sábado, 12 de setembro de 2009

101) O Brasil deixou de ser uma Republica democratica e passou a ser uma monarquia absolutista

É o mínimo que se pode dizer deste tipo de atitude:

Lula diz que 'é presidente que decide sobre compra de caças'
Angêla Lacerda e Leonêncio Nossa,
Agência Estado, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Segundo ele, França apresentou proposta mais flexível, mas está aberto para melhores ofertas
Lula afirma que FAB tem 'conhecimento tecnológico para fazer avaliação', mas ele decide

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta sexta-feira, 11, que a compra de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) será uma decisão "política e estratégica", exclusiva do presidente da República. "A FAB tem o conhecimento tecnológico para fazer avaliações. Agora, a decisão é política e estratégica e essa é exclusividade do presidente da República e de ninguém mais", disse Lula, em entrevista no Porto de Suape, em Ipojuca (PE).

Também sexta o Ministério da Defesa divulgou uma nota afirmando que a empresas envolvidas na licitação de venda dos caças ao Brasil terão até o dia 21 de setembro para fazer novas propostas. Participam do processo a francesa Dassault com o Rafale, a americana Boeing com o F-18 e a sueca Saab com o modelo Gripen NG. O comunicado também informa que a FAB prevê terminar as avaliações técnicas das aeronaves até o final de outubro.

Lula disse que ainda estuda as propostas para a aquisição dos caças, mas deixou claro que a que, por enquanto, apresenta maior flexibilidade é a da França. "O presidente Nicolas Sarkozy foi o único que apresentou para mim, textualmente, uma proposta de repasse de tecnologia para fabricar avião aqui. Se alguém quiser ofertar mais, que oferte", afirmou.

Ele disse que a decisão de compra não está fechada porque a negociação envolve "muito dinheiro". Segundo o presidente o momento é de palpites.

Lula reclamou que em conversa recente com jornalistas no Palácio do Itamaraty, uma ironia feita por ele de que poderia ter os caças de graça foi tratada pela imprensa como uma afirmação. "Fico triste quando a imprensa não sabe o que é brincadeira ou ironia", disse o presidente.

=========

Acrescento post do blog do Reinaldo Azevedo:

LULA, AVIÃO E AERONÁUTICA: O COMPANHEIRO AINDA NÃO ENTENDEU A DEMOCRACIA. A GENTE EXPLICA COMO FUNCIONA
Reinaldo Azevedo 11/09/09 16:45

Muito já se falou, e ele próprio vive a exaltá-la, que a experiência de Lula como sindicalista o ajudou e ajuda a governar porque isso lhe dá flexibilidade para conciliar pontos de vista divergentes etc. Em parte, é verdade. Mas há também muito de mistificação lulocêntrica nisso. O lulocentrismo é uma terceira visão de mundo, que veio se juntar às duas classicamente conhecidas: o teocentrismo e o antropocentrismo. A partir de 2003, a humanidade conhece essa terceira modalidade: o lulocentrismo. Antes que volte ao ponto, algumas considerações sobre a questão dos aviões.

Na madrugada do dia 7 para o dia 8, este blog reagia:
“Pode parecer que não, mas Lula fez mais uma de suas enormidades ao pré-anunciar ontem que o Brasil vai comprar os caças da França. Ora, coisas assim ou são anunciadas oficialmente ou não são. Não existe uma decisão preliminar, uma pré-compra (…)
O país está devidamente informado a respeito? Claro que não! ‘Ah, Reinaldo, são assuntos militares; é preciso mesmo certo sigilo’. Bobagem! Não para o que está sendo comprado. Notem que os americanos e os suecos também estavam na parada, oferecendo os seus respectivos aviões. A própria Aeronáutica ainda não fez seu relatório afirmando que o Rafale, francês, é melhor para o Brasil do que o F-18, dos EUA, ou o Gripen, da Suécia. Se a Força não havia terminado o seu trabalho específico, o que determinou a escolha? Pode até ser que ela recaísse mesmo sobre o Rafale, mas por que desprezar a formalidade? O que atrasou o trabalho da Aeronáutica, se é que atrasou? E o que determinou que a decisão fosse tomada mesmo assim?”

A reação, como vocês sabem, dado o absurdo, demorou um pouco. Mas, ao menos, veio.

Ora, a situação não poderia ser mais absurda. Como Lula não comunicava oficialmente a vitória do Rafale, americanos e suecos continuaram na disputa, deixando claro que tinham mais a oferecer. Ou seja: Lula tinha feito uma escolha dando de ombros, por definição, para a questão técnica. A evidência escancarada é que a Força que vai receber os aviões, a Aeronáutica, ainda não havia concluído, e não o fez até agora, o seu parecer.

O governo teve de recuar. O comandanta da Aeronáutica, Juniti Saito, atribui tudo a uma confusão da imprensa. Não! Saito está errado. Lula anunciou, sim. A imprensa registrou o que ele falou.

Pois bem, vê-se agora que o presidente busca uma saída retórica para aquilo que, a esta altura, é óbvio: o governo já escolheu os aviões franceses, e não houve rigor técnico nessa escolha. Foi uma decisão que o próprio Lula chama de “política” - o que a palavra “política” significa, meus caros, bem, aí é matéria para o jornalismo investigativo. Eu sei o que ela NÃO SIGNIFICA neste contexto: e ela não significa “DECISÃO TÉCNICA”. De fato, Lula está dizendo quem decide é ele; que isso é matéria privativa do presidente da República.

Administrativamente, é isto mesmo: é Lula quem decide. Assim como, administrativamente, é o Executivo quem concede ou não refúgio. Vejam que essas duas coisas podem andar juntas. Mas isso significa que Lula poderia pagar uma fortuna por uma sucata? Não! Autonomia administrativa para decidir não quer dizer poder discricionário, como Tarso Genro imaginava ter para conceder refúgio e, tudo indica, Lula julga ter para comprar aviões. Se ficar caracterizado que ele fez a pior escolha para o país, comprando um avião mais caro do que outro que oferecesse iguais vantagens, ele tem de ser alcançado pela lei. E sua escolha pode, sim, ir parar nos tribunais.

A conversa de Lula de que a escolha é sua, pessoal, “política”, é coisa de gente que não sabe como funciona uma democracia. Se Lula não pode comprar a tal sucata, temos um sinal de que ele não é tão livre para escolher como supõe. Aliás, quem anseia a liberdade absoluta não deve optar pela política. Que vá ser ermitão numa caverna.

Espero que a Aeronáutica saiba que ela sobreviverá a este governo e aos próximos. Ela é a Força que permanece; é a instituição. Se a escolha do governo não for a mais adequada tecnicamente, que isso fique claro. Já que Lula diz que a decisão política é sua, a Força Aérea tem de lembrar a sua missão constitucional - que não é fazer política.

Volto ao Lula sindicalista
Quando presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Lula era o soberano absolutista que ele sugere ser na compra dos aviões. Empresários que negociaram, então, com ele sabem disso, em particular a turma do antigo Grupo 14 da Fiesp.

Entre um Block Black Label e outro — quero dizer, entre uns e muitos outros — negociava-se tudo entre quatro paredes: até mesmo como um recuo de Lula seria vendido como um avanço da “craçe trabaiadora”. Lula se preparava, então, para saber que “menas” não existe, que o certo é “interveio” (e não “interviu”) e para empregar “en passant”. Sua linguagem ainda era capenga, mas ele já era o monarca absolutista daquele reino.

Na Presidência, se vocês notarem, ele vive reclamando dos mecanismos de controle e fiscalização. Perguntem a Lula por que o PAC não anda. Ele vai dizer que a culpa é do TCU, da fiscalização. Observem que ele não propõe uma reforma institucional que torne, então, o Estado mais eficiente. Para quê? Afinal, ele é o esperto que se dá bem justamente nessa máquina ineficiente. Mas este particular fica para outra hora. Meu ponto de chegada é outro.

Meu ponto de chegada, nesse caso dos aviões, é evidenciar que o sindicalista Lula tomou o lugar do presidente Lula. O acordo de bastidores, o acerto feito por debaixo dos panos, aquele mundo das trapaças ditas aceitáveis do mundo sindical tomaram o lugar da negociação de estado. É por isso que a Aeronáutica, como se vê, foi obviamente alijada do processo de escolha. “A decisão é política”, diz Lula. E Aeronáutica não faz política, certo?

Espero, então, que a Força não venha a se comprometer com uma eventual escolha técnica infeliz.

Só para registrar: pode até ser que o Rafale seja mesmo o melhor avião e que a escolha “política” de Lula coincida com o rigor técnico. Ainda assim, a questão institucional terá sido rebaixada mais uma vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário