quinta-feira, 17 de setembro de 2009

107) Reinaldo Azevedo sobre a visão de Lula do processo eleitoral

Não tenho um comentário específico sobre este long post de Reinaldo Azevedo sobre uma fala de Lula, além de constatar que todos os candidatos brasileiros às eleições presidenciais são, sim, de "esquerda", ou mais exatamente estatizantes.
O que é uma pena, pois o Estado é hoje o principal obstrutor do processo de desenvolvimento: ele suga quase 40% das riquezas (na prática, mais priovavelmente) e devolve muito pouco à sociedade, operando uma gigantesca transferência de recursos para quem já é rico.
Paulo Roberto de Almeida

Lula entrega os pontos precocemente e já dá como certa a derrota de Dilma
Reinaldo Azevedo, 16/09/09 19:50

Estranhou o título, não é, leitor? É claro que ele não disse o que vai acima. Trata-se de uma interpretação irônica deste escriba. Numa solenidade no Ipea, o presidente da República saudou o fato de que, nas eleições de 2010, não haverá candidatos de direita. Disse Sua Excelência:

“Pela primeira vez, não vamos ter um candidato de direita na campanha. Não é fantástico isso? Vocês querem conquista melhor do que, numa campanha, neste país, a gente não ter nenhum candidato de direita? Uns podem não ser mais tão esquerda quanto eram. Não tem problema. A história e a origem dão credibilidade para o presente das pessoas. Era inimaginável até outro dia que chegássemos a esse momento no Brasil. Não tem um candidato que represente a direita. É fantástico. (…) Antigamente, a campanha era o candidato de centro-esquerda ou de esquerda contra os trogloditas de direita. Começou a melhorar já comigo e com o Fernando Henrique Cardoso, já foi um nível elevado. Depois, eu e o Serra também. Depois veio o Alckmin e baixou o nível, por conta dele, não por minha conta “.

Trata-se de soma impressionante de bobagens, além de revelar uma concepção obviamente autoritária, estúpida, de democracia.

Comecemos pelo óbvio. O próximo pleito, segundo diz, será o primeiro sem candidatos de direita - mas ele próprio admite que já não havia a tal “direita” quando ele disputou com Fernando Henrique, em 1994 e 1998, e com Serra, em 2002. Assim, 2010 será a primeira vez, além, naturalmente, das outras três vezes!!! É um portento da coerência! Em seguida, vem o ataque bucéfalo a Geraldo Alckmin, que mistura um pouco de tudo, especialmente rancor pessoal e frustração.

O rancor pessoal deriva do fato de que o ex-governador de São Paulo, na disputa de 2006, ousou confrontá-lo. Nem entro no mérito se a dureza a que o tucano recorreu nos debates foi eleitoralmente positiva ou não — o resultado demonstra que não era bem aquele o caminho. Mas isso não muda o fato de que Lula ficou com ódio, guardou rancor. Não aceita ser contraditado. Como se nota, ele joga na boca do sapo o nome dos adversários sem hesitar um miserável minuto. Mas considera inaceitável ser contraditado. Ora, qual foi a “baixaria” de Alckmin? Não existiu. A frustração está no fato de que Alckmin vencerá a disoputa ao governo de São Paulo, pouco importa o candidato do PT, se é que haverá um. Trato deste particular no post seguinte.

Agora vamos o mérito político e moral do que ele disse. Concordo com Lula num aspecto: com efeito, não existe direita disputando a eleição, mas o fato antecede 1994. Em 1989, já não havia. Fernando Collor não é de direita - classificá-lo assim, antes ou agora, é puro preconceito contra a… direita! Ademais, ainda que ele fosse, de quem o ex-presidente é aliado hoje em dia?

Saudar o fato de que não existe um candidato de direita e considerar isso uma evolução do processo político corresponde a afirmar que uma parte do espectro ideológico deve ser impedida de se manifestar politicamente. Partidos considerados “de direita” disputam eleições em todas as democracias do mundo. Digam-me uma só em que isso não acontece. Está alijada da disputa, em razão de atos de força, em ditaduras ou protoditaduras.

Mas recorramos a uma sintonia ainda mais fina para desmontar o que disse o valente. Segundo ele, em 2010, não haverá mais direita, embora uns possam “não ser mais tão esquerda quanto eram”. E Lula? Será Lula “tão esquerda” quanto ele era? Será que não aconteceu justamente o contrário? A ESQUERDA É QUE TEVE DE SE FANTASIAR, DE NEGAR O PRÓPRIO CREDO, PARA SE ELEGER. O Lula que foi eleito em 2002 jamais governou. Ou alguém se atreveria, no governo ou fora dele, a apontar o coração vermelho de Henrique Meirelles? A única coisa vermelha que há lá é sangue, não é mesmo?

Lula, para variar, inverte o sinal da história. A esquerda é que está morta no Brasil. Mesmo a marca do estatismo que o Lula do segundo mandato imprime à economia guarda mais semelhança com o capitalismo de estado do Regime Militar do que com qualquer modelo de esquerda.

E agora vamos ao meu título. Lula está entregando os pontos - eu diria que precocemente. Ânimo, presidente! Está avaliando que é difícil emplacar a sua candidata, aquela escolhida na base do dedaço. E, assim, tenta fazer da possível vitória de José Serra, o provável candidato da oposição, uma vitória sua, pessoal, ainda que não do PT.

A história contada por este senhor é falsa. Ele é que teve de escrever a Carta ao Povo Brasileiro para se eleger. Ele é que teve de se ajoelhar no altar do mercado. A esquerda é que perdeu. “Então Dilma não é de esquerda?” É, sim. Mas jamais faria um governo tipicamente ”de esquerda”, o que não quer dizer que não seja estatista e evidencie um óbvio perfil autoritário.

Em todo caso, o que interessa é que Lula se traiu e deu a entender que o governo vai perder as eleições. Tomara que ele esteja certo. Que o povo o ouça!

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