Sim, oficiosa, pois oficial ela ainda nao pode ser. Em todo caso, qualquer que seja o nome, sempre é bom conhecer o que pensa a candidata do governo, ou melhor, do presidente Lula.
Entrevista de Dilma Roussef à Folha de São Paulo
21 de setembro de 2009
FOLHA - O ex-presidente FHC disse que é preciso fazer um país mais aberto, não ter uma pessoa só que manda, porque hoje parece que o Brasil depende de um homem só. O que a sra. acha?
DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?
FOLHA - Ao presidente Lula.
DILMA - Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.
FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na economia, nas estatais, na vida das empresas.
DILMA - Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise. Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.
FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de vocês nessa crise?
DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.
FOLHA - Essa maior interferência do governo não levou a uma visão estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?
DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?
FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?
DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.
FOLHA - Intervencionista?
DILMA - Não somos.
FOLHA - Mas eleitoreiro?
DILMA - Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.
FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.
FOLHA - Isso representa prejuízo para uma empresa privada.
DILMA - Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale. A preocupação com a riqueza nacional é uma obrigação do governo. Eu não acho que o presidente foi lá interferir na Vale. O presidente manifestou, assim como muitas vezes os empresários manifestam, seu descontentamento, e não implica uma interferência, a gente tem de democraticamente aceitar as observações, ser capaz inclusive de aprender com críticas. Por que o presidente não pode falar?
FOLHA - A sra. acha que uma empresa privada tem de abrir mão de uma parte do lucro...
DILMA - Não estou discutindo isso. Estou discutindo é que ela, assim como a Petrobras, nem sempre pode. Se a Petrobras quiser o lucro dela só, vai fazer uma coisa monotônica.
FOLHA - O presidente pensou em tirar o Agnelli da Vale?
DILMA - Que eu saiba não. Ele não tem poder para isso. Como você disse, é uma empresa privada. O que ele fez foi externar seu descontentamento com a forma que demitiram gente. Ele não fez só para a Vale. Eu acho interessante essa história, os empresários podem falar o que quiserem que é democrático, o presidente não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Isso, diríamos assim, não é justo.
FOLHA - Durante o governo houve um grande processo de fusões de empresas no Brasil. Deu-se por um estímulo direto do governo Lula?
DILMA - São sinais dos tempos. Não tem nada de artificial. Ninguém falou "eu vou ali criar uma empresa fortíssima". As empresas estavam maduras. As que não se fundiram aqui compraram coisas lá fora.
FOLHA - A sra. defende um Banco Central independente, por lei?
DILMA - Não acho que seja necessário isso. Não vejo nenhum motivo para criar esse tipo de problema agora no Brasil, abrir esse tipo de discussão.
FOLHA - Candidata a presidente tem necessariamente de ser simpática e ter jogo de cintura?
DILMA - De preferência, ser simpático e ter um de jogo de cintura.
FOLHA - E não tendo essas características?
DILMA - A pessoa sofre.
FOLHA - A sra. vai sofrer?
DILMA - Eu não sei ainda. Mas a gente sempre sofre, não dá para achar que o mundo é um paraíso, que a gente vive em um mar de rosas.
FOLHA - O presidente tem falado, nos últimos dias, abertamente da sua candidatura a presidente...
DILMA - Pois é.
FOLHA - A sra. imaginou um dia disputar esse cargo?
DILMA - Se você perguntar para mim se alguma vez imaginei disputar, não. Imaginei não.
FOLHA - O que é ser candidata a presidente da República?
DILMA - Olha, [reflete por alguns segundos], eu acho que é para qualquer pessoa, brasileiro ou brasileira, é algo muito... Primeiro, honroso, a pessoa tem de se sentir muito honrada. Segundo, eu acho que é algo que o pessoal da minha geração, ela queria mudar o Brasil, o mundo, e queria um mundo mais justo, um Brasil mais avançado. A minha geração foi contra a pobreza, a favor dos trabalhadores, a favor do desenvolvimento do país, da riqueza do Brasil. Então eu acho que o governo Lula nos deu a possibilidade de tornar isso real. Ainda no meu período de vida, porque podia ter passado por esse período e não ter se tornado realidade. Então essa experiência no governo Lula já foi avassaladora. Eu acho, para qualquer pessoa, estou falando do meu lado, do pessoal que está tocando o governo Lula, é uma honra. E, mais do que isso, é a continuidade disso que importa.
FOLHA - A sra. poder continuar isso é uma honra?
DILMA - É uma honra, é uma honra, sem sombra de dúvidas.
FOLHA - A sra. se sente preparada para isso?
DILMA - Eu não sei, porque essa, daqui para a frente, você não me pega em mais nenhuma, tá? Porque eu não vou entrar na sua, especulando sobre candidatura.
FOLHA - Mas a sra. já falou tanto sobre isso.
DILMA - Não, não vou. Não. Agora encerramos essa conversa de candidatura. A gente retomará, oportunamente, se for o caso, em 2010. Eu todas as vezes falei do ponto de vista conceitual. Isso é um assunto para ser tratado depois das convenções dos partidos, do PT.
FOLHA - Mas a sra. disse que é uma honra?
DILMA - Para todos nós será. Para todos nós, da minha geração e dos que participam do governo Lula, é uma honra. Porque tem isso no governo Lula. A gente tem esse lado, considera uma coisa muito importante.
FOLHA - A sra. teve, na infância, esse desejo de um dia ser presidente?
DILMA - Não, eu não tive não. Isso, eu acho que é mais de homem. Na minha época eu queria ser bailarina.
FOLHA - De bailarina a presidente da República.
DILMA - Não, mas é bailarina. Menina queria ser bailarina, princesa, Cinderela. Quando menina, da minha geração, queria ser bailarina, a gente gostava muito de bailarina.
FOLHA - A sra. fez exames na semana passada...
DILMA - Não, não fiz. Vou fazer, porque na semana passada, eu ia lá fazer, mas eu saí em férias e perguntei se precisava ir. Como estava em férias, tanto faz fazer numa semana, duas semanas depois. Vou fazer no final da próxima semana. Aí nós vamos fazer de fato o anúncio oficial da minha situação de saúde. Mas eu tenho absoluta certeza de que estou curada.
FOLHA - A doença mudou o comportamento da sra.?
DILMA - Muda, muda. Você dá mais importância a coisas menores. Por exemplo, você dá importância ao sol batendo nas folhas, você olha o mundo com outros olhos. Você dá importância maior para a vida. É sobretudo isso. Quer uma síntese. Dá uma imensa importância para a vida e suas manifestações. Árvores, flores, você olha mais, e dá mais importância para o mundo de uma forma mais tranquila, mais calma. Mesmo trabalhando 24 horas por dia.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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