A candidata conquista o ninho
Otávio Cabral e Gustavo Ribeiro
Revista Veja, edição de 25.02.2010
O PT aceita oficialmente a candidatura imposta por Lula. Resta saber o que Dilma aceitará do PT no caso de chegar à Presidência da República
"Quando a gente pensa que já viu tudo, vê que não viu nada", disse Dilma Rousseff depois de assistir ao desfile carnavalesco da escola carioca vencedora, a Unidos da Tijuca, que apresentou o enredo O Segredo. A frase merece o comentário que Dilma mais aprecia: "A senhora tem razão!". Quem nunca pensou em vê-la sambar com um gari na avenida, viu. Quem achava impensável ver a ministra dar colo a Mercy Jones, filha de 4 anos de Madonna, rainha do pop, viu. E quem pensava que o mais conhecido segredo da República, a candidatura presidencial de Dilma, fosse um enredo com desfecho incerto, viu sua apoteose no congresso do PT na semana passada. Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, foi finalmente apontada como a candidata à Presidência da República.
O caminho daqui para a frente vai exigir de Dilma mais do que samba no pé e jeito com crianças. Seu repto eleitoral é de uma ousadia ímpar. Sem nunca ter enfrentado nem eleição de condomínio, ela vai buscar os votos dos eleitores para tentar suceder ao mais popular presidente da República da história brasileira recente. Organizada e centralizadora, ela vai se deixar levar caoticamente por uma caravana eleitoral que exige fôlego de atleta, concentração de enxadrista e prontidão circense. Com um humor superficial facilmente azedável e dona de opiniões incontrastáveis, quase hieráticas, sobre os temas técnicos mais arcanos, ela vai ter de retribuir com sorrisos artificiais nos palanques os comentários mais estúpidos. E tome buchada de bode, maionese, feijão-de-corda e copos de Cravo Escarlate, a infusão energizante feita com dezesseis ervas consumida pelos ritmistas da Imperatriz Leopoldinense durante o desfile de Carnaval. Dilma provou, quase se engasgou, mas recuperou o fôlego e secou o copo.
A ministra já vinha ensaiando essa sua versão eleitoral exibida no Carnaval carioca. Ela foi testada mesmo em outra festa, a do IV Congresso do PT, que reuniu 1 300 dirigentes e militantes na capital federal, com o objetivo de aclamá-la pré-candidata do partido. A aclamação oficial pelo partido que lhe torcia o nariz, mas que agora depende dela para se manter no poder, é um desses momentos acrobáticos que só a política pode produzir. A escolha de Dilma revela o poder absoluto de Lula sobre o partido que ele fundou há trinta anos, fez crescer e levou ao topo do poder em Brasília. Revela também que continua sendo um desafio manter estável a volátil química petista, em que o anacronismo marxista radical minoritário convive com uma maioria convertida à democracia social. Lula sempre conseguiu manter sob controle essa reação em cadeia, afunilando todas as suas energias em benefício de sua própria carreira política. Dilma terá de aprender a fazer essa mágica. Por enquanto, ela conta com Lula para diminuir a concentração de ideias tóxicas explosivas no caldeirão ideológico do petismo. Na campanha e, eventualmente, no poder em Brasília, ela vai ter de domar os radicais com suas próprias forças.
Na semana passada, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente tangenciou o tema. "Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo", afirmou Lula. "O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender." É um pouco mais complexo que isso. Uma vez no governo, o PT tentou implementar teses ruinosas de ruptura revolucionária com avanços duramente conquistados pelos brasileiros, como observa a Carta ao Leitor desta edição. Dinheiro de impostos, transferido a entidades ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), financiou invasões de propriedades, saques e depredações de prédios públicos. Apesar disso, em seus sete anos de governo, Lula conseguiu evitar que os radicais do partido materializassem seus instintos mais nocivos. Dilma, se eleita, conseguirá o mesmo?
A cinco meses do início da campanha, essa já é uma questão prioritária para a candidata. O ato inaugural dessa dinâmica deu-se na semana passada em Brasília. Em sua primeira aparição no evento do PT, a ministra discursou para comunistas e socialistas de países como China, Coreia do Norte, Cuba e Venezuela. Sua fala ocorreu a portas fechadas e não pôde ser acompanhada pela imprensa. Sabe-se que a ministra foi muito aplaudida e que recebeu o apoio do tiranete Hugo Chávez, transmitido por uma representante da Venezuela. Longe dos holofotes vermelhos, porém, Dilma e Lula tentam se desvencilhar dos pendores revolucionários do petismo. O texto A Grande Transformação, que reúne propostas do PT para a candidata, precisou ser totalmente reformulado. O original, de autoria do coordenador de seu programa de governo, Marco Aurélio Garcia, defendia maior controle da economia, atacava a liberdade de expressão e propunha o controle dos canais de TV por assinatura. Lula e Dilma mandaram retirar essas passagens e incluir temas como a defesa da preservação da estabilidade econômica e um elogio à atuação dos bancos brasileiros na crise financeira que sacudiu o planeta. "Você tem de ser conciliadora, Dilma", insistiu Lula.
A preocupação do presidente e de sua candidata com o radicalismo aliado não se limita aos excessos de radicais como Marco Aurélio Garcia, cujo relógio ideológico está parado há três décadas. "Parece que tem gente no PT com saudade do tempo em que perdíamos uma eleição atrás da outra", afirma o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, um dos estrategistas da ministra. O risco de o radicalismo petista contaminar a campanha de Dilma é tão grande que já existe até uma estratégia para detê-lo. Além de exigir mudanças nas sugestões para a candidata, o presidente já deixou claro, em conversas com os estrategistas da campanha, que as propostas do PT não se confundirão com o programa de governo de Dilma. Embora o radical Garcia seja oficialmente o coordenador do programa de governo, fórmula para tentar animar a combalida militância petista, Lula decidiu afastá-lo das articulações da campanha. Na área econômica, o principal alvo dos ataques tóxicos do radicalismo, os responsáveis serão o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o ex-ministro Delfim Netto. "A maior contribuição do PT ao país é o governo Lula. Queremos dar continuidade a esse projeto com a Dilma", diz o senador petista Aloizio Mercadante.
Se os arroubos autoritários do PT parecem estar contidos na campanha, o tamanho de sua participação num eventual governo de Dilma ainda é incerto. "Lula é maior que o PT e tem uma capacidade de liderança maior que a de Dilma. Isso cria uma oportunidade para que o PT exerça um protagonismo no governo Dilma", disse recentemente o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra. É um sinal claro de que, se eleita, Dilma terá de continuar consumindo parte de seu tempo para conter as tentações hegemônicas da sigla. Dono de uma biografia única e de uma popularidade nunca antes obtida por um presidente, Lula conseguiu isolar os radicais distribuindo cargos e verbas em troca de obediência canina. "A aceitação de Dilma pelo PT é a prova definitiva de que Lula faz o que quer com o partido. Mas a relação dela com a legenda ainda está para ser definida", diz o cientista político Octaciano Nogueira. Um eventual governo de Dilma, segundo especialistas ouvidos por VEJA, provavelmente tentará seguir a mesma linha de relacionamento adotada por Lula com relação ao PT. "Há também sempre a possibilidade de Lula interferir se essa tensão fugir do controle", analisa o cientista político David Fleischer.
A influência de um presidente sobre os desígnios da própria sucessão é uma prática normal nas democracias. A imposição de um nome por um presidente a um partido político, porém, só é praxe em repúblicas populistas. No México, entre 1929 e 2000, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) elegeu todos os presidentes da República. Partido e governo estavam tão imbricados que o presidente do país acumulava a função de presidente do partido. Como comandante nacional da legenda, também cabia ao presidente indicar o candidato do partido à sua própria sucessão, processo batizado de dedazo. Os casos mais conhecidos de dedazo terminaram mal. O ex-presidente mexicano Luís Echeverria, que governou entre 1970 e 1976, impôs o nome de José López Portillo ao PRI. Portillo foi eleito e governou entre 1976 e 1982. Mas sua gestão foi um desastre. O jornal The New York Times descreveu-a como um dos governos "mais incompetentes e corruptos do México". Situação parecida foi experimentada na Argentina. Em 1973, Juan Perón, que já havia governado o país por duas vezes, estava impedido de se candidatar pela ditadura militar. Perón, então, impôs o nome de seu dentista, Héctor Cámpora, ao Partido Justicialista. Cámpora renunciou depois de apenas três meses no poder em meio a uma grave crise política.
Não há, evidentemente, uma relação direta entre a maneira de escolher um candidato e o seu desempenho no poder. Dilma virou candidata graças a uma rara conjunção de fatores. O principal deles talvez seja o processo de deterioração experimentado pelo PT nos últimos cinco anos. Aos 62 anos, nascida em Minas Gerais e educada no Rio Grande do Sul, Dilma se filiou ao PT em 2001 - apenas um ano antes da chegada de Lula ao poder. Ela chamou a atenção do presidente logo nos meses que antecederam sua posse. Nomeada ministra de Minas e Energia, Dilma viu tombar, um a um, os principais nomes imaginados por Lula para suceder-lhe, diante de suspeitas gravíssimas. Há dois anos, isolado em um deserto de homens e ideias, o presidente cogitou a candidatura presidencial de Dilma pela primeira vez. Mas a decisão final, tomada por Lula sem nenhuma consulta ao partido, foi comunicada à ministra e ao PT apenas em março do ano passado. O PT, no princípio, torceu o nariz. Alegou que ela era novata no partido e transformou o fato de Dilma jamais ter disputado uma eleição num obstáculo aparentemente intransponível.
Dois fatores foram decisivos para a virada que permitiu a aclamação de Dilma Rousseff como candidata oficial do PT. O principal é que, sem nenhuma outra alternativa viável e debilitado por sucessivas crises, só restou ao partido se curvar diante da vontade de Lula - um sinal inequívoco de que, quando precisa, o PT sabe ser pragmático e mandar às favas suas convicções mais íntimas. Não deixa de ser irônico que agora o partido que inicialmente a rejeitou dependa dela, tanto quanto dependeu de Lula em trinta anos, para continuar no poder. A outra razão é que, embora ainda não seja unanimidade no partido, Dilma começa a animar as claques petistas à medida que sobe nas pesquisas. Acompanhando o presidente em inaugurações de escolas, barragens e até canteiros de obras, a ministra passou de uma candidata desconhecida, com apenas 3% das intenções de voto, para uma forte concorrente, com 25%, marca que a coloca em segundo lugar, logo atrás do governador de São Paulo, José Serra. Tudo isso em menos de um ano. Lula é o presidente mais popular da história e seu governo é aprovado por oito em cada dez brasileiros. Um padrinho com essa força pode fazer de Dilma presidente. Uma vez no governo, porém, pode ser um risco deixá-la à própria sorte. Uma candidata sem o domínio do próprio partido e com o sempre chantagista PMDB na vaga de vice pode viver em constante crise política. Por isso, Lula precisará funcionar como um fiador da governabilidade. O apoio do mentor é imprescindível a uma candidata escolhida por um dedazo presidencial.
A escalada é mais íngreme daqui para a frente. Ela vai exigir que Dilma escape da órbita de Lula e do partido e se mostre capaz de ser presidente, e não apenas a escolhida do mestre eleitoreiro. Como se saberá se ela adquiriu essa força motriz e personalidade própria? Quando e se Dilma ultrapassar a marca de 30% das intenções de votos, essa pergunta estará respondida. Essa marca é a que o PT tradicionalmente obtém nas votações de amplitude nacional. É o capital político da sigla. A partir daí é com a candidata.
A disputa pela simpatia do eleitorado e a difícil missão de neutralizar o radicalismo de seu partido, porém, não são os únicos desafios de Dilma. Agora mesmo, a turma do PT defenestrada pelo mensalão enxerga em sua candidatura uma maneira de se reabilitar na vida política. O exemplo mais notório é o ex-ministro José Dirceu, réu no Supremo Tribunal Federal sob a acusação de comandar a quadrilha que desviava dinheiro público para subornar parlamentares aliados do governo. Dirceu era um dos personagens mais animados no congresso petista que aclamou Dilma. "Terei papel oficial na campanha", dizia. "Mensalão, para mim, não é corrupção. É financiamento de campanha com caixa dois." Outro mensaleiro, o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, tem a mesma ambição. Quer ocupar a Secretaria de Comunicação do PT e palpitar sobre a estratégia eleitoral de Dilma. O risco de dar corda a essa turma é enorme. Nos últimos meses, Dirceu tem percorrido os estados governados pelo PSB para, na base da chantagem, impedir a candidatura presidencial de Ciro Gomes. O método não é apropriado - e os benefícios para Dilma são incertos. De acordo com as últimas pesquisas, a saí-da de Ciro facilitaria uma vitória de Serra já no primeiro turno. Ciro é um desses fatores imponderáveis, de trajetória errática capaz de produzir fatos que, como disse Dilma, "quando a gente pensa que já viu tudo, vê que não viu nada".
10 perguntas para Dilma Rousseff
Eneida Serrano
"A realidade mudou, e nós com ela. Contudo, nunca mudei de lado. Sempre estive ao lado da justiça, da democracia e da igualdade social"
A entrevista que se segue com a ministra Dilma Rousseff foi feita por e-mail e precedida de uma rápida conversa por telefone. Dilma respondeu a todas as perguntas enviadas, mas não aceitou réplicas a suas respostas
John Maynard Keynes, que a senhora admira, dizia alguma coisa equivalente a "se a realidade muda, eu mudo minhas convicções". Como sua visão de mundo mudou com o tempo e com a experiência de ajudar a governar um país?
O Brasil superou uma ditadura militar e está consolidando sua democracia. A realidade mudou, e nós com ela. Contudo, nunca mudei de lado. Sempre estive ao lado da justiça, da democracia e da igualdade social.
Henry Adams, outro autor que a senhora lê com assiduidade, escreveu que "conhecer a natureza humana é o começo e o fim de toda educação política". A senhora acredita que conhece o bastante da natureza humana, em especial a dos políticos, mesmo sem ter disputado eleições antes?
Conheço bem o pensamento de Henry Adams para saber que nessa citação ele se refere à política no seu sentido amplo. Falando no sentido estritamente eleitoral da sua pergunta, acredito que minha experiência de mais de quarenta anos de militância política e gestão pública permite construir um relacionamento equilibrado com as diferentes forças partidárias que participarão desse processo eleitoral.
Os brasileiros trabalham cinco meses do ano para pagar impostos, cuja carga total beira 40% do PIB. Em uma situação dessas, faz sentido considerar a ampliação do papel do estado na vida das pessoas, como parece ser a sua proposta?
O que defendemos é a recomposição da capacidade do estado para planejar, gerir e executar políticas e serviços públicos de interesse da população. Os setores produtivos deste país reconhecem a importância da atuação equilibrada e anticíclica do estado brasileiro na indução do desenvolvimento econômico. Sem a participação do estado, em parceria com o setor privado, não seria possível construir 1 milhão de casas no Brasil.
Não fosse a necessidade de criar slogans e conceitos de rápida assimilação popular nas campanhas, seria o caso de superar esse debate falso e improdutivo sobre "estado mínimo" e "estado máximo", correto? Afinal, ninguém de carne e osso com cérebro entre as orelhas vive nesses extremos fundamentalistas. Qual o real papel do estado?
Nos sete anos de nosso governo, ficou demonstrado o papel que vemos para o estado: induzir o desenvolvimento dos setores produtivos, priorizar os investimentos em infraestrutura em parceria com o setor privado, fortalecer e impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento científico-tecnológico, assegurando ganhos de produtividade em todos os setores econômicos. Modernizar os serviços públicos buscando responder de forma eficaz às demandas da população nas áreas da saúde, educação, segurança pública e demais direitos da cidadania. Chamo atenção para a comprovada eficácia dos programas que criamos. O Bolsa Família, o Luz para Todos, o Programa Minha Casa Minha Vida, as obras de sanea-mento e drenagem do PAC, entre outros, produziram forte impacto na melhoria de vida da população e resultaram também no fortalecimento do mercado interno. Finalmente, gostaria de destacar o papel do setor público diante da crise recente, o que permitiu que fôssemos os últimos a entrar e os primeiros a sair dela. Garantimos crédito, desoneração fiscal e liquidez para a economia.
O presidente Lula soube manter aceso o debate ideológico no PT, mas rejeitou todos os avanços dos radicais sobre o governo. Como a senhora vai controlar o fogo dos bolsões sinceros mas radicais do seu partido - em especial a chama da censura à imprensa e do controle estatal da cultura?
Censura à imprensa e controle estatal da cultura estão completamente fora das ações do atual governo, como também de nossas propostas para o futuro.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso definiu a senhora como uma lua política sem luz própria girando em torno e dependente do carisma ensolarado do presidente Lula. Como a senhora pretende firmar sua própria identidade?
Não considero apropriado discutir luminosidade com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A oposição certamente vai bater na tecla da personalidade durante a campanha, explorando situações em que sua versão de determinados fatos soaram como mentiras. Como Otto von Bismarck, o chanceler de ferro da Alemanha, a senhora vê lugar para a mentira na prática política?
Na democracia não vejo nenhum lugar para a mentira. Como já disse em audiência no Congresso Nacional, em situações de arbítrio e regimes de exceção, a omissão da verdade pode ser um recurso de defesa pessoal e de proteção a companheiros.
Qual o perfil ideal de vice-presidente para compor sua chapa?
Um nome que expresse a força e a diversidade da nossa aliança.
O presidenciável Ciro Gomes, aliado do seu governo, afirma que a aliança entre o PT e o PMDB é um "roçado de escândalos semeados". A senhora não só defende essa aliança como quer o PMDB indicando o vice em sua chapa. Não é um risco político dar tanto espaço a um partido comandado por Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho?
Não se deve governar um país sem alianças e coalizões. Mesmo quando isso é possível, não é desejável. O PMDB é um dos maiores partidos brasileiros, com longa tradição democrática. Queremos o PMDB em nossa aliança.
O Brasil está cercado de alguns países em franca decomposição institucional, com os quais o presidente Lula manteve boas relações, cuidando, porém, de demarcar as diferenças de estágio civilizatório que os separam do Brasil. Como um eventual governo da senhora vai lidar com governantes como Hugo Chávez ou Evo Morales?
Lidaremos com responsabilidade e equilíbrio com todos os países, respeitando sua soberania e sem ingerência em seus assuntos internos. É esse, também, o tratamento que exigimos de todos os países, em reciprocidade.
Os dois figurinos de Dilma
Radical no discurso, mas quase sempre pragmática na ação, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, joga para a plateia petista sem assustar o empresariado
Desde que entrou para o governo, Dilma Rousseff desenvolveu um código de conduta particular. Nele, um discurso ideológico é quase sempre seguido por uma decisão pragmática que, não raro, acaba contrariando sua fala. Especialistas enxergam na prática uma tentativa da ministra, que pertenceu ao PDT por 21 anos, de reafirmar publicamente sua "identidade petista". Em outras palavras, o figurino radical de Dilma é para petista ver. O outro, norteado pela consciência de que o capitalismo produz riqueza, é o que ela usa na hora de pôr a mão na massa. De seis episódios nos quais teve atuação marcante no governo, a ministra migrou do discurso de viés estatizante para a linguagem de mercado em cinco (veja o quadro). A exceção ficou por conta da definição das regras de exploração do petróleo na camada do pré-sal. Na contramão dos episódios anteriores, ela enviou ao Congresso proposta que veta a participação de empresas privadas na parte principal do negócio e dá à Petrobras o monopólio da operação. Ali a contradição é apenas aparente. Na essência, a mudança de rota está em franca sintonia com o pragmatismo à la Rousseff. Afinal de contas, numa campanha em que o discurso nacionalista será estridente, "o petróleo é nosso" é um slogan que será explorado até a última gota.
Vinícius Segalla e Benedito Sverberi
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