quarta-feira, 2 de setembro de 2009

84) Um apostador acha que Marina não sai candidata...

Confesso que ainda não li, a matéria abaixo, apenas o seu título e vou ler apenas depois de afirmar isto: creio que o autor, que desconheço totalmente, se engana completamente. A Marina será, sim, mesmo que não queira: ninguém mobiliza um partido assim de graça, e deixa de aproveitar um cavalo selado que passa na frente.
Ela não será eleita (embora no Brasil nunca se pode ser definitivo com nada, pois tudo é possivel), mas que ela será candidata, disso tenho certeza.
Vamos ler a matéria...

Por que Marina Silva não será candidata
Rafael Galvão, 1 setembro 2009

A ideia por trás de cada uma das tentativas da mídia e da oposição de inflar a candidatura de Marina Silva para presidente da república — e virão mais por aí, ao longo dos próximos meses; o nome de Ciro Gomes é um dos mais prováveis — é declaradamente impedir que as eleições de 2010 assumam um caráter plebiscitário, em que o eleitor utilize o seu voto para, mais que eleger um novo presidente, aprovar ou não o governo Lula. A parcela da sociedade que se empolga com a candidatura de Marina faz isso porque acha que ela poderia evitar esse cenário em potencial, aterrador diante dos índices de popularidade do presidente.

Sem essa possibilidade, sua candidatura aderna e naufraga. É o que deve acontecer.

O desespero é mau conselheiro, e é apenas ele que explica o fato de algumas pessoas terem visto na senadora e ex-ministra uma possível anti-Dilma, uma mulher que embolaria o meio de campo de uma eleição que começa a ser definida cedo demais e a favor do governo; que garantiria um segundo turno e, com uma boa dose de sonho, poderia até tirar a candidata de Lula da disputa, abrindo caminho para uma candidatura mais sólida do PSDB — Serra, por exemplo, embora o Luís Nassif já tenha demonstrado com precisão por quê a sua candidatura não vai funcionar.

Mas eu insisto que Marina Silva não vai ser candidata — ou, se for, vai ser candidata nanica, sem apoio político, sem horário na TV, sem repercussão, sem nada, infelizmente candidata com menos expressão do que Heloísa Helena nas eleições passadas.

Marina não vai ser candidata porque não agrega nada à oposição. Se em um primeiro momento as pessoas se empolgaram porque ela poderia ser uma espécie de “Lula da oposição”, por causa do seu sexo e por causa de sua história, basta uma olhadinha simples para ver que ela, além de não oferecer uma solução real para o dilema da oposição, pode representar também um problema.

O que a direita não entendeu, e eu faço aqui o favor de explicar de maneira bem didática e simples, é que não foi só o país que mudou nesses oito anos: a história de Lula também. Não é mais a história do pau-de-arara nordestino que enfrentou a ditadura e chegou à presidência da República. É a história de um homem que, presidente, transformou o país. Além disso, falta à oposição entender que em 2002 não foi apenas a história de Lula que o elegeu: foi o conjunto de propostas, tudo o que a sua figura representava ao longo de pouco mais de 20 anos de trajetória política. Se as pessoas finalmente votaram em Lula foi porque queriam por à prova o seu discurso e as suas propostas.

Marina não representa uma substituta à altura em termos eleitorais, em primeiro lugar, porque não oferece uma proposta real de governo. Tem apenas um discurso fácil que mistura exemplo pessoal, posicionamento de defesa aparentemente intransigente do meio-ambiente e talvez uma fatia indefinível de eleitores evangélicos. O problema é que candidatos de uma plataforma só não vão a lugar nenhum, e Cristovam Buarque está aí para provar.

Mas o grande entrave diante da candidatura de Marina Silva, e é isso que provavelmente impedirá que ela seja candidata, é que ela canibaliza a verdadeira candidatura da oposição — um Serra, digamos –, sem agregar força suficiente para se tornar a opção preferencial.

Apesar do que a maioria dos analistas acha, Marina não deve tirar uma parcela realmente significativa dos votos que Lula deve transferir para Dilma, porque o seu discurso diz pouco ou nada a essa parcela da população. O nicho de Marina seria justamente boa parte de uma classe média que já tem uma inclinação clara pelo voto contra o candidato de Lula — gente preocupada com temas como aquecimento global e razoavelmente seguras de sua própria estabilidade econômica. O mais provável é que Marina tire os votos que já são do PSDB, os votos da oposição. No Rio de Janeiro, como apontou o Maurício Dias na revista Carta Capital, ela destrói a base eleitoral do PSDB, que em tese seria a base de Gabeira. No Nordeste, a região que mais cresceu nesses oito anos, reduzindo bastante o nível de pobreza, e historicamente infenso a esse discurso, a situação é ainda mais crítica.

No fim das contas a candidatura de Marina, se se confirmar, será um desserviço a ela mesma e à sua história. Este blog elogiou Gabeira quando saiu do PT, naquele momento um movimento coerente e digno — elogios que hoje, ao ver a sua transformação em vestal udenista hipócrita, não mantém. Mas olha decepcionado para Marina — pela sua ingenuidade ao se prestar ao papel de boi de piranha da oposição em nome da construção do seu próprio projeto político, pelo oportunismo demonstrado no momento escolhido para saída do PT e pelo namoro com um partido que, já há pelo menos uns bons quinze anos, tem se mostrado pouco mais que acessório de luxo do que a política brasileira tem de mais conservador. É decepcionante que uma mulher de valor inegável, uma pessoa que um país inteiro aprendeu a respeitar pelo seu exemplo, acabe voltando as costas para a sua história e tente se transformar na musa do verão 2009/2010 da república Morumbi-Leblon.

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