quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

294) Pesquisas e manipulacoes: Reinaldo Azevedo

Apenas transcrevendo, sem comentários:

SERRA NO IBOPE: TUCANO INSISTE EM CONTRARIAR BOA PARTE DA IMPRENSA E SEGUE NA LIDERANÇA; SEM CIRO, PODE VENCER NO 1º TURNO. OU: QUE ISENÇÃO MAIS SEM-VERGONHA!!!
do Reinaldo Azevedo, 18.02.2010

Muita atenção para o que vai abaixo. Eu estou lhes fornecendo uma espécie de guia para sobreviver na rede - inclusive a de intrigas.

Os blogs petralhas, o Ministério da Verdade - chefiado por Franklin Martins - e a patrulha que policia a Internet alimenta a fantasia de que a “mídia” é antipetista, pró-tucana, pró-Serra etc. Não serei eu a provar que isso é mentira, mas os números. A VERDADE É BEM OUTRA. A história que segue abaixo é vexaminosa para o jornalismo - desta vez, para o jornalismo online, que, em franca expansão, vive a sua fase de faroeste. Sites noticiosos de grandes empresas de comunicação se transformam, na prática, em meros cabos eleitorais de Dilma Rousseff. Os controladores desses veículos deveriam se envergonhar. E atenção! Eu defendo que eles façam claramente suas escolhas eleitorais. O que não é possível é fazer marketing de isenção com desempenho tão vergonhosamente tendencioso, como se verá. Aos fatos.

Boataria petralha e Ibope
Eu estava ainda no aeroporto de Brasília no fim da manhã de ontem quando recebi um SMS de um amigo: “Rola forte nos blogs da canalhada (ele é assim carinhoso com os petralhas a soldo) que uma pesquisa Ibope traz Dilma na frente de Serra e vencendo no segundo turno com folga”. Respondi: “Improvável. Empate pode ser; vantagem duvido”. Pois o Ibope veio, conforme está claro num post de ontem, numa pesquisa para o jornal Diário do Comércio, da Associação Comercial de São Paulo. E o resultado, não custa lembrar, é este:

CENÁRIO COM CIRO
Serra: 36%
Dilma: 25%
Ciro: 11%
Marina: 08%
BC/nulo: 11%
Não sabe: 09%

CENÁRIO SEM CIRO
Serra: 41%
Dilma: 28%
Marina: 10%
Bco/nulo: 12%
Não sabe: 09%

SEGUNDO TURNO
Serra: 47%
Dilma: 33%

REJEIÇÃO
Ciro: 41%
Marina: 39%
Dilma: 35%
Serra: 29%

Viram só?
Eis a “grande virada” que os petralhas anunciavam com ares de conspiração. Muitos já acusavam o Ibope de estar amoitando um resultado que seria desfavorável aos tucanos. A margem de erro do levantamento é de dois pontos para mais ou para menos. Os dados começaram a circular na rede pouco depois das 17h de quarta, num despacho da Agência Estado. Neste ponto do meu texto, quase 2h de quinta, e a Folha Online não publicou um vírgula sobre a pesquisa. IMAGINEM SE O IBOPE TIVESSE MESMO TRAZIDO A TAL VIRADA…

O Estadão Online deu a notícia às 19h33, embora, reitero, o despacho da Agência Estado, do mesmo grupo, fosse das 17 e pouco. Abordagem escolhida: “Ibope mostra crescimento de Dilma e Serra estagnado”. Do que, afinal, falava o Estadão? De uma pesquisa CNI/Ibope de dezembro, quando Serra aparecia com 38%, Dilma com 17%, Ciro com 13% e Marina com 6%. Muitos dirão: “Ah, a comparação é justa”. Ok. Ocorre que a mais recente pesquisa, que havia mesmerizado o jornalismo (como provarei abaixo), era a CNT-Sensus do dia 1º. Quem não se lembra? Estadão, Folha e G1 decretaram o empate técnico entre Serra e Dilma. Com 3 pontos de margem de erro para mais ou para menos, o tucano aparecia com 33,2%, a petista com 27,8%, Ciro com 11,2%, e Marina com 6,8%. E por que o empate? O truque consistia em trabalhar com a margem inferior do índice dele - 30,2% - e com a margem superior do dela: 30,8%. Como observei à época, isso é tão provável quanto o contrário: o superior dele (36,2%) e o inferior dela (24,8%), e, nesse caso, o empate se transformava numa diferença de quase 12 pontos.

No Ibope, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, a diferença no primeiro turno é de 11: mesmo tirando dois dele e acrescentando dois para ela, não há empate possível. Não obstante, o CNT/Sensus pode dizer que os números dos dois institutos não deixam de ser coincidentes - em algum ponto do intervalo, eles coincidem. Embora Serra tenha todos os motivos para ficar contente com o Ibope, e Dilma prefira certamente os números do CNT/Sensus.

Os números do Ibope de agora estão bem parecidos com os do Datafolha de 22 de dezembro, há quase dois meses. Confiram:

CENÁRIO COM CIRO Candidato
Ibope de 18/02 Datafolha de 20/12
Serra: 36% 37%
Dilma: 25% 23%
Ciro: 11% 13%
Marina: 08% 08%
Bco/nulo: 11% 09%
Não sabe: 09% 10%

CENÁRIO SEM CIRO Candidato
Ibope de 18/02 Datafolha de 20/12
Serra: 41% 40%
Dilma: 28% 26%
Marina: 10% 11%
Bco/nulo: 12% 11%
Não sabe: 09% 11%

No caso do segundo turno, o Ibope de agora encontra praticamente os mesmos números do Datafolha de há dois meses. O CNT/Sensus, como se nota abaixo, segue sendo mais generoso com Dilma e muito menos pródigo com Serra…

SEGUNDO TURNO Candidato
Datafolha Ibope CNT/Sensus
Serra: 49% 47% 44%
Dilma: 34% 33% 37,1%

Agora a vergonha
Não há dúvida de que, estando certos os números de Ibope de agora e sendo eles compatíveis com o Datafolha de há dois meses - que também estavam certos (e notem que não estou contestando nem os do CNT-Sensus; já disse que não brigo com pesquisas) -, o que impressiona é a resistência da candidatura Serra. Vocês repararam que, até agora, no cenário sem Ciro, ELE PODERIA VENCER A ELEIÇÃO NO PRIMEIRO TURNO SEGUNDO O LEVANTAMENTO DE TODOS OS INSTITUTOS?

Mas qual é o tom do noticiário? Atenção para uma contabilidade escandalosa. A Folha Online, que segue ignorando a nova pesquisa Ibope, publicou, no dia 1º de fevereiro, quando saíram os números da CNT-Sensus, nada menos de 15 textos a respeito; no dia 2, mais quatro e outro ainda no dia 3. O Estadão Online foi ainda mais pródigo: 23 textos a respeito da pesquisa CNt-Sensus no dia 1º, 17 deles ligados ao embate Serra-Dilma e ao “empate”. No dia seguinte, outros 11; no dia 3, mais quatro. Para o Ibope de hoje, favorável a Serra, só um texto magrinho. No Portal G1, não foi diferente: para a CNT-Sensus, uma cornucópia; pra o Ibope, duas retrancas magriças apontando a… estagnação de Serra!!!

Milagre
Escrevi outro dia que chega a ser milagroso - é força de expressão, claro! Tudo o que é do homem tem explicação, ainda que a gente a ignore - o desempenho de Serra. Acho, não é segredo para ninguém, que ele tem um histórico na vida pública e uma administração que justificam o apreço de milhões de eleitores, sim. Mas nunca antes da história destepaiz um pré-candidato esteve exposto a tal bombardeio, em especial da imprensa paulistana. Há uma verdadeira máquina mobilizada - do governo federal às redações, passando pelo PT (no fundo, é tudo a mesma coisa) - para transformá-lo no grande responsável pelas chuvas que atingem São Paulo. O esforço une o frangote que ainda espreme suas espinhas na jornalismo online e os galos velhos, com vocação para chefes de terreiro.

Também não é segredo que há outra formidável máquina mobilizada em favor da candidata oficial. Enquanto Lula e Dilma só pensam “naquilo”, Serra faz questão de não falar “daquilo”. O fato inegável é que uma campanha já está na rua, e a outra ainda nem começou.

Não mudei de opinião. Continuo a achar que o eventual sucesso do pleito tucano depende de uma precondição estrutural: juízo!!! Se os tucanos de São Paulo e de Minas estiverem realmente unidos, a vitória se afigura mais do que possível; ela chega a ser provável. Caso continuem a brincar com o perigo, os eleitores não farão por eles o que eles se negam a fazer pelos eleitores. Faz dois anos que a maioria diz o que quer e que insiste na sua escolha - apesar da discordância de boa parte da imprensa, que quer que o povo queira outra coisa…

Quanto à cobertura jornalística, os chefes de redação que busquem uma boa explicação para os números que vão acima. O bom do levantamento que faço é que ele pode ser plenamente verificado pelo leitor: basta recorrer à área de busca dos sites. E o mesmo se poderá fazer com os jornais: recomendo que comparem o espaço concedido à pesquisa CNT-Sensus com o que será concedido à pesquisa Ibope - se é que se vai falar no assunto. Mais do que o espaço, cotejem também as abordagens.

E uma observação para encerrar: o petismo tem uma força-tarefa para patrulhar o jornalismo; como se trata de trabalho de militantes, eles sempre dão a impressão de formarem uma imensa maioria, o que é rigorosamente falso. O leitor comum, aquele que não está a serviço, dispõe, a cada dia, de mais instrumentos para avaliar a partidarização do noticiário e a manipulação de números. E está perdendo a paciência.

Um bobalhão poderia reagir: “Quem é você para falar nisso?” Eu sou aquele que jamais faz marketing da isenção. Eu sou aquele absolutamente honesto com os leitores, que deixa sempre claros os seus conceitos e até seus preconceitos. Não engano ninguém com o papo-furado do “equilíbrio” e do “outroladismo”. E arco com o peso dessa escolha. Mas o meu arquivo também está aí: sempre digo o que acho, mas não escondo os fatos dos leitores.

Acabei.

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