria um acontecimento. Se me falta a luz necessária para entender o programa, não faltarão eletricistas para nos iluminar a todos.
Esses são apenas os primeiros quatro minutos do vídeo. Há mais cinco minutos impagáveis — mas que pagaremos caro.
Divirtam-se com a Escolinha Média Fundamental Básica Profissionalizante da Professora Dilma.
O Brasil adentrou, se ouso dizer, num "estado mágico" de surrealismo completo na campanha eleitoral, em que nada vale nada, ou seja, em que não adianta qualquer análise crítica das mensagens veiculadas, pois a personalidade megalomaníaca do Nosso Guia a tudo domina e a todos domina.
Uma miséria moral, uma degradação política e uma pobreza de espírito inacreditáveis.
Reproduzo esses posts como amostra do que vai pela campanha.
Paulo Roberto de Almeida
Direto ao Ponto
Celso Arnaldo: uma das mais estarrecedoras entrevistas da curta e assombrosa história política de Dilma sobre a face da Terra (1)
Augusto Nunes, Blog na Veja, 29/08/2010 às 12:56
Ainda bem que fui alertado com algumas horas de antecedência: “Acredite, é uma das mais estarrecedoras entrevistas da curta e assombrosa história política de Dilma sobre a face da Terra”, avisou-me Celso Arnaldo ontem à noite. Claro que acreditei. Nem por isso escapei dos sobressaltos. A coisa é tão perturbadora que, para permitir ao leitor recuperar o fôlego e recuperar-se do assombro, a coluna decidiu publicá-la em dois capítulos. A parte final entra no ar às quatro da tarde. Apertem os cintos, amigos. Estamos entrando no túnel do espanto:
Faltam 35 dias para as eleições e, a menos que seja asfixiada por um colar de anacolutos no discurso de posse, a mulher completamente desarticulada que aparece neste vídeo não é mais a candidata tosca e folclórica à Presidência, uma sátira à la Zorra Total, mas a mulher que vai receber, de mão beijada pelo bafo de Lula, um mandato pelo qual os brasileiros a autorizam a exercitar na prática o conjunto de suas sapiências, suas expertises, nas diferentes áreas da administração federal.
O assunto que Dilma Rousseff escolheu para esta “conversa” com a imprensa é a “assistência integral” à criança. A iniciativa de discorrer sobre o tema foi portanto dela, o que elimina qualquer atenuante para o assombroso teor desta entrevista. É crime doloso, é o infanticídio de um governo natimorto.
Ela chega toda animada, já com ares de presidente e aquele sorriso falso que põe um dente na calçada e logo se recolhe. E aparentemente entusiasmada com o que vira na véspera:
– Até porque, eu tive (sic) ontem na Bahia…
Da Bahia trouxe mais um subsídio para incluir no projeto que promete revolucionar a assistência à criança no Brasil, da barriga da mãe até o “ensino fundamental, mé….fundamental e médio, ensino básico”, como ela explicará mais tarde.
“Salta aos olhos uma coisa, né? Porque um país do tamanho do nosso, com a população de crianças e jovens que nós temos, é um pais que vai tê de sê medido pela capacidade que tivé de fazê uma política que inclua as crianças”.
Seja lá o que for isso, soa como um mea culpa: nos oito anos do governo Lula, os 60 milhões de crianças brasileiras de 0 a 14 anos formaram um coral de Macaulays Culkins: “Esqueceram de nós, esqueceram de nós!!!”
Mas como a presidente Dilma pretende “incluir” as crianças em seu governo?
“De uma forma especial. Que construa o cuidado com as crianças desde o momento da gestação da mãe, passano obviamente pelo parto e chegando até ao atendimento à criança nos seus primeiros anos de vida, que é um momento muito especial”.
A presidente Dilma deve ter aprendido esse “construa” com a ex-companheira Marina, mas aprendeu também que as crianças nascem — aliás depois da gestação da mãe, e não do pai, como às vezes acontecia no governo da oposição — e precisam de cuidados desde o momento em que vêm ao mundo. Ninguém ainda havia pensado nisso.
E o que a presidente Dilma vai fazer, ou já fez, para inventar no Brasil a assistência materno-infantil, que nem Lula pensou em criar? Ela explica com autoridade:
“Nós, pra isso, pra essa, pra esse cuidado, construímos a Rede Cegonha”
Olha ela aí gente!! Novidade: a Rede Cegonha já foi “construída” pela presidente Dilma. Para levar o Brasil no bico.
“A Rede Cegonha é um….primeiro, ela tá baseada num ponto de prevenção, que é o tratamento da mulher quando grávida. O acompanhamento da gravidez, todos os exames de praxe e também a avaliação do feto e todo o acompanhamento que isso requer. Será feito através de Clínicas da Mulher”
Não deu para entender muito bem. Dilma pretende criar isso? O que ela descreve como “meta de governo”, embora com outro nome, é o beabá da assistência materno-infantil, disponível em todo o Brasil. Melhorar é outra história. São Paulo, aliás, tem um programa da mulher quase modelar, em nível municipal e estadual.
“Depois tem a questão fundamental do parto. Ter maternidade de baixo risco e alto risco. E, na sequência, no tratamento dos primeiros dias, meses da criança, é a estrutura de UTIs neonatais, com hospitais de referência da criança”.
A presidente Dilma acaba de criar, por decreto, a Obstetrícia e a Pediatria Neonatal no Brasil. Começa bem. Mas o que será oferecido nesses hospitais de “referência”?
“Cê tem basicamente um atendimento que eles chamam, né, já mais sofisticado, né, com maior nível de complexidade. Então lá se trata de problemas que vão desde a questão do coração, né, por exemplo, crianças que nascem com problemas de coração, passando por todas as doenças que podem levá a risco de vida do bebê”
Nos hospitais criados por Dilma, doenças serão tratadas, bem como doenças afetivas, a tal “questão do coração”.
Mas, depois de dona Cegonha, é hora de introduzir outra pérola que a deslumbra: o SAMU, o já consagrado serviço de resgate federal.
Traduzindo: é o serviço, aliás eficientíssimo e valoroso, que vem até você quando se disca 192. A presidente quer reinventar o SAMU -– lembram do debate da Band, “aquele serviço que transporta crianças”?
“Junto a isso, nós temos o SAMU. Porque o SAMU tem desempenhado no Brasil um papel fundamental, que é juntá toda a rede e olhá onde que tem disponibilidade e onde que a criança, ou o adulto, no caso, deve ser levado”
A presidente Dilma descobriu recentemente que os motoristas e atendentes do SAMU só levam seus passageiros a prontos-socorros e hospitais onde eles possam ser atendidos prontamente, depois da óbvia checagem pelo rádio, no caminho -– é isso que ela chama de “juntá toda a rede e olhá onde tem”.
Mas estava na hora de juntar SAMU com cegonha, não? Lógico:
“Para as crianças criamos o SAMU Cegonha”.
Ah, já criou? Posso chamar? A presidente Dilma aciona a sirene:
“O SAMU Cegonha é basicamente para o atendimento da mulher no momento da gravidez”
Ou seja: engravidou, já chama o SAMU Cegonha para lhe dar os parabéns. Mas espere:
“E o SAMU Cegonha da fase já do bebê é o atendimento pra levá a criança, justamente ou pruma, prum tratamento na UTI neonatal ou prum hospital de referência de alta complexidade”
Ou seja: o SAMU Cegonha fará exatamente o que já fazem as ambulâncias. Mas parece claro que, no governo Dilma, a “fase já do bebê” será coisa de gente grande.
(A segunda e última parte do grande texto de Celso Arnaldo será publicada às quatro da tarde)
[Segue abaixo]
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Direto ao Ponto
Celso Arnaldo completa a radiografia da mais estarrecedora entrevista de Dilma (2)
Augusto Nunes, Blog na Veja, 29/08/2010 às 17:04
A segunda parte do texto de Celso Arnaldo completa a radiografia da entrevista assustadora. Embarquem novamente no trem-bala do horror, amigos. Volto no fim:
Ok, a criança chegou a um hospital de alta complexidade criado por Dilma -– sim, porque ninguém tinha pensado antes num hospital para atender doenças mais graves. O InCor, por exemplo, é uma miragem. O que vai acontecer ali? Agora, sim, Dilma revela o que viu na Bahia que a impressionou tanto:
“Uma proposta que conjuga não só tecnologia de ponta, tecnologia sofisticada pro tratamento da criança, mas também um grande nível de humanização, porque eles usam todo aquela questão do envolvimento da criança, mostrano que a boneca vai, tamém, cuidá da cabeça ou quando a criança é submetida a algum nivel de tratamento mais estressante, tomá os cuidados para garanti que psicologicamente ela se…enfim, ela tenha uma chegada maior a um processo que inclusive é de dor”.
Nos hospitais de Dilma, os doutores serão de uma alegria só — até o dia da “chegada maior” de Dilma pra cuidá da cabeça com a boneca.
Nos longos minutos que se seguem, Dilma se dedica a tentar provar, de novo, que as creches são a diferença entre Bill Gates e Nem do tráfico. Ela repete, no mesmo palavreado vão e leviano, a promessa das 6 mil creches em quatro anos -– mas de novo não explica, nem lhe foi perguntado pela mídia adestrada, porque não convenceu Lula a fazer uma só como protótipo ao longo de oito anos.
Depois da creche, o processo de “atendimento integral” das crianças da presidente Dilma passa evidentemente pela escola. Está em marcha uma revolução que faria o companheiro Paulo Freire parecer uma professorinha de quermesse:
“Já existe 10 mil, em torno de 10 mil escolas no Brasil, é, de ensino, de ensino fundamental, de ensino mé…., de ensino fundamental e médio, de ensino básico, portanto…”
Interrompida pelo Controle Social da Mídia. Se a presidente Dilma passou com louvor na prova de saúde, nessa questão da escola ela precisa estudar um pouquinho mais. Vamos deixar para a próxima?
Uma jornalista então quer saber: por que esse interesse tão súbito da presidente pela “criança integral”?
Atenção para a resposta, professor Sirio Possenti:
– Eu vô sê vó!!
E isso desperta em vovó Dilma não só instintos avoengos como essa dedicação integral à criança, que ela justifica com uma máxima inédita:
– As crianças são o futuro deste país.
Até aqui, Dilma falara sem ser questionada. Timidamente, uma repórter parece perguntar se essa tal Rede Cegonha já não existe em algum lugar. A presidente se irrita, pela primeira vez:
“O Rede Cegonha é uma criação do Rio de Janeiro. Não é nossa. É uma parte também do Mãe Coruja, de Pernambuco. Essa mania das pessoas se adonarem de projetos que estão em curso no Brasil é errado.”
Taí: gostei do “se adonarem” -– em 11 meses de caçada, é a primeira expressão original, e correta, que ouço de Dilma. Mas quem está se adonando dos projetos alheios é a presidente Dilma, não é não?
O SAMU Cegonha, que “nós criamos”, também já não existe, presidente?
“O SAMU Cegonha inclusive ele existe, tem até uma cegonha pintada naquela parte branca da….do…..”
A presidente parece ter até desistido da conclusão do pensamento quando vem o sopro redentor:
– Da ambulância.
– Da ambulância, né?
Seria cômico, se não fosse trágico: nos próximos quatro anos, é isso aí.
Brilhante como sempre, o texto de Celso Arnaldo colide estrondosamente com a indigência mental da sucessora que Lula inventou. Também por isso, não dou por liquidada a disputa pela Presidência da República. Falta um mês para a votação. No calendário político isso é uma eternidade. É mais que suficiente para que a oposição mostre ao Brasil o que vem por aí com a mesma nitidez e objetividade que marcam todos os posts sobre a candidata aqui publicados. Tempo para desconstruir a farsa existe de sobra. O que tem faltado à campanha de José Serra é lucidez, coragem, valentia e, sobretudo, vontade de vencer.
Acompanho confrontos eleitorais desde que nasci. Dois anos depois de derrotado na estreia como candidato a prefeito, e dois anos antes de conquistar o cargo que exerceria quatro vezes, meu pai vivia como sempre viveu: em campanha. Primeiro em Taquaritinga, na região e no Estado de São Paulo, depois como jornalista, testemunhei incontáveis duelos do gênero em todos os níveis — sempre na fila do gargarejo. Sei o que estou dizendo ao afirmar que Dilma Rousseff é a adversária que todo candidato pede a Deus. O problema é que, até agora, José Serra também tem sido.
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Direto ao Ponto
Celso Arnaldo assiste a uma aula na Escolinha Média Fundamental Básica Profissionalizante da Professora Dilma
Augusato Nunes, Blog na Veja, 02/09/2010 às 15:08
Maior especialista em dilmês do país, o jornalista Celso Arnaldo Araújo resolveu assistir a uma aula da candidata que Lula inventou. Tema: educação. O relato comprova que Dilma Rousseff representa um perigo para qualquer brasileiro com mais de dois neurônios: é de matar de rir — e de morrer de medo:
Na redação da revista Manchete, no Rio, onde trabalhei nos meus primeiros cinco anos de carreira, foram bolados alguns dos mais saborosos – porque bem temperados entre a genialidade e a infâmia – títulos de reportagem do jornalismo “fait divers” no Brasil. Muitos ficaram célebres, como “China vai de Mao a Piao” – quando o líder chinês Mao Tse-Tung, doente, foi provisoriamente substituído no governo por seu ministro de Defesa, Lin Piao.
Dei também minhas contribuições a esse capítulo – e meu título mais “escandaloso” foi para uma matéria sobre um médium espírita anão que atraía multidões em Porto Alegre com seu poder de cura:
“O PEQUENO GRANDE MÉDIUM”
Lembro desse episódio anedótico a propósito de…Dilma Rousseff. Sim, a “Pequena grande mentecapta” que, se tudo correr mal, será nossa presidente a partir de primeiro de janeiro de 2011. Há pelo menos dois anos avisada de que Lula lhe apontaria o “dedazo” zapatista para ser sua sucessora, ela teve todo esse tempo para tentar ficar pelo menos à meia altura da missão que lhe caiu ao colo.
Mas o dedo apontado deve ter sido o mindinho esquerdo, ausente – e por isso a indigitada Dilma não se preparou nem minimamente para conhecer e discorrer sobre os temas de maior peso na vida de um país emergente e ainda repleto de carências: saúde, educação, segurança, etc.
Como se viu pelo vídeo anterior, a proposta de Dilma para a saúde pública não tem o alcance de um band-aid – seu desconhecimento sobre o tema, a 30 dias de sua provável eleição, revelou-se assustador. Na mesma “entrevista”, na verdade uma desastrada tentativa de voo-solo para mostrar aura de estadista, ela chegou a ensaiar um blá-blá-blá tatibitate sobre educação – mas parou na iminência de um edema de glote, quase engasgada com o “ensino mé, fundá, médio-fundamental, ou seja, o ensino básico.”
Mas a Dra. Dilma Rousseff, que também não tem o menor senso de autocrítica, o que é próprio dos grandes mentecaptos, deve ter dado alta com louvor para sua doentia performance sobre saúde e repetiu o diagnóstico, no mesmo cenário, a porta de casa – desta vez para completar seu pensamento vivo sobre educação.
Com a mesma blusa branca, a agora Professora Dilma, que acabara de receber o presidente da CNI, “o Robinson”, pôs-se a divagar, já na forma de planos de governo, sobre ideias que acabara de ouvir de orelhada na reunião e que, mal processadas por seu neurônio duplo, resultaram em mais um show de despreparo e desconhecimento absolutos e irreparáveis.
O tumor da Receita é grave e metastático, característica do adenocarcinoma petista. Mas o estado de ignorância integral, mediado pela má-fé, que a candidata quase eleita demonstra sem trégua há 11 meses me parece ainda mais preocupante – porque será doença crônica e incapacitante durante pelo menos quatro anos. Ela não sabe nada sobre o País que pode vir a governar – nem sobre o que fazer com ele.
Na saída da reunião, entre triunfante e compenetrada, começou a falar sobre os “problemas da era do crescimento”. Ou seja, o Brasil de Lula cresceu tanto que, se melhorar, estraga.
“O país, chegando quase ao pleno emprego, nós vamos precisá de qualificá bastante a nossa mão de obra para podê dá um salto”, recita a candidata que dará o maior salto de sua vida sem precisá de se qualificá nem um pouquinho.
Muitas sugestões ouvidas do presidente da CNI viraram “plano de governo” no caminho da sala da casa à calçada da coletiva:
“A CNI tem um processo que é muito interessante di, i qui afina-se com a minha proposta em relação ao ProMédio (programa de bolsas de estudo para alunos de ensino médio e baixa renda, ainda uma ficção), que é combiná o ensino médio com o ensino profissionalizante. Então, no nosso caso, a gente utilizaria, né, as vagas tanto nas escolas, é, nos institutos federais tecnológicos e também de todas as entidades privadas que prestam cursos profissionalizantes. Então a gente compraria vagas e complementaria o ensino técnico com o ensino médio, articulando um no outro. Eles chamam isso de ensino articulado”.
Dilma também gostou muito de algo que ouviu do presidente da CNI sobre o ensino em regiões remotas. Já encampou a ideia, mas vamos ver se ela entendeu direitinho:
“E outra sugestão muito interessante que eu achei é em pequenas cidades no Amazonas usar o ensino técnico móvel. Seria uma capacitação muito parecida com que nós fazemos no Brasil Profissionalizante, que é, por exemplo, eles operam muito com caminhões ou com ônibus. Ali, a escola chega, eles formam eletricistas. Nós fizemos isso aliás no Luz para Todos. No Luz para Todos faltava eletricista e a gente tinha de formá nos próprios lugares”.
Deve ser um projeto maravilhoso, mas a versão de Dilma, aparentemente, é meio esquisita. Caminhões e ônibus transportam muito poucas coisas no Amazonas, um estado basicamente fluvial. Um caminhão ou um ônibus chegando a uma cidade remota com uma escola dentro seria um acontecimento. Se me falta a luz necessária para entender o programa, não faltarão eletricistas para nos iluminar a todos.
Esses são apenas os primeiros quatro minutos do vídeo. Há mais cinco minutos impagáveis — mas que pagaremos caro.
Divirtam-se com a Escolinha Média Fundamental Básica Profissionalizante da Professora Dilma.
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