TIO REI CORRIGE O CORRESPONDENTE DO EL PAÍS, MOSTRA QUEM FEZ O QUÊ E FALA DE DIFERENÇAS ENTRE SERRA E DILMA
Reinaldo Azevedo, 16/02/10
Há uma análise um tanto curiosa de Juan Árias, correspondente no Brasil do jornal espanhol El País. Segundo ele, vença José Serra ou Dilma Rousseff, o vitorioso será Lula. Sintetizando os motivos que aponta: a petista será a continuidade, sem nuances, do atual governo, e o tucano não alteraria as medidas sociais essenciais em curso. Parece uma sacada interessante e tal. Mas, se é assim, então é preciso dizer que a grande vitoriosa, em primeiro lugar, é mesmo a democracia. E tão vitorioso quanto ela é Fernando Henrique Cardoso. Explico os motivos. E depois discordo um pouco de Árias em outro particular.
Vamos à vitória da democracia: acabou, ao menos até onde se pode enxergar, a fase dos governos que vinham “para mudar tudo isso que está aí”; que vinham para passar uma borracha no passado; para jogar a obra dos antecessores no lixo. O último que se apresentou com este discurso tosco foi Luiz Inácio Lula da Silva. Ele vendeu esse peixe em 1989, 1994, 1998 e 2002. Na última, emplacou. Embora seu partido tenha escrito a tal Carta ao Povo Brasileiro jurando fidelidade às regras, tal decisão tinha como público-alvo só os mercados; para os eleitores como um todo, a mensagem ainda era aquela do “vamos mudar tudo isso aí”. Quem não se lembra daquela marcha de grávidas, todas trazendo os bebês de Rosemary? E ainda ao som daquela música monstruosa, ameaçadora, aquela, vocês sabem…
Pois Lula se elegeu e não mudou nada, não é mesmo, Arias? Os marcos da economia continuaram a ser rigorosamente os mesmos; o superávit fiscal, antes demonizado como mamata para banqueiros, foi aumentado; a Lei de Responsabilidade Fiscal, contra a qual o PT recorreu ao Supremo, se tornou “imexível” - pena não ter sido estendida ao governo federal, e Lula não estaria na farra das contratações; as políticas monetária e cambial foram mantidas… Os programas sociais todos são também herança tucana, reunidos agora sob um novo guarda-chuva, e, sem dúvida, chegam a um maior número de pessoas.
Assim, se Dilma, na economia, não vai mudar nada, então se pode dizer: “Pô, o presidente Fernando Henrique Cardoso continua a fazer seu sucessor!” Ou, então, os petistas provem que mudaram tudo. Fazer firula para seus ignorantes na Internet, manipulando números de forma vigarista, é fácil. Quanto a platéia é especializada, como aquela em Davos, a gente sabe o resultado: Guido Mantega teve de engolir a arrogância e reconhecer que a régua e o compasso tinham sido dados no governo anterior.
Arias também diz que o país passa sem solavancos institucionais. Mais uma herança bendita de FHC, a despeito dos arroubos autoritários do PT.
Árias despreza, como fica claro em seu texto, as mudanças para pior introduzidas por Lula, como é o caso da política externa, em que o Brasil coleciona uma penca de erros e derrotas, a despeito do que digam Celso Amorim e seus mistificadores na imprensa. O vexame mais recente, como todo mundo sabe, é Honduras. Mas é apenas um numa longa fila. As tentativas de cercear a liberdade de imprensa estão aí, aos olhos de todos. Lula agora atropela o TCU, faz troça da Lei de Licitações e, como sempre, manda a Lei Eleitoral às favas, sob o silêncio cúmplice de um TSE que, infelizmente, não parece andar com os olhos vendados. Ao contrário: enxerga muito bem; sempre sabe onde Lula está e não o atinge, a despeito das arreganhadas ilegalidades.
Árias tem razão numa coisa: se Dilma vencer, isso continua. Eu diria mais: acho que esses aspectos negativos do governo se exacerbam. Afinal, Lula é o chefão de um partido de esquerda por puro oportunismo; Dilma é ideológica.
Nessas outras questões, que dizem respeito à democracia e à política externa, não tenham dúvida: se Serra vencer, haverá mudanças, sim: e serão mudanças que vão recolocar o Brasil no rumo das modernas democracias, não dos autoritarismos decrépitos.
Sintetizo
1) Se Árias está dizendo que o Brasil segue sendo uma democracia estável vença Serra e Dilma, a vitória, então, é de FHC, que entregou este país estável a Lula a despeito dos desejos do petista, não é mesmo? Ele dizia que iria mudar tudo e não mudou nada.
2) Não é verdade que Serra e Dilma dariam seqüência à mesma política em todas as áreas. Nas questões relativas à democracia e à política externa, a abordagem certamente seria outra. Não vejo o Brasil dando piscadelas para terroristas sob um governo Serra. Mas eu o vejo, sob Dilma, todo catita com facínoras - porque é assim que está sob Lula. A boa herança de Lula que será preservada não lhe pertence. Ele a recebeu de FHC, embora se esforce para apagar o outro da história. Aí já se torna um caso de apropriação indébita, de roubo mesmo. É isto: Lula se tornou um ladrão de biografia. Com a ajuda da imprensa - nacional e estrangeira, como se vê.
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PT e PSDB não combinam apenas com a "política" econômica dos juros e da carga tributária mais alta do mundo.Suas campanhas presidenciais tem os mesmos patrocinadores. Duas dezenas de empresas investiram R$ 54,1 milhões na última disputa, insignificante perto do spread obtido. O Banco Itaú, por exemplo, apostou igual em ambos os 'cavalos'.
ResponderExcluirOs postulantes são velhos companheiros circenses. De mãos dadas entoavam o número das Diretas já, por eleições livres.
E foi o PSDB de FHC quem trouxe o maior cabo eleitoral digo mensal de todos os tempos - Marcos Valerio - forte para dobrar a constituiçaõ em prol de sua reeleição, e para continuar, sob os auspícios do PT.
O espanhol foi light. Nossa democracia é para inglês ver. Ele vê, e ri.