Editorial econômico do jornal O Estado de S.Paulo, Terça-Feira, 18 de Agosto de 2009
O desserviço de Lula a Meirelles
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve o grande mérito de reconhecer a independência do Banco Central (BC) e de apoiar seu presidente, malgrado as pressões do seu partido (PT) em favor de uma política menos ortodoxa.
Mas justamente quando os senadores petistas reconhecem que a política monetária do BC deu certo é que Lula resolve abandonar sua linha de conduta em relação a essa política...
Ao levar Henrique Meirelles a Goiás, na sua comitiva, e não esconder que ele é o seu candidato a governador daquele Estado, Lula prestou-lhe um desserviço ao forçá-lo a entrar numa campanha eleitoral sem ter-se decidido ainda a disputar de fato o governo de Goiás.
Mas Lula ainda agravou a situação quando, logo depois, declarou que, na sua opinião, existe ainda espaço para uma redução da taxa Selic. Essa declaração contradiz a Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deixou bem claro que as autoridades monetárias demorariam para aprovar uma nova redução da taxa básica de juros.
Seguramente, com essa declaração, Lula quis incluir a condução da política monetária em sua estratégia de "bondades eleitorais". Mas, desse modo, criou uma situação delicada para Henrique Meirelles.
De fato, se, diante de fatos altamente positivos, o Copom decide optar por uma nova redução da Selic, a decisão será interpretada como tendo objetivo eleitoral. Por isso, caberia ao presidente do BC apresentar sua demissão logo que escolhesse um partido, o que deixaria clara sua vontade de entrar na luta eleitoral. Não seria legalmente obrigado a isso, podendo esperar até março do próximo ano para sair do BC. Apenas as declarações de Lula tornam sua demissão moralmente necessária.
A posição de Lula é mais preocupante. Ao escolher um novo presidente do BC, agora ou no próximo ano, mostra que sua escolha terá nítido sentido político, esquecido o compromisso da véspera da sua primeira eleição de manter a política econômica ao abrigo da ideologia petista e garantida a independência do Banco Central.
Há várias razões para crer que a escolha do substituto de Meirelles será determinada pelos objetivos eleitorais do PT, visando a acabar com a independência do Banco Central ? que até agora foi apoiada pelo governo Lula. A suspensão dessa independência no período pós-crise, com déficit público crescente, poderá ter graves consequências para a economia.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
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