Pai e mãe
Editorial - Folha de S.Paulo, 19/08/10
Estratégia governista de tratar política como vida familiar não é republicana e ajuda a encobrir candidata que ninguém conhece.
"O Brasil amadureceu. Não precisa ser uma sociedade infantilizada. Querem infantilizar os brasileiros com essa história de pai e mãe", disse a candidata Marina Silva no debate Folha/UOL, que reuniu ontem os três candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas eleitorais.
Um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco oferecera, na véspera, mais um exemplo daquilo que a postulante do PV, com acerto, criticava. "A palavra não é governar", anunciou, ao repisar o tema. "A palavra é cuidar. Eu quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo como uma mãe cuida do seu filho."
Em ato falho, a frase condensa o presidente e a candidatura por ele inventada. Dilma Rousseff "c'est moi" (sou eu), admite afinal a petista. "Mãe" e "pai" dos brasileiros se fundem na mesma figura mistificadora. A declaração revela mais do que o entendimento de Lula sobre o processo sucessório. A apresentação da política em termos característicos das relações privadas e familiares termina por desvirtuá-la, ao negar o caráter igualitário da esfera pública.
O princípio de igualdade entre os cidadãos deve valer também para seus dirigentes, escolhidos pelo voto. Não pode haver relação hierárquica, do ponto de vista político, entre o mandatário de turno e o conjunto de eleitores.
Compete a todos obedecer apenas às leis.
A figura paterna, ao contrário, pressupõe uma relação de superioridade com os filhos. Os laços cordiais, de afeto e de "cuidado" contidos na imagem proposta por Lula mal disfarçam a herança patrimonial e autoritária da política brasileira. A metáfora ecoa a tutela populista exercida sobre as massas recém chegadas à cidade em meados do século passado. Contradiz os princípios impessoais republicanos.
Faz pouco do cidadão -que não precisa de atenções paternais ou maternais, mas de respeito a seus direitos.
O discurso retrógrado e conservador serve muito bem às circunstâncias fabricadas por Lula. Induz a uma avaliação da candidatura de Dilma por critérios outros que não os da vida pública.
Nesse terreno a postulante governista é um enigma. É provável, como querem os petistas, que não lhe falte competência gerencial. Não se sabe, no entanto, como se comportará na eventualidade de ser eleita para ocupar o mais alto posto da República.
Mesmo Jânio Quadros e Fernando Collor, que chegaram ao poder máximo de forma fulminante, haviam sido antes prefeitos, governadores e parlamentares. A ex-ministra da Casa Civil jamais disputou eleição, não exerceu nenhum mandato, nunca foi submetida ao escrutínio público. Até Lula admite tê-la conhecido há apenas oito anos. Em caso de vitória, excetuados os presidentes da ditadura militar, ninguém como ela terá chegado ao ápice sendo tão pouco conhecido e testado.
São fragilidades como essa -alarmante, quando estamos na iminência de uma campanha sumária de estilo consagratório- que a xaropada sentimental dos publicitários procura ocultar. Cumpre à imprensa independente, às associações da sociedade civil que procuram influenciar o processo eleitoral e a cada cidadão levantar o véu da fantasia.
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Caro Professor, boa tarde!
ResponderExcluirQuero entender, porque mesmo com tanta informação os jovens sao tão displicentes?
O que eu ouço é de arrepiar..acham lindo que a Dilma tenha sido 'guerrilheira'... alguma sugestão de diálogo, alguma página interessante, com leitura rápida de preferência, porque eles ainda nao aprenderam a delicia que é ler...ler...ler!
Tomei a liberdade e já estou divulgando este 'seu' link.
att
Kátia Duarte
Olha na minha opiniõ, eu acho o seguinte, como outros candidatos tratam chingando, falalndo mau e falando coisas que chegam até agridir a moral da candidata. Acho que Lula merece essa participação antecipada de apoiar a sua candidata Dilma. Seja lá como for: sem chigamento sem ofensas e etc... Estou gostando e dando essa oportunidade para os eleitores votar conscientemente p/ uma mulher que é Dilma Rousseff. A nossa futura presidenta do nosso querido Brasil. se volta para ano de 2002 p/ tras foi esquecido pela elite política e egoísta.Sou orgulhoso, contente e feliz de está fazendo parte de irmãos de fé. Que é LULA, Wagner, Dilma, Lídice, Pinheiro,... Que venha a turma da fé para continuar e dando oportunidade para quem mais precisa. São coisas que olhando para tras não dá pra voltar. De forma alguma. Pra Bahia seguir em frente como o Brasil está seguindo é votando nesses candidatos.
ResponderExcluirFolha de Sâo Paulo, Jornal O Globo e todas entidades ligadas às Organizações Globo sinceramente não são relevantes, tanto em pesquisas como em matérias. Lamento muito (...).
ResponderExcluirSandro Henrique.
Rio Grande do Sul - Porto Alegre.