sexta-feira, 2 de julho de 2010

The Economist examina as chances de Dilma (1)

BRASIL
Candidata do PT ultrapassa José Serra nas pesquisas de opinião – veja análise da Economist
Opinião e Notícia, 2/07/2010

Economist contraria Datafolha

No momento, todos os olhos do Brasil estão voltados para um único evento: a Copa do Mundo de Futebol, na qual o país tem a chance (e para muitos, a obrigação) de conquistar seu sexto título. Porém, no próximo dia 6 de julho, tem início a campanha para as eleições de outubro. Serão as primeiras eleições, desde 1989, sem o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, ele permanece como a figura dominante da disputa.

Dilma Rousseff, candidata da situação, nunca esteve em um cargo eletivo do país. Sua reputação é de uma administradora eficiente, mas de péssimo temperamento. Ela só se filiou ao PT em 2001, e passou metade do ano de 2009 se recuperando de um linfoma. Todos esses fatores fazem dela a menos óbvia das candidatas, mas quando veteranos do partido tiveram que abandonar a política graças a escândalos de corrupção, e outros se mostraram pouco populares com os eleitores, seu nome surgiu como sucessora de Lula. Nas últimas semanas, Dilma ultrapassou pela primeira vez o candidato do PSDB, José Serra, nas pesquisas de opinião do IBOPE. Embora a mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, publicada nesta sexta-feira, 2, aponte um empate entre os dois, seu crescimento mostra que Lula foi capaz de transferir sua popularidade para sua candidata, como mostra o gráfico abaixo que acompanha as intenções de voto nos últimos meses:

José Serra passou então a ter o duro trabalho de derrotá-la. Embora tenha uma experiência consideravelmente maior que a de Dilma, tendo sido governador de São Paulo – o segundo emprego mais poderoso do país –, Serra ainda luta para fazer com que a experiência prevaleça numa campanha em que a maioria dos brasileiros, especialmente aqueles nas áreas mais carentes, querem continuidade. Em áreas carentes de São Paulo, onde o governo de Serra construiu escolas e hospitais, é Lula quem tem a simpatia dos moradores, que creditam a ele programas como o Bolsa Família. “Vivendo aqui, tão longe do resto do mundo, temos que votar em quem fará algo por nós”, diz Quitéria de Souza, uma mãe divorciada com três filhos, moradora do Jardim Iguatemi.

A pergunta que os dois candidatos – juntamente com Marina Silva, do PV – têm de responder é como levar adiante o legado de Lula. José Serra afirma que o Brasil mantém três recordes negativos: os juros mais altos do mundo, os maiores impostos dos países emergentes, e um dos mais baixos índices de investimento público. Ele afirma que irá acabar com o desperdício público, criando espaço para a queda dos juros. Isso permitiria que a moeda supervalorizada enfraquecesse, ajudando os industriais a lidar com a competição da China. Ele pretende reformar o complexo sistema de impostos, para impulsionar o investimento público e privado. Desta forma, o Brasil poderia maximizar o aproveitamento das oportunidades que surgiram com o boom de seus produtos, que não durará para sempre.

Enquanto isso, o governo federal gasta cada vez mais com o sistema previdenciário. Embora somente 6% da população esteja acima dos 65 anos, o país gasta 11,3% do PIB com o setor previdenciário. Fábio Giambiagi, economista do BNDES, afirma que o número de pensionistas crescerá 4% nos próximos dez anos. Caso o crescimento econômico se mantenha estável e a próxima gestão freie os aumentos no salário mínimo ainda se manterá sob controle. Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nota que o governo transfere dez vezes mais capital para os pensionistas do que para as crianças. Ele é um dos assessores de Marina Silva, a única candidata a defender firmemente uma reforma do setor.

Um dos carros-chefes da gestão de Lula é a questão petroleira. Ao invés de concessões nas quais empresas petrolíferas pagam royalties e impostos, mas mantém o petróleo extraído, no futuro, o governo espera controlar o petróleo através de uma nova empresa estatal, operada pela Petrobras. O pesadelo da oposição é que o PT use o petróleo para se perpetuar no poder, seguindo o modelo da Venezuela de Hugo Chávez. No entanto, o governo diz se espelhar em outros modelos, como a Noruega, que manteve grande parte de suas reservas. “Queremos usar a riqueza do petróleo de modo que o resto da economia não seja contaminada”, diz Márcio Zimmerman, ministro de Minas e Energia.

Em outubro os brasileiros terão de fazer uma escolha. José Serra lhes oferece um Estado forte, mas enxuto, com maior ênfase na iniciativa privada e com impostos menores. A equipe de Dilma Rousseff acredita que o Brasil terá tempo de reduzir os impostos e os juros gradualmente, e que o governo deve promover o desenvolvimento industrial e redistribuir a renda. Após 16 anos de estabilidade e continuidade política, nenhum dos dois candidatos oferece mudanças radicais. O que permanece em risco é a velocidade do progresso brasileiro.

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