Ainda recentemente, observando o tom especialmente virulento (e por vezes violento) dos embates políticos em países vizinhos -- podemos colocar aí a Venezuela, a Bolívia, o Equador, agora Honduras, possivelmente o Peru, na próxima eleição presidencial, talvez a própria Argentina, quem sabe -- eu me dizia: "Ainda bem que o Brasil não conhece esse fenômeno da fratura política fundamental entre correntes de opinião, que nossa sociedade não está dividida, e que poderemos ter um próximo pleito presidencial mais civilizado, com debates corteses, poucas demonstrações agressivas nas ruas, enfim, uma democracia consolidada, uma sociedade civilizada...
Pode ser que eu esteja enganado, a julgar por esta matéria que acabo de ler no Observatório da Imprensa (link)
Os olhos da imprensa
Por Luciano Martins Costa em 28/7/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 28/7/2009
A leitura dos comentários postados nas áreas de debates de blogs e sites noticiosos, inclusive neste Observatório, pode induzir o observador a concluir que o Brasil está dividido em dois grupos políticos radicais, irredutíveis e inconciliáveis.
Um deles apóia incondicionalmente o presidente da República, mesmo quando ele defende o indefensável presidente do Senado, odeia o presidente do Supremo Tribunal Federal e acha que a imprensa não merece confiança.
O outro grupo condena liminarmente tudo que diz ou faz o presidente da República, independentemente de seus recordes de popularidade e seus indicadores de acertos, tem o presidente do STF em alta conta e parece acreditar em tudo que a imprensa publica.
Esses dois universos paralelos se manifestam em reuniões sociais, onde um encontro entre indivíduos das correntes antagônicas oferece sempre o risco de descambar para bate-boca e irracionalidade. As posições controversas também podem ser detectadas no comércio, nas correntes de opinião que circulam pela internet e até nas anedotas que eventualmente brotam em elevadores lotados.
O outro lado
No Brasil ainda não se percebe a contaminação de outros ambientes mais inflamáveis, como as torcidas de futebol, por esse assunto radical e explosivo. Em Honduras, por exemplo, a questão que envolve o afastamento do presidente Manuel Zelaya provocou um confronto entre torcidas dos dois times de futebol mais populares do país, deixando dois mortos e quase vinte feridos. Mas, estranhamente, essa expressão da diversidade democrática passa quase imperceptível pela imprensa brasileira, ou aquilo que ainda chamamos de o núcleo duro da imprensa.
A leitura dos jornais e revistas dá a impressão de que o Brasil se caracteriza por uma opinião majoritária e claramente oposicionista. As seções de cartas dos leitores, se fossem tomadas como referência da opinião pública, revelariam um cenário absolutamente oposto ao que demonstram as pesquisas.
Articulistas, colunistas, entrevistados e humoristas em geral que têm espaço garantido na mídia tradicional alinham-se quase absolutamente de um lado dessa linha divisória, o que faz a imprensa parecer um linguado, aquele peixe que tem os dois olhos de um lado só.
Quem quiser conhecer o outro lado tem que acessar a internet. O Brasil de verdade não está no papel.
terça-feira, 28 de julho de 2009
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