domingo, 7 de fevereiro de 2010

273) Candidaturas do governo: embolou o meio de campo?

Ciro se diz ''prejudicado'' e engrossa discurso
Julia Duailibi
O Estado de S.Paulo, Domingo, 07 de Fevereiro de 2010

Ele vê 'ruído' na mudança do título para SP e põe partido em dilema

Após um giro pela França, Alemanha e Holanda, que despertou a fúria de aliados, o deputado Ciro Gomes (PSB) voltou a Brasília com um veredicto: foi prejudicado pela mudança do seu título de eleitor para São Paulo em outubro passado. Agora, com setores de seu partido flertando com apelos governistas de fazer uma eleição plebiscitária, o deputado resolveu engrossar o discurso de pré-candidato e chega a vaticinar uma zebra no cenário da eleição nacional. "Vai mudar tudo", afirma.

"Eu estou dizendo que topo, mesmo isolado. Para mim é um imperativo moral. Se amanhã o meu partido me exonerar desse imperativo, também estou satisfeito, estou com a vida ganha. Não acho que eu seja indispensável para o País", afirmou ao Estado, antes de viajar a Pernambuco, onde gravou o programa de TV do partido que vai ao ar no dia 18 e do qual será a principal estrela. E o suicídio eleitoral de ir para uma disputa com dois minutos de TV? "Vou com zero", respondeu Ciro.

O PSB passa por um dilema. Enquanto setores apostam que Ciro deve ir para a disputa, mesmo sem alianças, outra ala avalia que, sem tempo de TV, resta abraçar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Neste grupo, está o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE). Parlamentares temem que o voo solo prejudique os planos de eleger 50 deputados e reeleger os governadores de Pernambuco e Ceará (Cid Gomes, irmão de Ciro).

O deputado joga para o partido a decisão sobre sua candidatura a presidente, o que deixa a porta aberta para a retirada de seu nome da corrida. Caso isso ocorra, aumenta a chance de ser arrastado para a disputa do governo paulista - desejo do presidente Lula inversamente proporcional ao dele.

Na avaliação de Ciro, o "ruído" causado pela transferência do seu domicílio eleitoral para São Paulo acabou prejudicando-o nas pesquisas de intenção de voto. "Claro que o maior prejudicado foi eu. Disse a Eduardo Campos: "Sabe que isso vai criar ruído, dubiedade. Provavelmente, vou cair nas pesquisas porque as pessoas vão ficar em dúvida"." Embora diga que a candidatura paulista seria "fabricadíssima", tem na manga o discurso que usaria, caso venha a encabeçar a coalizão governista no maior colégio eleitoral do País. "Se eu topasse, seria para dizer, eventualmente: "Atenção paulistas, nasci em Pindamonhangaba, conheço a importância de São Paulo, mas vim para mobilizar a intelligentsia, trazer meu conhecimento de governante para quem acha que o que está aí é medíocre. Mas não vou dizer que sei onde está a Mooca. Se tiver de ir até lá, desculpe, só se for de táxi"."

Para integrantes do PT e até aliados, apesar da retórica, o deputado não levará em frente a candidatura. As movimentações e as críticas frequentes ao PMDB são vistas como desejo de obter a indicação à vice-presidência na chapa de Dilma. Ele nega. "O sistema político é brilhante. Se não for da vontade do eleitor que eu seja presidente, estarei obrigado a apoiar a força vizinha a mim no segundo turno. Mas abrir antes é deserção de um dever moral. Não estou pedindo um passeio. Estou pedindo uma tarefa dificílima."

O parlamentar aposta que o cenário eleitoral vai mudar. Diz que o governador de São Paulo, José Serra, não será candidato e o de Minas, Aécio Neves, terá a indicação tucana. Dilma pode não decolar nas pesquisas, fortalecendo a tese do segundo candidato da base governista. "A taxa de profecia de dezembro para cá caiu em favor da percepção de realidade", afirmou.

"Ciro está firme. A avaliação é de que a sua candidatura fortalece o PSB nacionalmente", afirmou o deputado Rodrigo Rollemberg (DF). "O partido quer viabilizar a candidatura, mas pode chegar lá na frente e fazer uma reflexão. Ele sabe disso. A conversa é aberta", disse o senador Renato Casagrande (ES).

CRÍTICAS
Questionado se subiu o tom contra Lula - na semana passada disse que "santo Lula" estava errado em ser contra outra candidatura da base -, Ciro respondeu: "Há uma manipulação sem nenhuma coerência com a perfeita sintonia e a fraterna amizade que tenho pelo presidente. O que disse é que, para mim e para todos que cultivam a política como hábito coletivo, Lula não é um santo nem um mito. É um extraordinário líder político, por quem tenho respeito."

Farpas sobram para o ex-ministro José Dirceu. "Gosto dele, mas acho que tem uma cabeça política que precisa muitas vezes ser contrastada. Zé Dirceu tem o ego pouco regulado e de vez em quando navega na maionese", afirmou. As críticas são em razão de viagem de Dirceu ao Ceará e Pernambuco, onde teria articulado contra a candidatura de Ciro. "Resolvi dizer: "Zé, chega. Muda de método que essa simulação de alter ego do Lula só serve para desinformar"." E disparou: "Neste momento, para recuperar o espaço perdido, simula para o planeta que é íntimo de Lula de novo. Com isso ganha dinheiro e, por outro lado, faz política. Ele não é consultor da República? E ganha quanto por isso?"

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