Pesquisas não servem às torcidas
Mario Paulino, diretor do Datafolha
Folha de S.Paulo, 10.08.2010
AO MOSTRAR, em abril deste ano, que o tamanho da torcida do Corinthians estava, naquele momento, a apenas quatro pontos percentuais da do Flamengo, no limite do empate técnico, o Datafolha foi contestado por centenas de flamenguistas com argumentos frágeis e ameaças de todos os graus. Costumeiramente são esses, das torcidas, os números que geram mais polêmicas e reações genuinamente apaixonadas.
O empate técnico entre Serra e Dilma, apurado pelo instituto há duas semanas, elevou as reações políticas ao mesmo nível de agressividade dos argumentos típicos das arquibancadas. Neste caso, às ameaças e impropérios dos militantes, remunerados ou apaixonados, somam-se falácias técnicas elaboradas por pseudo-especialistas em pesquisa, que propagadas e repetidas à exaustão nos meios eletrônicos, são tomadas por muitos como verossímeis.
Esse processo de coerção não é novo para o Datafolha nem exclusividade dos consultores contratados pelo PT. Nos primeiros dez dias da disputa pelo segundo turno em 2006, enquanto o Datafolha mostrava sozinho que Geraldo Alckmin poderia ter menos votos do que havia obtido no primeiro, o PSDB levantou várias suspeitas embasadas em argumentos “técnicos” contra os métodos do Datafolha. Algumas foram repercutidas pelo próprio candidato do partido à Presidência em debate na TV.
Mais recentemente, na disputa pela Prefeitura do Rio em 2008, a ultrapassagem de Gabeira sobre Crivella, revelada pelo Datafolha antes mesmo das pesquisas internas dos partidos, também foi motivo de suspeitas infundadas sobre o instituto.
Não é, portanto, a primeira vez que o Datafolha destoa de seus concorrentes. Isto não quer dizer que esteja necessariamente certo ou errado em todos os resultados que divulga. É prudente, no entanto, que seus fundamentos metodológicos colocados à prova há 26 anos, sejam levados em conta.
Mas como o eleitor brasileiro deve ler resultados diferentes divulgados pelos institutos de pesquisa? Analisando os números sem viés partidário e informando-se sobre a atuação de cada instituto em eleições anteriores o que lhes confere reputação e credibilidade.
Por mais que alguns pesquisadores tentem fazer parecer o contrário, pesquisas não são preditivas, refletem resultados do momento em que são feitas, embutem erros determinados pelos limites estatísticos e seus resultados podem variar de acordo com os instrumentos utilizados nas entrevistas, como o questionário.
Muitas informações fundamentais para avaliar os números divulgados podem ser obtidas no site do TSE que disponibiliza os registros de cada pesquisa contendo informações específicas e instrumentos de coleta de cada instituto. O Datafolha posta em sua página na internet cruzamentos e bases estatísticas de todas as pesquisas que divulga e defende que essa prática seja obrigatória.
Como os resultados de pesquisas, amplamente divulgados, estão entre os principais fatores de captação de recursos para as campanhas, aposta-se na confusão e na distorção para amenizar ou potencializar possíveis prejuízos. Cabe aos analistas independentes a missão de reconhecer o viés partidário das afirmações propagadas.
Quem frequenta estádios e quem produz pesquisas sabe que torcidas organizadas, por vezes, viram as costas para a partida e mergulham em seus próprios cânticos, perdendo a razão e o próprio jogo.
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