domingo, 16 de agosto de 2009

57) Reinaldo Azevedo sobre a pesquisa DataFolha

Apenas transcrevendo:

DATAFOLHA: TUDO NA MESMA, MAS PIOROU PARA DILMA E MELHOROU PARA SERRA

Reinaldo Azevedo, 16 de agosto de 2009 - 07:39

Pesquisa Datafolha publicada hoje pela Folha mostra que o tucano José Serra mantém folgada liderança na disputa pela Presidência da República, com 37% das intenções de voto. Em maio, aparecia com 38%. Como a margem de erro e de 2 pontos para mais ou para menos, não houve alteração na sua posição. A petista Dilma Rousseff também segue no lugar em que estava antes: 16%, empatada com Ciro, com 15%, que igualmente não se moveu. Tudo como era dantes, com alguns detalhes potencialmente interessantes. O Datafolha testa dois cenários com Marina Silva como candidata do PV: ela atinge 3%. É quase nada em números. É um dado significativo considerando que as especulações sobre sua candidatura não têm 15 dias.

Vejam os dados de um dos cenários que, à primeira vista, parece bastante plausível:
Serra (PSDB) - 36%
Dilma (PT) - 17%
Ciro Gomes (PSB) - 14%
Heloísa Helena (PSOL) - 12%
Marina Silva - 3%

Pois bem. Alguém mais apressado pode indagar: “E se Ciro não for candidato? Ele é da base do governo, né? Sem ele na disputa, Dilma não cresceria?”. Segundo a pesquisa, nesse caso, ela pode chegar a 19%, mas Serra salta para 44%. Isso quer dizer que o deputado do PSB não transfere todos os seus votos para a petista — parte migra para Serra. No cenários em que o atual governador de São Paulo é substituído por Aécio Neves, o mineiro chega a 20%, mas é superado por Ciro Gomes, que assume a liderança com até 23%. Dilma não lidera nunca? Sim: desde que Serra e Ciro estejam fora — nesse caso, pode chegar a 24%. Por enquanto, o jeito de Dilma ficar na frente é não tendo com quem concorrer. Mas, mesmo nesse caso, não fica sozinha: se Heloísa Helena estiver na parada, a ministra empata com a candidata do PSOL.

Os números e o que ele dizem
Um petista otimista dirá que nem Dilma nem Serra têm muito o que comemorar porque ambos estão estacionados. O otimismo é um direito. O fato é que a ministra está em campanha aberta, tendo um poderosíssimo cabo eleitoral, Lula, que já está no palanque. Isso lhe garante o que se chama por aí “mídia nacional”. Desde que o presidente lançou seu nome, ela só cresceu nos levantamentos — e sua doença, como analisou com a delicadeza costumeira Marco Aurélio Top Top Garcia, lhe foi eleitoralmente positiva. Mas parou.

Estancou por quê? Alguns poderão dizer que há aí o efeito da crise econômica. A crise existe, sim, mas não me parece ter tradução eleitoral em razão de motivos que não cabe expor aqui sem que se crie um grande desvio. Há uma boa possibilidade de que Dilma não seja uma candidata tão fácil assim de ser passada adiante, mesmo tendo Lula como vendedor. Convenham: fora de um período tipicamente eleitoral, com propaganda oficial, não há como ela aparecer mais do que aparece hoje. Exceção feita ao noticiário dos últimos dias — depois que Lina Vieira, ex-secretária da Receita, a acusou de tentar interferir na investigação das empresas da família Sarney —, seu nome sempre aparece associado a notícias positivas. Mesmo assim, sem trocadilho, ela empacou.

E Serra? Tem muito menos “mídia nacional” do que sua adversária e, na imprensa paulista, como responde por todas as áreas da administração do estado, vê seu nome associado ora a fatos positivos, ora a fatos negativos. Quando indagado sobre eleições, diz que ainda não é candidato etc. Vocês conhecem a resposta. Mas seu nome resiste com liderança folgada. Simulações de segundo turno dariam com mais clareza qual seria hoje a tendência de migração de votos. Infelizmente, não foram feitos.

O fato é que, a despeito da poderosa máquina oficial que embala a candidatura de Dilma, o candidato da oposição segue na frente: no Nordeste, abre até 13 pontos de vantagem (31% a 18%); em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, a dianteira do tucano é de 40 pontos: 51% a 11%. Não custa lembrar: o Datafolha é um instituto que, de fato, faz pesquisa. Há alguns por aí que só produzem delinqüência a soldo para delinqüentes idem.

Marina e o PT?
É muito cedo para dizer que ela “só” tem 3%. Tendo a considerar que “já” tem 3%. E, se for candidata mesmo, a tendência é crescer. Até porque aposto que Heloísa Helena não será candidata — que eu saiba, tem uma eleição garantida para o Senado em Alagoas. Seu partido precisa que ela volte ao noticiário nacional. Boa parte dos eleitores que votam à esquerda do petismo tenderão a migrar para Marina. E a possível candidata do PT tem alguns pontos a ganhar ainda junto a esses setores da classe média que sabem rimar tão bem utopia com melancolia, paixão com desilusão. Já brinquei aqui — e depois li no Radar que Lula disse o mesmo (eu, hein!?): ela é minha candidata a santa.

A senadora produziu algum grande estrago na candidatura de Dilma? Ainda não, mas o PT tem razão em temê-la. Não acho que ela tire votos da petista. Penso que contribui para que a adversária não os ganhe. São fenômenos distintos no tempo. Não creio que a possível candidata do PV tenha, agora, tomado da petista os três pontos que conseguiu. Se for realmente para a disputa, ela concorre para a desvalorização de alguns potenciais ativos eleitorais de Dilma: mulher, destemida, amiga do povo… A candidata do PT perde muito do seu charme. E se vai também qualquer apelo à utopia. Marina torna a candidatura de Dilma mais pesada.

Ciro Gomes
Tendo a achar que Ciro será mesmo candidato à Presidência da República. Se Dilma tivesse disparado, como chegaram a imaginar alguns petistas, seria mais difícil ele justificar a sua decisão. Se tudo estivesse se dando como queria o Planalto — uma disputa plebiscitária —, bastaria a Ciro se juntar à tropa. Mas parece que as coisas não acontecerão desse modo. Marina contribui para desarranjar esse cenário. É por isso que os petistas atribuem a Serra a manobra de lançamento de seu nome.

O deputado do PSB ainda não desistiu da idéia de ser vice de Dilma. Somando apenas os números da pesquisa, parece ser uma grande idéia. Só que Lula é esperto o bastante para saber que, em política, a depender da composição que se faça, em vez de se juntarem os votos, juntam-se as rejeições. De resto, seria preciso saber o que fazer com o PMDB.

Até os petistas sabem que essa rodada de pesquisas foi auspiciosa para Serra e negativa para Dilma. E Marina mal começou a se mexer.

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